Cine Brasília celebra legado de Vladimir Carvalho com exibição e lançamento de livro
A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF) e o Coletivo Editorial Maria Cobogó prestam homenagem ao cineasta Vladimir Carvalho um ano após sua morte. O Cine Brasília, cuja sala de exibição leva o nome do documentarista, reunirá amigos, admiradores e o público em geral para uma sessão do curta Vladimir Carvalho – Cinema e Memória, produzido pelo Sesc-DF em parceria com a jornalista Marcia Zarur, nesta quarta-feira (5). O filme traz a última entrevista do cineasta, que faleceu dias depois da gravação, em 24 de outubro do ano passado, vítima de um infarto. Nascido em Itabaiana, na Paraíba, o documentarista se mudou para Brasília, onde viveu por mais de 50 anos. Vladimir foi professor da Universidade de Brasília (UnB), onde deu aulas de cinema até a aposentadoria. Também foi presença constante no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e um incentivador de iniciativas voltadas à valorização da cultura local. O cineasta Vladimir Carvalho, falecido há um ano, será homenageado nesta quarta (5), no Cine Brasília | Foto: Divulgação/Secec-DF “Vladimir Carvalho é um dos pilares da cultura brasiliense. Sua obra ajudou a construir o olhar cinematográfico sobre a nossa cidade e o Brasil, sempre com sensibilidade, coragem e compromisso com a verdade. Celebrar sua memória é reconhecer um artista que transformou Brasília em cenário e personagem, e que inspirou gerações a fazer da arte um instrumento de reflexão e pertencimento”, destacou o titular da Secec-DF, Claudio Abrantes. A jornalista Marcia Zarur completou: “Essa homenagem é uma forma de celebrarmos a memória de Vladimir e de chamarmos a atenção para o rico acervo do Cinememória, que deve ganhar um local de exposição permanente na Casa da América Latina, no Setor Comercial Sul”. O acervo, reunido por Vladimir ao longo de cinco décadas, inclui uma infinidade de equipamentos, como câmeras, moviolas e projetores, além de fotos, cartazes, livros e documentos que contam a história do cinema mundial — especialmente do cinema de Brasília. [LEIA_TAMBEM]O curta-metragem foi gravado no Cinememória e, na ocasião, ele mostrou peças como a câmera usada na 2ª Guerra Mundial e a Moviola utilizada por Glauber Rocha para montar Terra em Transe e por Joaquim Pedro de Andrade para editar Macunaíma. “Ele tinha um amor imenso por esse museu que ele construiu, e o maior desejo de Vladimir era que o acervo do Cinememória permanecesse em Brasília. Ele certamente está feliz, porque estamos conseguindo realizar esse sonho”, afirmou Marcia. Homenagem a Vladimir Carvalho Exibição do curta Vladimir Carvalho – Cinema e Memória e relançamento do livro Vladimir Carvalho, da coleção Mestres Cobogós · Local: Cine Brasília · Data: quarta-feira (5) · Hora: a partir das 18h30 · Entrada gratuita *Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF)
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Cerimônia de Abertura do Festival de Brasília terá homenagens a Zezé Motta e Vladimir Carvalho
Com 79 filmes programados, o 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro volta para mais um ano de celebração da produção nacional no Cine Brasília, neste sábado (30). A programação das mostras Competitiva Nacional, Brasília e paralelas começa oficialmente no domingo (1º/12). Tudo no Cine Brasília. Mas o primeiro dia do festival será reservado à tradicional Cerimônia de Abertura, às 20h, para convidados e com distribuição gratuita de uma cota dos ingressos antes da sessão. Na abertura, o premiado diretor Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus) realiza a primeira exibição mundial de seu novíssimo longa-metragem, Criaturas da Mente. Um filme “onírico”, como define o cineasta, o documentário investiga o sonho como motor da revolução humana, acompanhando o trabalho e a vida do neurocientista e escritor brasileiro Sidarta Ribeiro. Antes da exibição do filme, a Cerimônia de Abertura do 57º Festival de Brasília celebra icônicas personalidades do cinema brasileiro, sob a apresentação da atriz e influenciadora acreana Gleici Damasceno, e da atriz, arte educadora, produtora e palhaça brasiliense Ana Luiza Bellacosta. A grande homenageada do Festival de Brasília de 2024, que será agraciada com o prêmio pelo Conjunto da Obra, será a veterana e premiada atriz Zezé Motta | Foto: Gustavo Arrais/Divulgação O primeiro Troféu Candango será entregue nesta ocasião, como de praxe. A grande homenageada do Festival de Brasília de 2024, que será agraciada com o prêmio pelo Conjunto da Obra, será a veterana e premiada atriz Zezé Motta, que acumula mais um Candango à sua carreira, 49 anos após vencer o troféu de Melhor Atriz, em 1975, por sua atuação em Xica da Silva. Ela receberá a láurea em reconhecimento ao seu trabalho dentro e fora das telas, tanto como a grande atriz que ainda inspira gerações, como pela militância pela preservação da memória das artes negras, como fundadora em 1984 do Centro de Informação e Documentação do Artista Negro. Em celebração aos 80 anos de Zezé Motta, o Festival de Brasília ainda exibe o clássico Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues, em sessão única no domingo (1), às 19h, na Sala 2 do Cine Brasília, compondo as Sessões Especiais. Na ocasião da cerimônia, o festival ainda presta tributo póstumo a três personalidades intimamente ligadas à produção cinematográfica da capital federal, que nos deixaram neste ano. A edição 57 celebra a memória da produtora, atriz e cantora Mallú Moraes. Professora da UnB, com vários créditos no cinema nacional tanto