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Concurso Sabor de Escola 2025 elege a melhor merendeira da rede pública do DF

O concurso Sabor de Escola celebra o esforço de quem transforma alimentação escolar em cuidado diário com milhares de estudantes. Este ano, o certame elegeu, na segunda-feira (15), a melhor merendeira da rede pública de ensino do Distrito Federal: Marli Pereira, da Escola Classe (EC) 15 de Ceilândia, que trabalha na área há 15 anos. A cozinheira ganhou o concurso com o prato Joia Rara, composto por peixe ao molho, gratinado com queijo e batata, leite de coco, arroz e salada tropical.  Com o dinheiro do prêmio, Marli Pereira pretende dar entrada na casa própria | Foto: André Amendoeira/SEEDF A final do Sabor de Escola contou com oito jurados técnicos, entre eles nutricionistas, chefs de cozinha renomados, diretores de alimentação, e o principal público-alvo: estudantes da rede pública de ensino. Além de dez convidados. “O concurso é destinado às merendeiras, que dedicam boa parte de suas vidas a oferecer até seis refeições por dia para os estudantes da rede pública. Esses profissionais têm essa afetividade muito forte com os alunos da rede, então é muito legal vê-los participando com tanta empolgação”, afirmou a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá.  "Antes, nós tínhamos 97% da nossa merenda escolar industrializada, mas isso tudo mudou. Hoje, temos apenas 3% da merenda escolar industrializada" Celina Leão, vice-governadora A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, madrinha da alimentação escolar e uma das juradas da final, relembrou: “Antes, nós tínhamos 97% da nossa merenda escolar industrializada, mas isso tudo mudou. Hoje, temos apenas 3% da merenda escolar industrializada. Esse feito foi realizado com muita luta de todos os servidores da educação, das merendeiras e merendeiros.”  Ceilândia e Taguatinga em destaque Com um prêmio de R$ 15 mil para a campeã e mais R$ 150 mil para a cozinha da escola da vencedora, Marli Pereira, da EC 15 de Ceilândia, emocionou-se durante toda a competição. “Estou muito grata a todos por terem me proporcionado este momento. Com os R$ 15 mil, eu vou dar entrada na minha casa. Também queria muito essa reforma para a escola. Todo mundo que comeu o Joia Rara, gostou”.  O coordenador da Regional de  Ensino de Ceilândia, Vinícius Bürgel, comemorou bastante a vitória de Marli: “A gente acompanha as merendeiras de perto, sabemos as delícias que aparecem nas escolas, recebemos fotos dos pratos semanalmente. Marli tem um potencial enorme e eu tive o prazer de experimentar o prato dela.”  Marli Pereira, ao centro, de Ceilândia, Francisca Nunes, de Taguatinga, e Andreia Medeiros, no Núcleo Bandeirante, foram as três grandes vencedoras do concurso | Foto: Jotta Casttro/SEEDF  A vice-campeã saiu da Regional de Taguatinga, Francisca Nunes, do CEF 12. A merendeira apresentou a grande novidade: canjica de frango, um prato que conquistou o paladar dos jurados. Com a premiação de R$ 12 mil para ela e R$ 120 mil para a cozinha da escola, ela celebrou a conquista. “Meu prato é diferente, uma canjica de frango. É o mesmo grão da canjica, mas fiz salgado, cozinho o milho com sal, em outra panela faço o frango, e em outra panela eu refogo tomate, cebola, pimentão, quando todos estão cozidos eu coloco em uma panela só. E fica uma delícia”, ensinou Francisca. "Estamos planejando para o próximo ano um projeto para unir as merendeiras, nutricionistas e professores de educação física" Daniela Freitas, coordenadora da regional de ensino de Taguatinga A coordenadora Regional de Taguatinga, Daniela Freitas, também apaixonada pela culinária, contou um pouco sobre os projetos para 2026: “Estamos planejando para o próximo ano um projeto para unir as merendeiras, nutricionistas e professores de educação física, com isso vamos trabalhar e incentivar os estudantes a terem uma alimentação cada vez mais saudável.”  