Pesquisa revela benefícios do veneno das vespas em novos medicamentos para doenças neurodegenerativas
As doenças neurodegenerativas — como a Doença de Alzheimer (DA), a Doença de Parkinson (DP) e a Epilepsia do Lobo Temporal (ELT) — estão entre os maiores desafios da saúde pública contemporânea. São condições progressivas e de alto impacto social, para as quais ainda não existem terapias capazes de impedir a evolução da doença. É nesse contexto que surge o projeto “Novos tratamentos bioinspirados e associados à nanotecnologia, educação e prevenção contra as Doenças Neurodegenerativas”, com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do edital Programa de Apoio a Núcleos Emergentes (Pronem) de 2020. Pesquisa apoiada pela FAPDF estuda como compostos neuroativos encontrados em peçonhas de insetos podem orientar o desenvolvimento de novos medicamentos | Foto: Pixabay/Divulgação/ND A iniciativa é coordenada pela professora Márcia Renata Mortari, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), que conquistou o 1º lugar do Prêmio FAPDF na categoria Pesquisador Inovador – Setor Empresarial. A investigação parte de uma premissa bioinspirada: moléculas presentes na natureza podem orientar o desenvolvimento de novos medicamentos — especialmente compostos neuroativos encontrados em peçonhas de insetos. Segundo a pesquisadora, a observação do comportamento das vespas sociais levou à hipótese de que sua peçonha poderia conter moléculas com ação sobre o sistema nervoso. Essas vespas, como a espécie Polybia occidentalis, utilizam o veneno para paralisar presas, indicando a presença de compostos que afetam diretamente a atividade neuronal. A partir disso, o grupo formulou a hipótese de que tais moléculas poderiam ser purificadas e testadas contra doenças neurológicas e neurodegenerativas, dando origem à plataforma de peptídeos estudados no projeto. [LEIA_TAMBEM]O termo peptídeo refere-se a pequenas cadeias de aminoácidos — moléculas menores que proteínas — capazes de interagir de forma muito específica com estruturas celulares, o que as torna candidatas interessantes para o desenvolvimento de fármacos mais seletivos e seguros. Peptídeos inovadores Os três peptídeos bioinspirados desenvolvidos pela rede têm apresentado resultados expressivos: • Neurovespina — Investigada por seu potencial antiepiléptico e neuroprotetor; • Fraternina — Com atividade neuroprotetora em modelos de Doença de Parkinson; • Octovespina — Capaz de interferir na agregação de beta-amiloide, proteína que se acumula no cérebro em casos de Alzheimer. No caso da epilepsia refratária — quando as crises não respondem adequadamente aos tratamentos convencionais —, a Neurovespina já avançou para ensaios clínicos em cães, conduzidos em parceria com o Hospital Veterinário (HVet). Os estudos experimentais também investigaram o impacto da Neurovespina em regiões como o hipocampo e a substância negra, áreas essenciais para memória, regulação elétrica do cérebro e controle motor. A substância negra, por exemplo, é uma das regiões mais afetadas na Doença de Parkinson, por abrigar neurônios dopaminérgicos essenciais ao movimento. Exemplo de um peptídeo bioinspirado da peçonha de vespas | Imagem: Acervo pessoal/Márcia Mortari O papel da nanotecnologia Para que um fármaco atinja o sistema nervoso central, ele precisa atravessar a barreira hematoencefálica — uma barreira natural que protege o cérebro e impede a entrada de substâncias potencialmente tóxicas. A nanotecnologia é uma estratégia importante para superar esse desafio. Os pesquisadores desenvolveram nanossistemas de liberação, pequenas partículas em escala nanométrica que: • Protegem os peptídeos contra degradação; • Aumentam a estabilidade e a solubilidade; • Favorecem a chegada ao cérebro; • Permitem administração intranasal, rota que oferece acesso mais direto ao sistema nervoso central. Os estudos indicam que a Neurovespina nanoencapsulada mantém a mesma eficácia do composto livre. Além disso, quando administrada uma vez ao dia por via intranasal, sustenta a redução das crises ao longo do período crônico, sugerindo maior tempo de ação e melhor conforto terapêutico. Professora Márcia Renata Mortari, coordenadora do projeto | Foto: Marck Castro A segurança farmacológica vem sendo avaliada por três linhas metodológicas complementares: ensaios in vitro, com culturas de células neuronais; ensaios in vivo, em modelos animais; e bioinformática, para prever interações moleculares, estabilidade e possíveis efeitos adversos. Essa abordagem integrada permite identificar não apenas a eficácia, mas também potenciais riscos cardíacos, neurológicos e metabólicos — aspectos essenciais no desenvolvimento de um futuro medicamento. A cooperação multidisciplinar tem sido um diferencial do