pela atuação como por seu trabalho incansável de produtora, Mallú deixou um legado também familiar, transmitido pelas obras de seus filhos cineastas Bruno Torres e André Moraes. O cineasta e professor paraibano Vladimir Carvalho, falecido em outubro, será homenageado na grande sala de projeção do Cine Brasília | Foto: Divulgação Pedro Anísio, cineasta paraense radicado em Brasília, responsável por filmes que marcaram a crítica política e social, também é homenageado postumamente, assim como um dos maiores e mais premiados documentaristas brasileiros, o cineasta e professor paraibano radicado em Brasília Vladimir Carvalho terá homenagem póstuma do Metrópoles na grande sala de projeção do Cine Brasília que, desde o início do mês, foi oficialmente batizada de Sala de Cinema Vladimir Carvalho. A Vladimir é conferido também o tradicional prêmio da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV), que neste ano também celebra em vida a roteirista, produtora, diretora Delvair Montagner e sua prolífica produção e engajamento em preservação da memória de povos quilombolas e indígenas, com participação em mais e 40 títulos. A Cerimônia de Abertura, bem como a de Premiação, no dia 7 de dezembro, contam com tradução para Libras, audiodescrição ao vivo e legendagem em segunda tela. Elas serão transmitidas ao vivo pelo canal do Festival de Brasília no YouTube, assim como os debates da Mostra Competitiva Nacional e a conferência do Festival. Do lado de fora do Cine Brasília, uma estrutura sem precedentes acolhe uma segunda sala de exibição, dois auditórios, sala multiúso, praça de alimentação e área de convivência com programação musical sempre a partir das 20h. Na noite de abertura, o Sistema Criolina, clássico das pistas da cidade, comanda a festa a noite inteira. A 57ª edição do FBCB conta com apoio da Câmara Legislativa do DF, Cinemateca Brasileira, Cine Brasília, Canal Brasil, Canal Like, Telecine e Metrópoles. É realizado pelo Instituto Brasil Alvorada e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, em gestão compartilhada que se estende às três próximas edições do festival, culminando em 2026, na 59ª edição, e tem o patrocínio do Sebrae. O secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Claudio Abrantes, reforça que esta pode ser a mais significativa edição do Festival dos últimos anos, referindo-se à entrega da edição e a homenagem prestada a Vladimir Carvalho. “Estamos muito honrados em tornar realidade não só a 57ª edição do festival mais longevo do país, mas também de fazer desta edição um marco para o audiovisual do DF que, recentemente, perdeu um grande nome, um grande entusiasta, mas que ganha com o seu legado, aqui eternizado. Sem sombras de dúvidas a entrega deste ano do FBCB supera as edições anteriores, pelo seu formato e pelo seu significado para a trajetória do cinema brasileiro”, pontua Claudio Abrantes. Outras homenagens do festival No domingo, ocorre a primeira sessão da Mostra Competitiva Nacional e, na ocasião, serão entregues mais duas honrarias. Conferida anualmente pelo Festival de Brasília para profissionais destacados pela dedicação à pesquisa e preservação do cinema nacional, a Medalha Paulo Emílio Salles Gomes será atribuída ao professor, pesquisador e ensaísta João Luiz Vieira, titular do Departamento de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de Cinema Novo & Beyond (MoMA, 1998), Nova História do Cinema Brasileiro (2018) e Por um cinema de cordel: um livro de Sérgio Muniz (2024). O Festival de Brasília também retoma outra premiação importante: o prêmio Leila Diniz. Criado na 50ª edição, a láurea celebra mulheres cujos trabalhos marcaram a história do cinema brasileiro, na frente ou atrás das câmeras. Na 57ª edição, o prêmio celebra a carreira e profissionalismo de Sara Silveira, talento incontestável do audiovisual nacional, fundadora da Dezenove Som e Imagens Produções e produtora desde 1982, assinando filmes premiadíssimos como Alma Corsária (1994), Bicho de Sete Cabeças (2000) e Trabalhar Cansa (2011). *Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF)
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Espaço de exibições do Cine Brasília se chamará Sala de Cinema Vladimir Carvalho
Em homenagem ao cineasta e documentarista Vladimir Carvalho da Silva, o governador Ibaneis Rocha nomeou a sala de exibições do Cine Brasília como Sala de Cinema Vladimir Carvalho. O decreto nº 46.498 foi publicado no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) desta quarta-feira (6) em reconhecimento por sua contribuição para a cinematografia nacional e pela valorização da cultura brasileira. Cena de Rock Brasília – Era de Ouro, um dos destaques da carreira de Vladimir Carvalho | Foto: Divulgação Paraibano de Itabaiana, o artista abraçou Brasília e escolheu a capital da República para praticar e partilhar a sua arte. Vladimir faleceu no último dia 24 aos 89 anos, em consequência de um infarto. Considerado um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro, ele produziu mais de dez documentários que permeiam a política e a história nacional. Segundo o decreto, ficará a cargo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF) providenciar a sinalização e divulgação necessária para identificar a Sala de Cinema Vladimir Carvalho. O artista foi um dos fundadores do curso de cinema da Universidade de Brasília (UnB), instituição pela qual tornou-se professor emérito em 2012. De Romeiros da Guia (1962) a O País de São Saruê, Barra 68 e Rock Brasília – Era de Ouro (2011), Vladimir Carvalho deixa uma extensa colaboração e um importante acervo para o país.
