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história de Brasília

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Arquivo Público do Distrito Federal recebe senador do Paraguai

Em visita a Brasília, onde será empossado como novo imortal da Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura (Abasci), o senador paraguaio Edgar Ruiz será apresentado aos principais registros documentais da história da construção de Brasília nesta sexta-feira (30), às 14h, na sede do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF). O senador vai conhecer documentos que contam a história da construção da capital do Brasil | Foto: Divulg ação/ArPDF O político paraguaio manifestou grande interesse pelos detalhes que tornaram Brasília um dos maiores Patrimônios da Humanidade, ao lado da Acrópole de Atenas (Grécia), da Grande Muralha da China e das Pirâmides de Gizé (Egito). Além do acervo digital repatriado de Lucio Costa, Edgar também verá esboços, imagens e documentos produzidos por Oscar Niemeyer, Athos Bulcão e Roberto Burle Marx. Ao receber mais esta visita internacional, o ArPDF — que em 2025 completa 40 anos de fundação — firma-se como uma das mais respeitáveis e instituições de pesquisa e preservação de memória do Brasil e do mundo. *Com informações do Arquivo Público do DF

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Projeto Descobrindo Brasília leva crianças para imersão na história da capital federal

As casas de madeira que abrigaram o primeiro hospital de Brasília foram cenário para o aprendizado de mais de 20 crianças em situação de vulnerabilidade do Varjão. Os estudantes conheceram a história da construção da capital federal no Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC), e ainda passaram na Catedral e na Ponte JK, outros espaços icônicos do Quadradinho. O passeio ocorreu graças ao projeto Descobrindo Brasília, promovido pela Secretaria de Atendimento à Comunidade do Distrito Federal (Seac-DF). A iniciativa atenderá o dobro de crianças neste ano em comparação ao ano passado, quando foi criada. Serão 240 crianças em duas semanas de atividade. Os primeiros passeios ocorreram entre os dias 2 e 4 deste mês, com participação de projetos sociais de Samambaia, Água Quente e Santa Maria. Nesta semana, além do grupo Realizando Sonhos do Varjão, vão participar entidades do Itapoã e de Sobradinho II. O percurso também incluirá o Memorial dos Povos Indígenas e o Planetário de Brasília. “Levamos crianças que nunca tiveram condições de conhecer os pontos históricos da nossa cidade, criando memórias afetivas que estimulam o interesse pelo conhecimento”, destaca a secretária de Atendimento à Comunidade, Clara Roriz. “Além disso, as visitas contribuem para mostrar às crianças que tudo tem um começo, um meio e um fim, que às vezes o caminho não vai ser fácil, mas que, com perseverança, elas podem chegar onde elas quiserem.” O passeio ocorreu graças ao projeto Descobrindo Brasília, promovido pela Secretaria de Atendimento à Comunidade do Distrito Federal (Seac-DF) | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília Toda a experiência é gratuita e pensada para que seja inesquecível. As crianças são buscadas na sede dos projetos sociais por um ônibus do Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) e há distribuição de lanches, fornecidos pelo Sesi Fibra. As visitas são intermediadas por monitores e as aulas são breves, com apresentação de vídeos, para garantir a atenção e diversão dos pequenos cidadãos. “Trazemos as crianças para realmente conhecer a história de Brasília, passando em vários pontos históricos”, assegura o subsecretário da Seac-DF, José Roberto Paiva. Curiosidade O projeto ocorre em um período especial para os brasilienses: no dia 21 deste mês, Brasília completará 65 anos de existência. Para a estudante Sofia Rodrigues, a melhor parte do passeio foi justamente entender mais como tudo aconteceu, desde a decisão de trazer a capital para o interior do país até a construção dos primeiros prédios do Planalto Central. “O que mais gostei foram os vídeos que mostraram mais como era antigamente. Aprendi que as pessoas de antigamente, quando iam de ônibus, era muito cheio e tinham que ir pulando de ônibus. Aquele povo foi guerreiro mesmo, eu não ia dar conta não”, comenta. O estudante Guilherme Torres, 11 anos, adorou conhecer o dia a dia dos operários que ajudaram a erguer a capital do país e as tecnologias que usavam à época, como o lambe-lambe. “Os candangos são as pessoas que vieram em um caminhão para construir a cidade do zero e acho que fizeram um ótimo trabalho. E o lambe-lambe é uma câmera antiga que a gente bota a cabeça em um pano, sem lente”, explica o menino. “Achei interessante na hora que eles mostram os quartos, os cômodos. Não imaginava que era assim, me senti no de volta para o futuro.” O estudante Guilherme Torres, 11 anos, adorou conhecer o dia a dia dos operários que ajudaram a erguer a capital do país e as tecnologias que usavam à época, como o lambe-lambe Com entrada gratuita de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, o museu oferece a exposição permanente Poeira, Lona e Concreto, que narra a história da cidade desde os sonhos, os projetos, a construção, até os dias atuais. A mostra é composta por diferentes ambientações, com fotografias, textos, móveis e objetos do início de Brasília. O espaço passou por restauração completa em 2022. A educadora social do projeto do Varjão, Thamires Neves, destaca que a oportunidade fortaleceu os vínculos dos estudantes com a cidade. “Eles ficaram bastante animados para conhecer Brasília e algumas coisas que as pessoas mais velhas de casa já comentaram”, observa ela, que agradece a iniciativa do GDF. “Foi surpreendente viver essa experiência e ver a felicidade no rosto das nossas crianças é incrível.” Visite também As exposições do Museu Vivo da Memória Candanga podem ser visitadas de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Em horários agendados, o museu promove visitas guiadas que têm como foco a educação patrimonial e a história de Brasília. Instituições de ensino públicas e particulares interessadas devem preencher o formulário disponível neste site. É possível ainda combinar uma visita guiada ao museu diretamente com a gerência. Basta enviar o nome do solicitante e da instituição de ensino, telefone e e-mail para contato, endereço da escola, data e horário da visita, quantidade de visitantes (alunos, professores, monitores, motorista), faixa etária e série escolar dos alunos para o e-mail mvmc@cultura.df.gov.br. Serviço Museu Vivo da Memória Candanga Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 17h Endereço: Lote D Setor Juscelino Kubitschek – Núcleo Bandeirante Telefones: (61) 3301-3590 Acesse a programação completa do espaço no Instagram.

