Museu Nacional da República recebe quadros táteis feitos em coautoria com deficientes visuais
O Museu Nacional de Brasília recebe, desde a última terça-feira (5), a exposição Sob os pés do mundo, uma experiência sensorial que apresenta 17 quadros táteis criados a partir das calçadas e espaços públicos do Distrito Federal. As obras são relacionadas às vivências de pessoas cegas e com baixa visão. Obras são dispostas de maneira que as pessoas conseguem entendê-las a partir do tato | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília Desenvolvido com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), o projeto conta com o apoio institucional do Museu Nacional da República, do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) e da Biblioteca Braille Dorina Nowill. A mostra, que está em cartaz na Galeria 2 do museu, é resultado do projeto artístico-sociocultural “Arte no Espaço Público x Arte como Espaço Público: Arte e Inclusão Social”. A exposição faz parte também do Festival Mês da Fotografia (FMF). Para a diretora do Museu Nacional, Fran Favero, há uma fruição da obra por meio do toque, além de uma experiência da cidade. “Nessa exposição, especificamente, as pessoas vão experimentar a relação com as calçadas da cidade, com esse lugar urbano”, explica. Fran afirma que essa não é a primeira exposição com esse tipo de proposta no museu: “Notamos uma identificação imediata, um senso de pertencimento e de representação, que é muito especial”. Flavio Marzadro, idealizador do projeto, lembra que a mostra tem a meta de provocar reflexões sobre pertencimento e acessibilidade: “Trabalho por aquilo que percebo como arte pública, no sentido de promover espaço público e política pública” O projeto, idealizado pelo artista visual e sociólogo Flavio Marzadro, adotou técnicas como os decalques táteis em base siliconada, para transformar superfícies urbanas em obras sensoriais. Além de uma forma de levar as artes visuais às pessoas com deficiência visual por meio de experiências táteis, a mostra tem o objetivo de provocar reflexões sobre acessibilidade, pertencimento e direito à cidade. Os quadros são compostos por superfícies comuns ao cotidiano urbano, como pedras portuguesas, azulejos e pisos táteis. Marzadro conta que as obras nasceram de uma dinâmica de duas partes, na qual o deficiente visual tem a possibilidade de tocar as obras para interpretá-las. “A gente faz o descarte do chão, que é um objeto urbano, uma memória histórica, mas também uma memória poética, porque faz parte da atividade da pessoa”, comenta. “Trabalho por aquilo que percebo como arte pública, no sentido de promover espaço público e política pública”. Coautoria e inclusão A iniciativa surgiu de diálogos com pessoas cegas e de baixa visão do DF que atuam como coautoras das obras ao partilhar memórias e escolher os caminhos a serem moldados. As obras retratam os lugares percorridos e sentidos durante o projeto. Os trabalhos contam com títulos em Braille, letras ampliadas, audiodescrição e paisagens sonoras de 20 minutos, com os ruídos originais de cada local. Gilfrank Nunes enfatiza a importância da iniciativa: “Esses momentos nos dão a oportunidade de mostrar para a sociedade que nós existimos, somos cidadãos, somos capazes e merecemos fazer parte do cotidiano” Com turmas de cinco a 20 pessoas, as oficinas foram promovidas em Brasília, sendo quatro no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) e uma na Biblioteca Braille Dorina Nowill. Todos os participantes moram no Distrito Federal e assinam, com suas escolhas, memórias, impressões e mãos, a autoria das obras. [LEIA_TAMBEM]Entre as pessoas com deficiência visual que participaram da produção das obras, está Gilfrank Pimentel Nunes. Para ele, a iniciativa trouxe a oportunidade de afirmar a cidadania. “Perante a sociedade, nós perdemos a visão, mas somos nós que nos tornamos invisíveis”, pontua. “E esses momentos nos dão a oportunidade de mostrar para a sociedade que nós existimos, somos cidadãos, somos capazes e merecemos fazer parte do cotidiano. Podemos ser produtivos, podemos colaborar com o desenvolvimento socioeconômico do nosso país, da nossa cidade. A gente só precisa de oportunidade. A gente só precisa ter os espaços”. Outra participante, Aparecida Moreira Machado, afirma que a exposição serve também para mostrar ao público as dificuldades diárias de um deficiente visual: “Gostaria de dizer às pessoas que nunca se esqueçam de nós, que a gente é capaz de muitas outras coisas. Basta ter interesse em trabalhar com nosso potencial”. Serviço Exposição Sob os pés do mundo: uma experiência sensorial em Brasília ► Data: até 7 de setembro ► Horário de visitação: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h ► Local: Museu Nacional da República. Classificação indicativa livre. Entrada franca.