Com torcida organizada por Francisca, Gabriel Lucas Ferreira, de 18 anos, estudante do CEMI de Taguatinga, ressaltou. “Minha escola faz uma comida perfeita, hoje mesmo o suco era de morango. Esse ano tivemos frango assado! É muita comida boa”.  Classificação final da 3ª edição do Sabor de Escola  ⇒ 1º lugar: Marli Pereira Bueno de Souza, da EC 15 de Ceilândia Receita: Joia Rara ⇒ 2º lugar: Francisca Nunes Alecrim, do CEF 12 de Taguatinga Receita: Canjica de frango ⇒ 3º lugar: Andreia Medeiros Verde Lima, do CEF Metropolitana, no Núcleo Bandeirante Receita: Arroz carreteiro cremoso com lombo suíno e legumes salteados ⇒ 4º lugar: Cristiane Nogueira de Oliveira, do CEF 201 de Santa Maria Receita: Filé de peixe com purê de inhame e molho verde ⇒ 5º lugar: Karlene Pereira Moreira, da Escola Cora Coralina, no Paranoá Receita: Quibe de abóbora com creme de inhame ⇒ 6º lugar: Joedson dos Santos, do CEF Cerâmica São Paulo, em São Sebastião Receita: Filé de tilápia grelhada ao molho de moqueca ⇒ 7º lugar: Rosilane Batista dos Santos, do CED Vale do Amanhecer, em Planaltina Receita: Ousada    ⇒ 8º lugar: Maria Cristina de Carvalho Ferreira, da EC 08 do Guará II Receita: Tropeiro Kids *Com informações da Secretaria de Educação  

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Colônia de férias em biblioteca de Taguatinga diverte a garotada no fim do recesso

Pães de queijo saindo do forno, um bolo de chocolate quentinho, milk shakes e biscoitinhos com glitter em diversos formatos – esses foram alguns dos destaques que marcaram a segunda edição da colônia de férias Sabores e Histórias, que utiliza atividades lúdicas para despertar o amor pela literatura nas crianças de Taguatinga. A programação, elaborada em parceria com a Secretaria de Educação (SEEDF), começou na quarta-feira (5) e terminou nesta sexta-feira (7), na Biblioteca Escolar Comunitária Valéria Jardim. Turma com as mãos na massa: aprendizado fica mais divertido quando atividades lúdicas fazem parte da programação | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília Durante as manhãs e tardes, crianças de 7 a 12 anos participaram gratuitamente das atividades, que contaram com mais de 80 inscrições. Cada dia abordou uma temática especial para os pequenos leitores. O primeiro tema foi “Corte e Costura Criativa”, e os participantes confeccionaram fantasias e acessórios inspirados em personagens literários, além de customizarem ecobags com trechos de livros ou ilustrações baseadas em suas leituras favoritas, incentivando a expressão artística e a criação manual. Já no segundo dia, as crianças colocaram a mão na massa com a oficina “Gastronomia Literária”, onde o universo dos livros ganhou forma e sabor com a criação de receitas inspiradas em obras literárias da oficina “Histórias Comestíveis”. O terceiro dia teve como abordagem “Jogos Literários”, com uma caça ao tesouro literário que desafia as crianças a resolver pistas inspiradas nas páginas dos livros. O dia também teve sessões de contos interativos, durante as quais os participantes puderam escolher finais alternativos para clássicos da literatura. Histórias na mesa Alice Costa gostou da experiência: “Nunca aprendi a cozinhar um bolo, e hoje estou fazendo um igual ao da história” Absorta na parte gastronômica do segundo dia da colônia de férias, Alice Barros de Medeiros Costa, de 7 anos, ficou empolgada para fazer um bolo pela primeira vez. “Eu não tinha nada para fazer em casa, então vim para cá”, contou. “Nunca aprendi a cozinhar um bolo, e hoje estou fazendo um igual ao da história”. Júlia Dourado: “Aqui a gente lê tudo gratuito, sai um pouquinho do celular e faz amizades com pessoas novas” Depois de se encantar com a história da Cinderela, Júlia Dourado, 10, reforçou a importância da colônia de férias para sair das telas e entrar na imersão que os livros físicos podem proporcionar: “Aqui a gente lê tudo gratuito, sai um pouquinho do celular e faz amizades com pessoas novas. Também aprendemos português e trabalhamos a imaginação, principalmente nos livros que não têm desenho”. Luciane Azeredo, professora de gastronomia, elogiou