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Corpo do cineasta Vladimir Carvalho será velado no Cine Brasília nesta sexta (25)
O cineasta Vladimir Carvalho, que faleceu nesta quinta-feira (24), terá seu corpo velado no Cine Brasília, das 9h30 às 13h30, na sexta (25). Ele tinha 89 anos e era considerado um dos maiores mestres do cinema brasileiro. O Cine Brasília fica na Entrequadra 106/107 da Asa Sul. ‘Conterrâneos Velhos de Guerra’, um dos filmes de grande repercussão de Vladimir Carvalho | Foto: Divulgação Vladimir deixa um legado de filmes que retratam a história e a luta do povo brasileiro, como O País de São Saruê, Conterrâneos Velhos de Guerra, O Itinerário de Niemeyer e Barra 68, entre outros. O sepultamento será realizado às 14h30 no Jazigo dos Pioneiros, no cemitério Campo da Esperança. Será um momento de despedida, mas também de homenagem ao homem e artista que tanto contribuiu para o cinema e para a cultura brasileira. Em nota, a direção do cinema mais tradicional da capital federal ressalta: “O Cine Brasília se orgulha de ter sido palco de diversas exibições e debates sobre sua obra, e lamenta profundamente essa perda. Seu talento, coragem e dedicação à arte seguirão inspirando cineastas, críticos e amantes do cinema por gerações. O cinema brasileiro está de luto, mas o legado de Vladimir permanecerá gravado em nossa história”. *Com informações da Secec-DF
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Documentário celebra os 88 anos do cineasta Vladimir Carvalho
São 88 anos de vida, mais da metade deles dedicados ao cinema, enfim, à enigmática arte de contar histórias por meio da lente das câmeras, sempre ouvindo pessoas e projetando sonhos. Com 16 obras no currículo e um vasto sentimento do mundo nas costas – como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade -, o mestre Vladimir Carvalho dispensa apresentações. [Olho texto=”“O filme resgata a importância do Vladimir como maior cineasta documentarista vivo, juntando suas experiências de vida com sua obra, que é tão radical”” assinatura=”Maria Maia, diretora do documentário” esquerda_direita_centro=”direita”] Para celebrar a data e exaltar o homem e seus feitos, na arte e na vida, será exibido nesta terça-feira (31), no Cine Brasília, às 18h30, o filme-homenagem O Cinema Segundo Vladimir Carvalho. A entrada é gratuita. O título do longa dirigido por Maria Maia é um trocadilho afetuoso com um dos trabalhos mais célebres do documentarista, O Evangelho Segundo Teotônio (1984). Uma produção da TV Senado, o projeto conta com depoimentos de Gilberto Gil, dos cineastas Orlando Senna, Dácia Ibiapina, Sérgio Moriconi e Walter Carvalho – irmão de Vladimir -, entre outros. Cartaz do documentário que será exibido no Cine Brasília na terça-feira (31) | Foto: Divulgação “O filme resgata a importância do Vladimir como maior cineasta documentarista vivo, juntando suas experiências de vida com sua obra, que é tão radical”, comenta a cineasta, que promoverá um bate-papo com o homenageado e o público após a sessão. “Radical como documentarista em revelar esse Brasil cheio de contradições, que nos alegra, mas também nos faz chorar. Um Brasil que é ao mesmo tempo um misto de arcaico com o futuro, que é muito o cinema do Vladimir”, destaca. “Gosto dos meus filmes, sinto-me com o dever cumprido”, diz o cineasta Vladimir Carvalho | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília Ex-aluno de Vladimir Carvalho na Universidade de Brasília, o jornalista e crítico literário Sérgio Moriconi, responsável pela programação do Cine Brasília, destaca que o diretor paraibano de alma brasiliense é um dos precursores do Cinema Novo, uma das mais importantes correntes cinematográficas do mundo. Como professor da UnB, Vladimir Carvalho é responsável pela formação da primeira geração de cineastas da cidade. “O Vladimir formou toda uma geração de cineastas criados na cidade, mestre da primeira geração de cineastas de Brasília”, lembra Moriconi. “O Vladimir é o nosso cineasta de referência, é um pioneiro e uma das sementes da cinematografia documental do Brasil, do Centro-Oeste e do DF”, avalia. Paraibano de Itabaiana, Vladimir Carvalho aprendeu a gostar de cultura, cinema e artes em geral por influência do pai, Luiz Martins. Como morava numa cidade que ficava num entroncamento ferroviário, era aquele garoto que esperava ansioso a chegada do trem com os filmes que seriam exibidos no cinema da cidade. A primeira experiência cinematográfica foi como corroteirista e assistente de direção de Linduarte Noronha no curta Aruanda (1960), marco do cinema regionalista brasileiro. Na sequência, em 1967, dirigiria A Bolandeira, obra referência para o movimento cinemanovista. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] Em Brasília, o primeiro trabalho seria o contundente documentário Vestibular 70, obra que registra a rotina dos estudantes durante a realização das provas para ingressar na UnB. O curta foi dirigido a quatro mãos com Fernando Duarte, falecido na última terça-feira (24). É diretor de grandes clássicos do gênero do cinema verdade, como O Homem de Areia (1982), Conterrâneos Velhos de Guerra (2001), Barra 68 (2000) e o marcante O País de São Saruê (1971), proibido de ser exibido na edição daquele ano do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O episódio culminaria com a proibição da realização do evento por três anos, só retornando em 1975. Ao projetar os olhos no retrovisor do tempo, faz um modesto balanço de sua trajetória singular marcada por um cinema social impactante e terno. “Falar de si mesmo é mais condenável que falar dos outros”, brinca. “Mas gosto dos meus filmes, sinto-me com o dever cumprido”, resume. Serviço Documentário O Cinema Segundo Vladimir Carvalho ? Local: Cine Brasília ? Data: terça-feira (31) ? Horário: 18h30 ? Entrada franca
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Com recursos do FAC, projeto resgata importância de Vladimir Carvalho
Com apoio de R$ 200 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para finalização, o documentário Quando a Coisa Vira Outra mergulha em impressões e histórias que marcaram a trajetória de Vladimir Carvalho, ativo artista do cinema verdade brasileiro. Dirigido por Marcio de Andrade, o filme está nos catálogos VoD das plataformas Claro Net, Sky, Vivo TV e Oi TV. No dia 29 de junho, estreia na faixa dedicada ao festival É Tudo Verdade, no Canal Brasil. Documentário ‘Quando a Coisa Vira Outra’ traz histórias que marcaram a trajetória de Vladimir Carvalho | Fotos: Divulgação Segundo o baiano Glauber Rocha, Vladimir Carvalho é, entre outras coisas, o Dziga Vertov da caatinga. A comparação com o revolucionário documentarista russo do século passado, que transformava cotidiano urbano e pessoas em poesia, não foi exagero. Assim como é bem apropriada a definição do diretor de fotografia Walter Carvalho de que o cineasta paraibano e seu irmão, hoje com 87 anos, faz um “cinema da desigualdade”. Com poesia, diálogos sinceros e até mesmo reveladores entre os dois irmãos, Quando a Coisa Vira Outra passa em revista a trajetória de um dos mais relevantes nomes do audiovisual brasileiro, falando sobre processo criativo, inspiração, entrevistados, bastidores de gravação – alguns polêmicos –, enfim, sobre a paixão pelo cinema. O filme apresenta os segredos da arte de filmar e os desdobramentos sociais e humanistas desse ofício pelos olhos e lentes de duas feras do gênero. Até mesmo o título foi pinçado de uma frase inspiradora do caçula Walter Carvalho que, por sua vez, fotografou marcos do cinema nacional como Lavoura Arcaica (2001) e Amarelo Manga (2006), e depois dirigiu obras de peso como Budapeste (2009) e Raul – O Início, o Fim e o Meio (2011). “O Vladimir tem uma visão humanista muito pessoal, com um trabalho dividido entre o campo e a cidade”, comenta em dado momento do documentário Walter Carvalho, que começou a fazer cinema graças ao irmão mais velho. “A gente se reconheceu depois como companheiro, como parceiros do cinema”, revela Vladimir, noutro trecho. Nordeste e Brasília Carioca que passou a infância e A adolescência em Brasília, Marcio de Andrade, diretor de filmes como Asfalto (2015) e Estela do Patrocínio – A Mulher que Falava Coisas (2007), como boa parte de sua geração, aprendeu a gostar do rock da capital e dos filmes que passavam no Cine Brasília. Sobretudo durante os vários festivais de cinema que acompanhou no espaço. Foi em uma dessas sessões, inclusive, que ele se apaixonou pelo cinema social de Vladimir Carvalho. “Eu sempre tive vontade de trabalhar com o Vladimir. Ele é um menino inspirador, é uma figura inovadora e motivadora”, comenta Marcio de Andrade, que desde 2016 esteve debruçado sobre o projeto. “A ideia do filme nasceu quando ele tinha 80 anos. Tivemos muita dificuldade em encontrar filmes do Vladimir preservados. Percorremos vários lugares, é uma obra que precisa ser resgatada”, diz. Vladimir e Walter Carvalho nas filmagens de ‘O Pai?s de Sa?o Sarue?’ Assim, frame a frame, o espectador vai se inteirando da carreira poderosa que começou no início dos anos 1960. Teve início com o pouco conhecido registro Os Romeiros da Guia (1962), passando pelo cultuado curta A Bolandeira (1969), importante no surgimento do cinema novo, aliás, até chegar a trabalhos consagrados como O País de São Saruê (1971) – nove anos censurado –, Conterrâneos Velhos de Guerra (1991), Barra 68 – Sem Perder a Ternura (2001) e Rock Brasília (2011). “O filme tem uma edição poética que deu conta da minha carreira, me senti representado nesse projeto”, comenta Vladimir, carinhosamente chamado pelo irmão ao longo dos depoimentos de Vlad. “Fiquei muito feliz por essa homenagem que tem meu irmão Walter como narrador”, comenta ainda. Documentário histórico Mergulhado em uma narrativa construída em cima de vários relatos e memórias preciosas, o espectador vai se inteirando dos vários Brasis registrados por Vladimir ao longo de 60 anos com a câmera na mão. Há espaço para nostalgias líricas, como a história do engenho de açúcar que foi um dos personagens do filme seminal que influenciou todo um movimento cinematográfico, assim como a amizade com outra lenda do documentarismo, Eduardo Coutinho. “O Coutinho permaneceu para mim como um exemplo de ética, de respeito total ao entrevistado, que é o DNA da obra dele, um exemplo”, lembra-se. Quando a Coisa Vira Outra não deixa de ser um resgate dessa obra cinematográfica extensa, que se divide em dois tomos, ambos sedimentados por um olhar social contundente e por um humanismo singular. Destacam-se as lembranças aos filmes com temática nordestina e trabalhos focados nos dramas e tragédias tipicamente brasilienses. A vontade que se tem, ao terminar de ver o documentário, é de sair por aí tentando ver ou rever os vários clássicos dirigidos pelo diretor homenageado. Até pela grandeza do personagem e de sua obra, eis um projeto que merecia uma série em vários capítulos ou dezenas de sessões. *Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF
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Tradicional e híbrido: vem aí o 53º Festival de Brasília
A notícia de que o mais antigo, tradicional e importante evento cinematográfico do país pudesse não acontecer este ano causou comoção: artistas, cinéfilos, jornalistas… Sensibilizado, o governador Ibaneis Rocha ligou para o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, e garantiu a realização da 53ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O orçamento para o evento será na casa dos R$ 2 milhões. E ele virá com várias novidades. O secretário, diante da pandemia de Covid-19, vê a oportunidade de se revolucionar o jeito de fazer o festival. “Será um aprendizado para um evento de tão grande magnitude. E sem o direito de errar, com o desafio de trazer bons filmes e grandes diretores”, avalia ele. Foto: Renato Alves/Agência Brasília Rodrigues conta que o governador foi bastante sensível no entendimento de que o Festival não representa uma despesa, mas um investimento. “Será uma chance de realizarmos de forma virtual e presencial”, conta. Previsto para outubro ou novembro, o evento deve ser realizado em formato híbrido: on-line e exibições de filmes no Cine Drive-In- por sinal, o único do gênero na América Latina. Algumas empresas de streaming, aliás, já demonstraram interesse em fazer parcerias para a exibição dos filmes nas plataformas virtuais. “Alguns festivais no mundo inteiro estão mudando de formato ou simplesmente sendo cancelado”, conta Rodrigues. Ele lembra que Cannes (França) está no mesmo dilema. “Temos algumas vantagens, como o Cine Drive-in, essa preciosidade que vamos utilizar da melhor forma”, planeja. O secretário lembra que agora é a hora inovar. “Talvez inauguremos um modelo novo de realização de festival, que pode ser uma referência.” Uma “coordenação descentralizada” ficará sob o comando do gabinete da Secec – contando, inclusive, com a presença de todos os representantes da classe cultural. O primeiro a ser convocado foi o mestre de todos os cineastas da cidade, Vladimir Carvalho – com mais de meio século de vida afetiva com o Festival de Brasília. Preste a completar 86 anos, o conterrâneo velho de guerra, nascido na Paraíba, mas radicado na cidade desde 1969, já aceitou o convite e promete ajudar com afinco. Experimente, o cineasta acredita que até lá, novembro, essa crise sanitária já passou e torce por um evento 100% presencial, carregado de espírito de esperança. “Estou otimista. Aceitei esse chamamento por pura coerência e vou colaborar, será um festival cheio de esperança para uma nova realidade”, defende. Com a autoridade de quem assistiu 45 edições das 52 que aconteceram (25 deles vividos em Brasília), a jornalista Maria do Rosário Caetano, hoje morando em São Paulo, elogia a iniciativa do governador Ibaneis Rocha de não paralisar o mais importante festival. “O GDF reconhece que este é o mais duradouro, sólido e estimado projeto cultural da capital brasileira”, destaca ela.