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Presentes com identidade brasiliense são opções para surpreender neste Natal

O Natal é uma época marcada pela troca de presentes, mas também pela busca de significado. Para quem deseja sair do comum e presentear com originalidade, produtos que carregam a identidade de um lugar especial podem fazer toda a diferença. Optar por itens que representam a cultura e a história de Brasília é uma boa forma de inovar. Lojinha do Cine Brasília tem vários artigos com referências à identidade cultural da cidade; venda é revertida para melhorias no próprio cinema | Fotos: Divulgação O Cine Brasília está com uma linha exclusiva de souvenirs, que vão desde camisetas e bonés até canecas, garrafas e produtos de papelaria com a nova logomarca do espaço, que imprime a singularidade da arquitetura modernista, desenvolvida pelo escritório de design Manufatura. “É mais uma fonte de renda, buscando a sustentabilidade financeira para o Cine Brasília. Contudo, mantemos a premissa dos preços populares e superacessíveis” Sara Rocha, diretora do Cine Brasília Além de presentear com uma lembrança cheia de personalidade, o consumidor também contribui para manter o espaço, uma vez que toda a receita derivada do projeto é reinvestida no próprio Cine Brasília. Os produtos estão disponíveis para venda na lojinha do cinema, de quinta a domingo, das 16h às 21h. ‌De acordo com a diretora do Cine Brasília, Sara Rocha, a lojinha funciona como um espaço de fomento da economia criativa. “É mais uma fonte de renda, buscando a sustentabilidade financeira para o Cine Brasília”, afirma. “Contudo, mantemos a premissa dos preços populares e superacessíveis. Os itens são muito mais baratos do que os que são vendidos em lojas de grandes museus ou exposições”. ‌O sabor de Brasília Vinhos produzidos no DF garantem opções para agradar diferentes paladares ‌Presentear por meio do sabor também é uma boa ideia para surpreender amigos e familiares. E, quando se trata de sabores, os vinhos produzidos pela Vinícola Brasília são referência. O empreendimento surgiu da união de dez vinhedos de famílias que chegaram ao DF no final da década de 1970 e início de 1980. ‌As bebidas da vinícola são reconhecidas por combinarem técnicas modernas com a originalidade do solo local. Vinhos tintos, brancos e espumantes compõem o portfólio, garantindo opções para diferentes paladares. ‌Para este Natal, o espaço lançou uma coleção de kits com rótulos exclusivos que unem autenticidade, sofisticação e sabores marcantes, capazes de agradar tanto aos iniciantes quanto aos apreciadores mais exigentes. Cada caixa é cuidadosamente embalada em um recipiente de madeira personalizada, garantindo um presente ainda mais exclusivo. Enoturismo “Ao receber um vinho de Brasília e provar da qualidade do produto, a pessoa acaba ficando interessada no processo de produção do vinho, e isso certamente fortalece o cenário produtivo do DF” Artur Farias, diretor comercial da Vinícola Brasília Segundo o diretor comercial da Vinícola Brasília, Artur Farias, os kits colocam o enoturismo brasiliense em evidência. O segmento tem como foco principal a visita a regiões vinícolas, onde os visitantes têm a oportunidade de conhecer de perto o processo de produção de vinho. “Ao receber um vinho de Brasília e provar da qualidade do produto, a pessoa acaba ficando interessada no processo de produção do vinho, e isso certamente fortalece o cenário produtivo do DF”, pontua Farias. Entre os destaques do kit estão o Cobogó Sauvignon Blanc 2023 (R$ 159), com aromas tropicais e herbáceos, ideal para acompanhar entradas e queijos cremosos; o Pilotis Rosé 2023 (R$ 159), elegante e fresco, com notas de cereja e ameixa, perfeito para pratos leves; e o Monumental Syrah 2021 (R$ 349), um vinho robusto com aromas de frutas negras e toques florais, que harmoniza com carnes e pratos intensos. ‌Para quem busca mais opções, os kits em duos e trios oferecem combinações cuidadosamente elaboradas. O duo Cobogó + Pilotis (R$ 229) e o trio Croqui, Alvorada Syrah e Monumental (R$ 569) são algumas das sugestões que proporcionam experiências completas de degustação e harmonização. ‌Os kits podem ser adquiridos diretamente na loja física da vinícola, que fica na BR-251, Km 7 do PAD-DF; na Más Vino, localizada na SCLS 306; ou pelo WhatsApp (61) 98407-5802.

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Marco Zero: População aproveita novo ponto ‘instagramável’ durante o Eixão do Lazer

