16/07/2023 às 16:47

Arte é ferramenta terapêutica nos Caps

No Centro de Atenção Psicossocial II do Paranoá, as atividades ocorrem todas as quintas. Pacientes do projeto Arte e Expressão, realizado desde 2013 por equipe multidisciplinar, expõem aquarelas

Por Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger

Nise da Silveira, médica brasileira expoente no trato da saúde mental, dizia que “a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente, é o estímulo à criatividade”. Seguindo essa máxima, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do DF oferecem diversas oportunidades de arteterapia como ferramenta terapêutica para promover bem-estar aos pacientes.

Exposição no Caps II do Paranoá reuniu pinturas em aquarela dos participantes do projeto Arte e Expressão | Foto: Tony Winston/Agência Saúde

No Caps II do Paranoá, desde 2013, o projeto Arte e Expressão é desenvolvido por equipe multidisciplinar com atividades voltadas para trabalhos manuais em diferentes linguagens artísticas e com diversos materiais. Os pacientes dedicam as tardes das quintas-feiras para a produção de colagens, argila, aquarelas, botânica artística e desenhos, por exemplo.

Com foco especial em pinturas de aquarela neste semestre, os 25 participantes da iniciativa expuseram seus trabalhos para familiares, profissionais de saúde e comunidade local na exposição Tempo.

[Olho texto=”A oficina Arte e Expressão ocorre todas as quintas-feiras, das 14h às 16h. Ela é voltada para os usuários que já são atendidos pelo Caps II do Paranoá” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

“Usar a arte como mediadora é uma excelente ferramenta para que eles possam expressar o que estão sentindo, vivendo e desejam compartilhar, mas muitas vezes não conseguem verbalizar”, explica a estagiária em psicologia no Caps II, Vanessa DiGiorno. Também artista plástica e professora de artes, ela dedicou o período de prática no centro para incorporar mais técnica aos pacientes, de modo que pudessem compreender todo o processo.

Dessa forma, os pacientes passaram pelo ciclo completo de uma produção de arte: escolheram um tema, buscaram referências, fizeram rascunhos e depois executaram a obra final. Em sua obra intitulada Evolução, o paciente Carlos Daniel de Souza, de 22 anos, buscou representar o ciclo de vida entre o nascer, o desenvolver e o evoluir, uma espécie de representação do que ele enxerga para a própria história. “A oficina foi o primeiro lugar onde eu senti liberdade para expressar a minha imaginação.”

Opinião compartilhada por Nicolly Silva. Ela conta que, desde 2022, passou por várias mudanças, recebendo diferentes diagnósticos até chegar a um mais conclusivo de indicativo de esquizofrenia. Assim, decidiu retratar em sua obra todo o percurso pelo qual passou. “Metamorfose mostra nuvens virando fumaça como uma espécie de mudança de estado, uma representação de como me senti. Quando comecei a participar das oficinas no Caps, minha vida mudou”, declara.

Perfil dos pacientes

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De acordo com a supervisora do Caps II do Paranoá, Ana Maria Vieira, a maioria dos usuários que frequentam as oficinas tem maior comprometimento físico e cognitivo e grande parte possui diagnóstico de esquizofrenia. “Os pacientes vão perdendo a capacidade de socializar e os encontros semanais geram oportunidade de contato com novas pessoas e de criar outros vínculos.”

O trabalho desenvolvido no centro é estratégico na atenção à saúde mental e ao cuidado com o usuário.? Residente de Serviço Social no local, Emy Nayana Pinto explica que a ideia da ação semanal é proporcionar diferentes estímulos aos pacientes. “A abordagem é multifatorial e buscamos englobar os aspectos cognitivo, motor e social com os usuários. É visível o desenvolvimento dos usuários”, avalia.

A oficina Arte e Expressão ocorre todas as quintas-feiras, das 14h às 16h. Ela é voltada para os usuários que já são atendidos pelo centro. O Caps II acolhe pessoas com demandas espontâneas ou encaminhadas por outro dispositivo da rede pública de saúde ou da Rede Intersetorial. Não há necessidade de agendamento prévio e o paciente será acolhido por profissional que fará a classificação e o direcionamento do caso. O Caps II do Paranoá está localizado na Quadra 02, conjunto K, AE 1, Setor Hospitalar do Paranoá e funciona de 7h às 18h, de segunda a sexta-feira.

*Com informações da Secretaria de Saúde