28/12/2023 às 18:57

Vínculo estreito com a comunidade é marca da Região de Saúde Oeste

Ceilândia, Sol Nascente/Pôr do Sol e Brazlândia contam com mais de 30 equipamentos públicos na oferta dos três níveis de atenção à saúde

Por Agência Brasília* | Edição: Igor Silveira

A Região de Saúde Oeste, composta pelas Regiões Administrativas (RAs) de Ceilândia, Sol Nascente/Pôr do Sol e Brazlândia caracteriza-se por uma Atenção Primária à Saúde (APS) robusta, que atende à população rural, vai à porta de casa e possui uma assistência hospitalar habilitada, capaz de corresponder à alta demanda populacional.

Arte: Agência Saúde-DF

Entre cenários urbanos e rurais são distribuídos dois hospitais; três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs); três Policlínicas; dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo um Álcool e Drogas (CAPS AD); dois Centros de Especialidades Odontológicas (CEO); um Centro de Especialidades para a Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (CEPAV); e 27 Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Ceilândia é justamente a RA mais populosa do DF, segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) 2021. Junto a Sol Nascente/Pôr do Sol soma 443.564 habitantes – 14,73% de toda a população distrital.

“Esta não é apenas uma enorme população, a maior em todo o DF, como também é a que mais cresce. A necessidade de atender a alta demanda da população está no centro da organização do serviço de saúde da região”, afirma o superintendente da Região de Saúde Oeste, André Queiroz.

Os novos fluxos para atendimento de usuários no pronto-socorro da pediatria do HRC servem como referência para o estudo que visa a aplicação deste tipo de reorganização em outras áreas. Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Demanda assistencial

Em 2023, a UPA Ceilândia teve a maior quantidade de procedimentos registrados em comparação às 13 unidades do DF, segundo dados consolidados até setembro, disponibilizados pelo Portal de Informações e Transparência da Saúde (InfoSaúde-DF). Foram 514.962 dos mais de 4,5 milhões (11,2%).

O Hospital Regional da Ceilândia (HRC) é o terceiro mais utilizado em consultas, atendimentos, avaliações e acompanhamentos ambulatoriais – são 225.488, de janeiro a setembro de 2023, atrás do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), referência nacional, e do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM).

Com o Carro da Vacina, o NVEP da Região Oeste ofertou desde janeiro de 2022 mais de 39 mil doses de vacina à população com um dos maiores índices de vulnerabilidade social dentre as 33 RAs do DF | Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Recentemente, para dar conta da alta demanda assistencial, novos fluxos para atendimento de usuários foram aplicados no pronto-socorro da pediatria do HRC, conforme a identificação de risco. Os pacientes com classificação verde, sem ameaça de agravo, são direcionados à consulta nas UBSs da região. Aqueles classificados com risco amarelo são encaminhados ao ambulatório do HRC, pela rota rápida. Consequentemente, uma estrutura mais adequada é oferecida ao atendimento de casos graves, com classificação de risco laranja ou vermelha, isto é, que necessitam de intervenção médica contínua ou imediata.

A secretária de saúde, Lucilene Florêncio, aponta que a implantação desta ferramenta em outras áreas do hospital está sendo estudada. “Essa reorganização foi pensada para garantir o atendimento do maior número possível de pacientes, de maneira rápida e eficiente. Estamos buscando outras maneiras de cuidar da população com os recursos que já dispomos”, afirma a gestora.

Vulnerabilidade social

A região Sol Nascente/ Pôr do Sol é considerada a segunda com o maior índice de vulnerabilidade social dentre as 33 RAs, conforme destaca o Índice de Vulnerabilidade Social do DF (IVS-DF), iniciativa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (Seduh-DF) – atrás apenas de SCIA/Estrutural.

A mobilização dos moradores ocorre com o apoio das lideranças comunitárias e por meio de informes em alto-falante, utilizado em conjunto com os diversos meios de locomoção disponíveis na comunidade | Foto: Tony Winston/Agência Saúde-DF

Foi diante desse contexto e com o objetivo de reduzir as barreiras de acessos dos usuários aos serviços de saúde e ampliar a cobertura vacinal que surgiu o Carro da Vacina, um projeto do Núcleo de Vigilância Epidemiológica e Imunização (NVEP) da Região Oeste. Utilizando um automóvel, a equipe oferta atendimento a vários setores da região durante um dia de ação, aplicando doses dos imunizantes e atualizando os cartões de vacina.