o desempenho das crianças: “Na leitura elas têm toda essa questão imaginativa, e na cozinha estão vendo um pouquinho de lá se materializando, feito pelas próprias mãos” Já para Henrique Antonioli, 9, a parte mais interessante da programação foi a oportunidade de fazer amigos – além dos momentos de degustação. “Estou me divertindo, fazendo amizades, e depois vai ser a merenda, que é a melhor hora do dia”, disse. As atividades ocorreram com o auxílio de professores da SEEDF. Entre os profissionais que orientavam as crianças, a professora de gastronomia da Escola de Sabores, Luciane dos Santos Azeredo, lembrou que a junção da etapa literária com a culinária forma uma construção lúdica de extrema riqueza para as crianças. “Na leitura elas têm toda essa questão imaginativa, e na cozinha estão vendo um pouquinho de lá se materializando, feito pelas próprias mãos”, comentou Luciane. É fantástica a materialização dessa imaginação, um doce na medida certa.” Ganho para a comunidade “Quando é desenvolvida de uma forma lúdica, a leitura chama mais atenção, e eles participam mais, porque não estão só em uma sala de aula consumindo conteúdo, estão praticando” Sandra Barros, coordenadora da Biblioteca Escolar Comunitária Valéria Jardim O projeto estimula a imaginação e a criatividade dos participantes oferecendo uma combinação de atividades práticas que integram literatura, gastronomia e artesanato, com foco no desenvolvimento motor, cognitivo e social das crianças. Para a coordenadora da biblioteca, Sandra Barros, o projeto promove a descoberta de novas formas de aprender e interagir com o mundo da literatura. “São várias habilidades que as crianças estão adquirindo ao longo desses dias na colônia de férias”, avaliou a gestora. “Sabemos a dificuldade que as crianças têm pelo gosto da leitura e da escrita, ainda mais com o meio digital, então trabalhamos com o livro físico e a participação do aluno com o que ele entendeu da história. Quando é desenvolvida de uma forma lúdica, [a leitura] chama mais atenção, e eles participam mais, porque não estão só em uma sala de aula consumindo conteúdo, estão praticando e de fato colocando a mão na massa.” Sandra observou que muitas crianças advindas de casas de acolhimento fazem parte do projeto. “Essas crianças, muitas vezes, não têm a oportunidade de sair daquele espaço para vivenciar coisas novas”, avaliou. “Fiquei emocionada quando uma criança disse ter sido o dia mais feliz da vida dela. Isso é muito gratificante”.

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Bombeiros do DF se preparam para representar o Brasil em competição internacional

Consagrados campeões no Bombeiros Challenge Brasil 2024, os atletas do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) já estão focados na próxima disputa internacional, o World Firefighters Games (WFG), a ser disputado na Dinamarca de 7 a 14 de setembro e considerado a maior competição mundial de bombeiros. A preparação da equipe brasiliense é intensa desde a seletiva do início do ano e os treinamentos ocorrem no Centro de Treinamento Operacional do CBMDF (Cetop) seis dias por semana, aproveitando as horas de folga dos militares | Fotos: Paulo H Carvalho/Agência Brasília A corporação participa da competição internacional desde 1996, sempre com destaque. São mais de 40 modalidades, abrangendo esportes como natação, judô, taekwondo, xadrez, luta livre e até culinária. Mas o foco da equipe está na modalidade Toughest Firefighter Alive (TFA), também conhecida como “Bombeiro Durão” pela equipe brasileira. De acordo com o subtenente Bernardo Viegas, a corporação costuma competir em provas consideradas relacionadas ao que os bombeiros fazem no cotidiano Nessa categoria, 250 competidores do mundo inteiro executam atividades de aptidão física semelhantes ao trabalho cotidiano de um bombeiro, como puxada de mangueira, escalada de parede, corrida de escadas com peso e rastejamento em túnel, entre outros circuitos. A preparação da equipe brasiliense é intensa desde a seletiva