“Toda história começa por algum lugar, né?”, diz o empresário Paulo Melo, de 62 anos, ao admirar o mais novo ponto turístico de Brasília: a Estaca do Marco Zero, ponto a partir do qual toda a capital foi construída. Ele foi um dos moradores do Quadradinho que, neste domingo (4), aproveitaram o Eixão do Lazer para conhecer o marco inicial de onde Brasília foi erguida. O Marco Zero, mais novo ponto ‘instagramável’ no roteiro turístico de Brasília, foi parada para poses de moradores e turistas que aproveitaram o Eixão do Lazer neste domingo, o primeiro aberto a visitação desde a conclusão das obras do Buraco do Tatu | Foto: Lucio Bernardo Jr/Agência Brasília Para Paulo, porém, esse resgate da história foi ainda mais especial. Nascido em Minas Gerais e morador da Asa Sul desde 1961, ele viu a capital do país ser construída bem de perto. Para o empresário Paulo Melo, o resgate da história de Brasília foi ainda mais especial. Nascido em Minas Gerais e morador da Asa Sul desde 1961, ele viu a capital do país ser construída bem de perto “Meu pai veio para a construção de Brasília como engenheiro em 1959. Eu sempre acompanhei muito a história de Brasília, mas eu não sabia dessa estaca zero. Contei para o meu pai sobre isso, ele me confirmou a história e eu fiquei chocado”, relatou o empresário que, na sequência, tirou uma foto para mandar para o seu genitor. Outra pessoa que visitou o local foi a funcionária pública Maria de Fátima Ribeiro, de 70 anos. Há 49 anos em Brasília, ela passa pelo Buraco do Tatu diariamente e jamais imaginou o que o concreto da via escondia. A funcionária pública Maria de Fátima Ribeiro passa pelo Buraco do Tatu diariamente e jamais imaginou o que o concreto da via escondia “É histórico”, afirma, extasiada ao contemplar o Marco Zero. “Foi uma grata surpresa. Eu acho que foi uma descoberta incrível para os brasilienses e para todo o Brasil, afinal, nós somos a capital da República. Eu adorei! Está maravilhoso”, completa. E de história, Elias Manoel da Silva sabe bem. Historiador do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF), ele explica que o espaço da Estaca Zero ajudou a erguer a Esplanada dos Ministérios. “Durante a construção de Brasília, aqui na Estaca Zero, havia um muro enorme de arrimo na região que hoje é o Buraco do Tatu. Milhares de toneladas de terra foram tiradas daqui e levadas para criar a planura artificial do que hoje nós chamamos de Esplanada dos Ministérios. Ou seja, a Estaca Zero gerou a Esplanada dos Ministérios”, relata. O símbolo da Estaca Zero, mais conhecido como Marco Zero, ponto que serviu de referência para a ordenação numérica da quilometragem da área central da cidade, está fixado entre as pistas do Buraco do Tatu, um das vias mais movimentadas de Brasília, onde cerca de 150 mil motoristas passam diariamente Curiosidades como essa sequer passavam pela cabeça do casal André Amaral Almeida, de 50 anos, e Luciane de Almeida, 49 anos. Ele, nascido em Brasília e ela, quase uma brasiliense, acreditam que o passado da capital segue vivo até hoje. O administrador André Amaral Almeida, com a mulher Luciane, considera que o novo ponto trouxe “o passado para o presente. Ninguém acreditava no sonho de Juscelino e que todo o projeto de Lúcio Costa sairia do papel, mas hoje a gente vê que tudo deu muito certo. Eles deram conta e hoje vivemos história” “Trouxeram o passado para o presente”, diz Luciane, que é corretora de imóveis. O marido complementa: “É bom para valorizar a história da cidade. Eu sou fã de Brasília e de todo o plano de construção da capital. Ninguém acreditava no sonho de Juscelino e que todo o projeto de Lúcio Costa sairia do papel, mas hoje a gente vê que tudo deu muito certo. Eles deram conta e hoje vivemos história”, ressalta o administrador. Por trás do Marco Zero O Marco Zero foi descoberto durante a reforma no Buraco do Tatu, que liga os eixos Sul e Norte da capital. A surpresa, porém, foi só para os funcionários que realizavam as obras no local e para boa parte dos brasilienses. “Para o Arquivo Público já era um fato conhecido”, lembra o superintendente do ArPDF, Adalberto Scigliano. “A partir de agora, quando as pessoas simplesmente passarem pelo Buraco Tatu, vão saber que foi aqui que Brasília foi concebida. Exatamente aqui, a estaca fecundou o solo do Cerrado para ser o ponto inicial da capital”, narra. O historiador Elias Manoel da Silva, do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF), explica que o espaço da Estaca Zero ajudou a erguer a Esplanada dos Ministérios O ponto central entre o cruzamento dos eixos rodoviário e monumental foi fincado pelo engenheiro e topógrafo Joffre Mozart Parada, então chefe da equipe de topografia da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), em 20 de abril de 1957. “A cidade foi construída, na sua urbanidade, por Joffre Mozart Parada. Ele é um anônimo na história de Brasília. No papel, o mérito é de Lucio Costa, mas no chão, foi Joffre Mozart Parada que começou o projeto. Com a redescoberta do Marco Zero, a gente pretende honrá-lo e eternizá-lo, de forma concreta, na história do DF”, afirma Elias. Buraco do Tatu As obras de restauração do pavimento asfáltico em concreto do Buraco do Tatu – passagem de 700 metros que liga os eixos rodoviários Norte e Sul, no Plano Piloto – foram iniciadas em 1º de julho e concluídas na quarta-feira (31). O trânsito foi liberado na quinta-feira (1º), beneficiando, assim, os 150 mil motoristas, que passam todos os dias pelo local. O pavimento original da passagem, da época da construção de Brasília, estava degradado após 60 anos de uso e sua vida útil estava ultrapassada. Foram investidos cerca de R$ 2 milhões nas obras de recuperação do pavimento. As placas de concreto danificadas foram trocadas por novas e o material antigo das juntas de dilatação – que unem essas placas – foi substituído por um selante com durabilidade prevista de dez anos. Os serviços incluíram a lavagem das paredes azulejadas e do teto do Buraco, além de limpeza e desobstrução de todas as caixas de drenagem da passagem.

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Exposição retrata o papel feminino na construção de Brasília

Tradicionalmente, a história da construção da nova capital federal tem os homens como os grandes protagonistas. No entanto, os registros fotográficos do período revelam que as mulheres, apesar de raramente constarem na historiografia oficial, exerceram papéis fundamentais na consolidação de Brasília. Mais do que apenas serem retaguarda em casa, elas atuaram fornecendo serviços essenciais, seja na obra propriamente dita – embora em menor número –, seja garantindo a alimentação dos trabalhadores. Exposição tem objetivo de celebrar as mulheres pioneiras e ressaltar o trabalho delas na época da construção de Brasília | Fotos: Divulgação Essa narrativa pouco conhecida é contada na exposição As mil faces da mulher em Brasília, que entra em cartaz a partir de sexta-feira (8) na Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), na Esplanada dos Ministérios. A mostra, de curadoria de Andréia Nayrim e Mariana Mendonça, é composta por fotos resgatadas no Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF), além de textos complementares. O objetivo da dupla é celebrar as mulheres pioneiras e, ao mesmo tempo, levantar o debate sobre a invisibilização feminina na história. Mulheres em destaque Povoados fundados por mulheres tiveram papel fundamental na história do DF “Além do trabalho direto na construção, as mulheres negras desempenharam papéis importantes em suas comunidades, fornecendo suporte emocional” Andréia Nayrim, da curadoria da exposição “Queríamos retratar uma narrativa diferenciada, que celebrasse as mulheres”, conta Andréia. “Pensamos em uma historiografia decolonial, que questionasse o registro histórico do homem branco cisgênero. Resolvemos trazer a narrativa dessas mulheres e questionar por que não há registros oficiais delas na época da construção de Brasília.” Estão lá as mulheres negras, indígenas, japonesas e ciganas. “Elas foram mulheres muito ativas na época da construção”, ressalta Andréia. A curadora lembra que as mulheres trabalharam em várias áreas da construção, incluindo serviços de limpeza, preparação de refeições para os trabalhadores, funções administrativas nos escritórios e até na obra em si. “Além do trabalho direto na construção, as mulheres negras desempenharam papéis importantes em suas comunidades, fornecendo suporte emocional”, explica a curadora. “Ademais, as mulheres do quilombo Mesquita plantavam e forneciam alimentos para Brasília em sua construção. Estamos falando de um povoado que existe há quase 300 anos e que foi fundado por três mulheres.” Participação ativa  Presentes desde o início da formação da capital federal, mulheres indígenas estão entre os destaques da mostra Já às mulheres japonesas coube atuar na gestão das propriedades e no cultivo de uma variedade de produtos agrícolas. Andréia detalha: “Elas desempenharam um papel importante na agricultura brasiliense, especialmente após o início da construção de Brasília. Essas mulheres, muitas das quais eram esposas de agricultores ou empreendedoras por conta própria, faziam a colheita, o processamento dos alimentos e a comercialização dos produtos. Além disso, as técnicas agrícolas foram aplicadas por elas, isso inclui o uso de estufas, manejo intensivo em pequenas áreas e cultivo de hortaliças, frutas e flores”. Ciganas também compunham o contingente feminino que acompanhou a fundação de Brasília A atuação das mulheres ciganas e indígenas é ainda mais invisibilizada em documentos. Elas aparecem nas fotografias, mas suas funções não foram registradas. “A falta de documentação oficial sobre quais papéis esses povos desempenharam e quais tipos de suporte as mulheres ofertaram é reflexo da historiografia colonial”, aponta Andréia. O documentário ‘Poeira e batom no Planalto Central’ é outra atração a ser apresentada no dia da abertura da exposição “Ao que tudo indica, elas trabalhavam no fornecimento de alimentos e hospedagem, no caso das ciganas, e iniciando a transmissão de conhecimentos tradicionais, gestão de recursos naturais e cuidados das famílias do povo Fulni-ô, proveniente de Águas Belas [PE]”, acrescenta a curadora. Abertura O evento de lançamento ocorre a partir das 17h no auditório do BNB, no segundo andar. Além da abertura da exposição, será exibido o documentário Poeira e batom no Planalto Central, de Tânia Fontenele, Tania Quaresma e Mônica Gaspar. De 2011, o filme dá voz a 50 mulheres que retratam planos, medos, expectativas e desafios de quando embarcaram no sonho de ajudar a construir a nova capital do Brasil. A obra reconhece engenheiras, médicas, enfermeiras, professoras, agricultoras, motoristas de caminhão e donas de casa. Tânia Fontenele, que é uma das homenageadas da mostra, estará presente para participar da apresentação. “Tem uma parte da exposição em que colocamos cinco personalidades ainda vivas que fazem a história no DF, e a Tânia é uma delas”, adianta Andréia. O encerramento contará com um show musical da cantora e compositora Fernanda Monteiro, nome de destaque no samba e no choro do DF.

