Entre roteiros, câmeras e claquetes, os estudantes do 9º ano do Centro de Ensino Fundamental 10 do Gama transformam o ambiente escolar em um set de filmagem. Criado há nove anos, o projeto Cine 10 reúne diversos curta-metragens feitos pelos alunos, responsáveis por dirigir, atuar, gravar, editar e também subir ao palco na “noite de gala” — a versão local do Oscar para eleger a melhor produção.
Com apoio de verbas parlamentares e parceria da Secretaria de Educação (SEEDF), o Cine 10 já rendeu histórias inspiradoras de ex-alunos que seguiram o caminho no audiovisual ou até abriram os próprios estúdios. O processo é dividido em etapas que duram dois bimestres, período em que os alunos estudam a história e aspectos técnicos do cinema.
A coordenação do projeto é dividida entre os professores Wellington Araújo (conhecido como Tom) e Allan Domingos, responsáveis por lecionar geografia e história, respectivamente. Tom destaca que o projeto busca a autonomia dos estudantes, tirando da zona de conforto e colocando até a comunidade em cena durante as gravações: “Todo mundo da escola participa, os alunos gravam em padarias, igrejas, lojas e até os pais viram atores. Eles criam o roteiro e colocam algo positivo nesse mundo de redes sociais”. O docente acentua que a proposta impacta no desenvolvimento dos estudantes: “Tem aluno que é calado durante a aula e, quando chega a hora de atuar, a gente nem reconhece”.
Além dos filmes, os estudantes confeccionam capas, cartazes e trailers. As narrativas passam pelos mais diversos gêneros cinematográficos, indo do terror à comédia. Mesmo com os temas sendo livres para as produções, o professor Allan ressalta que os assuntos debatidos em sala, como racismo, homofobia e violência de gênero, acabam aparecendo nos curtas.
“Estamos construindo cidadania. Essas temáticas precisam ser discutidas para transformar a sociedade e o projeto contribui para isso. A criatividade precisa fazer parte da vida desses meninos, quando eles criam, afloram algo que nem eles sabiam que tinham. A proposta quebra o estereótipo de a escola ser algo chato e rígido, com matérias para decorar para o vestibular”.
Depoimento dos artistas
O estudante João Vitor Rodrigues, de 15 anos, conta que o Cine 10 vai além do ensino das técnicas audiovisuais, desenvolvendo criatividade, cooperação e autoestima, além de impactar até mesmo nas escolhas profissionais. “Eu fiquei mais na parte da gravação e da edição e descobri que tenho muita habilidade com edição. É um caminho que quero seguir futuramente”, afirma.
O curta Caminhos Cruzados, dirigido pelo jovem, mistura basquete e drama social, discutindo falta de incentivo ao esporte e o risco de envolvimento de adolescentes com o tráfico. “A gente quer retratar com o nosso filme que, mesmo com tanta coisa ruim no mundo, a gente pode sim seguir firme com o que acreditamos ser certo, mesmo que seja difícil. A internet é o maior meio de acesso à informação, é muito legal as pessoas conseguirem ver esse alerta não só do meu trabalho, como o de todo mundo que está participando do projeto. É muito importante que os jovens tenham consciência de que o tráfico não é uma boa escolha”, observa o estudante.