07/11/2022 às 19:08

Reforma dos canais de irrigação garante segurança para produzir

Emater-DF elabora projeto de instalação de tubulação eliminando problemas de distribuição e perda d’água dos modelos a céu aberto

Por Agência Brasília* | Edição: Carolina Lobo

O Distrito Federal tem 66 canais de irrigação com extensão de 240 km e, desse total, cerca de 97 km foram revitalizados ou sofreram obras de manutenção entre 2019 e 2022, garantindo racionalização e segurança dos recursos hídricos para os produtores rurais. Esse trabalho tem sido viabilizado por meio de uma parceria entre a Secretaria de Agricultura (Seagri), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater) e as comunidades rurais, além de órgãos parceiros, como a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) e a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco).

[Olho texto=”“Esse é um projeto prioritário para nós, pois elimina os problemas encontrados nos modelos a céu aberto, como distribuição, infiltração, erosão e tantos outros que causam desperdício da água. Garantir racionalização e segurança dos recursos hídricos é solucionar dificuldades de cultivo aos produtores rurais durante o ano todo, principalmente no período da seca”” assinatura=”Denise Fonseca, presidente da Emater-DF” esquerda_direita_centro=”direita”]

A elaboração do projeto de revitalização, o acompanhamento e a assistência técnica são feitos pela Emater. A Seagri busca os recursos necessários para a execução dos projetos, sendo responsável também pela aquisição dos materiais e serviços necessários para as obras, assim como pela disponibilização de maquinários e transporte dos tubos. As comunidades assumem a operacionalização das obras.

Propriedades rurais em Tabatinga, Planaltina, que mostram a diferença entre área beneficiada com canal de irrigação e outra sem, na parte superior | Fotos: Ana Nascimento/Emater

A presidente da Emater-DF, Denise Fonseca, ressalta a importância de revitalizar os canais por meio da instalação de tubulação seja de PVC ou PEAD (polietileno de alta densidade) nas valas já existentes como meio de racionalizar e democratizar o uso dos recursos hídricos. Os tubos PEAD possuem maior variedade de diâmetros e classes de pressão, alta resistência química, além de serem imunes à corrosão e terem longa vida útil.

“Esse é um projeto prioritário para nós, pois elimina os problemas encontrados nos modelos a céu aberto, como distribuição, infiltração, erosão e tantos outros que causam desperdício da água. Garantir racionalização e segurança dos recursos hídricos é solucionar dificuldades de cultivo aos produtores rurais durante o ano todo, principalmente no período da seca”, afirma Denise Fonseca.

De acordo com o subsecretário de Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Seagri, Odilon Vieira Junior, o programa de revitalização dos canais é um entre os diversos programas exitosos da pasta que impactam direta e indiretamente e de forma rápida e duradoura na população beneficiada, na produção rural e no meio ambiente. “Ao longo desses quatro anos, em torno de 100 km de canais de irrigação foram revitalizados e, até o fim do ano, mais 15 km devem ser revitalizados, se tudo der certo. Assim, é um sucesso absoluto em termos de parceria entre as instituições envolvidas na execução desse projeto. Destaco que esses programas todos do GDF projetarão Brasília em poucos anos como um polo de agricultura sustentável, no sentido amplo de grande produção e conservação do meio ambiente”, ressalta o subsecretário.

Organização e produtividade

Planaltina, Brazlândia, Paranoá, Riacho Fundo, Park Way e Sol Nascente são as regiões cujos canais estão recebendo obras de revitalização e manutenção desde 2019, totalizando 97 km de extensão. Desse número, a região rural de Planaltina recebeu alguma intervenção em 16,57 km. Somente o canal do Rio Jardim, no Núcleo Rural de Tabatinga, teve a revitalização nos 9 km de extensão, finalizados em 2021.

Gerente do escritório local da Emater em Tabatinga, Alessandro Rangel, e o produtor rural Roberto Finazzi Gerbi

O gerente do escritório local da Emater em Tabatinga, Alessandro Rangel, destaca que a sinergia entre os órgãos governamentais como a Seagri, que providencia o maquinário e os materiais, e a Emater, que elabora o projeto e o acompanhamento da execução, não valeria muito sem a organização da comunidade. “Os produtores de Tabatinga conseguiram se estabelecer numa associação bastante atuante e organizada. Atualmente, 32 propriedades se beneficiam da água do canal e foi uma conquista coletiva”, avalia.

Até 2014, o canal de irrigação do Rio Jardim era a céu aberto e estava seco. Foi quando alguns produtores rurais se organizaram e fundaram a Associação dos Usuários do Canal de Água da Tabatinga (Auca), com o objetivo de revitalizarem o canal. Com apoio técnico da Emater, formalizaram o projeto e conseguiram recursos oriundos de emendas parlamentares.

Roberto Finazzi Gerbi trocou a engenheira mecânica de produção rural em 2013 e foi um dos membros fundadores da Auca. O cultivo das gramas Batatais, Esmeralda e São Carlos teve um aumento de 1/3 da produção, passando de 60 para 80 hectares de área plantada, após o uso outorgado da água do canal do Rio Jardim, que passa pela propriedade. “A grande virtude do canal é a garantia de outorga do uso da água. Além disso, há previsão de economia a longo prazo no uso da energia elétrica que seria usada no bombeamento de água da caixa de distribuição até o tanque e geração de emprego que passamos a necessitar em função do aumento da produção. Só aqui no cultivo de grama, tenho três famílias com carteira assinada”, diz Gerbi.

Histórico

Os canais de irrigação foram concebidos no período da construção de Brasília, quando trouxeram os imigrantes para desenvolverem a agricultura na capital federal. Considerando que o clima árido da região provocava um longo período de estiagem durante o ano, os canais seriam uma forma de garantir a produção rural durante todo o ano.

Eles foram construídos cortando regiões inteiras para abastecer as propriedades por meio de canais de distribuição secundários. Neles, a água desce por gravidade e abastece as propriedades pelo caminho. Nos modelos a céu aberto, não há controle da distribuição e as unidades mais próximas do canal principal são beneficiadas, uma vez que o volume de água recebido é maior.

Caixa de distribuição do canal de irrigação em propriedade rural de Tabatinga, Planaltina

Nos períodos de seca, o problema se agrava e em certos momentos é necessário fazer rodízios para que ninguém fique completamente sem água. Um dos projetos para gerir melhor o uso da água do DF é a tubulação dos canais de irrigação. Segundo o assessor da Emater, Edvan Sousa Ribeiro, nos canais de irrigação a céu aberto apenas 50% da água é aproveitada e o restante é perdido por meio de infiltrações no solo e evapotranspiração.

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“Em alguns canais revitalizados, havia produtores que não viam água dos canais em suas propriedades há mais de dez anos. Quando revitalizamos com a colocação de tubo de PVC ou PEAD, reduzimos essa perda de água por evaporação ou infiltração a praticamente zero, além de facilitar a distribuição. No canal a céu aberto, qualquer um tira o que quiser. Já nos canais revitalizados, são feitas caixas de alvenaria que padronizam a saída de água, tornando possível atender todo mundo. Cada canal tem uma realidade diferente, ou seja: tipos de uso, tamanho das propriedades, topografia do terreno e disponibilidade de água nos mananciais. Todos os projetos são individualizados e cuidadosamente avaliados, buscando sempre as melhores soluções técnicas, máximo de alcance entre os produtores, mas sem deixar de considerar as questões econômicas, sociais e ambientais”, explica Ribeiro.

*Com informações da Emater