“Neste momento eu estou fazendo uma viagem no tempo, mas sem sair do lugar, por meio deste livro”, diz G.P., de 49 anos, ao folhear as páginas de Olha Para O Céu, Frederico!, de José Cândido de Carvalho. Assistido pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), localizado na Quadra 903 da Asa Sul, ele é frequentador assíduo da biblioteca do espaço.
De acordo com José Vicente Rodrigues da Silva, servidor do Centro Pop Brasília e organizador do projeto, a biblioteca funciona como um trailer adaptado – um espaço para sentar, conversar, ler e produzir textos. Ele, que faz doutorado em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu uma pesquisa intitulada Biblioteca Livro Livre: uma experiência acolhedora para as pessoas em situação de rua. O projeto foi selecionado para um congresso na Universidade Metropolitana de Ciências da Educação, em Santiago, Chile, em outubro.
A instalação faz parte do projeto Ponto de Leitura Livro Livre, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília
O objeto de estudo buscou investigar como e quanto esse tipo de prestação de serviço contribui com o processo de autonomia de pessoas em situação de rua para fazer suas escolhas de vida. Os resultados parciais foram positivos, com algumas pessoas tendo retornado aos estudos em curso de formação continuada, educação básica, educação superior, pós-graduação, entre outros.
Foi o caso de G.P. que, incentivado pela leitura e pelos servidores da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) no Centro Pop, se matriculou na Escola Meninos e Meninas do Parque, no Parque da Cidade Sarah Kubitschek, voltada ao ensino de crianças e adultos em situação de rua. Ao concluir o ensino médio, ele pretende se profissionalizar para virar guia turístico.
“Vir à biblioteca tem me ajudado bastante. Desde criança, eu nunca achei que poderia concluir o ensino médio. Agora, incentivado pelos livros, eu consegui resgatar minha esperança. Nunca podemos perder a esperança de vista”, relata.