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#TBT: a promessa que originou a Igreja Nossa Senhora de Fátima

Completando 66 anos em 2024, a Igreja Nossa Senhora de Fátima foi o primeiro templo religioso construído em Brasília. A paróquia surgiu a partir de uma promessa da família Kubitschek, tendo sido erguida em apenas 100 dias para atender a um importante casamento na cidade. A Igrejinha foi inaugurada em 28 de junho de 1958 | Fotos: Divulgação/Arquivo Público de Brasília Conhecida popularmente como Igrejinha da 308 Sul – ou só Igrejinha -, a capela foi projetada por Oscar Niemeyer, e a arquitetura, composta por três pilares que sustentam uma laje, faz referência aos antigos chapéus usados por freiras. A Agência Brasília transporta você a um dos espaços mais emblemáticos da capital, relembrando a história da Igreja Nossa Senhora de Fátima em mais uma matéria da série especial #TBTdoDF, que utiliza a sigla em inglês de Throwback Thursday (em tradução livre, “quinta-feira de retrocesso”), para relembrar fatos marcantes da nossa cidade. Construção de uma promessa Os registros históricos nos livros da paróquia revelam que o projeto foi feito a pedido da primeira-dama Sarah Kubitschek, como agradecimento pela cura da filha, Márcia, que sofria de um problema na coluna. O projeto de Oscar Niemeyer é inspirado nos chapéus usados por freiras A sugestão da promessa foi dada pelo presidente de Portugal, Craveiro Lopes, que estava no Brasil na época e, ao saber da situação, relembrou à esposa de Juscelino Kubitschek a história das aparições de Nossa Senhora de Fátima. O primeiro casamento Inicialmente, a construção seria um grande santuário onde atualmente se encontram as superquadras 307/308 Sul. Mas os planos mudaram após a necessidade de uma igreja para a cerimônia de casamento da filha do presidente da Novacap, Israel Pinheiro, que era o engenheiro responsável pela administração das obras na construção da nova capital. Logo, o plano original da família Kubitschek foi substituído com urgência pelo projeto de uma capela mais simples, que é a atual Igreja Nossa Senhora de Fátima. Em 100 dias, a paróquia foi inaugurada, antes mesmo de Brasília, em 28 de junho de 1958. O casal Maria Regina Uchoa Pinheiro e Hindemburgo Pereira Diniz selou lá a união matrimonial e teve como padrinho o jornalista e embaixador Assis Chateaubriand. O primeiro casamento no local foi o da filha do então presidente da Novacap, Israel Pinheiro Passados 58 anos do primeiro casamento realizado em suas dependências, a pequena capela continua com as celebrações de matrimônio, marcando a vida de centenas de casais – como os brasilienses Larissa Sudbrack e Paulo Cavalcante, que se casaram na Igrejinha da 308 Sul em 2016. A arquiteta de 36 anos conta que começou a frequentar o espaço há dez anos, após uma promessa, tornando natural a escolha do local para a cerimônia com o marido. Católica e moradora da 108 Sul, ela conta que, além da proximidade da igreja com seu apartamento e a promessa de ir à missa todos os domingos durante seis meses, o nome de sua mãe de Larissa é Fátima – o que deixou, ao seu ver, tudo apontado para a escolha da capela. Mais um sinal viria a seguir: quando o casal ia fazer dez anos de namoro, Larissa comprou um quadro com azulejos de Athos Bulcão e, no mesmo ano, Paulo a pediu em casamento. “Para mim, a Igrejinha é o desenho por metro quadrado mais especial da cidade, cheio de significado. Tem uma ligação com a natureza e é bem aberta, uma experiência muito rica do espaço”, comenta Larissa. Ela recorda que também escolheu o local para o batizado dos dois filhos pequenos. “É um local de apoio religioso perto de casa; a gente pode fazer uma rápida oração, e me sinto bem quando estou ali, acolhida e protegida”, acrescenta a arquiteta. Os azulejos de Athos Bulcão são marca registrada da Igrejinha Patrimônio histórico O templo católico comporta até 40 pessoas e foi tombado pela Unesco como patrimônio cultural e histórico nacional, entrando no Conjunto Urbanístico de Brasília inscrito no Livro do Tombo Histórico em 14 de março de 1990. O local também é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2007, como parte do conjunto das obras de Oscar Niemeyer, em homenagem ao centenário do arquiteto. A parte externa da parede é revestida por azulejos de Athos Bulcão que simbolizam a descida do Espírito Santo e a Estrela da Natividade. Já no seu interior, o monumento apresenta pinturas de Francisco Galeno, aluno de Alfredo Volpi, artista italiano responsável pela primeira obra artística da igreja. O templo católico comporta até 40 pessoas e foi tombado pela Unesco como patrimônio cultural e histórico nacional, entrando no Conjunto Urbanístico de Brasília inscrito no Livro do Tombo Histórico em 14 de março de 1990 | Fotos: Geovana Albuquerque/ Agência Brasília Segundo informações da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, a primeira pintura feita por Volpi no interior da igreja apresentava afrescos com bandeirolas e anjos que remetiam a uma quermesse e às festas juninas. As pinturas modernistas causaram estranhamento em alguns paroquianos, que se queixaram da personalização artística e apontaram “falta de religiosidade” na obra. Dessa forma, a arte chegou a ser coberta de tinta azul quatro anos após a inauguração, mas foi restaurada por Francisco Galeno entre janeiro e junho de 2009. A inspiração festiva em Volpi foi mantida, mas de uma forma mais discreta. Além de prefeito da 308 Sul, Matheus Seco é arquiteto e evidencia as características arquitetônicas da quadra modelo e da Igrejinha, ressaltando que é o local mais fiel ao projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. O interior do monumento também conta com obras de arte “As quadras fazem parte de um conceito de rede, não são quadras isoladas, elas se complementam e apresentam o ápice do projeto arquitetônico brasileiro de Niemeyer. A obra é formalmente simples, mas muito forte, com influências do barroco mineiro, detalhes sutis de sombras, encontro das colunas e uma sofisticação de desenho muito bonitos”, observa. Entre os pontos destacados pelo arquiteto, ele aponta a maneira com que a construção aproveita a ventilação e a iluminação natural e como a recomposição das pinturas foi feita preservando o patrimônio moderno. Um local de fé À frente da paróquia há quatro anos, o frei Reinaldo do Santos Pereira destaca que, apesar do movimento maior ser religioso, a Igrejinha atrai pessoas com interesse além da fé, voltadas para a história do patrimônio e a arquitetura. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] “É importante mostrar e valorizar aquilo que é nosso. A Igrejinha é pequena, mas acolhe todo mundo. As pessoas que vêm aqui passam pela praça e se sentem acolhidas pelo tamanho e pela singeleza do espaço”, observa o pároco. Segundo ele, os candangos já faziam da igreja, ainda em construção, um lugar de prece e pedidos de milagres. “O espaço faz parte do nosso turismo religioso, além de ser um cartão-postal da cidade. A Igrejinha enaltece a memória de quem ajudou a construir a nossa capital e contribuiu para a história de fé de muitos moradores”, reforça o administrador do Plano Piloto, Valdemar Medeiros. A empregada doméstica Edileusa Bezerra da Silva, 57, trabalha ao lado da Igrejinha e vai ao templo todos os dias para rezar. Ela conta que é devota de Nossa Senhora de Fátima e que encontrar um espaço tão pertinho de onde passa a maior parte do tempo foi um conforto. “É muito importante para mim, traz ânimo no dia a dia e me dá muita força”, observa. As missas da Igreja Nossa Senhora de Fátima são celebradas toda segunda-feira às 18h30, e, de terça a sábado, às 6h30 e às 18h30. Aos domingos, as celebrações são as 7h, 9h, 11h, 18h e 19h30. Em 1º de maio começa a conhecida quermesse da igrejinha da 308 Sul, que engloba três dias de festa, com barracas de comida e outras atividades.