projeto: neurocientistas, farmacologistas, químicos, especialistas em nanotecnologia e equipes internacionais analisam conjuntamente os dados e refinam os métodos, garantindo maior robustez científica. Impactos científico e social Os resultados da pesquisa têm potencial para transformar o manejo de doenças neurológicas refratárias, tanto na medicina humana quanto na veterinária. Novas terapias podem reduzir a frequência e a intensidade das crises, melhorar a autonomia e a qualidade de vida, diminuir hospitalizações e reduzir custos associados a tratamentos crônicos pouco eficazes. O estudo também posiciona o Distrito Federal no cenário da biotecnologia baseada em peptídeos, área emergente de alta complexidade tecnológica, com potencial para gerar inovação, propriedade intelectual e formação de recursos humanos especializados. O apoio da FAPDF, segundo a coordenação, foi essencial para consolidar o núcleo de pesquisa e viabilizar etapas de alto custo — desde a purificação dos peptídeos até a execução de ensaios pré-clínicos e clínicos, além da aquisição de equipamentos especializados. “Apoiar projetos como a Rede Neurobioprospecta é investir em soluções que nascem no Distrito Federal e têm potencial para transformar vidas no Brasil e no mundo. É ciência de excelência gerando impacto real na saúde humana e animal”, afirma Leonardo Reisman, diretor-presidente da FAPDF. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)
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Dia Mundial da Doença de Alzheimer: rede pública do DF foca em diagnóstico precoce
Mais do que lapsos de memória comuns do envelhecimento, o Alzheimer é uma condição que compromete progressivamente a autonomia da pessoa, transformando a rotina de pacientes e famílias. A doença é a principal causa de demência no mundo. Lembrado em 21 de setembro, o Dia Mundial da Doença de Alzheimer tem como objetivo ampliar a conscientização e reforçar a campanha global Setembro Roxo — em 2025, o tema “Pergunte sobre Demência e Alzheimer” busca estimular o diálogo, combater o estigma e incentivar a população a buscar informações confiáveis e o diagnóstico precoce. De acordo com estudo do Ministério da Saúde, cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais convive com a doença, o que representa aproximadamente 1,8 milhão de casos. Até 2050, a projeção é que 5,7 milhões de pessoas sejam diagnosticadas no país com Alzheimer. Diagnosticado com Alzheimer, Antônio Batista faz tratamento no Hospital de Base: "O atendimento é excelente, sempre fomos muito bem recebidos e acolhidos", relata a filha, Fabiana Silva | Foto: Alberto Ruy/IgesDF Atendimento especializado Antônio Batista, 86 anos, tem Alzheimer e faz tratamento no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF). Segundo a filha, Fabiana Silva, o acompanhamento é tranquilo. “A gente vem aqui com frequência para ficar de olho na evolução da doença. O atendimento é excelente, sempre fomos muito bem recebidos e acolhidos”, relata. No Hospital de Base (HBDF), o atendimento é realizado no ambulatório de Neurologia Cognitiva, que funciona às segundas e terças-feiras à tarde e às quartas-feiras pela manhã. [LEIA_TAMBEM]O neurologista Carlos Uribe destaca que reconhecer os primeiros sinais do Alzheimer é essencial. “Muitas vezes os familiares acham que alguns sintomas fazem parte da idade, mas pode ser o início de uma doença que precisa de acompanhamento médico”, alerta. “No início, a pessoa começa a apresentar esquecimentos que atrapalham a rotina diária, como perder objetos com frequência, repetir perguntas, esquecer compromissos e até se perder em lugares conhecidos”. O Alzheimer não afeta apenas a memória. Com a evolução da doença, surgem mudanças de comportamento, dificuldades para realizar atividades simples e alterações emocionais. Entre os sintomas mais comuns estão: esquecimentos que interferem na vida diária; dificuldade em planejar ou resolver problemas; troca de palavras e perda de vocabulário; alterações de humor e personalidade; desorientação em tempo e espaço; e dificuldade para reconhecer familiares em fases mais avançadas. “É uma doença que, ao longo do tempo, tira a autonomia do paciente. Ele vai perdendo a capacidade de se vestir sozinho, se alimentar, cuidar da higiene e até reconhecer pessoas próximas. Isso exige dedicação integral da família ou de cuidadores”, observa o neurologista. Carlos Uribe, neurologista do HBDF: “Muitas vezes os familiares acham que alguns sintomas fazem parte da idade, mas pode ser o início de uma doença que precisa de acompanhamento médico” Diagnóstico, tratamento e prevenção O diagnóstico do Alzheimer envolve entrevistas clínicas, testes cognitivos e exames de imagem, que ajudam a diferenciar a doença de outras condições. Embora