do início do ano, com atividades no Centro de Treinamento Operacional do CBMDF (Cetop) seis dias por semana, aproveitando as horas de folga dos militares. Segundo o líder da modalidade e supervisor da equipe, o subtenente Bernardo Viegas, a corporação costuma competir em provas consideradas relacionadas ao que os bombeiros fazem no cotidiano. “Quando a gente chega a uma cena de incêndio, por exemplo, uma das primeiras providências é efetuar o desligamento da energia elétrica da edificação, então a gente nunca vai ter elevadores disponíveis. Logo, a subida de escada com pesos é uma coisa extremamente relacionada à nossa profissão”, ressalta o militar. A sargento Luiza Velho, que foi nove vezes campeã mundial na modalidade TFA, está entre os oito bombeiros do DF que compõem o time que representará o país nos jogos mundiais Viegas explica que apenas o uniforme contra incêndio do bombeiro já pesa entre 15 kg e 20 kg. Isso ainda é somado à carga que eles acrescentam para fazer o percurso da prova durante os treinos específicos, que passam por quatro etapas e são complementados por outros três dias de treinos cardiovasculares que trabalham força, potência e resistência. Suporte da corporação Entre os oito bombeiros do DF que compõem o time que representará o país nos jogos mundiais, está a sargento Luiza Velho, 41, que foi nove vezes campeã mundial na modalidade TFA. Ela mostra confiança, acentuando que a torre do centro de treinamento que a equipe tem utilizado nos treinos é bem parecida com a que será base das provas na Dinamarca. Além disso, a bombeira destaca a importância do apoio que a equipe recebe do CBMDF, que custeia as passagens e diárias para que os militares tenham condições de competir e também conciliar o trabalho com os treinamentos. O 3º sargento José Ribamar de Lima Neto foi campeão em diversas edições de torneios mundiais, tanto na categoria geral quanto em equipe “A gente tem tido muito suporte da corporação, tanto econômico quanto de divulgação. A estrutura daqui está sempre liberada para a gente treinar. É uma prova bem pesada, mas estamos muito confiantes porque a gente adquire muita carga e experiência entre uma competição e outra. A gente está com material, preparo físico e uma equipe técnica boa”, declara. Para Luiza, o retorno positivo que as competições trazem é  aplicado diretamente no atendimento que os bombeiros realizam para a população: “Nossa atividade exige capacidade física o tempo todo, como se fosse nosso primeiro equipamento de proteção individual. Uma competição exige muito do nosso físico e mental, que caminham juntos na nossa profissão. Estar treinando para essas competições traz um atendimento de nível mais elevado como profissionais capacitados e isso nos motiva bastante”. Brasília no pódio Os atletas do CBMDF já conquistaram oito pódios em torneios mundiais – entre eles, o sediado na Arábia este ano e outro em Portugal, no ano de 2022. “Equipes da República Tcheca, Estados Unidos e Alemanha ficaram atrás de nós, nosso trabalho tem tido muito resultado. A gente está conseguindo colocar em prática o que treina e Brasília está conquistando um lugar muito bom no pódio”, observa o 3º sargento José Ribamar de Lima Neto, 34, que foi campeão em diversas edições, tanto na categoria geral quanto em equipe. O militar frisa que as provas visam testar as habilidades em ocorrências de salvamento e combate a incêndio, de modo que um bombeiro precisa fazer o trabalho que normalmente é realizado por uma guarnição de quatro a cinco pessoas. Vence quem fizer isso no menor tempo e dentro das regras. “Ao competir, nós estamos aprimorando nossa condição técnica e física para atender melhor aos cidadãos. Para mim agregou bastante, tanto na minha vida como bombeiro quanto na minha na pessoal, porque tive um desenvolvimento físico e mental em relação à minha capacidade, o que vai refletir dentro e fora da corporação. A gente sempre está se desafiando, se superando e aumentando a resiliência nas situações do cotidiano”, reforça Ribamar.