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Novas exposições priorizam pessoas cegas ou com baixa visão
O Governo do Distrito Federal (GDF) consolida seu compromisso com a inclusão cultural com duas exposições inovadoras, fomentadas pelo Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC), que priorizam a acessibilidade de pessoas cegas ou com baixa visão. As mostras O que nos toca, da artista Bety Alvarenga, e Sensibilità, de Claudia Bertolin, redefinem a experiência artística ao transformar o tato em protagonista e promover a democratização da arte. Em cartaz no JK Shopping a partir deste domingo (27) e no Venâncio Shopping em outubro, a mostra O que nos toca desafia o público a compreender as obras por meio do tato | Foto: Divulgação/Secec-DF O projeto “Sensibilità: uma experiência sensorial e inclusiva”, de Claudia Bertolin, percorre shoppings do DF entre julho e outubro. A exposição exibe obras criadas com a técnica de fusing (fusão de vidro e metal), além de peças produzidas por pessoas com deficiência visual em oficinas realizadas no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) e na Biblioteca Braille Dorina Nowill. Com curadoria de Bisser Nai, a mostra integra audiodescrição via QR Code, descrições em Braile, intérpretes de Libras e mediação tátil. A temporada, no JK Shopping (Taguatinga), vai deste domingo (27) até o dia 7 de setembro, seguindo para o Venâncio Shopping (Plano Piloto) de 1º a 29 de outubro, com visitação sempre das 10h às 22h. Sensibilità incorpora elementos que também tocam a audição, estimulando o diálogo multissensorial | Foto: Rafael Fernandes/Divulgação Já no período de 5 a 15 de agosto, a exposição O que nos toca estará em cartaz na galeria Espelho-d'Água (Câmara Legislativa do DF), convidando o público a sentir arte além da visão. São 15 obras táteis em 3D, elaboradas com a técnica de arte francesa, pela qual Bety Alvarenga recria ícones da arte como Michelangelo, Da Vinci, Frida Kahlo e Tarsila do Amaral em relevos de papel, tecidos e algodão. [LEIA_TAMBEM]A mostra oferece audiodescrição por auriculares, identificação em Braile e mediação especializada. Ambas as iniciativas reforçam o impacto social da arte inclusiva. Enquanto O que nos toca propõe uma imersão empática - desafiando videntes a explorar obras de olhos vendados -, Sensibilità amplia o diálogo multissensorial, incorporando audição. Os projetos, viabilizados pelo FAC, destacam-se não apenas pela acessibilidade, mas pela construção de pontes entre diferentes formas de perceber o mundo. Para o secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes, essas exposições representam o que há de mais potente na política cultural do DF: arte feita para todos, com sensibilidade, inovação e inclusão. “Ao apoiar projetos dessa natureza, o FAC reafirma nosso compromisso com a acessibilidade e com uma cultura verdadeiramente democrática, que acolhe e transforma”, afirma. Serviço Mostra Sensibilità: uma experiência sensorial e inclusiva → JK Shopping (Taguatinga) de domingo (27) a 7 de setembro, e no Venâncio Shopping (Plano Piloto) de 1º a 29 de outubro. → Visitação: das 10h às 22h Mostra O que nos toca → Galeria Espelho-d'Água (Câmara Legislativa do DF), de 5 a 15 de agosto → Agendamentos para grupos: (61) 98157-4141 ou (61) 98123-0490 (WhatsApp). → Entrada franca e classificação indicativa livre em todas as exposições. *Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa
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Peça no DF aproxima diferentes públicos do teatro com sessões inclusivas
