Em meio à tragédia, mensagens de amor. Um pacote repleto de cartas de crianças foi deixado no galpão do Centro de Capacitação Física (Cecaf) do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) por uma agente da Defesa Civil, em meio à triagem das doações que estão sendo enviadas pelos brasilienses para as vítimas do desastre no Rio Grande do Sul.
Entre os recados, falas de esperança com desenhos e manifestações de carinho, como a mensagem da aluna Helena Souza, 10 anos: “Escrevi que vou sempre pedir a Deus que eles consigam, que logo isso vai passar e eles vão conseguir reconstruir tudo. E espero que, além de doar roupas, água e comida, as pessoas possam doar amor e carinho também, porque nossa professora ensinou que, mesmo nessa situação, o afeto, o amor e o carinho são os melhores presentes que a pessoa pode receber na vida”.

As crianças são do 4º ano e estudam na Escola Classe 305 Sul | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília
Já o estudante Carlos de Lima Caetano, 10, escreveu: “Nunca percam a fé, que um dia vocês vão conseguir recuperar todos os seus bens”. Lucas Lacerda Jericó, 9, por sua vez, reforçou o recado: “Escrevi que eles não precisam ficar ansiosos e tristes, porque nós vamos ajudar”.
Quem encontrou o pacote foi a agente da Defesa Civil Benedita Santos. Imediatamente ela mostrou à equipe que separava os itens no Cecaf e entregou aos bombeiros, que cuidaram do envelope especial.
“Foi uma emoção para todo mundo, meu coração se alegrou na hora. É claro que a gente nem abriu as cartas, o pacote continuou fechado, mas imagine toda a fé e carinho que pode ter para uma criança de 10 anos ali”, observou. Benedita acrescentou, ainda, que não é preciso ter muito para fazer o bem: “Às vezes, as pessoas acham que ajudar o outro é uma coisa gigantesca, magnífica. Mas qualquer ato singelo, como escrever uma carta e mandar boas vibrações em forma de palavras, já faz diferença”.
Além das cartinhas
As crianças são do 4º ano e estudam na Escola Classe 305 Sul. A ação faz parte do projeto Conhecendo meu Povo, meu País, desenvolvido pela escola há 21 anos, em que as turmas exploram as características culturais e folclóricas de cada região. As professoras explicaram que, diante do cenário que a Região Sul vivencia, os próprios alunos levaram questionamentos do que mais poderiam fazer para ajudar, além das arrecadações.
Lucas Lacerda Jericó, 9 anos: “Escrevi que eles não precisam ficar ansiosos e tristes, porque nós vamos ajudar”
“Percebi que as crianças estavam muito sensibilizadas em relação ao que está acontecendo. Aproveitei a aula de ciências onde pude falar do fenômeno El Niño e algumas das causas das enchentes. Além disso, já que a gente tinha que trabalhar o gênero textual carta, por que não de uma forma solidária? Então, quando os meus alunos fizeram essas cartinhas, isso chamou a atenção de outras turmas”, explicou a professora que idealizou a entrega das cartas, Mirian Alves Lins. Para ela, a atitude leva um pouquinho do seu amor e carinho para quem tanto precisa. “Percebi que eles se emocionaram bastante”.
A docente contou que a escola também recebeu gibis da Turma da Mônica que falavam sobre ética e cidadania, e a partir daí uma apresentação foi feita pelas crianças para sensibilizar o restante dos colegas e incentivar mais doações. Cada personagem tinha seu papel, desde o Bidu, doando rações para os pets, até o Cascão, entrando na água pela segunda vez no mundo dos quadrinhos para resgatar as vítimas do Rio Grande do Sul.