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Museu Vivo da Memória Candanga completa 33 anos nesta quarta (26)

Espaço de preservação da história de Brasília, o Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) completa 33 anos nesta quarta-feira (26). As casas de madeira colorida, que conservam o legado deixado pelos candangos na época da construção da capital federal, são usadas atualmente como palco de aprendizado e transformação. São oferecidas oficinas de segunda a sexta-feira, com professores voluntários, nos períodos matutino e vespertino. O leque de opções inclui cursos de crochê no lacre, corte e costura, teatro, macramê, gravura e xilogravura, bordado, costura criativa, argamassa (efeito madeira em madeirite), tecelagem e bordado em ponto russo. A disponibilidade das turmas deve ser consultada pelo telefone 3301-3590. As exposições no Museu Vivo da Memória Candanga podem ser visitadas de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h | Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília A aposentada Auxiliadora Guenes, 70, é uma das professoras da oficina de corte e costura. Nascida em Pernambuco, veio para Brasília em 1968, acompanhando a família e, em tantos anos chamando o DF de casa, morou em diversas cidades. “Quando chegamos, era tudo mato. Existiam poucas cidades, além do Plano Piloto, mas passei por quase todas”, relembra. [Olho texto=”O MVMC abrigou a primeira unidade de saúde brasiliense, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, criado para atender a todos que ajudavam a erguer a capital federal” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] A aula promovida no museu é prática e aberta a quem quiser aprender, independentemente do sexo e da idade. “A pessoa chega com uma peça de roupa que lhe serve bem, colocamos em cima do papel, modelamos como ela preferir e vamos para o tecido, cortar e costurar”, explica Auxiliadora, que, juntamente com outra professora, comanda uma turma de cerca de 20 alunos. Legado O MVMC abrigou a primeira unidade de saúde brasiliense, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO), criado para atender a todos que ajudavam a erguer a capital federal. O complexo seguiu em funcionamento até 1974, quando foi fechado. Em 1990, o Governo do Distrito Federal (GDF) instituiu o tombamento do conjunto de casas, permitindo o processo de restauração do espaço. Em 26 de abril de 1990, o local foi reaberto e inaugurado como um símbolo histórico. Para a gerente do espaço, Eliane Falcão, o museu carrega uma missão importante, que tem sido cumprida com sucesso em 33 anos de existência: preservar o patrimônio do DF. “Aqui guardamos a história dos pioneiros, do candango, da nova capital. Aqueles que participaram da construção e ainda estão vivos ficam muito felizes em ver que contamos a história deles”, avalia. Composta por diferentes ambientações, a mostra ‘Poeira, Lona e Concreto’ resgata, em fotos, objetos e documentos, a época da chegada dos candangos | Foto: Divulgação/Secec Gerido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o museu oferece, além de oficinas gratuitas, exposições permanentes. Uma delas é Poeira, Lona e Concreto, que narra a história da cidade desde os sonhos, os projetos, a construção, até os dias atuais. A mostra é composta por diferentes ambientações, com fotografias, textos, móveis e objetos do início de Brasília. O espaço passou por restauração completa em 2022. Outras mostras disponíveis são A importância da mulher na construção da nova capital, O cerrado de Pau e Pedro, A construção de Brasília: fotos de Jankiel Gonczarowska, Brasília 63 anos – a concretização de um sonho e Candangos pioneiros: Ernesto Silva e Edson Porto. Visitas [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] As exposições podem ser visitadas de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Em horários agendados, o museu promove visitas guiadas que têm como foco a educação patrimonial e a história de Brasília. “Em média, recebemos dois mil visitantes por mês, sendo que a maioria são estudantes do DF e de todo o Brasil”, informa Falcão. As visitas podem ser marcadas pelo projeto Territórios Culturais, fruto de parceria da Secec com a Secretaria de Educação (SEE). Para participar, instituições de ensino públicas e particulares interessadas devem preencher o formulário disponível neste site. É possível ainda combinar uma visita guiada ao museu diretamente com a gerência. Basta enviar o nome do solicitante e da instituição de ensino, telefone e e-mail para contato, endereço da escola, data e horário da visita, quantidade de visitantes (alunos, professores, monitores, motorista), faixa etária e série escolar dos alunos para o e-mail mvmc@cultura.df.gov.br. Serviço Museu Vivo da Memória Candanga ? Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 17h ? Endereço: Lote D Setor Juscelino Kubitschek – Núcleo Bandeirante ? Telefones: (61) 3301-3590 ? Acesse a programação completa do espaço no Instagram.  

