22/11/2023 às 10:35, atualizado em 22/11/2023 às 11:07

Terapia comunitária nas escolas públicas do Gama acolhe pais e alunos

Projeto desenvolvido pela Regional de Ensino da RA atende direta e indiretamente cerca de 30 mil alunos

Por Josiane Borges, da Agência Brasília | Edição: Saulo Moreno

É embaixo de uma árvore, na área externa da escola, que os adolescentes vão chegando e formando uma roda para uma sessão de conversa. Momento em que as alegrias, as tristezas e as dores ganham acolhimento e empatia. O projeto de terapia comunitária do Centro de Ensino Médio (CEM) 1 do Gama reúne os alunos semanalmente para uma conversa coletiva, na qual os desafios diários são compartilhados com aceitação e respeito.

Os alunos do CEM 1 do Gama se reúnem semanalmente para uma conversa coletiva na qual os desafios diários são compartilhados com aceitação e respeito | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Maria Fernanda Rodrigues, de 16 anos, aluna do 1º ano, afirma que a sessão de terapia melhorou sua interação com os colegas e destaca as aprendizagens e alegrias nos encontros semanais. “Tem coisas que comento aqui que eu não consigo falar com ninguém, isso me conforta muito. Consigo socializar melhor com os colegas. Sempre tento trazer temas que as pessoas se identifiquem e tento levar um pouco de cada história para servir de aprendizado para a minha vida. É um projeto incrível que me ajuda muito, a cada encontro é uma nova história e cada vez saio mais feliz”, comemora.

[Olho texto=”“Os adolescentes hoje têm uma visão muito diferente da nossa, são muito intensos e a sessão de terapia é importante para que eles possam se compreender como ser humano”” assinatura=”Mirian Fiuza, vice-diretora do CEM 01″ esquerda_direita_centro=”direita”]

Com 2.440 alunos, o CEM 01 atende adolescentes de 15 a 17 anos, do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, e promove semanalmente a sessão de conversa com os jovens. “A ideia procura ajudar os alunos em suas questões emocionais, com suas experiências e vivências, e nos desafios interiores, escolares e familiares. Como escola, temos o principal objetivo, o cunho pedagógico, mas sabemos que podemos abraçar algumas causas, como as emocionais, pois isso se reflete no dia a dia da escola”, relata a vice-diretora do CEM 01 e terapeuta comunitária, Mirian Fiuza.

Segundo Fiuza, o trabalho é realizado em conjunto com todos os profissionais da escola, professores e gestores que estão direta ou indiretamente trabalhando em prol do projeto. “A escola é um pedaço da sociedade e tratar as causas emocionais é importante para desenvolvermos o pedagógico. Os adolescentes hoje têm uma visão muito diferente da nossa, são muito intensos e a sessão de terapia é importante para que eles possam se compreender como ser humano. E nada melhor do que a escola para ajudar nesse direcionamento”, completa a gestora.

Vitor Ezequiel afirma que  procura se conectar com os desafios da vida. “Gosto tanto que quero ser terapeuta. É um lugar em que você se conecta com os outros e tudo que é dito no encontro fica no encontro”

Vitor Ezequiel, também do 1º ano, afirma sempre tentar levar novos colegas para o encontro promovido pela escola e define a terapia comunitária como um momento de conexão. “Procuro me conectar com os desafios da vida, gosto tanto que quero ser terapeuta. É um lugar em que você se conecta com os outros e tudo que é dito no encontro fica no encontro. Com pessoas de confiança e responsabilidade, as barreiras são vencidas a cada dia. Às vezes falamos de depressão e da nossa própria identidade, sem julgamentos”, diz.

O projeto

A coordenadora da Regional de Ensino do Gama, Cassia Maria Nunes, destaca que o projeto de terapia comunitária impacta diretamente ou indiretamente os 33 mil estudantes da região administrativa, assim como os pais e responsáveis pelos estudantes.

Coordenadora da Regional de Ensino do Gama, Cassia Nunes reforça que “os pais que estão passando por momentos difíceis, que não têm condições de pagar um psicólogo, são convidados para participar da sessão com os terapeutas comunitários”

“O objetivo principal do projeto é o cuidado, antes de sermos educadores do cognitivo, precisamos olhar o ser humano como um todo. A iniciativa começou em 2018, no CED GT [Centro Educacional Gesner Teixeira], que estava localizado em uma região violenta próxima ao Entorno e, para não deixar a violência adentrar o espaço escolar, criou-se o projeto que virou modelo de cuidado e foi inclusive premiado pelo MPDFT [Ministério Público do Distrito Federal e Territórios]. E resolvemos ampliar para outras escolas da cidade”, conta.

A coordenadora regional destaca que o projeto acaba por impactar toda a comunidade escolar e envolve práticas integrativas, incluindo a terapia comunitária nas escolas. As ações são desenvolvidas em todas as etapas, desde os anos iniciais até o ensino médio. Além dos alunos, são impactados com o programa 4 mil professores, além dos pais e responsáveis pelos estudantes.

A terapeuta comunitária Mirian Fiuza diz que o trabalho é realizado em conjunto com todos os profissionais da escola, professores e gestores que estão direta ou indiretamente trabalhando em prol do projeto

“Semanalmente, o projeto acontece em nove escolas e, sempre que identificamos a necessidade, os terapeutas atuam também nas outras instituições de ensino. Além disso, todos os sábados, às 16h, tem um grupo de pais. Começamos como formiguinha e o projeto cresceu. Os pais que estão passando por momentos difíceis, que não têm condições de pagar um psicólogo, são convidados para participar da sessão com os terapeutas comunitários”, completa Cassia Nunes. A sessão de terapia com os pais é realizada no Espaço Olhar, dentro da Regional de Ensino

Roda infantil

No Jardim de Infância 3, no Setor Leste, os pequeninos de quatro e cinco anos também aguardam ansiosos pelos encontros semanais da rodinha de escuta, como é chamado o encontro para as crianças menores. É no momento que, com os dedinhos levantados, todos querem falar, cantar, celebrar e aplaudir as histórias dos colegas.

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“Fazemos a sessão semanalmente, levamos elementos lúdicos, é o momento que elas podem falar das frustrações, das perdas e alegrias. Temos crianças que choravam muito, se jogavam no chão e com o passar do tempo, foram ganhando maturidade. São efeitos positivos que despertam o protagonismo, a empatia, pois passam a ouvir a história um do outro, e são acolhidos”, conta a supervisora pedagógica e terapeuta comunitária da escola, Cátia Marques. A escola atende quase 300 alunos do primeiro e segundo períodos da educação infantil.

A terapeuta destaca que os resultados do projeto são vistos diariamente no comportamento positivo das crianças. É gratificante ver o amadurecimento, eles sabem que, quando chego, é o momento de se acalmar e do silêncio, de ouvir e, assim, eles vão conseguindo gerenciar as emoções. Muitas vezes, o que os outros estão passando é o espelho da minha vida e tudo isso eles vão aprendendo na rodinha”, finaliza Cátia.

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