A mobilização dos moradores ocorre com o apoio das lideranças comunitárias e por meio de informes em alto-falante, utilizado em conjunto com os diversos meios de locomoção disponíveis na comunidade, como motos, cavalos, bicicletas e carroças.

Segundo a chefe da NVEP da Região Oeste, Zildene Bittencourt, a recepção do público é positiva. “A comunidade recebe a equipe calorosamente. O bom retorno que recebemos constantemente destaca a excelência da ação, especialmente, por se realizar de porta em porta, beneficiando aqueles com dificuldades de acesso ao serviço”, afirma a enfermeira.

Desde janeiro de 2022, quando foi realizada a primeira campanha, no Sol Nascente (Trecho 3), acumulam-se 94 edições, com a aplicação de 39.176 doses de vacina – desse total, quase 20 mil apenas contra a covid-19. A atividade itinerante teve como fundamento a experiência exitosa das equipes de Consultório na Rua, que desenvolvem ações integrais de saúde frente às necessidades da população em situação de rua.

Composta por uma equipe de Saúde da Família (eSF) e uma equipe de Saúde Bucal (eSB), a UBS 7 de Brazlândia oferta atendimento em saúde à comunidade rural do Incra 8 | Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Comunidade rural

Brazlândia, a RA mais antiga do DF, foi fundada em Goiás em julho de 1933 e incorporada ao Distrito Federal em 1964, é cercada por centenas de propriedades rurais.

O Incra 8 havia acabado de ser constituído quando Silvio Ferreira Lara, 68 anos, instalou residência junto a família há 60 anos. Ele garante que muita coisa mudou desde então. Até mesmo a UBS 7 de Brazlândia, sua unidade de referência, a poucos metros de casa, estava longe de existir. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) somente viria a ser criada em 1994.

Há tanto tempo como parte da comunidade rural, a visita mensal à UBS, mais do que para substituir a prescrição do medicamento que ele e a esposa fazem uso contínuo, serve como uma visita aos amigos. “Nós temos uma amizade com o pessoal desta equipe de saúde. É uma relação muito mais forte do que entre profissional e paciente; é um vínculo de família”, declara o aposentado.

A agente comunitária em saúde (ACS) Simone de Siqueira, moradora da região desde que era recém-nascida, integra há 19 anos, quando iniciou a carreira, a estrutura multiprofissional da unidade rural, composta por uma equipe de Saúde da Família (eSF) e uma equipe de Saúde Bucal (eSB). Além das atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, como é o caso do Programa Saúde na Escola (PSE) e das ações domiciliares, ela também oferece Técnica de Redução de Estresse (T.R.E.) como Prática Integrativa em Saúde (PIS).

Morador do Incra 8 há 60 anos, o aposentado Silvio Ferreira Lara encontra na UBS 7 de Brazlândia a vizinha que viu crescer – a agente comunitária em saúde Simone de Siqueira | Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

O estreito vínculo com a comunidade é um dos atributos que destaca em seu trabalho em saúde na comunidade rural do Incra 8. “A gente conhece todo mundo. Até os cachorros das casas reconhecem quando a gente chega para um atendimento domiciliar”, afirma. A identificação com o ofício é tão forte que transcende a própria identidade civil. “Eu digo sempre que até perdi o meu sobrenome. Há um tempo eu não sou mais a Simone de Siqueira: eu sou “a Simone do posto”. revela a ACS.

Atendimento Materno-Infantil

A pouco mais de dez quilômetros dali, no Hospital Regional de Brazlândia (HRBz), Karine Martins, 32 anos, deu à luz ao filho Estevan Paulino. A moradora de Brazlândia afirma que sempre ouviu bons relatos sobre o atendimento da maternidade do HRBz. Quando descobriu esta gravidez, logo imaginou que contar com o serviço hospitalar durante a sua gestação seria uma boa oportunidade. “Posso comparar este nascimento com o de meus outros filhos. Foi um parto muito tranquilo, feito por uma equipe muito boa”, relata a mãe de quatro filhos.

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Somente em 2023, até o mês de novembro, 970 crianças nasceram no HRBz. A unidade conta com dez leitos de pré-parto, seis no berçário, 16 na pediatria, além de 12 no pronto-socorro infantil.

*Com informações da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF)