25/12/2022 às 15:05, atualizado em 25/12/2022 às 15:15

História de três idosas negras do Gama vira documentário

Cecon Gama Sul, que faz parte da rede de proteção social do DF, produz filme que valoriza raízes e vivências de mulheres da comunidade

Por Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger

O Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (Cecon) Gama Sul produziu um documentário para contar a história de três mulheres negras e idosas atendidas pela unidade. O filme Condão, disponível no canal do YouTube da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), valoriza as raízes e vivências na comunidade e abre um espaço para o compartilhamento de histórias de vida. Assista aqui ao trailer.

Grupo de idosos atendidos pelo Cecon Gama Sul assiste ao documentário | Foto: Divulgação/Sedes

As protagonistas são Maria Amélia Nunes, de 71 anos, Zita Gonçalves e Maria de Lourdes da Silva, ambas de 70 anos. Elas fazem parte de um grupo de 60 idosos atendidos no Cecon Gama Sul, que integra a rede de proteção social da Sedes. A unidade desenvolve projetos, chamados percursos, para trabalhar temas específicos com as pessoas atendidas.

[Olho texto=”“O processo de registro acabou se tornando uma ferramenta de escuta e reconhecimento para o fortalecimento de vínculos com a própria história, para nomeação de emoções e ressignificação de dores e perdas, que passaram a ser vistas como momentos de crescimento pessoal”” assinatura=”Flávia Mendes, chefe do Cecon Gama Sul” esquerda_direita_centro=”direita”]

“Neste ano, a ideia foi desenvolver o percurso da Consciência Negra com uma proposta diferente, trabalhando a visibilidade e a escuta mesmo. O documentário fala de dores, de racismo, mas fala de superação também. As três protagonistas conseguiram cuidar dos filhos, estudar, superar as dificuldades, as questões pessoais”, explica a chefe do Cecon Gama Sul, Flávia Mendes. Percursos são os projetos desenvolvidos mensalmente na unidade.

“O processo de registro acabou se tornando uma ferramenta de escuta e reconhecimento para o fortalecimento de vínculos com a própria história, para nomeação de emoções e ressignificação de dores e perdas, que passaram a ser vistas como momentos de crescimento pessoal”, acrescenta. “Para elas, foi muito emocionante se verem ali. Elas choraram quando assistiram o documentário.”

No Cecon Gama Sul, são atendidos grupos de crianças de 6 a 14 anos de idade, adolescentes entre 15 e 17 anos e idosos com 60 anos ou mais. Atualmente, atende um total de 115 pessoas, mais o acompanhamento familiar. “O grupo de idosos ficou muito emocionado com as narrativas delas e orgulhoso também”, relata Flávia.

“Eu achei maravilhoso poder me ver ali e contar um pouco da minha vida, me emocionei na hora que assisti ao vídeo pronto. No começo, não topei, mas depois me senti à vontade para falar. Foi uma vida de muita dificuldade, mas graças a Deus sou feliz e faria tudo novamente. Tenho filhos muito bons”, ressalta uma das protagonistas do documentário, Maria Amélia Nunes.

O vídeo foi filmado e produzido nos meses de outubro e novembro para ser apresentado na conclusão do percurso em alusão ao Dia da Consciência Negra

Atendida pelo Cecon Gama Sul há quatro anos, Maria Amélia compartilhou sua história, contou como criou os seis filhos sozinha e encontrou o amor aos 55 anos. “Fui mãe solteira, nenhum dos pais assumiu os filhos. Fiz diária, faxina. Quando trabalhava no Hospital do Gama, reencontrei uma pessoa que conhecia desde os 14 anos. Ele ficou viúvo, nos casamos no civil e na igreja em três meses”, conta.

“Ele fez questão de fazer tudo do jeito que eu sonhava, me tratava como uma princesa, comprou uma casa para nós. Fomos casados por cinco anos e quatro meses até a morte dele, em 2010”, relata a aposentada, que passou a frequentar o Cecon Gama Sul com o apoio de uma das filhas, depois que o marido morreu.

O vídeo foi filmado e produzido nos meses de outubro e novembro para ser apresentado na conclusão do percurso em alusão ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. O nome do documentário, Condão, foi escolhido em homenagem à poesia de uma artista negra local, Claudia Martins.

[Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”]

O diretor de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Sedes, Clayton Andreoni Batista, reforça a importância de ações como essa para alcançar os objetivos do serviço. “Elas oportunizam espaços de escuta, reconhecimento e protagonismo, são ferramentas eficazes para o alcance dos nossos objetivos individuais e coletivos”, pontua.

O Distrito Federal tem 16 Cecons de execução direta da Sedes, além das instituições parceiras e dos centros de Referência de Assistência Social (Cras) que oferecem o serviço. Hoje, os centros de convivência atendem um total de 1.778 usuários. O serviço também é ofertado por cinco Cras e por OSCs parceiras da Sedes, beneficiando mais 3.900 pessoas.

“O Cecon é uma unidade pública de assistência social que atende famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade e risco social. O serviço é realizado em grupos, separados por faixas etárias, para complementar o trabalho social que é feito com essas famílias e prevenir situações de risco social”, reitera a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra.

*Com informações da Sedes