Entre sons que retratam o cotidiano de uma casa e palavras que atravessam o tempo, estudantes da rede pública do Distrito Federal e frequentadores da Biblioteca Braille Dorina Nowill, de Taguatinga, assistiram a um clássico da dramaturgia nacional no Teatro Sesi de Taguatinga, nessa segunda-feira (19). Com sessões acessíveis e inclusivas, o espetáculo Há Vagas para Moças de Fino Trato – Experimento Final, de Alcione Araújo, propõe reflexões sobre a condição humana e reforça o direito ao acesso à cultura. Peça em cartaz no Teatro Sesi de Taguatinga conta com recursos de acessibilidade, como audiodescrição | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília A peça tem três personagens com perfis distintos e leva o público para dentro da encenação. “É uma interpretação muito cotidiana, ambientada dentro de uma casa”, explica o diretor da peça, Cléber Lopes. Para isso, são utilizados efeitos sonoros, visuais, iluminação e recursos de acessibilidade, como audiodescrição. Há mais de 20 anos em contato com a obra, Cléber, que também é educador, escolheu apresentá-la como experimento final de seu projeto, com foco na formação de plateias e na inclusão. “A tentativa é de que o espaço seja acessível para todas as pessoas e que elas consigam entrar, assistir, assimilar, aproveitar, sair como todas as pessoas. Porque isso é obrigação da sociedade”, destaca o diretor. O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF), com investimento de R$ 200 mil. Acesso e inclusão A aposentada Fátima da Conceição diz que a peça é uma oportunidade de acesso à arte A montagem conta com sonorização assinada pelo renomado sonoplasta lisbonense João Lucas. Utilizando a técnica de quadrifonia ambiental, a encenação simula em tempo real sons típicos de uma residência – como o percurso da água pelos encanamentos – e inclui trilhas poéticas que ampliam o sentido da narrativa. Sessões com audiodescrição foram organizadas especialmente para os frequentadores da Biblioteca Braille de Taguatinga. Para a aposentada Fátima da Conceição, de 68 anos, que tem deficiência visual, a experiência representa uma oportunidade de acesso à arte e ao conhecimento. “Além dessa e de outras peças, acho muito interessante, porque a gente se inteira mais, conhece as obras e os espetáculos. É informação e cultura”, afirma. "A tentativa é de que o espaço seja acessível para todas as pessoas e que elas consigam entrar, assistir, assimilar, aproveitar, sair como todas as pessoas. Porque isso é obrigação da sociedade”, afirma o diretor Cléber Lopes Já o aluno do Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte, Vitor Vinicius Silva, 16, acredita que ter acesso à arte é uma forma de diversificar a educação. “Oferecer atividades diferentes, principalmente para a gente do ensino integral, é muito importante, para tornar o ensino mais atraente”, opina. Além disso, o jovem observa que o contato com o teatro amplia os conhecimentos culturais e serve de inspiração para novas iniciativas. “A gente está produzindo um sarau na escola e a obra pode servir de inspiração para a gente tentar reproduzir”, planeja. Sobre a peça [LEIA_TAMBEM]Escrita em 1974, durante a ditadura militar, a peça é considerada a obra mais cultuada de Alcione e revela, com vigor e sensibilidade, os dilemas sociais, psicológicos e políticos da convivência humana. O espetáculo é guiado pela vivência de três mulheres e propõe uma reflexão profunda sobre os papéis sociais, a memória, o feminino e as tensões de convivência, mantendo a atualidade do texto original e revelando sua força crítica e estética. As atrizes Carol Nemetala e Nalu Miranda retornam à montagem após 20 anos, ao lado de Rosanna Viegas. A peça convida o público a enxergar o espetáculo como um recorte da vida real, com suas contradições e sutilezas. Próximas sessões → 20/5: 15h e 20h → 21/5: 10h, 15h e 20h → 22/5: 10h → 23/5: 15h.
