Em meio às curvas de concreto que deram forma à utopia modernista de Brasília, há um cantinho onde o tempo parece descansar. A Casa de Chá, discreta e elegante como a própria cidade, guarda histórias de encontros, contemplação e silêncios embalados pelo aroma de infusões delicadas – além de um cardápio repleto de referências ao Cerrado, vegetação que cerca e compõe o Quadradinho.
Projetada entre 1965 e 1966 pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, a Casa de Chá foi concebida para ser um ponto de encontro e um local para reuniões e descanso na monumental Praça dos Três Poderes. O “restaurante da Praça dos Três Poderes”, como o próprio arquiteto nomeou em seu livro Quase Memórias, reunia os trabalhadores da região que frequentavam o local após o dia de serviço, com rodas de violão e cantorias no lado de fora. O auge da movimentação foi nos anos 1970 e 1980.
Reinaugurado em 2024 em formato de café-escola, o espaço busca retomar o propósito de Oscar Niemeyer e tem demonstrado fôlego para reunir tantas pessoas e memórias quanto em décadas passadas. Agora sob gestão do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-DF), o espaço se dedica à gastronomia e à qualificação profissional com a promoção de cursos. A Casa também funciona como Centro de Atendimento ao Turista (CAT), em uma cooperação técnica entre o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria de Turismo (Setur-DF).
Em tempos de cafés apressados e bebidas para viagem, a Casa de Chá resgata o ritual de saborear a bebida com calma em um refúgio especial, mantendo viva a tradição de servir, em xícaras de porcelana, memórias de uma cidade que completa 65 anos.
“Há quase um ano anunciamos uma proposta robusta, por meio da Fecomércio, do Senac, que foi a reformulação do espaço. Em 70 dias, reinauguramos a Casa de Chá e entregamos um restaurante-escola de qualidade, um presente para a cidade. Já recebeu mais de 115 mil pessoas em menos de um ano e é exemplo para todo o país. Moradores e visitantes mereciam um espaço para alimentação, descanso e entretenimento no centro da Praça dos Três Poderes”, afirmou o secretário de Turismo do DF, Cristiano Araújo.
Projetada entre 1965 e 1966 pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, a Casa de Chá foi concebida para ser um ponto de encontro e um local para reuniões e descanso na monumental Praça dos Três Poderes | Fotos: Divulgação/Setur-DF
Essa não foi a primeira intervenção que este GDF fez no local. Em 2019, o espaço foi pintado, teve o mármore do piso polido e as paredes receberam limpeza específica para o mármore bruto. Além disso, o mapa localizado em frente ao CAT, que estava com a imagem apagada devido à ação do tempo, foi trocado. O mobiliário e decoração da unidade foram cedidos por designers da cidade, em parceria com a Associação dos Designers de Produto do Distrito Federal (Adepro-DF).
Reconhecimento internacional
A Casa de Chá atingiu mais de 115 mil atendimentos desde a reabertura, em julho de 2024. Atualmente, o espaço recebe uma média de 12,5 mil visitantes por mês, firmando sua posição como um dos principais pontos turísticos de Brasília. O reconhecimento não vem só de quem mora ou visita a capital. No ano passado, o local foi citado na lista 150 Tea House You Need to Visit Before You Die (150 casas de chá que você precisa visitar antes de morrer, em tradução livre), da jornalista britânica Léa Teuscher.
Para o diretor do Senac-DF, Vitor Corrêa, os números e o reconhecimento refletem o quanto o café-escola tem se consolidado como um espaço de formação, acolhimento e experiências gastronômicas no DF.
“Ter esse espaço é um orgulho para o Senac, especialmente ao celebrar os 65 anos de Brasília com chá, café, cerveja, drinks ou vinho — tudo com o DNA de Brasília, respeitando o Cerrado e o saber local. É um ambiente que homenageia os modernistas, construtores e idealizadores da cidade, mas também valoriza as gerações atuais, com designers, artesãos e produtores locais. A Casa de Chá é uma síntese de Brasília — e Brasília, uma síntese do Brasil”, destacou.