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Aprovado tombamento provisório da vila pioneira do Paranoá

A antiga Vila Paranoá, acampamento original dos pioneiros que levantaram barragem criando o lago de mesmo nome para a capital federal a partir de 1957, recebeu o tombamento provisório das edificações remanescentes do povoado em torno da Igreja de São Geraldo. A igreja é tombada desde 1993, mas a proteção dos bens do entorno é uma demanda de mais de 40 anos da comunidade, já na terceira geração. [Olho texto=”“O tombamento provisório gera maior segurança para a preservação desse legado e vai nos ajudar a fazer justiça à memória da caminhada das pessoas que tornaram o lugar rico em belezas naturais e construções, convivência e produções culturais, um dos marcos dessa cidade que tanto deve aos pioneiros”” assinatura=”Aquiles Brayner, subsecretário de Patrimônio Cultural da Secec” esquerda_direita_centro=”direita”] O parecer pela proteção do patrimônio histórico, que sobreviveu à ação do tempo e a demolições, foi dado pela Comissão Permanente de Análise e Avaliação de Registro e Tombamento Cultural (Cpaart), vinculada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O documento, oficializado pelo despacho do secretário Bartolomeu Rodrigues, inclui os remanescentes do assentamento, tanto os construídos quanto os naturais, assim “como as formas de apropriação da área como lugar de manutenção e valorização de memórias e relações afetivas ainda existentes entre antigos moradores e o sítio” – traz o texto. “O Paranoá é uma região rica em história e cultura. O tombamento provisório gera maior segurança para a preservação desse legado e vai nos ajudar a fazer justiça à memória da caminhada das pessoas que tornaram o lugar rico em belezas naturais e construções, convivência e produções culturais, um dos marcos dessa cidade que tanto deve aos pioneiros”, destaca o subsecretário de Patrimônio Cultural da Secec, Aquiles Brayner. Estrutura remanescente do edifício do Corpo de Bombeiros da Vila Paranoá | Fotos: Acervo pessoal Gersion de Castro Os vestígios de mais de duas dezenas de edificações que passam a ser protegidas incluem antigas escolas, postos de saúde, de bombeiros, delegacia, sede da Legião Brasileira de Assistência (LBA), bairros, ruas, áreas verdes e espaços de socialização que testemunharam e constituem lembranças de pertencimento à comunidade. Alguns deles, já demolidos, podem hoje ser apenas sinalizados, mas juntos formam um valioso marco de referência cultural, que se concentram no que é hoje a área do Parque Vivencial do Paranoá, criado em 1994. Um dos documentos que embasaram a aprovação do tombamento provisório dos remanescentes da Vila é o trabalho de conclusão da especialização em Educação e Patrimônio Cultural e Artístico feita pelo servidor da Secec Gersion de Castro Silva, na Universidade de Brasília (UnB), intitulado A história de uma cidade invisível: Vila Paranoá e seus quintais de memórias (2019). Servidor da Secec, Gersion de Castro Silva fez trabalho de conclusão da especialização em Educação e Patrimônio Cultural que embasou a aprovação do tombamento provisório A dissertação resgata documentos sobre a histórica local, traça o caminho que levou da construção dos primeiros barracões à formação do patrimônio material e imaterial e propõe anotações sobre a iconografia e as vozes não ouvidas por quem é de fora do lugar. Técnico em atividades culturais, Gersion comemora a boa notícia. Descendente de pioneiros da Vila Paranoá e militante da causa de preservação do patrimônio cultural material e imaterial presentes no local, ele explica que agora a tarefa é elaborar um dossiê para obter a inscrição definitiva nos Livros do Tombo, onde são listados os bens que passam a contar com a proteção do Estado, vedando problemas como graves alterações nos imóveis ou novas demolições. Gersion, que é um dos idealizadores do Museu Vivo da Memória da Vila Paranoá (MVMVP), também é escritor e artista plástico e parte de sua produção inclui quadros que misturam reconstituição histórica e poética do acampamento, com seus antigos equipamentos em paleta vibrante de cores, dentro da chamada arte naïf brasileira, tão espontânea e instintiva. O antigo posto de saúde da Vila Paranoá é uma das construções que receberam tombamento provisório História e preservação A antiga Vila Paranoá tem histórias para contar que não encontram muito espaço nos registros historiográficos oficiais de Brasília. O documentário Batalhas pelo Patrimônio, Batalhas pela História, produzido em 1999 pelo professor José Walter Nunes, da Universidade de São Paulo (USP), preenche algumas dessas lacunas. O filme, disponível na internet, se destaca pela coleta de depoimentos orais para costurar a narrativa, com o objetivo de ampliar a noção de patrimônio histórico-cultural, passando a incluir os laços sociais, afetivos e identitários dos protagonistas nos movimentos históricos vividos e também reforçar o vínculo entre patrimônio e memória. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Na obra, que registra acontecimentos do início da década de 1980, o depoimento da pioneira Maria da Guia de Souza atesta o sentimento de violência psicológica nas tentativas de desocupação feitas por policiais militares. “A sensação é que não passavam os tratores só por cima das casas, mas também sobre todo o passado de luta da gente, sobre nossa história”, registra o depoimento gravado no documentário. Como resultado da luta, que foi seguida por greves de fome e manifestações na Esplanada dos Ministérios em plena vigência da ditadura militar, o governador do DF à época, José Aparecido de Oliveira, assinou decreto pela fixação dos pioneiros na área, em agosto de 1988. No entanto, na realidade, os antigos ocupantes acabaram cedendo e se movendo para local próximo, no que é hoje a RA7, o novo Paranoá. Tombamento definitivo A servidora Rayane Cristina Chagas Silva, atual presidente da Cpaart, explica que a matéria do tombamento dos remanescentes da Vila Paranoá segue agora para avaliação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal (Condepac), que delibera sobre o tombamento definitivo. O órgão colegiado, com funções deliberativas, consultivas, fiscalizadoras e normativas, tem composição paritária entre o poder público e a sociedade civil. “O coletivo com 24 participantes vai se reunir quando tiver os instrumentos que aprofundam o estudo sobre o bem cultural, basicamente um inventário com dossiê e plano de preservação e salvaguarda”, explica Rayane. *Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa

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Documentos históricos de pioneiros ficarão disponíveis para consulta

Um conjunto de documentos memoráveis chegaram nos últimos dias ao Arquivo Público do DF (ArPDF). Um arcabouço de registros deixados pela Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília, que encerra suas atividades após 30 anos na ativa. O órgão, agora, vai higienizar, inventariar e digitalizar todo este acervo antes de disponibilizá-lo ao público. O superintendente do ArPDF, Adalberto Scigliano, e o advogado Yussef Jorge Sarkis assinaram o termo que oficializa a doação | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília Ali estão, nada menos, que a ficha de filiação de Athos Bulcão ao grupo, a de nº 433. A de Atahualpa Schmitz, engenheiro pioneiro na capital e responsável pela construção da pista do aeroporto. E a do médico pediatra Ernesto Silva, fundador da histórica associação em 1992, e um dos primeiros diretores da Novacap. [Olho texto=” “Minha melhor missão foi ter sido guardião de memórias de Brasília, mas estou muito tranquilo pois as deixo em ótimas mãos”.” assinatura=” Yussef Jorge Sarkis, presidente da associação até sua extinção” esquerda_direita_centro=”direita”] Nesta sexta-feira (3), o então presidente da entidade, o advogado Yussef Jorge Sarkis, 67 anos, e o superintendente do ArPDF, Adalberto Scigliano, assinaram termo oficializando a doação de todo o acervo documental para a instituição. O material vai virar, assim, mais um dos fundos arquivísticos privados do Arquivo Público, podendo ser pesquisado por historiadores, jornalistas e entusiastas da criação de Brasília. Catálogos telefônicos da década de 1960 A associação encerra suas atividades, agora em junho, com a extinção do Certificado Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e a venda de sua sala, na 915 Sul, onde “famosos” e os primeiros trabalhadores que ajudaram a construir Brasília se encontravam com frequência. “Deixo aqui uma ‘filha’, vivi essa associação intensamente nos últimos anos”, disse Jorge Sarkis. “Minha melhor missão foi ter sido guardião de memórias de Brasília, mas estou muito tranquilo pois as deixo em ótimas mãos”. Segundo lembrou Sarkis, o grupo perdeu cerca de 30 pessoas nos último triênio e foi se desfazendo com o tempo. Assinado o termo, material vai virar um fundo privado do Arquivo Público, acessível ao público interessado 1º recenseamento de Brasília Três datas eram motivo de festa obrigatória no grupo: o dia do aniversário da cidade, o aniversário de Juscelino Kubitschek (12 de setembro) e a confraternização de final de ano, conta Jorge, que chegou ainda garoto na capital, com toda a família de origem libanesa. Um dos pioneiros e sócio-fundador Outra preciosidade deixada ali é o caderno do primeiro recenseamento de Brasília, feito pela extinta Inspetoria Regional de Estatística de Goiás, em julho de 1957. Um levantamento feito antes mesmo da inauguração da capital, que ocorreria três anos depois. Àquela época, segundo o censo, Brasília tinha 6.283 moradores envolvidos nas obras da “capital da esperança”, idealizada por JK. O material reúne, além das fichas dos 1.699 associados que passaram por lá, fotos, atas de reuniões e até catálogos telefônicos da década de 1960. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] “Para se tornar membro, o candidato precisava anexar alguma prova de que era pioneiro nessas fichas cadastrais. Então podemos encontrar fotos, holerites, documentos diversos que mostram um pouco do que era Brasília na época. Isso é muito importante”, observa Scigliano. O historiador Elias da Silva pontua que este material “qualificará e muito” o conteúdo guardado pelo Arquivo Público. “Temos agora um novo acervo que permite acessar não somente a construção de Brasília, mas os perfis pessoais de pioneiros que foram protagonistas da história da capital”, finaliza.

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Acervo documental de órgãos do GDF está sendo digitalizado

