19/04/2023 às 17:29, atualizado em 19/04/2023 às 17:40

Praça Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos é reinaugurada

A mudança de nome do local foi oficializada em evento organizado pelo GDF para representar um símbolo da luta indígena

Por Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

Há 26 anos, na madrugada do dia 20 de abril de 1997, o indígena pataxó Galdino Jesus dos Santos foi cruelmente assassinado em Brasília. A praça, próxima de onde o cacique foi queimado vivo, recebeu o nome dele na manhã desta quarta (19) – data em que também é celebrado o Dia dos Povos Indígenas.

Descerramento da placa com o nome do homenageado: iniciativa chama atenção para a importância das comunidades indígenas na formação do patrimônio cultural | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

O administrador do Plano Piloto, Valdemar Medeiros, foi um dos responsáveis por organizar o evento e citou a Lei nº 3.309, de 19 de janeiro de 2004, que trouxe a mudança de nome da praça, entre as quadras 703 e 704 Sul. “O Governo do Distrito Federal, juntamente com a administração, teve essa iniciativa de cumprir essa lei de 2004 em homenagem ao indígena Galdino”, declarou. “Foi algo brutal que ocorreu naquela data. Hoje, é uma homenagem justa que nós estamos fazendo a ele.”

A secretária-executiva de Políticas Públicas da Secretaria de Governo (Segov), Meire Mota, também ressaltou a importância do evento: “Representa uma iniciativa muito importante para valorizar as comunidades indígenas, integrá-las ao patrimônio cultural de Brasília e reverenciar as suas memórias.”

Momento de reflexão

Turymatã Pataxó, diretor da União Nacional Indígena: “É uma data para reivindicar os nossos direitos e continuar a luta pela questão territorial. Meu povo é um povo de muita luta e resistência”

Turymatã Pataxó, 37 anos, é indígena da aldeia Mãe Barra Velha, a mais antiga do povo Pataxó, no sul da Bahia. Diretor da União Nacional Indígena (UNI), ele veio com sua família, representando a etnia. Após citar o artigo 231 da Constituição, que fala sobre o reconhecimento dos povos indígenas e demarcação de terras, Turymatã comentou sobre o momento da reinauguração.

“Me chamava atenção ser ‘Praça do Compromisso’”, pontuou. “A gente tinha que ter um compromisso com relação à morte do nosso parente, que morreu exatamente aqui, naquele ponto de ônibus ali à nossa frente, e acabou caindo aqui onde tem esse monumento. Era um monumento que estava um pouco esquecido, e hoje o GDF restaurou, colocou a praça com o nome do índio Galdino Pataxó e isso é muito importante. Mas é também um momento de muita reflexão, dor e sofrimento. É uma data para reivindicar os nossos direitos e continuar a luta pela questão territorial. Meu povo é um povo de muita luta e resistência. Galdino vive e resiste.”

Reconhecimento

[Olho texto=”“Esse dia de hoje representa um reconhecimento do poder público em relação à sociodiversidade que existe no país” ” assinatura=”José Augusto Lopes Pereira, da Funai” esquerda_direita_centro=”direita”]

Um representante da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), José Augusto Lopes Pereira, também fez parte da celebração na praça. Coordenador-geral de Etnodesenvolvimento da fundação, ele afirmou que há 300 etnias e 280 línguas diferentes no país, além de números que quantificam de 6 a 9 mil pessoas indígenas no DF.

“Esse dia de hoje representa um reconhecimento do poder público em relação à sociodiversidade que existe no país”, disse. “É um Brasil que o Brasil não conhece. Esse pequeno gesto do GDF, que foi feito de forma muito rápida e eficiente, representa o reconhecimento desse contingente de praticamente 1 milhão e meio de pessoas. A gente, como Funai, agradece ao GDF.”

No local também foi aberta a exposição Arte Indígena Itinerante, que marcou a celebração. Segundo a organização do evento, haverá feiras mensais para que os indígenas possam expor seus trabalhos. O trabalho é fruto de uma parceria do GDF, por meio da Administração do Plano Piloto, com a Funai.

História de resistência

Galdino Jesus dos Santos era um líder indígena da etnia Pataxó Hã-hã-hãe que veio a Brasília em 19 de abril de 1997 para tratar questões relativas à demarcação de terras indígenas no sul do estado da Bahia. Ao voltar à pensão em que estava hospedado, foi impedido de entrar por causa do horário e abrigou-se em uma parada de ônibus na W3 Sul.

O ponto de ônibus ficava próximo à praça. Durante a madrugada, cinco jovens de classe alta – Max Rogério Alves, Antonio Novely Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira e Gutemberg Nader Almeida Junior – atearam fogo em Galdino enquanto ele dormia.

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Segundo o texto do processo judicial, o grupo passou pelo ponto de ônibus onde o indígena estava, foi até um posto de abastecimento para comprar dois litros de combustível e retornou. Enquanto dois dos jovens despejavam o líquido no corpo de Galdino, os demais atearam fogo. Logo depois, eles fugiram do local.

A vítima sofreu queimaduras graves em todo o corpo e morreu horas depois, por complicações causadas pelas lesões. O crime reavivou discussões sobre a questão das demarcações de terras indígenas e causou protestos em todo o país.

Galdino faleceu onde hoje existe um monumento em sua homenagem, com uma silhueta que representa um símbolo da luta indígena. O tributo foi criado em 1997 pelo artista Siron Franco e doado ao Governo do Distrito Federal (GDF), que acrescentou um totem para identificar e contextualizar a obra, oficializando a Praça Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos.

Praça Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos é reinaugurada