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Feira discute os desafios e avanços da pessoa com deficiência visual no DF
Localizada em Taguatinga, a única biblioteca pública braille do Distrito Federal, a Dorina Nowill, promoveu, nesta quinta-feira (12), a terceira edição da Feira de Acessibilidade. Com o tema “Quem sou eu, pessoa com deficiência, na sociedade”, o evento explorou as diversas condições de deficiência visual, desde a baixa visão até a cegueira total, a inclusão e o protagonismo desse público. A terceira edição da Feira de Acessibilidade, realizada nesta quinta (12), teve como tema ‘Quem sou eu, pessoa com deficiência, na sociedade’ | Fotos: Matheus H. Souza/Agência Brasília A feira contou com a participação de quase 30 instituições, incluindo secretarias do Governo do Distrito Federal (GDF), órgãos públicos e entidades dedicadas às pessoas com deficiência visual. Na ocasião, as participantes contribuíram com exposições sobre os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual (PCDVs), além de soluções e recursos voltados para inclusão, como tecnologias assistivas e práticas pedagógicas acessíveis. “Todos os eventos voltados para a pessoa com deficiência nos despertam para uma avaliação daquilo que temos hoje e naquilo que precisamos evoluir para que as pessoas com deficiência possam ter mais dignidade e cidadania” Flávio Pereira, secretário da Pessoa com Deficiência “É a terceira edição deste evento, que começou pequeno, com 10 instituições, e hoje já praticamente triplicamos esse número. Temos pessoas vindo de outros estados para aprender mais sobre o nosso trabalho e queremos nos tornar uma referência nacional”, defende a coordenadora da biblioteca, Eliane Ferreira. Um dos destaques do evento foi a barraca montada com equipamentos utilizados em modalidades paralímpicas, como a bola com guizo usada no futebol de cinco, tiro com arco adaptado e a bocha, que, embora não seja jogada por pessoas cegas, é uma modalidade inclusiva para outros tipos de deficiência. Acervo robusto Criada em 1995, a biblioteca mantida pelo GDF oferece um acervo de 2 mil exemplares e 800 títulos adaptados. A instituição faz parte da Rede de Bibliotecas Públicas do Distrito Federal e mantém um vínculo importante com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, de São Paulo, reforçando sua missão de promover a inclusão por meio da literatura e da cultura. “Temos um catálogo extenso, com livros em braille e audiolivros, um telecentro com computadores acessíveis e projetos periódicos, com leitura, clubes do livro e outras programações. Tudo inteiramente gratuito e aberto ao público, sempre de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h”, detalha a coordenadora. O evento contou com a participação de quase 30 instituições, incluindo secretarias do GDF, órgãos públicos e entidades dedicadas às pessoas com deficiência visual Acessibilidade ampliada O secretário da Pessoa com Deficiência, Flávio Pereira, destacou a importância de espaços para debate e troca de experiências, incentivando a reflexão sobre o papel da pessoa com deficiência na sociedade e os desafios para ampliação da acessibilidade. “Todos os eventos voltados para a pessoa com deficiência nos despertam para uma avaliação daquilo que temos hoje e naquilo que precisamos evoluir para que as pessoas com deficiência possam ter mais dignidade e cidadania. Essa feira resgata o princípio de trazer para o centro das discussões o PCD e suas necessidades.” Também presente no evento, a secretária da Mulher, Giselle Ferreira, afirmou que a pasta tem como uma das metas ampliar a acessibilidade de seus programas, especialmente os pautados pelo combate à violência contra a mulher. “Queremos ampliar o acesso das pessoas às políticas públicas do governo e por isso, em breve, nossos livros, cartilhas e demais materiais da Secretaria da Mulher passarão a ser divulgados também em braille”, explica. O tecladista Josinei Ferreira participa de atividades musicais promovidas pela Biblioteca Dorina Nowill: “Comecei a vir por estímulo do meu pai. Ele me trazia, me incentivava a ler e aprender, a me desenvolver mesmo” Frequentador da biblioteca, o cantor Ricardo Nascimento, 49 anos, encontrou no espaço o acolhimento que precisava para enfrentar um dos momentos mais difíceis da vida, logo após perder a visão. “Cheguei em 2015, tinha perdido a minha visão e não sabia fazer nada. A biblioteca me trouxe novos ares e me deu a confiança que eu precisava para seguir a carreira que sempre sonhei, de cantor”, conta. No espaço, Nascimento conheceu o hoje amigo e tecladista Josinei Ferreira. Juntos, eles participam de atividades musicais promovidas pela biblioteca. “Desde que me conheço por gente frequento aqui. Comecei a vir por estímulo do meu pai. Ele me trazia, me incentivava a ler e aprender, a me desenvolver mesmo”, relata.
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Estudantes visitam Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga
Quarenta e oito estudantes da Escola Classe Arniqueira conheceram a Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga, nesta terça-feira (9). O encontro faz parte do projeto Visita à Biblioteca Braille, lançado nesta semana em comemoração ao Dia do Sistema Braille, celebrado nesta segunda (8), e ao Dia Nacional da Biblioteca, nesta terça. Ainda nesta semana, serão atendidas crianças da EC 39 e da EC 59, ambas de Taguatinga. A programação contou com filme sobre o sistema Braille, contação de histórias, músicas e brincadeiras sobre inclusão social. “É importante as crianças terem uma noção de como é a vida para o cego, como ele se comunica com as outras pessoas e conhecerem o espaço, principalmente as pessoas que trabalham e frequentam aqui. É uma forma de mostrar a importância de respeitar o outro”, avaliou Murilo Marconi, coordenador da Coordenação Regional de Ensino de Taguatinga (Cret), da Secretaria de Educação (SEE-DF). Bianca Andrade e Raphaela Brito aproveitaram o passeio para aprender sobre inclusão social de forma divertida | Fotos: Joel Rodrigues/ Agência Brasília As amigas Bianca Andrade, 9 anos, e Raphaela Brito, 9, aproveitaram a experiência. “Foi muito legal. Aprendemos que a gente não pode excluir ninguém e precisa brincar com todo mundo porque todo mundo é igual”, disse Raphaela. “Agora sei as cores das bengalas e quase consegui ler em Braille”, conta Bianca. Acolhimento Criada em 1995, a Biblioteca Braille Dorina Nowill leva o nome da ativista brasileira Dorina de Gouvêa Nowill, nascida em São Paulo em 1919. Coordenado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), o equipamento público foi instalado, inicialmente, na Escola Classe 6 da cidade. Em 2006, foi transferido para o Espaço Cultural de Taguatinga. O funcionamento é de segunda a sexta, das 8h às 17h. A biblioteca conta com sala principal, sala para apresentações e atividades coletivas, e telecentro de acessibilidade O equipamento público é composto pela sala principal, dedicada ao acervo de livros em Braille, por uma sala para apresentações e atividades coletivas, e pelo telecentro de acessibilidade, que reúne computadores com acesso livre à internet. Os espaços foram reformados em 2021, tendo sido entregues à população em fevereiro do ano seguinte, com mobiliário novo e estrutura totalmente renovada. “É uma biblioteca viva, a única biblioteca pública especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual. Nós temos projetos variados, funcionários preparados e a estrutura adequada para proporcionar cidadania aos nossos frequentadores”, destacou a coordenadora da biblioteca, Eliane Ferreira. O acervo é formado por mais de 2 mil exemplares em Braille, com 800 títulos, incluindo obras como O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, e Na Minha Pele, de Lázaro Ramos. A versão em Braille dos livros ocupa, em média, até três volumes, tendo em vista que uma página em tinta equivale a quatro no formato Braille. Há, ainda, publicações convencionais e com letras ampliadas para serem lidas em eventos de leitura e pelo público vidente (normalmente acompanhante dos cegos), idosos ou pessoas com baixa visão, além de audiolivros. Eliane Ferreira se orgulha do projeto: “É uma biblioteca viva, a única biblioteca pública especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual” Além do papel literário e acadêmico, a biblioteca promove eventos voltados para o público cego, como aulas de dança, oficinas musicais e contação de histórias. Às segundas-feiras, ocorre o Clube do Livro Inclusivo, sempre às 14h, em que uma pessoa vidente lê uma obra durante uma videochamada, para pessoas cegas ou com baixa