Natureza como terapia: Cerrado auxilia na recuperação emocional
Os cuidados voltados aos pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II do Riacho Fundo vão além dos fornecidos pela equipe multiprofissional da unidade, composta por enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais. No Banho de Floresta – ação terapêutica de contato direto com a natureza –, o tratamento fica a cargo de outra equipe igualmente gabaritada: os animais, as árvores e os riachos do Cerrado candango. “Buscamos proporcionar um caminho de descoberta, de reaprender a respirar e ativar os nossos cinco sentidos. Cada dia é diferente do outro e nós sempre enfatizamos que, no tratamento da saúde mental, ‘é preciso viver um dia de cada vez’”. A fala é da coordenadora das oficinas no Caps II, Cássia Maria Garcia. Banho de Floresta no Riacho Fundo proporciona imersão dos pacientes na mata ao redor do Caps II | Fotos: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF O projeto teve início em julho de 2020, em meio à pandemia. Cássia Maria, que coordena as atividades terapêuticas no Caps desde 2006, relata que a ação ao ar livre tem sido essencial para que muitos pacientes enfrentem seus próprios momentos de medo e de inquietação. “Quando a depressão e as crises de ansiedade surgem, o mais comum é o isolamento, é buscar a escuridão e fugir do sol e da luz. Na natureza, sem perceber, fazemos o contrário: o sol nos encontra, o ar nos inspira, literalmente”, revela a coordenadora. O ex-vigilante Milton Ozimo, 53, ou apenas Irmão Milton, precisou se aposentar por conta de questões psicológicas relacionadas ao antigo trabalho. Em tratamento há anos no Caps II, Milton conta que o Banho de Floresta vem lhe proporcionando a paz interior necessária para enfrentar as dificuldades naturais da vida. “Essa caminhada pela natureza faz muito bem, a gente acaba se enchendo de uma sensação de alívio. Só por esse momento pela manhã, já temos ajuda o bastante para toda a semana”, avalia. “Essa caminhada pela natureza faz muito bem para a nossa saúde mental, a gente acaba se enchendo de uma sensação de alívio”, relata Irmão Milton Contato com a natureza Os benefícios à saúde do contato direto com a natureza são conhecidos há milhares de anos por diversas culturas ao redor do mundo. A caminhada pela floresta, da maneira como é aplicada no Caps II, inspira-se no shinrin-yoku japonês, prática adotada naquele país a partir 1982. Os defensores dessa terapia afirmam que a imersão em um ambiente de floresta contribui para a regulação da pressão arterial, a estabilização dos batimentos cardíacos, o aumento do relaxamento e a melhora da qualidade do sono. Agente de quatro patas No Riacho Fundo, o passeio é conduzido por um profissional ilustre: o famoso cachorro Caramelo, que a todo momento percorre a fila de pacientes que sobem a trilha. Sempre dócil, mas vigilante, ele pastoreia os participantes que se desgarraram do grupo, adentra os atalhos pela mata, chafurda as patas na terra molhada e bebe a água direto das incontáveis nascentes que brotam ao redor. Cássia Maria faz questão de elogiar o cão parceiro: “O Caramelo nos protege e nos guia. Sempre amável com os pacientes, até uma aranha ele nos sinaliza. Ele sente e late quando algo impõe risco, é incrível o nosso mascote”. O Banho de Floresta ocorre todas as terças-feiras, a partir das 9h, e é destinado aos pacientes em tratamento no Caps II do Riacho Fundo e seus familiares. *Com informações da Secretaria de Saúde (SES-DF)
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Horta terapêutica no Paranoá ajuda a fortalecer saúde mental de pacientes
A terapia por meio da convivência com as plantas, a terra, o ar puro, enfim, o contato direto com a natureza. É o que propõe o projeto de uma horta terapêutica sob os cuidados do Centro de Atenção Psicossocial (Caps II) do Paranoá. Nem parece atendimento de saúde, mas a dinâmica é séria e tem surtido efeito na rotina de pelo menos 15 pacientes com algum tipo de trauma severo ou problemas emocionais que se traduziram em transtornos mentais graves. É o caso da costureira Marta Sousa, 47 anos, há um mês na condição de frequentadora do canteiro de hortaliças. Voluntária do canteiro de hortaliças, Marta Sousa, 47 anos: “Depois que passei a participar desse grupo, meu sorriso voltou, rejuvenesci” Na Horta Livre do Caps II, como também é conhecida pelos frequentadores, produz-se de tudo: frutas, verduras, legumes, além de muito carinho e espírito de empatia. “É muito importante este contato com a natureza, as pessoas às vezes esquecem de contemplar a natureza, dar bom dia ao astro-rei”, observa ela. “Depois que passei a participar desse grupo, meu sorriso