25/03/2020 às 13:00, atualizado em 25/03/2020 às 16:25

Patrícia Calmon, um pastel e um caldo de cana, por favor?

Administradora da Pastelaria Viçosa, ela conta que o negócio surgiu na década de 1960, quando os pais, Sebastião e Ivanildes, comeram um pastel na Rodoviária. Eles gostaram e, pronto!, levaram o comércio adiante

Por Agência Brasília*

[Numeralha titulo_grande=”29″ texto=”dias para os 60 anos de Brasília” esquerda_direita_centro=”centro”]

Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.

 

Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Patrícia nasceu e foi criada em Brasília. Depois, morou um tempo fora para estudar, mas sua referência sempre foi a cidade. “Quando criança, morei na Asa Sul e logo que começaram a criar o Lago Sul, na década de 1970, nos mudamos para lá”, conta. Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

“Meu pai, Sebastião Gomes, estava saindo de lua de mel com minha mãe, Ivanildes Rosa da Silva, da Rodoviária do Plano Piloto (na época os ônibus interestaduais saíam de lá) e perderam o ônibus. Ficaram lá sentados enquanto resolviam o que fazer e passou um senhor, que se chamava Eugênio Apolônio, vendendo pastéis em uma cesta. Não tinha nada ali na Rodoviária e, com fome, eles compraram o pastel. Meu pai gostou do produto e disse: ‘olha, eu vou sair de lua de mel e, assim que eu voltar, vou te procurar pra gente fazer negócio’.

E assim surgiu a Pastelaria Viçosa. Eles voltaram, montaram a fábrica que era na Asa Sul e, em seguida, conseguiram as concessões da Rodoviária. Isso foi na década de 1960, não sei o ano exato, mas foi logo que a Rodoviária foi inaugurada. Os registros que tenho aqui são de 1968, mas pelas fotos que tenho aqui, acredito que, quando inaugurou a Rodoviária, a Viçosa abriu em seguida.

Meu pai esteve à frente dos negócios por 35 anos. Ele anda é vivo, tem 87 anos, mas passou a administração para os filhos há uns 15 anos. Cada vez que penso na história da Viçosa eu fico impressionada. Era para não dar nada, um pastel e um caldo de cana como outro qualquer. A Viçosa se tornou marca de Brasília, acho que essa coisa de a pastelaria ter nascido e crescido com a cidade fez com que o brasiliense, nascido aqui ou não, tivesse um carinho muito grande pela empresa.

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Costumo dizer que Brasília e a Viçosa são duas amigas de infância inseparáveis que cresceram juntas. Brasília foi crescendo e a Viçosa foi vendo a necessidade de crescer junto. Sou nascida e criada em Brasília, morei fora um tempo para estudar, mas minha referência é Brasília. Quando criança morei na Asa Sul e logo que começaram a criar o Lago Sul, na década de 1970, nos mudamos para lá.

O Lago não tinha nada. Quando meu pai falou que a gente ia morar lá eu quase morri. Meus amigos todos moravam no Plano Piloto. A gente morava na 705 Sul e mudamos para a 111 Sul. Íamos e voltávamos a pé, não tinha perigo. Brasília tinha uma coisa interessante que eram as bancas de jornal na entrada das quadras. Então, a gente ia da 111 para a 705 parando em todas as banquinhas para comprar gibis.    

O Lago Sul era um mato danado e como é bonito hoje aquela orla. Ter participado da história de Brasília, ter visto esse crescimento, é muito bacana. Uma cidade que não era nada, uma terra vermelha, dizem os pioneiros. E depois de 60 anos você vê uma cidade tão estruturada, um patrimônio cultural, tombado.

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E linda, né? A parte que eu mais gosto de Brasília é o cruzamento dos eixos, o Rodoviário (Eixão) com o Monumental. Em nenhum outro lugar do mundo a gente tem uma avenida tão grande como as nossas. É muito característico de Brasília.

O nosso aeroporto é dentro da cidade, a rodoviária no coração dela. Brasília tem peculiaridades que nenhuma cidade tem, foi uma cidade planejada, o que nos deu muita qualidade de vida. Só acho que eles não imaginaram que a cidade ia crescer tanto.

Meu pai disse uma vez que Brasília uniu o Brasil e realmente foi. A gente virou um ponto de referência. Brasília já tem a segunda e terceira geração, as pessoas já moram fora e vêm visitar os pais ou os pais vêm visitar os filhos. Antes, a gente não tinha isso. Eram os pioneiros e a minha geração. Dava janeiro e julho, a cidade ficava vazia, todo mundo saía. A cidade está cheia de turistas o tempo todo, ganhou vida nesses 60 anos. Tenho muito orgulho da história do meu pai e de poder fazer parte disso de uma forma ou de outra.” 

Patrícia Rosa Calmon, empresária, mora no Lago Sul

  • Depoimento concedido à jornalista Gizella Rodrigues