visão. Às quartas, o espaço realiza a Roda Amigos da Palavra, às 9h, com apresentações culturais abertas ao público. Em maio haverá um curso gratuito de audiodescrição, e em setembro terá a 3ª edição da Feira Acessível. Na estreia do projeto de visita ao espaço, a cofundadora da biblioteca e precursora nos projetos de inclusão, Noeme Rocha, 66, mostrou à criançada como funciona o sistema Braille. “Ensinei a eles como que nós escrevemos e como lemos, porque escrevemos da direita para a esquerda e lemos da esquerda para a direita, como se lê um livro mesmo”, disse. “As crianças que conhecem a pessoa cega não são mais as mesmas. A inclusão tem que começar nesta fase mesmo, porque só assim teremos um mundo mais inclusivo e bem melhor.” Noeme Rocha fundou o espaço: “Na inauguração dessa biblioteca, lembro dos rostos das pessoas, dos escritores que estavam lá, da imprensa, dos repórteres” Nascida no Maranhão, Noeme veio para Brasília em busca do sonho do serviço público, área que conquistou anos depois e na qual segue em atividade. Na capital, ela sofreu um acidente que prejudicou a visão dela. “Um mês depois, eu já não via do olho direito. Fui perdendo (a visão) aos poucos. Na inauguração dessa biblioteca, lembro dos rostos das pessoas, dos escritores que estavam lá, da imprensa, dos repórteres. Lembro como se fosse agora, porque a biblioteca é a minha vida, é a minha alma aqui, é tudo o que eu gosto de fazer”, revelou. Saiba mais O Distrito Federal conta com mais de 20 bibliotecas públicas que oferecem um acervo variado de livros, cultura, exposições artísticas e acesso a computadores. Veja o contato e endereço de cada uma.
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Bibliotecas públicas oferecem projetos culturais para atrair frequentadores
As bibliotecas públicas cada vez mais ampliam os serviços e atraem novos públicos com projetos, atividades culturais, acessibilidade e incentivo à leitura. No Distrito Federal, existem atualmente 24 unidades que oferecem um acervo variado de livros, cultura, exposições artísticas e acesso a computadores. As ações são das mais variadas. Na próxima sexta (9), por exemplo, a Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga, especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual, vai promover o “Carnalivro”, um Carnaval cultural que reunirá o público da biblioteca fantasiado de personagens literários. O evento será das 9h às 12h, em frente ao Espaço Cultural de Taguatinga. Na sexta-feira, a Biblioteca Braille Dorina Nowill vai promover, em Taguatinga, Carnaval cultural que reunirá o público da biblioteca fantasiado de personagens literários | Fotos: Divulgação “Será na praça em frente à biblioteca e, neste dia, lançaremos a orquestra das pessoas com deficiência. Estaremos fantasiados e vamos festejar ao som das marchinhas e ações literárias, com personagens da literatura e exposição das nossas obras”, destaca a idealizadora, Dinorá Couto. Segundo ela, há três anos o evento tem a adesão dos frequentadores. “Tentamos sempre fazer muitas atividades para dar oportunidades ao nosso público, a maioria com deficiência visual ou baixa visão, ser reconhecido como cidadão, ressaltamos o direito deles exercerem a cidadania em sua plenitude”, completa Dinorá. A única biblioteca em Braille do DF conta com um acervo de 2 mil livros acessíveis, com letras ampliadas e audiobooks, e desenvolve diversas atividades inclusivas para ampliar o acesso à arte e à leitura por pessoas com deficiência visual, entre elas um clube do livro, rodas de leitura e o projeto de Academia Inclusiva, com a participação de aproximadamente 500 autores. “Temos membros de todo o país e até de fora, são mais de mil produções entre livros, blogs, antologias, além das produções expostas. Acredito que temos o maior