voltou, rejuvenesci”, agradece. Responsável pelo atendimento humanizado dos pacientes desde agosto de 2021, o psicólogo Claudio Huguet explica que o tratamento se desdobra em dois momentos importantes que culminam no que ele chama de experiência emocional corretiva: o contato direto com a horta e os bate-papos. Em ambos os processos, a promoção do acolhimento e o desenvolvimento da autoestima são latentes. A horta terapêutica do Caps II tem convênio com a Emater-DF, que oferece adubo, e parceria com a Ceasa, que doa mudas | Fotos: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília “As lições que a gente tira da horta extrapolam para a vida das pessoas”, observa o servidor de saúde. “E, nos bate-papos, é bem pragmático, com um ajudando o outro ao ouvir os problemas que alguns tiveram e auxiliando o outro por meio do relato de sua própria experiência e as estratégias que usou para enfrentá-los”, diz o psicólogo. O psicólogo Cláudio Huguet é responsável pelo atendimento humanizado dos pacientes no Caps II desde agosto de 2021 Aos 50 anos, a dona de casa Kátia Ferreira de Souza tem um problema de coluna que a atormenta dia e noite. A paz que ela encontra mexendo na horta não tem preço. “Comecei meu tratamento psicológico aqui. Estar em contato direto com a natureza e com pessoas que conseguem compreender o que estou sentindo foi uma grande ajuda”, conta. Com um problema de coluna, a dona de casa Kátia Ferreira, 50 anos, encontra paz trabalhando na horta Graças a um convênio firmado com a Emater-DF, a horta do Caps II conta com adubo de frango. E uma parceria com a Ceasa garante a doação de mudas que são cultivadas no local. O que é produzido também gera renda para os pacientes. “Além dos benefícios emocionais, psicológicos, a horta propicia a geração de renda com o suor do trabalho deles”, revela o psicólogo. “Tem um valor simbólico para eles, mas ajuda na passagem do ônibus, por exemplo”, diz. Residente com especialização em saúde mental, a fisioterapeuta Karine Vieira de Oliveira desenvolve com os pacientes voluntários da horta atividades alternativas, como oficinas de práticas corporais Residente com especialização em saúde mental, a fisioterapeuta Karine Vieira de Oliveira atua no Caps há quatro meses. Desenvolve com os pacientes da horta atividades alternativas, como oficinas de práticas corporais. Defende que a reabilitação psicossocial é fundamental na emancipação dos pacientes enquanto pessoas e na socialização. “Muitas vezes, as pessoas que estão em sofrimento mental acabam perdendo esse contato com a sociedade”, observa a fisioterapeuta. “Então, tanto o trabalho da horta quanto as atividades culturais e físicas ajudam nesse processo de criar, construir, colher que atravessa muito o que é a nossa vida”, avalia. Serviço A Horta Terapêutica do Caps II tem um perfil no Instagram (@hortalivrecaps2) no qual divulga os trabalhos e os produtos para atrair um número maior de consumidores.
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Trabalhadora rural: terapia ajuda resgatar a autoestima
Resgatar a autoestima e a saúde física e emocional de mulheres de áreas rurais foram as motivações que levaram o escritório da Emater-DF no núcleo rural do PAD-DF, região do Paranoá, e um grupo de terapeutas a desenvolver um projeto voluntário na área. A proposta, que agradou produtoras da região que participaram dos encontros semanais do Divã – Histórias de Maria (o despertar), é voltada para mulheres portadoras de sintomas psicossomáticos. Trabalhando a autoconfiança e o autoconhecimento junto às mulheres, as terapeutas Litsu Odaguiri Enes Oliveira e Helielma da Silva Oliveira, juntamente com a colaboração de Manary Nery Chao, resgataram o brilho no olhar das mulheres, que muitas vezes se sentem esquecidas. Com a terapia, muitas relatam melhora na qualidade de vida familiar, na percepção sobre elas próprias e no olhar sobre os acontecimentos a sua volta. Para surpresa das terapeutas, o engajamento das mulheres ultrapassou todas as expectativas. “Elas tiveram uma vontade de mudar tão grande que as dificuldades, que também eram grandes, se tornaram pequenas. As mulheres se entregaram à terapia sem medo. Teve uma transformação fantástica da autoestima e da confiança”, destaca Litsu. O gerente do escritório da empresa no PAD-DF, Marconi Borges, reconhece a importância de trabalhar o potencial e o emocional das mulheres de áreas rurais, principalmente pelo sentimento de opressão. “A gente vê que a mulher tem que engolir calada a decisão dos maridos e isso também a angustia”, conta Borges. “Quando surgiu a ideia de fazer uma clínica de terapia com algumas mulheres, esse sentimento ficou muito aflorado. Foi uma oportunidade para que elas pudessem conversar