Do tema de Piratas do Caribe ao clássico We Will Rock You, do Queen, o repertório do projeto de musicalização das escolas cívico-militares anima estudantes de 11 a 14 anos no Distrito Federal. Desenvolvido nos colégios de gestão compartilhada com o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF), o projeto está em atividade regulamentar em seis das 17 escolas participantes. Desde o início, mais de 350 já passaram pela banda de música; atualmente, 237 alunos estão matriculados.
Ministradas no contraturno escolar, as aulas são oferecidas como atividadecomplementar para os alunos interessados em aprender um instrumento musical. Entre os cursos disponíveis, estão os de flauta transversal, clarineta, saxofones alto e tenor, trompa, trompete, trombone, bombardino, tuba, lira, tarol (caixa), surdo, prato e bombo. As aulas ocorrem duas vezes por semana, em quatro turmas, com duração de duas horas cada aula.
“Em um mês, um mês e meio, eles já conseguem ler o pentagrama e reconhecer as notas, entendendo tempo, compasso e duração”
Major Eraldo Azevedo, coordenador musical das escolas de gestão compartilhada do CBMDF
Segundo o coordenador musical das escolas de gestão compartilhada do CBMDF, major Eraldo Azevedo, as aulas não começam diretamente com a prática no instrumento. O primeiro passo é a musicalização por meio da teoria. “É um pouquinho mais chato, mas em um mês, um mês e meio, eles já conseguem ler o pentagrama e reconhecer as notas, entendendo tempo, compasso e duração”, explica. Só depois dessa etapa os alunos passam a experimentar os instrumentos.
O processo de escolha é feito de forma orientada. Os instrumentos são apresentados, e cada estudante pode se identificar com algum deles. A equipe sempre avalia se o aluno tem aptidão – no caso da clarineta, por exemplo, primeiro testam a boquilha e a palheta antes de montar o instrumento completo. Se um estudante não se adapta, é direcionado para outro instrumento até encontrar aquele em que melhor se encaixa. “Eles escolhem, sim, mas nós também orientamos para que encontrem o caminho certo”, aponta o coordenador.
Atualmente, entre as 17 escolas cívico-militares sob gestão do Corpo de Bombeiros, cinco participam do projeto de musicalização em atividades regulamentares: Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 do Núcleo Bandeirante, CEF 1 do Riacho Fundo II, CEF 19 de Taguatinga, CEF 407 de Samambaia e CEF 4 de Planaltina.
Impacto
No CEF 1 do Riacho Fundo II, cerca de 50 alunos sentem o impacto diariamente na formação de música. Ocupando o posto de maestro, o major Elias Cordeiro avalia que a experiência de trabalhar com os alunos do CEF 1 é muito prazerosa e lembra que, quando iniciaram a turma em julho de 2023, os estudantes não sabiam nada de música. “Começamos do zero, com instrumentos doados pela Secretaria de Segurança Pública [SSP-DF], e o Corpo de Bombeiros entrou com os músicos”, rememora. “Desde então, temos crescido junto com esses meninos”.
Para prender a atenção dos alunos, o maestro utiliza como base o ensino coletivo de instrumentos de banda, sopro e percussão, e trabalha músicas variadas, muitas vezes sugeridas pelos próprios estudantes. “Eles pedem determinadas músicas, e nós providenciamos os arranjos, como aconteceu com Piratas do Caribe”, exemplifica.
Ele também se surpreende com o talento de muitos jovens. Alguns alunos, após cerca de um ano e meio no projeto, já conseguiram aprovação na Escola de Música de Brasília. “No próximo ano, pretendo oferecer um curso preparatório para que mais deles possam ingressar”, anuncia.
Pavimentando sonhos
Seguir a carreira musical é um dos sonhos da aluna Emanuelle Vitória de Meira, 12. Ela conta que sempre teve vontade de aprender música, mas, no início, enfrentou descrédito. Chegou a tocar flauta na igreja, mas acabou se afastando. “Sempre que eu tentava tocar alguma coisa, as pessoas falavam que eu não ia conseguir, que não ia dar certo”, relata.