ainda não exista cura, o tratamento pode retardar a progressão e melhorar a qualidade de vida. Ele combina medicamentos, terapias de reabilitação e acompanhamento multiprofissional com neurologistas, psiquiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e nutricionistas. Segundo o neurologista, manter hábitos saudáveis ao longo da vida, praticar exercícios físicos regularmente e adotar uma dieta equilibrada e rica em nutrientes são formas de prevenir ou retardar o aparecimento da doença. Além disso, exercitar a memória com leitura e atividades que estimulem o cérebro também é um aliado contra o Alzheimer. Para Uribe, a conscientização é fundamental para reduzir o estigma e fortalecer o cuidado coletivo. “À medida que a população envelhece, aumentam os casos de Alzheimer. É fundamental preparar a rede de saúde, mas também acolher o paciente e a família com empatia”, destaca. *Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)
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Pesquisa brasiliense transforma substância de vespa em possível aliada contra o Alzheimer
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência no mundo e afeta cerca de 55 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas convivam com a enfermidade, número que tende a crescer com o envelhecimento da população. O impacto é profundo: além de comprometer a memória e a autonomia dos pacientes, gera altos custos para famílias e para o sistema de saúde. Buscando novas alternativas para conter a progressão da doença, um grupo interdisciplinar da Universidade de Brasília (UnB) está desenvolvendo peptídeos — pequenas cadeias de aminoácidos que formam proteínas e podem ter ação terapêutica — com potencial para impedir a formação de placas de beta-amiloide, proteína associada ao Alzheimer. O projeto, apoiado pelo programa FAPDF Learning 2023, é coordenado pela professora Luana Cristina Camargo, do Instituto de Psicologia da UnB. A iniciativa reúne pesquisadores do Instituto de Física, da Faculdade de Farmácia e do Laboratório de Neurofarmacologia, aliando física, bioinformática, nanotecnologia e farmacologia em um esforço conjunto. Equipe reúne pesquisadores de várias áreas da Universidade de Brasília (UnB) | Foto: Divulgação/FAPDF O ponto de partida foi um peptídeo chamado octovespina, extraído da peçonha da vespa social Polybia occidentalis, espécie presente na biodiversidade brasileira. Esse composto já havia demonstrado a capacidade de reduzir a agregação da beta-amiloide em estudos anteriores. “Nosso objetivo foi aprimorar a octovespina e aumentar sua eficácia por vias menos invasivas, explorando todo o potencial da bioinformática para projetar moléculas mais eficientes”, explica Luana. Próximos passos Avaliação da capacidade de peptídeos bioinspirados de veneno de vespa (fraternina-10 e octovespina) na desagregação e antiagregação de fibrilas de β-amiloide A equipe desenvolveu um análogo da octovespina, alterando um aminoácido para melhorar a absorção no organismo. A aplicação por via intranasal mostrou-se promissora e já resultou no depósito de patente. Outra criação foi a alzpeptidina, uma “quimera” molecular que combina elementos da octovespina e de outro peptídeo estudado no laboratório, a fraternina. Simulações computacionais indicam que a alzpeptidina pode atravessar a barreira hematoencefálica — filtro natural que protege o cérebro, mas também dificulta a chegada de medicamentos — e desestabilizar as placas de beta-amiloide. Os próximos passos incluem testes de eficácia in vitro e em modelos animais, avaliando se as moléculas realmente impedem a toxicidade da beta-amiloide em células e melhoram funções cognitivas. Para potencializar os resultados, o grupo também aplica nanotecnologia, manipulando materiais em escala nanométrica para otimizar a entrega e ação dos compostos no cérebro. [LEIA_TAMBEM]Apesar dos avanços, o projeto enfrenta desafios logísticos e de infraestrutura. A importação de reagentes e insumos pode levar de seis meses a um ano, e interrupções no fornecimento de energia já atrasaram experimentos sensíveis. “A FAPDF cumpriu integralmente o aporte previsto e mantém um canal de comunicação eficiente, facilitando a gestão do projeto e oferecendo orientações que nem sempre fazem parte da rotina de um docente”, destaca Luana. Além do potencial terapêutico, a pesquisadora ressalta a importância de valorizar a ciência nacional e a biodiversidade: “Assim como outras substâncias brasileiras já deram origem a medicamentos, nosso trabalho mostra que a riqueza natural do país pode inspirar soluções inovadoras para problemas de saúde pública”. Se bem-sucedido, o estudo poderá avançar para etapas clínicas, representando uma nova esperança no tratamento do Alzheimer Se bem-sucedido, o