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Cine Brasília recupera pôsteres de filmes e festivais
Cinema, cartazes e memória: esse trinômio está na raiz de uma iniciativa do Cine Brasília e que ganhou impulso, quem diria, com a interrupção das exibições públicas de filmes provocada pela pandemia do coronavírus. A iniciativa é da unidade de Audiovisual da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), que conseguiu reunir 276 cartazes de filmes comerciais exibidos no Cine Brasília após a reforma do espaço – reinaugurado em 2013 depois de 16 meses fechado. O precioso achado inclui ainda 38 peças de divulgação de mostras e festivais realizados desde então no chamado templo do cinema brasileiro. Segundo o gerente do Cine Brasília, Rodrigo Torres, a ação é o primeiro estágio de um projeto para preservar de forma segura esses cartazes. E servirá também para elaborar uma plataforma que possibilite o rastreamento de documentos sobre a história da sala projetada por Oscar Niemeyer e inaugurada um dia após a capital do país, em 1960. Foto: Divulgação Os 314 cartazes resgatados pela equipe do Cine Brasília já foram organizados em ordem alfabética pela equipe do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) e aguardam o fim da pandemia para receber um trabalho de planificação. Enquanto isso, estão guardados numa sala do Anexo do Teatro Nacional Claudio Santoro sob a custódia da Comissão de Avaliação de Documentos da Secec. A servidora Keyciane Araújo, que zela pelos cartazes como um tesouro, acredita que o Arquivo Público venha a ser o destino final dos pôsteres. A coordenadora da Sistema de Arquivos (Cosis) do ArpDF, Taiama Mamede, apoia a ideia. “Esse material seria muito bem-vindo. Já existem pôsteres aqui, inclusive”. O Arquivo Público tem um acervo permanente, que também guarda fotos da construção do Cine pela Novacap. Para os aficionados da sétima arte, destacam-se entre os pôsteres peças como Acossado (Jean-Luc Godard), A Bela da Tarde (Luis Buñuel), Amor, Plástico e Barulho (Renata Pinheiro), O Último Cine Drive-in (Iberê Carvalho) e o recente campeão nacional de bilheteria Bacurau (Kleber Mendonça e Juliano Dorneles). Foto: Divulgação Alusivos a mostras e festivais, há cartazes de edições do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, do Curta Brasília, de mostras de cinema europeu, de festivais dedicados a diretores, seleções de filmes com embaixadas e iniciativas como Surdo Cinema e Slow Film. Torres acredita que o destino do material deva mesmo ser o Arquivo Público, uma vez que o Cine Brasília não tem espaço para receber e guardar os cartazes de maneira adequada. Um dos objetivos do projeto é desenvolver uma plataforma para rastrear documentos sobre o espaço cultural, que hoje se encontram espalhados em várias instituições. Além da Secec e do Arquivo Público, a Biblioteca Nacional de Brasília, a Universidade de Brasília (UnB) e arquivos pessoais. O projeto em embrião, que promete desdobramentos mantidos em sigilo por enquanto, tem calorosa acolhida entre personalidades e estudiosos da área. Acolhida calorosa O cineasta e ex-professor da UnB Vladimir Carvalho, protagonista de grandes momentos na história do cinema brasileiro e brasiliense, apoia a iniciativa calorosamente. Carvalho teve seu filme O País de São Saruê (1971) sequestrado pela ditadura militar em pleno Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, para o qual havia sido selecionado. “Os cartazes, além de importantes veículos para divulgação de obras cinematográficas, alcançaram por sua concepção e esmero o status de uma arte à parte. Daí o surgimento de verdadeiras coleções e de entusiastas colecionadores que terminam por trazer informações preciosas sobre os diversos períodos da história do cinema”, ensina. Contemporâneo de Caetano Veloso e Glauber Rocha em sua passagem por Salvador (BA), onde cursou filosofia, o paraibano Carvalho destaca o papel do Cine Brasília na formação de público. “A programação muito bem concebida e realizada tem atraído não só o cinéfilo de sempre, mas sobretudo jovens plateias interessadas nos clássicos e nos lançamentos vindos de toda parte”. A fotógrafa, cineasta e professora adjunta da Faculdade de Comunicação da UnB Rose May Carneiro, que já lecionou as disciplinas História do Cinema, do Cinema Brasileiro, Linguagem Cinematográfica e Documentário, também acredita no potencial da iniciativa. Foto: Divulgação “Certamente, a restauração desse acervo de pôsteres vai nos trazer de volta um arsenal de sensações junto a um arcabouço de memórias, por meio de ilustrações, fotografias, cores, ângulos, iluminações e tipologias impressas e imortalizadas naquelas paredes [do foyer do Cine Brasília]”. Ela acredita que uma exposição do acervo será uma “excelente oportunidade para os cinéfilos e cinéfilas reverem toda a modernidade que dialogava com a Literatura, a Filosofia e a Psicanálise e invadia o extraquadro do longa de estreia do Godard (Acossado) ou os mais recônditos desejos e delírios do imaginário projetados por Buñuel (A bela da tarde)”. Carneiro lembra ainda o quanto esses cartazes recuperam “a força e o lirismo do cinema brasiliense (Adirley, Iberê, Santiago etc), os dramas políticos e pessoais costurados pelas lentes pulsantes do Kleber Mendonça e Juliano Dorneles (Bacurau) até chegarmos nas imagens emblemáticas dos últimos pôsteres do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro”. * Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF)