e trabalhar seus problemas”, afirma. Nesse sentido, as mulheres se descobriram como parte da família e das decisões. Para ele, a iniciativa revelou a necessidade desse tipo de trabalho junto às mulheres. “A pequena produtora rural não tem condição de pagar um tratamento e muitas vezes sequer tem conhecimento desse tipo de trabalho. A aceitação foi tão grande que elas próprias sugeriram que isso fosse feito também para os maridos”, destaca. Dificuldades superadas Diante das dificuldades, para proporcionar os encontros, extensionistas da Emater-DF na região auxiliaram com transporte e produtoras que tinham condução própria também se organizavam para levar outras participantes. Dessa forma, todas seguiam ansiosas para os encontros semanais que tiveram início em janeiro deste ano. Com a pandemia, respeitando a Organização Mundial da Saúde quanto ao distanciamento social, os encontros passaram a ser online. [Olho texto=”A terapia ajuda a gente a superar muita coisa que sofreu na infância ” assinatura=”Maria José Pereira de Carvalho” esquerda_direita_centro=”esquerda”] De acordo com a terapeuta Litsu, falar de forma online com as mulheres foi o meio encontrado para que os resultados da terapia não se perdessem. “A pandemia mexeu com todo o mundo. Como na área rural grande parte não tem acesso a uma boa internet, a gente decidiu manter um acompanhamento diário via WhatsApp, onde a gente propõe exercícios, orientações e as mulheres compartilham experiências, dificuldades e superações por meio de áudios”, conta. As terapeutas ainda esperam encerrar o curso com entrega de certificado de participação e medalhas, quando passar o período de isolamento social. “É importante esse simbolismo. Essas mulheres enfrentaram as dificuldades, não faltaram, foram participativas durante os encontros e achamos muito importante que tenha esse reconhecimento”, disse. [Olho texto=”Hoje eu já tenho mais disposição, atitude, penso mais positivo” assinatura=”Leididaiane Silva” esquerda_direita_centro=”direita”] “A terapia ajuda a superar muita coisa que a gente sofreu na infância. Ajuda também a recuperar a autoestima e algumas outras coisas que a gente têm dificuldades de superar. Eu acho que se eu não tivesse tido essas aulas a situação agora, diante dessa pandemia, estaria bem mais difícil na convivência familiar”, conta Maria José Pereira de Carvalho, 44 anos, moradora do Acampamento Carlos Marighella, onde vive com os três filhos e o marido. A iniciativa da extensionista da Emater-DF Yoko Odaguiri começou despretensiosa, atendendo um pedido de uma das produtoras que estavam precisando do auxílio de um fisioterapeuta. “Chamei minha sobrinha, que também é fisioterapeuta, mas expliquei que as mulheres não podiam pagar. Ela logo se prontificou até para atender mais pessoas e ficou impressionada quando viu a diferença entre o público rural e urbano”, relata Yoko, que também ressalta o apoio do gerente da Emater. [Olho texto=”Nesses encontros a gente tira toda a dor no coração” assinatura=”Marizangela de Fátima” esquerda_direita_centro=”esquerda”] “Abriu tanto a visão delas que elas viram a necessidade de os maridos também fazerem a terapia”, comemora a extensionista. Para as terapeutas, a oportunidade proporcionada por meio da Emater-DF trouxe muito aprendizado. “É um crescimento também para a gente. A terapia é mão dupla. A gente tem esse crescimento junto com o paciente. Uma delas enviou um áudio dizendo que antes se sentia rejeitada, sem voz, mas que a terapia fez isso de uma maneira suave, mais leve, sem agressividade. Esse resultado eu agradeço muito à Emater e toda a equipe”, afirma Litsu. O resultado também é visto pela produtora Francislaine da Silva, 44 anos, para quem as mulheres do campo também sentem angústias, estresses, pressões. “Eu nunca tinha visto ou participado de uma terapia. Tira o estresse, tira a depressão e também é bom pelas amizades que a gente tem, poder sair um pouco de casa. Apesar de morarmos na roça, a nossa rotina aqui é muito fatigante”, desabafa. [Olho texto=”É um crescimento também para a gente ” assinatura=”Yoko Odaguiri, extensionista da Emater-DF” esquerda_direita_centro=”direita”] Para Marizangela de Fátima da Silva Reis, 40 anos, a terapia trouxe novas esperanças. “Nesses encontros a gente desabafa e tira toda a angústia, toda a dor no coração, toda tristeza e sai renovada Moradora da Quebrada dos Neres, Leididaiane Silva, 31 anos, acredita que a terapia tem ajudado a superar a depressão. “Eu tomava remédio e já tive momentos muito difíceis. casa. Meu marido fala que eu estou mais tranquila, mais calma e cuidando mais de mim”, diz. * Com informações da Emater-DF
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