09/03/2023 às 13:36, atualizado em 09/03/2023 às 19:25

Escolas da rede pública acolhem refugiados e indígenas venezuelanos

Ao todo, 67 crianças são alfabetizadas na Escola Classe Café sem Troco, no Paranoá, e na Escola Classe Morro da Cruz, em São Sebastião

Por Agência Brasília* | Edição: Saulo Moreno

De portas abertas para a inclusão. O ano letivo na Escola Classe Café sem Troco, localizada na zona rural do Paranoá, começou de forma especial. A escola se solidarizou e acolhe, desde o primeiro dia de aula, 33 crianças e adolescentes indígenas refugiados da Venezuela. Os alunos fazem parte da Comunidade Indígena Warao Coromoto, que atualmente encontra-se a 4 km da escola. Eles têm entre 4 e 17 anos e estavam sem acesso à alfabetização. O desafio da escola agora é incluí-los na sociedade por meio da aprendizagem e convívio escolar.

Bilmaris Del Vale Zapata Riveiro, 15 anos, está aprendendo a ler e escrever e, apesar de ainda não dominar a língua portuguesa, diz que quer ser médica | Foto: Mary Leal, Ascom/SEEDF

“Gosto da escola, da professora e estou feliz porque aprendi a ler e escrever”, conta Bilmaris Del Vale Zapata Riveiro, de 15 anos, aluna do primeiro ano da alfabetização. A estudante ainda não tem o domínio da língua portuguesa, mas consegue entender e se expressar muito bem quando o assunto é sonho. “Quero ser médica”, diz.

A solidariedade dos servidores da escola em receber os alunos só foi possível graças a uma forte rede de apoio, que inclui a Regional de Ensino do Paranoá, o Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília (UnB) e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), além da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE).

[Olho texto=”“Aqui trabalhamos a integração, a troca de cultura e o respeito. Assim, a necessidade desses educadores da comunidade. Além disso, eles passam mais segurança e proteção para os alunos e evitam o abandono escolar”” assinatura=”Sheyla Cristina, diretora da EC Café sem Troco” esquerda_direita_centro=”direita”]

“Toda a rede de apoio está sendo fundamental. Contamos com a colaboração de uma professora e universitários do Departamento de Linguística da UnB, que vem semanalmente atender nossos alunos com atividades. A Secretaria de Educação, por meio da regional, também nos ajudou e cedeu um professor de espanhol. Além disso, com ajuda da Novacap, a escola está passando por uma reforma para a ampliação do espaço, com mais seis novas salas de aulas para atender os alunos da região e comunidade indígena”, destaca a diretora da escola, Sheyla Cristina.

A escola conta atualmente com espaços de lazer que incluem quadra de esportes, pátio com brinquedos, refeitório, sala de recursos para atendimento às crianças com necessidades especiais e piscina para atividades recreativas. Além disso, oferece aulas de robótica com professores da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB), que estão na escola toda semana para ensinar tecnologia aos alunos.

As aulas são realizadas em laboratório equipado com eletrônicos de última geração (óculos de realidade virtual, impressora 3D e computadores). A iniciativa de incentivo à tecnologia abre espaço à própria comunidade local da região, que também tem livre acesso aos cursos. “Já tivemos alunos dos cursos que não eram alunos da escola, um deles se formou e chegou a palestrar na Campus Party”, lembra a diretora.

Além da inclusão dos alunos venezuelanos, membros da comunidade indígena também participam das atividades na escola, como o vice-cacique da Warao Coromoto, Eduardo Baez Zapata

Além da inclusão dos alunos venezuelanos, membros da comunidade indígena também participam das atividades na escola. Neste ano, dois conseguiram vaga como educador social voluntário, sendo um deles o próprio vice-cacique da Warao Coromoto, Eduardo Baez Zapata, 55 anos.

“Nossa história no Brasil começa em 2019, com muita luta e trabalho. Na educação, lutamos há dois anos e agora conseguimos isso, que será muito importante para o futuro dos nossos meninos e meninas da comunidade”, explica Zapata. “Temos muito a aprender e ensinar com essa troca cultural de Brasil e Venezuela”.

Para Sheyla, a presença dos educadores da comunidade é muito importante, uma vez que parte dos alunos indígenas falam apenas a língua nativa – warao. “Aqui trabalhamos a integração, a troca de cultura e o respeito. Assim, a necessidade desses educadores da comunidade. Além disso, eles passam mais segurança e proteção para os alunos e evitam o abandono escolar”, finaliza.

Atendimento em São Sebastião

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Na Escola Classe Morro da Cruz, em São Sebastião, inaugurada na segunda-feira (6), mais 34 crianças do povo Warao estão matriculadas.

A Secretaria de Educação do DF tem trabalhado com adaptação desses estudantes para que ocorra o respeito e a interconexão entre as culturas. “Aqui o projeto conta com uma professora que fala espanhol e uma pessoa da comunidade Warao. Todas essas questões relacionadas à cultura do povo Warao estão sendo inseridas no projeto com objetivo de alfabetização”, conta Bárbara Ribeiro, professora da Escola Classe.

*Com informações da Secretaria de Educação do DF