acervo de materiais produzidos por pessoas com deficiência visual”, diz a idealizadora da biblioteca. Entre as ações da Biblioteca Pública de Ceilândia, estão aulas de yoga todas as segundas-feiras Entre atividades para adultos e crianças, os espaços públicos também desenvolvem iniciativas voltadas para projetos de leitura, mala e clube do livro e até mesmo aulões para auxiliar em provas de vestibulares e concursos. Todas as ações procuram estimular a leitura e o acesso aos espaços. A Biblioteca Pública de Ceilândia Carlos Drummond de Andrade desenvolve diversas ações dentro dos projetos de contação de histórias, biblioteca de portas abertas e o Miniteca. “Temos muitas ações de fomento à leitura, escrita, oralidade, sustentabilidade e meio ambiente, muitas coisas relacionadas à Agenda 2030 da Unesco. A contação de história é realizada todos os sábados e levamos a ação para diversos locais, como feiras de livro, rua do lazer e para dentro das escolas públicas, somos muito solicitados nesse sentido, como ferramenta de incentivo à leitura”, conta a coordenadora da Biblioteca de Ceilândia, Pollyanna Souza. A Biblioteca Nacional adquiriu recentemente 423 títulos, num total de 1.805 exemplares, para enriquecer o acervo | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília Recentemente, a biblioteca passou também a oferecer na estrutura aulas de yoga para os estudantes e para a comunidade local. “Vimos no yoga uma forma de auxiliar no intelecto. Os alunos que estão prestando concursos e vestibulares ficam muito ansiosos, muito tempo sentados, então promovemos a meditação, a consciência corporal. Tentamos atingir o leitor de uma forma integral”, explica a coordenadora. As aulas de yoga acontecem todas as segundas, às 18h, e no último sábado do mês pela manhã. Investimentos A Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), por meio da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), é a responsável por dar suporte técnico e administrativo para as bibliotecas das regiões administrativas. De acordo com a pasta, a meta é fortalecer os espaços e, dentro do planejamento estratégico de 2024/2027, informatizar todas as bibliotecas públicas com sistema acessível para gestores e usuários. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] “A criação e manutenção da biblioteca é de responsabilidade da administração regional. Nós assumimos a parte técnica, que é auxiliar na organização do acervo, a capacitação técnica dos servidores, orientar sobre os projetos que podem ser desenvolvidos, assim como os caminhos para conseguir recursos para manutenção dos projetos”, explica a diretora da BNB, Marmenha Rosário. Segundo a gestora, a BNB está fortalecendo a atividade da Rede de Bibliotecas Públicas do DF por meio de doações de livros, mobiliário e computadores. Em 2023, foram repassados 31 computadores, mais de 1.300 livros e dezenas de peças de mobiliário – cadeiras principalmente, além de poltronas, balcões e estantes. “A biblioteca é o equipamento cultural mais presente nas cidades. Quando a pessoa chega à biblioteca, elas estão atrás de um sonho e isso faz com que o público tenha uma relação afetiva com o espaço e tudo que ela representa em termos de acesso à cultura e lazer. E cabe a nós fomentarmos esses espaços de esperança e promover a inclusão do público que não tem condições para comprar livros”, afirma Rosário. Para ampliar esse acesso, a Biblioteca Nacional acaba de adquirir 423 títulos, num total de 1.805 exemplares, para enriquecer o acervo próprio e o da Biblioteca Pública de Brasília (EQS 312/313 – Asa Sul), além da Mala do Livro, programa de extensão de bibliotecas residenciais. O investimento foi de R$ 77.243,53. O espaço lançou recentemente também uma arena gamer para atrair o público ao centro cultural.