estudo poderá avançar para etapas clínicas, representando uma nova esperança no tratamento do Alzheimer e reforçando o protagonismo brasileiro na busca por terapias de ponta. A FAPDF tem atuado para viabilizar iniciativas que unem ciência de ponta e potencial de impacto social. Para o diretor-presidente da fundação, Leonardo Reisman, a pesquisa liderada pela UnB é um exemplo de como a produção científica do Distrito Federal pode alcançar relevância global. “Trata-se de um trabalho que alia conhecimento científico de altíssimo nível e a riqueza da biodiversidade brasileira para enfrentar um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade. Nosso papel é garantir que ideias como essa tenham as condições necessárias para avançar e beneficiar a sociedade”, ressalta. *Com informações da FAPDF
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Alzheimer: quando o ato de cuidar representa um risco à saúde mental
“De repente há essa desorientação com o lugar onde está ou ela passa a repetir as mesmas coisas várias vezes, a fazer as mesmas perguntas, a confundir se é dia ou noite, a não saber se já almoçou.” Os sintomas podem ser desconcertantes para quem convive com uma pessoa diagnosticada com Alzheimer. Para a psicóloga Danielle Sousa, então, a provação é dobrada: tanto o pai, Daniel, de 89 anos, quanto a mãe, Maria, 73, sofrem com a doença. “A cada momento em que a doença avança, ambos exigem reorganizações”, declara. Cada um se encontra atualmente em um estágio diferente do Alzheimer. O pai já não tem mais autonomia para se locomover ou se alimentar, e a interação com o seu redor é mínima. A mãe enfrenta os sintomas iniciais, com alterações na memória recente, na personalidade e em nas habilidades visuais e espaciais. “Há um grande desafio para aqueles que vão exercer essa relação de cuidado com os pais ou com algum membro da família, porque existem pesquisas científicas que indicam que os cuidadores primários também tendem ao adoecimento psíquico”, afirma Danielle. Secretaria de Saúde desenvolve atividades para retardar o avanço do Alzheimer nos pacientes que buscam tratamento na rede pública | Foto: Divulgação/Agência Saúde-DF Da mudança brusca de personalidade de quem conhecíamos tão bem ao esquecimento progressivo – chegando até mesmo à inversão de papéis, quando o paciente passa a acreditar que os filhos são os seus pais –, nada na doença indica ser fácil de assimilar. A própria psicóloga viu a necessidade de fazer terapia para conseguir lidar com a situação. “É preciso estabelecer situações de cuidado com o próprio cuidador, que muitas vezes tem que abrir mão de vivências pessoais. Enquanto meus pais estão adoecidos, não posso deixar de trabalhar, de educar a minha filha, de fazer um monte de coisas”, elenca. A doença O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal. Manifesta-se pela deterioração da memória e da cognição, pelo comprometimento gradual da habilidade em exercer atividades da vida diária e por uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos que incluem alterações comportamentais. A causa ainda é desconhecida, mas acredita-se que possa ser geneticamente determinada. [Olho texto=”O Ministério da Saúde aponta que, no mundo, cerca de 35,6 milhões de pessoas são diagnosticadas com Alzheimer” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] A doença se instala quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começa a falhar. Surgem, então, fragmentos de proteínas mal cortadas, tóxicas, dentro e ao redor dos neurônios. Como consequência dessa toxicidade, ocorre a perda progressiva das células em certas regiões do cérebro, como no hipocampo – que controla a memória – e no córtex cerebral, essencial para a linguagem, o raciocínio, a memória, o reconhecimento de estímulos sensoriais e o pensamento abstrato. O Ministério da Saúde aponta que, no mundo, cerca de 35,6 milhões de pessoas são diagnosticadas com Alzheimer. No Brasil, 1,7 milhão de indivíduos com 60 anos ou mais têm algum tipo de demência, e só a doença de Alzheimer corresponde a 55% desses casos (966.594), segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). O estudo realizado pela organização indica que há ainda outros 2,3 milhões de brasileiros na mesma faixa etária com algum tipo de declínio cognitivo com sintomas relacionados à memória e à cognição, mas ainda não apresentando sinais de demência. A estimativa é que até 2030 sejam 2,78 milhões e, até 2050, mais de 5,5 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais convivendo com demência. Lidando com o Alzheimer Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia na seccional DF (SBGG-DF), Marcela Pandolfi joga luz sobre a maneira como cuidadores e familiares devem interagir com quem sofre com demência em