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Conversa animada com o bom e velho Vladimir Carvalho
No final dos anos 60, Vladimir Carvalho comia o pão que o diabo amassou, no Rio de Janeiro. Então com dois curtas-metragens nas costas – Romeiros (1962) e A Bolandeira (1967) –, ele sobrevivia com os vales de repórter do Diário de Notícias, morando numa casa de cômodo, no bairro de Santa Teresa, com a mulher. Foi quando recebeu o convite para dar aula na Universidade de Brasília (UnB). “Vim, olhei para Brasília e achei a cidade fria, fria, no sentido metafórico”, lembra. “Voltei para o Rio, as contas todas atrasadas, então propus ficar só dois meses. Acabei me casando com a cidade. Já faz exatos 50 anos!”, ri, surpreso. Um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro e figura essencial para a cinematografia brasiliense, o documentarista de 84 anos encerra neste sábado (30), às 19h, a 52ª edição do Festival de Brasília, apresentando seu mais recente projeto, Giocondo Dias – Ilustre Clandestino. Antes, nesta sexta-feira (29), às 19h, lança no hall do Cine Brasília, o DVD de Cícero Dias, o Compadre de Picasso. “Giocondo é um filme em tom menor, sobre um homem que marcou minha infância a partir dos relatos do meu pai. Um sujeito que tinha o dom do diálogo, tema atual”, reflete. Dono de memória prodigiosa e lucidez invejável, a trajetória desse paraibano de voz de profeta e simpatia sem fim, se confunde com a parte da história do cinema nacional e os primeiros anos da capital, quando ainda se ouvia, por aqui, o baticum das obras. Chamado pelo cineasta baiano, Glauber Rocha, de o “Vertov da caatinga” – documentarista experimental russo do início do século passado –, Vladimir foi um dos pioneiros da sua arte na Paraíba, flertou com a turma do Cinema Novo e sentiu o peso dos anos de chumbo da ditadura nos ombros, quando seu primeiro longa-metragem, O País de São Saruê, foi limado do Festival, em 1971. O episódio acarretaria na interdição do evento por três longos anos. “Comecei esse projeto em 1966, ali procuro recompor as relações de classe na relação entre os donos de terras e os camponeses”, lembra. Em conversa com a Agência Brasília, numa manhã tranquila, ele falou de sua relação com a cidade e o mais importante e tradicional festival de cinema do país; dos tempos de UnB; de quando foi assistente do documentarista Eduardo Coutinho; de sua relação com o cineasta Arnaldo Jabor; e do dia em que viu o diretor de cinema polonês Roman Polanski, na beira da piscina do Copacabana Palace Hotel, pedindo para ver os ensaios da escola de samba Mangueira e um jogo de futebol do Flamengo. “Também vi o (cineasta alemão) Fritz Lang de perto e o ator Glenn Ford (o astro do filme Gilda, de 1946), passeando de óculos ray ban”, recorda. Giocondo Dias Ouvi falar de Giocondo Dias pela primeira vez, mencionado pelo meu pai, que era militante do partido comunista. Isso nos anos 40. Eu nasci em 1935. Era, de certa forma, uma maneira de descobrir o meu pai como uma pessoa que estava ligado no mundo, embora morasse numa cidade do interior (Itabaiana, Paraíba). Então, em 1935, o Giocondo, cabo do exército, fez parte da Intentona Comunista (tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas por militares, com apoio do Partido Comunista Brasileiro). Um movimento que estourou meio desconectado, no Rio de Janeiro, e, depois, em Recife e São Paulo. O Giocondo tinha prestígio junto aos seus comandados, já com ideias revolucionárias. Ele foi a um quartel, em Natal, no Rio Grande de Norte, e prendeu o comandante do lugar em nome do Luís Carlos Prestes (líder comunista). Uma bravata! (ri). Nessa confusão, foi ferido a tiros. Milagrosamente, fizeram a cirurgia e ele sobreviveu. Ele andou em comícios onde foi atingido novamente. Levado para o hospital, foi novamente operado. A partir dessa experiência de vida, e isso é uma interpretação minha do que vem depois, ele se tornou um ferrenho defensor de posições que eliminavam qualquer coisa no partido que fosse realizado pelas armas. Daí o slogan do filme – “Adeus às armas, apelo ao diálogo”. É um tema muito atual. O Giocondo construiu isso na clandestinidade. O dom do diálogo Giocondo foi um cara importante. Não era um intelectual. Era um militante que tinha o dom do diálogo, que pregava, dentro do Partido comunista, a revolução não pelas armas, mas a partir de uma boa conversa. Foi um personagem que encarnou essa posição. Ele tinha uma frase: “Vamos discutir essa discordância”. Ia conversando de pouquinho e pouquinho, diminuindo a discordância. Redescobri ele e meio que me apaixonei pela sua figura. O filme Eu tenho essa posição, talvez um tanto idealista, de não fazer nada de encomenda. Então, assumi a produção desse filme e fiquei dois anos ralando. É um perfil em segunda-mão porque é visto pelos raros contemporâneos do Giocondo Dias. Encontro com o personagem Eu tive a oportunidade de vê-lo porque também militei no partido, quase que por causa do meu pai. Ele ficou uma pequena temporada em Brasília, em 1983 e 1984, onde foi de gabinete em gabinete tratar da legalidade do partido. Era algo praticamente previsto porque a gente estava em plena redemocratização, a