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Viva Brasília 64 anos: As várias faces da estética brasiliense

Prestes a completar 64 anos de vida, Brasília é a capital responsável por abrigar todos: desde candangos que edificaram prédios, passando pelos descendentes e aqueles que vêm somente para visitar e conhecer a construção da identidade cultural do Quadradinho. No especial Viva Brasília 64 anos, a Agência Brasília convida você a lembrar, conhecer e viver o jeitinho brasiliense, contemplado pela arquitetura, culinária, arte, esporte e outras áreas. Forjada na diversidade, a capital tem gerações que nasceram aprendendo a fazer o balão, descer a tesourinha e pegar o zebrinha – coisas que fazem sentido para os brasilienses e compõem o estilo de vida da cidade, mas podem causar estranhamento a quem vem de fora. Arte: Agência Brasília Para a antropóloga e professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Haydèe Caruso, Brasília pode ser pensada de forma muito diversa e com múltiplas identidades devido à própria concepção da cidade, que representa a junção de todas as partes e lugares do Brasil. “A gente não estabelece padrões culturais por decretos ou protocolos, nós vamos vivendo e construindo a identidade cultural. É difícil dizer que há uma única identidade, até pelo distanciamento entre o Plano Piloto e as outras regiões administrativas, onde há vários movimentos que são berço do rap, do rock e do samba brasiliense. É um caldeirão que reúne o diverso que é o Brasil. A pluralidade pode ser nossa identidade”, explica a especialista. Arte, cultura, arquitetura, moda e gastronomia ajudam a compor a identidade única de Brasília, cidade que reúne aspectos culturais de todas as partes do país | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília A antropóloga ressalta, ainda, que a identidade cultural é um processo contínuo de construção, em que a própria linguagem e expressões coloquiais locais podem ser citadas como exemplo. Sotaque brasiliense Para o brasiliense é comum pegar um baú ou camelo e ir ao Eixão do Lazer ou até mesmo morgar embaixo de um ipê e admirar o céu Para o brasiliense, é comum pegar um baú ou camelo e ir ao Eixão do Lazer ou até mesmo morgar embaixo de um ipê e admirar o céu de Brasília – aquele conhecido como o mar da cidade. Depois, quem sabe, ir à Igrejinha e mais tarde ao Cine Drive-In ou ao Conic para um frevo. Se você não é de Brasília, o parágrafo acima pode ser um pouco confuso de entender. Mas não se preocupe, nós o ajudamos a entender o dialeto da cidade que é só o ouro para você não pagar vexa, tá ligado, véi? Essas são apenas algumas expressões típicas que fazem parte do sotaque brasiliense, tão claro para alguns e questionado por outros. O assunto foi tema do documentário Sotaque Capital, produzido pela jornalista Marcela Franco em 2013. No curta, a resposta é que sim, existe um sotaque com características próprias no DF, fruto de uma mistura de diversas regiões do país. “Vinham pessoas de todos os estados para cá. Daí nasceu esse sotaque; dizem que é falado de forma cantada e que comemos algumas letras das palavras”, acentua a jornalista. Outro termo peculiar é “babilônia”, usada para se referir às únicas quadras comerciais do Plano Piloto com ligação subterrânea. Considerada uma quebra de padrão entre as quadras modelos do Plano Piloto, a 205/206 Norte era conhecida como “a quadra estranha do Plano Piloto”, malvista por muitos e amada por alguns, e tema do documentário Babilônia Norte, dirigido por Renan Montenegro, 34. O cineasta estava entre os que passavam pela quadra e a viam de forma diferente. Lançado em 2013, o curta explora os ângulos e espaços arquitetônicos do espaço, fazendo parte de um movimento de identificação cultural em Brasília que surgiu no mesmo ano. “O que mais potencializou esse movimento foi ser um trabalho feito por brasilienses, convidando mais artistas brasilienses para um público brasiliense. É um discurso bem bairrista: feito aqui, por nós, sobre nós e para nós. É pertencer à cidade e dar ressignificado para as coisas”, conta Renan. O diretor aponta que o ano de 2013 foi uma virada para a identidade brasiliense e fez diferença na quadra para o que ela é hoje. A mesma lógica, que parte de ocupar os espaços públicos, é aplicada ao Carnaval de Brasília, que já tem um circuito a contemplar os brasilienses que não precisam mais viajar só para se divertir em bloquinhos. “Para uma cidade nova, dez anos fazem muita diferença. Há um desenvolvimento dos artistas locais e do público. Brasília sempre foi muito fria pela construção arquitetônica e urbanística e pelos endereços cheios de números. Então, até esse movimento de apelidar os lugares, por exemplo, ajuda no processo de chamar a cidade de nossa”, destaca o cineasta. Moda e gastronomia O chef André Castro defende a gastronomia com ingredientes locais: “Precisamos começar a olhar para o quintal