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Hoje é celebrado o Dia Nacional do Sistema Braille
O Dia Nacional do Sistema Braille é celebrado neste 8 de abril e permanece como um ‘ponto de luz’ ao lembrar como o método é indispensável na vida de pessoas cegas e com deficiência visual. O braille significa, antes de tudo, inclusão social. Aqui no DF, a Biblioteca Dorina Nowill, em Taguatinga, é a única unidade pública braille e o ponto de encontro desse público que a adota como uma segunda casa. Com o nome em homenagem a uma professora cega que criou uma entidade para o acesso dos cegos à educação, a biblioteca tem um acervo de dois mil exemplares, com 800 títulos. Isso porque o livro em braille ocupa, em média, até três volumes. Obras para adultos, crianças e também audiolivros, além de um telecentro de acessibilidade, que reúne computadores com acesso livre à internet. Mais que um espaço para leitura, ali se reproduz artes como a música, poesia e muitas histórias contadas. A Biblioteca Dorina Nowill, em Taguatinga, é a única unidade pública braille no DF | Fotos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília A coordenadora do espaço, Eliane Ferreira: “Digo aqui que é uma biblioteca viva… Não só com nossas obras, mas também com projetos de inclusão” “Digo aqui que é uma biblioteca viva… Não só com nossas obras, mas também com projetos de inclusão, como as rodas de leitura semanais, a contação de histórias, a feira feita anualmente com entidades que atendem os deficientes visuais”, explica a coordenadora do espaço, Eliane Ferreira. “A parte psicológica e emocional do cego muda muito na medida em que convivem uns com os outros, veem a capacidade de superação de seus pares e percebem que também podem se superar”, pontua Leonilde Fontes, servidora da biblioteca há 17 anos. O músico Ricardo José aprendeu a habilidade de contador de histórias na Biblioteca Dorina Nowill São frequentadores fiéis, como o músico e contador de histórias – habilidade aprendida na Dorina Nowill –, Ricardo José, 48 anos. Morador de Ceilândia, ele anima a turma com seu violão e o ukulele. Vai de metrô para a biblioteca. Ou a pequena Ana Clara Xavier, 9, que tem cegueira total e vai com a mãe Maria Aparecida se divertir na biblioteca. Quando ela não vai, são os livros que vão para casa, emprestados. “Gosto muito dos livros. E se não fosse o braille, não conseguiria ler igual todo mundo”, conta. “Na primeira vez que fui lá, ganhei um conjunto de livros da Turma da Mônica. E, agora, quero um dia ir para cantar”, emenda Ana, com desenvoltura ímpar. Reginaldo Ramos: “Acho que hoje as pessoas olham para gente com menos desprezo” Missionário e morador do Jardim Ingá (GO), Reginaldo Ramos, 50, também é facilmente visto por lá. Carrega consigo uma réplica de uma bíblia, que combina o braille para se escolher a passagem e um aparelho de áudio que a reproduz. Também se arrisca na poesia, na qual escreveu as rimas de Brasília Terra Querida. “Acho que hoje as pessoas olham para gente com menos desprezo. Hoje tem cego com canal no YouTube, outros que escrevem livros ou apresentam programa de rádio, como já fiz”, revela. “Hoje o governo, de modo geral, nos dá mais oportunidades. E a biblioteca é meu refúgio”, confessa. O braille O dia 8 de abril é um dia para se lembrar do braille Criado pelo francês Louis Braille, o braille é um sistema de escrita e leitura tátil baseado em códigos em relevo, com os quais se pode representar as letras do alfabeto, algarismos, símbolos, dentre outros. O 8 de abril, em nosso país, faz alusão ao nascimento de José Alvares de Azevedo, primeiro professor cego que trouxe o método da França, ensinou e divulgou o sistema de leitura e escrita que muda a vida de milhões de deficientes visuais em todo o mundo.
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