volta do Estado de Direito. E o conheci de vista. Apertamos as mãos, já sabia da importância dele. Essa referência e atuação dele sempre me nortearam. Segui muito essa orientação, de trilhar pela democracia. Primar pelas vias democráticas. Arqueólogo do cinema É uma circunstância minha. Eu sempre cheguei depois dos acontecimentos. Saí da Paraíba e fui para Salvador, atraído pelo Cinema Novo. O Glauber Rocha estava surgindo no cenário, o Roberto Pires – que viveu um tempo aqui em Brasília –, também. Quando chego lá o movimento foi amainando, com as principais cabeças indo embora. Depois o (Eduardo) Coutinho (documentarista) me chamou para ser assistente dele em Cabra Marcado para Morrer (1964) e veio o Golpe. Vou para o Rio, e o que acontece? O Cinema Novo estava se desmilinguindo porque a ditadura estava instalada, acabando aquela geração que fez o movimento acontecer. Daí, venho para Brasília, em 1969, convidado a dar aula na UnB. O curso de cinema acabara havia cinco anos. Estou sempre atrás dessa memória. E isso é uma dificuldade muito grande porque o Brasil não preserva a memória audiovisual. Para fazer qualquer filme que precise recorrer a momentos históricos você vai aos arquivos e não encontra muita coisa. Polanski na piscina do Copacabana Palace Depois de ser assistente do (Eduardo) Coutinho, fui trabalhar com o (Arnaldo) Jabor na cobertura do Festival Internacional do Filme (FIF), que teve apenas duas edições e que resultou num filme dele chamado Rio, Capital do Cinema. Um mês depois, ele faria o curta Opinião Pública (1967). Era um festival para promover o Rio e os artistas convidados ganhavam vales para beber uísque nas boates. Vi o Fritz Lang (diretor alemão de Metrópoles, filme de 1927) daqui pra ali; o ator canadense Glenn Ford (do filme Gilda, de 1946), passeando de óculos ray ban; e o Roman Polanski (diretor polonês de O Bebê de Rosemary, filme de 1968) na beira da piscina do Copacabana Palace, pedindo para ver os ensaios da Mangueira e um jogo de futebol do Flamengo. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro É a base de tudo, conta com a sombra das pessoas que fundaram o curso de cinema da Universidade de Brasília (UnB). O festival instalou a I Semana do Cinema Brasileiro, firmando um compromisso cultural com o que era realizado no Brasil no cinema na época e apoiando o que sobrou do Cinema Novo. Tratavam-se de uma série de filmes que pareciam ecoar aquilo que ficou para trás como uma herança de Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha. E que está aí até hoje, com uma plateia superexigente, crítica, politizada, que vive na capital da República. O Festival de Brasília é a nossa matriz, campo das reivindicações, do desenvolvimento, da projeção do Cinema Brasileiro de um modo geral. O País de São Saruê e a Censura É um filme que comecei a fazer em 1966 e que procura recompor um cenário que, de certa forma, ainda existe, que são as relações de classe. O campesinato em torno de terra, isso vinculado desde a descoberta do Brasil. Quem é dono de terra é dono de terra, não quer abrir mão e trava uma brigar campal com as ligas camponesas. Ele havia sido selecionado para o Festival e estava na censura. Dois dias antes de sua exibição foi arrancado do evento e substituído por Brasil Bom de Bola (dirigido por Carlos Niemeyer). Bom, fazia um ano do AI-5, as pessoas vaiaram perigosamente, houve quebra-pau fora no cinema, com as pessoas atirando bolinha de gude nas autoridades e tudo o mais. Deu que o Festival de Brasília seria interditado por três anos. O País de São Saruê é uma das obras mais importantes de Vladimir Carvalho, um filme ícone do festival Relação com as novas gerações de cineastas Brasília tem um lado documental que me pegou e também os alunos com quem tive contato quando criei uma disciplina própria no curso de cinema da UnB . Parece que isso repercutiu no espírito da turma que tinha facilidade de filmar. Conterrâneos Velhos de Guerra É difícil escolher qual de minhas criações eu gosto mais porque a gente é meio pai de todos. Agora eu acho que Conterrâneos… é uma súmula do meu trabalho. Ele faz um sumário, uma ampliação ou continuação de O País de São Saruê (1971). Primeiro, eu filmei o nordestino no seu habitat natural. Depois, filmei os nordestinos fora, como se fosse um bando de judeus que tivessem migrado e que foram aqui rejeitados por uma coisa da sociedade brasileira, de luta de classes. Esse filme tem esse condão, essa capacidade de juntar tudo o que já fiz, os costumes, a cultura, tudo um filme só. Não à toa chamei de Conterrâneos Velhos de Guerra. UnB A gente deve muito a pessoas que, em circunstâncias históricas, criaram o primeiro curso regular de cinema do Brasil. Isso aconteceu em Brasília. Graças ao Darcy Ribeiro, ao Pompeu de Souza, ao Nelson Pereira dos Santos e ao Paulo Emílio Salles Gomes, o homem mais importante para pensar o cinema brasileiro. É uma marca muito forte. Esse curso e a própria Universidade eram uma revolução no ensino superior brasileiro, que é de uma importância enorme. Deu um caráter de proficiência e profissionalidade em termo de criação de um festival de cinema que reflete até hoje. O público de Brasília é um público muito especial, crítico, independente. É uma herança. Uma herança que vem desses caras.
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