da gente” Essa construção de identidade entra em outros campos. Os alimentos típicos do Cerrado são usados na elaboração de menus executivos, festivais gastronômicos e cardápios especiais. Entre os restaurantes que ressaltam essa culinária local está o Authoral, localizado na Asa Sul e comandado pelo chef de cozinha André Castro. Durante o período em que esteve na Europa, André assimilou o importante aprendizado de enaltecer o local. “Valorizar o ingrediente que está próximo a você, seja porque ele faz parte da cultura, seja porque chega até você mais fresco: isso é valorizar, também, toda a cadeia produtiva que está próxima”, pontua. Atualmente, há dois pratos incluídos no cardápio nessa linha. O primeiro leva óleo de babaçu tostado no lugar do óleo de gergelim. É um filé de pescada-amarela com crosta de castanhas brasileiras, musseline de batata-doce roxa, creme de moqueca e vinagrete de milho tostado. No outro preparo, é usada uma técnica espanhola para fazer uma croqueta com massa de galinha caipira com emulsão de pequi. “Infelizmente, o brasiliense ainda conhece pouco do Cerrado. As pessoas nascem e crescem no Cerrado, mas não conseguem falar cinco ingredientes encontrados aqui. Precisamos começar a olhar para o quintal da gente”, comenta o chef. Na loja Verdurão, Wesley Santos trabalha com duas ‘estações do ano’: seca e chuva Não só a culinária é influenciada por características locais do DF, mas também a moda. Enquanto muitos países apresentam estações do ano bem-definidas, a marca de roupas Verdurão, criada em 2003, entende que isso não existe na realidade brasiliense. “Temos duas estações: seca e chuva. E é assim que operamos, com roupas para época de seca e época de chuva. Eu até brinco que a Verdurão começou a falar da identidade cultural de Brasília em uma época em que a gente nem sabia que tinha uma identidade. A marca ajudou a mapear e explicitar essa identidade aos brasilienses”, afirma o diretor criativo da Verdurão, Wesley Santos. Além de ser uma rede de apoio à economia local e às várias famílias que vivem da produção do vestuário, a Verdurão produz roupas sem nada de origem animal. Algumas são feitas com tecidos biossustentáveis, como fibra de bananeira e de cânhamo. “Eu já rodei o mundo inteiro e nunca vi nada minimamente parecido com Brasília. É uma cidade cenário diferente de tudo” Wesley Santos, diretor criativo Uma das missões da empresa é, segundo Santos, “promover Brasília até para gringo conhecer” e “mostrar para o resto do país o quanto Brasília é massa”. Para o diretor criativo, não é tarefa difícil trabalhar com estampas que retratam o cotidiano da capital federal, usando e abusando dos símbolos brasilienses – placas, fauna, flora, gírias, costumes e cartões-postais. “Estamos em uma cidade fora do normal, incrível. Temos um estilo de vida que não se encontra em nenhuma cidade do país. Eu já rodei o mundo inteiro e nunca vi nada minimamente parecido com Brasília. É uma cidade-cenário diferente de tudo”, afirma. Brasília é poesia Com oito livros repletos de poesias que falam sobre Brasília, o poeta Nicolas Behr compartilha dessa paixão pela cidade onde mora há 50 anos. O autor frisa que tudo está relacionado ao choque inicial que teve com Brasília, quando chegou aos 14 anos, vindo de Cuiabá (MT), e deu de cara com uma cidade estranha, nova e árida. O poeta Nicolas Behr foi buscar inspiração nas curvas de Brasília para sua arte | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília “Essa aridez me causou um estranhamento, uma dificuldade de aceitar essa cidade e uma tentativa constante de dialogar com ela. Foi daí que nasceu a minha poesia, da tentativa de decifrar Brasília antes que ela me devorasse. É um conflito bom, que vai diminuindo à medida que você vai se incorporando à cidade”, observa. Behr também comenta que a parte mais visível da estética brasiliense é a contribuição para a arquitetura, sendo impossível falar de Brasília sem passar pelas obras de Oscar Niemeyer. “Antes de Brasília, a arquitetura moderna era feia, pesada, sem leveza, sem graça, sem a criatividade que Oscar Niemeyer nos trouxe. Ele tirou os ângulos retos e trouxe as curvas, deu beleza ao que antes era uma coisa pesada”. Para o poeta, Brasília representa a maior realização do povo brasileiro. “A grande história de Brasília é o que ela simboliza como uma ideia: a transposição para o papel e para o chão de uma tentativa de organizar o caos. Brasília é a cidade mais racional do mundo. É uma cidade instigante, que ganhou em vida e perdeu em mistério”, declara. Ele finaliza reforçando que Brasília, por si só, rende muita poesia: “Aqui não existe limite para a criação intelectual. Brasília é uma cidade muito nova e, por ser nova, não tem uma tradição literária. Isso é bom para o artista, porque a tradição é um peso. Em Brasília, o horizonte está na sua frente”.

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