geral, sendo indispensável entender que o comportamento da pessoa não é proposital. “Se um paciente apresenta episódios de delírio, com ideações de que a esposa o está traindo, por exemplo, ou que alguém o está roubando, é importante que o cuidador não o confronte: isso pode agravar o comportamento e deixar o idoso ainda mais agitado, porque, na cabeça dele, aquilo é real”, exemplifica. Maria enfrenta os sintomas iniciais do Alzheimer e já iniciou tratamento para retardar as consequências da doença | Foto: Alexandre Álvares/Agência Saúde-DF Além disso, estabelecer rotinas se configura como parte primordial do tratamento. A médica salienta a relevância de fixar horários para ações simples como acordar, tomar café, almoçar, realizar atividades físicas ou tomar banho. “Quanto mais rotina esse paciente tiver, melhor”, defende Pandolfi. Sintomas Queixas de esquecimento a curto prazo, sintoma mais conhecido da doença de Alzheimer, raramente vêm do próprio paciente, pois a degeneração cognitiva muitas vezes os impede de ter essa percepção. “Os sinais de alerta passam a ficar mais preocupantes conforme se tornam recorrentes naquele paciente que vem apresentando alterações de humor, perda da iniciativa, dificuldade em executar tarefas que antes conseguia fazer de maneira independente. Quando a situação começa a afetar a independência e a autonomia do indivíduo, tem-se um sinal de que pode haver algo acontecendo”, alerta Pandolfi. [Olho texto=”“A demência de Alzheimer é uma doença degenerativa, progressiva e sem perspectiva presente de cura”” assinatura=”Larissa Freitas, referência técnica distrital (RTD) de geriatria” esquerda_direita_centro=”direita”] Embora não haja cura para o Alzheimer, existe tratamento disponível para retardar a evolução da doença, assim como para combater os sintomas colaterais causados pelo declínio cognitivo – como alterações do sono ou depressão. “É importante ter em mente que esse tratamento não é um tratamento curativo: com medicação ou sem medicação, a doença vai progredir. O que se pretende com os remédios é manter o paciente funcional o maior tempo possível”, afirma a médica. Tabu “A demência de Alzheimer é uma doença degenerativa, progressiva e sem perspectiva presente de cura. E, por ser uma notícia de difícil comunicação, acaba sendo rodeada de preconceitos e mitos”, afirma a referência técnica distrital (RTD) em geriatria e Alzheimer pela Secretaria de Saúde (SES-DF), Larissa Freitas. Ela destaca que as principais ferramentas de apoio aos familiares consistem na informação, na atenção e no acompanhamento continuados pelas equipes de saúde. “Para que isso aconteça, é necessário conhecer o contexto social e familiar do paciente e comunicar de forma clara e compassiva quais sintomas e situações são esperados no decorrer da doença”, diz a especialista. A RTD ressalta o papel das equipes interdisciplinares na formulação de estratégias gerais e específicas para cada desafio que o paciente e os cuidadores enfrentam no dia a dia: “Eles fornecem suporte social – como a orientação quanto a benefícios previdenciários –, clínico – nas intercorrências naturais da doença – e emocional.” [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] O ambulatório de geriatria e gerontologia do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) oferta semestralmente curso de capacitação e cuidado integral com a pessoa idosa. Freitas enfatiza que o suporte dado ao binômio paciente/família é realizado por meio do acompanhamento clínico de médicos generalistas e especialistas da atenção primária e secundária à saúde, além do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar (Nrad). O curso é ofertado duas vezes ao ano, na Policlínica Taguatinga 3 (Setor Central, QSD 12, Área Especial nº 1 – Taguatinga Centro). Uma nova turma será oferecida em março. As inscrições são realizadas presencialmente na unidade e são gratuitas. Atualmente há lista de espera para os interessados. Mais informações pelo telefone: (61) 3449-6531. Cuidando de quem cuida O tratamento, segundo a RTD em cuidados paliativos da SES-DF, Melissa Gebrim, deve abarcar também o cuidador. “Em geral, nas doenças neurodegenerativas, é comum que se tenha um familiar que abandonou todas as atividades laborais e de lazer para cuidar daquela pessoa. Nesse sentido, quando o paciente falece, a pessoa pode vivenciar um luto complicado, pois, por muito tempo, se viu como cuidadora. Ela precisará encontrar um novo sentido para a vida, novos objetivos”, detalha. O Hospital de Apoio de Brasília (HAB) conta com ambulatório e ala específica para cuidados paliativos geriátricos, de modo a oferecer o auxílio necessário também aos familiares. *Com informações da Secretaria de Saúde
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