[Olho texto=”“O contrato corporativo, celebrado pela Secretaria de Economia, atenderá a vários órgãos do GDF, além do Arquivo Público, cuja história se confunde com a própria história de Brasília. O acervo do ArPDF é constituído de documentos de valor inestimável”” assinatura=”Itamar Feitosa, secretário de Economia” esquerda_direita_centro=”esquerda”] O documento que confirma a escolha pelo projeto urbanístico de Lucio Costa para o Plano Piloto e os esboços da Catedral Metropolitana são algumas das preciosidades do acervo do Arquivo Público (ArPDF) com acesso restrito pela fragilidade dos conteúdos. Essa limitação está com os dias contados. Uma parceria entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Associação do Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), firmada no ano passado, permitiu o início da digitalização do acervo do local, de mais quatro órgãos e das 33 administrações regionais. “Esse trabalho permitirá a modernização do Estado e mais agilidade no atendimento à população. Além disso, a contratação visa fomentar a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, promovendo a dignidade, a cidadania e a capacitação desses profissionais”, defende o secretário de Economia, Itamar Feitosa. “O contrato corporativo, celebrado pela Secretaria de Economia do Distrito Federal, atenderá a vários órgãos do GDF, além do Arquivo Público, cuja história se confunde com a própria história de Brasília. O acervo do ArPDF é constituído de documentos de valor inestimável”, detalha o secretário. Investimento inicial é de mais de R$ 14 milhões | Fotos: Renato Araújo/Agência Brasília O contrato foi firmado por um ano, mas tem previsão de continuidade por mais quatro. O investimento inicial é de mais de R$ 14 milhões. A estimativa é de que sejam digitalizados 25 milhões de documentos a cada ano, totalizando 125 milhões ao final. São atendidos pelo projeto a Secretaria de Economia – que também é responsável pelo contrato firmado graças aos esforços das secretarias executivas de Gestão Administrativa (Segea) e de Valorização e Qualidade de Vida (Sequali) –, a Secretaria de Justiça e Cidadania, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, a Casa Civil, o Arquivo Público e as 33 administrações regionais. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] “O governo tem a obrigação de cuidar desses acervos e o projeto vem para isso, para tratar os documentos e dar acessibilidade àquilo que muitas vezes está só num galpão ou num arquivo organizado”, afirma a chefe da Unidade Central de Gestão do Processo Eletrônico e Inovação da Segea, da Secretaria de Economia, Lucirene de Almeida Carneiro. “Com a digitalização, fica mais fácil não só para o cidadão ou para os outros órgãos do governo, mas também para fornecer essa informação de forma rápida”, avalia. O superintendente do Arquivo Público, Adalberto Scigliano, comemora: “Isso vai proporcionar não só aos brasileiros, mas para as pessoas do mundo inteiro, uma pesquisa mais rápida e assertiva. Sem, claro, dizer da segurança de termos um arquivo com suporte que não vai mais precisar ser manuseado. Nem nos meus melhores sonhos, podia imaginar isso. É um projeto nunca antes visto no DF”. Historiador do Arquivo Público, Elias Manoel da Silva | Foto: Renato Araújo Para o historiador do Arquivo Público, Elias Manoel da Silva, o trabalho dará acesso a duas tipologias documentais importantes do acervo. “Temos milhões de fotos aqui, Então, vai permitir acesso à riqueza enorme das fotografias da construção, consolidação e história de Brasília. Temos também mais de 40 mil plantas criadas por Oscar Niemeyer e Joaquim Cardoso. Essas plantas digitalizadas permitirão o acesso”, diz. Além da facilidade, o processo ajudará na descoberta de conteúdos até então nunca acessados. “Não permite só a facilidade ao acesso, como em descobrir a riqueza do Arquivo Público, possibilitando visualização a documentos que nunca foram acessados antes”, completa o historiador. Inclusão Mais do que um papel de organizar e preservar o acervo, o projeto do governo visa fomentar a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. O contrato emprega 220 pessoas com deficiência (PCDs) que estão divididas nos trabalhos nos órgãos do GDF. Só no Arquivo Público, são 64 funcionários. Responsável pelos projetos da Cetefe, Andrea Vieira | Foto: Renato Araújo Todos foram capacitados para prestar os serviços especializados em gestão e tratamento documental e arquivístico pela Cetefe. Os locais contam com supervisores bilíngues, que falam português e Libras (Língua Brasileira de Sinais). “A Cetefe atua na inclusão da pessoa com deficiência no tratamento documental. Temos vários projetos similares. A gente capacita desde o manuseio de acervos cuidando da preservação do documento, como a utilização dos equipamentos de scanner e todo o processo”, define a responsável pelos projetos da Cetefe, Andrea Vieira. Eronildo Souza Monteiro é um dos funcionários do projeto no Arquivo Público | Foto: Renato Araújo O contrato prevê atividades como higienização, preparação e digitalização de documentos; assinatura digital; conversão de documentos em mídia especial (CDs, DVDs, áudios, ?lmes, negativos, rolos e vídeos); tratamento de imagens; indexação de documentos com reconhecimento de caracteres (OCR); microfilmagem de documentos; classi?cação, ordenação documental, diagnóstico, inventário e catalogação; elaboração de instrumentos arquivísticos (código de classi?cação e tabela de temporalidade documental e descrição arquivística) – conforme a Norma Brasileira de Descrição Arquivística (Nobrade). Acostumado a trabalhar nos projetos da Cetefe, Eronildo Souza Monteiro é um dos funcionários do projeto no Arquivo Público. Ele, que tem uma deficiência física em decorrência da paralisia infantil, conta que começou cuidando do áudio e agora está na parte de negativos, positivos e slides do acervo do local. “Esse acervo tem hora que até me emociona. Ouvir a voz de Lucio Costa e Oscar Niemeyer. Agora vejo esses negativos de como começou Brasília. É muito legal, é uma das melhores coisas que estou fazendo na vida”, revela. Responsável pela parte da validação do acervo, Poliana Ribeiro Barros | Foto: Renato Araújo Responsável pela parte da validação do acervo, Poliana Ribeiro Barros viu no projeto a oportunidade de voltar ao mercado de trabalho após ser acometida com monoparesia do plexo braquial direito, recorrência de um derrame após a covid-19. “Eu não conseguia emprego, porque não tinha experiência para além da área estética. A Cetefe tem esse diferencial de capacitar o profissional. Estou muito feliz e satisfeita”, define.

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Primeiros hospitais de Brasília garantiram a saúde dos pioneiros

Construir a nova capital federal em meio a uma região desértica do Planalto Central demandou a criação de uma série de serviços, entre eles, o de assistência médica. O primeiro hospital da cidade surgiu antes mesmo da inauguração para atender os operários. Em apenas 60 dias foi erguido nas proximidades da Cidade Livre, em 6 de julho de 1957, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO). Primeiro de Brasília, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO) surgiu antes mesmo da inauguração da capital e foi erguido em apenas 60 dias | Foto: ARPDF A unidade hospitalar substituiu o barracão na Candangolândia que era utilizado para os atendimentos médicos simples. Os casos mais complexos eram direcionados para o estado de Goiás. O mineiro Edson Porto iniciou os trabalhos no local improvisado ainda em 1956, para no ano seguinte assumir o posto de diretor do HJKO. [Olho texto=”O HJKO funcionava 24 horas por dia com 50 leitos. Bem equipado, atendia desde casos simples aos mais complicados, além de ter sido local de nascimentos e mortes” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] “Ele estava com 26 anos e se assustou quando chegou aqui. Falou que não ia ficar, que iria embora no outro dia, mas acabou ficando. Ninguém queria vir pra cá”, conta Marilda Porto, esposa do médico, morto em 2018. A pioneira lembra que a rotina de trabalho no hospital era intensa. “Ele quase não dormia em casa. Não tinha muitos médicos. Embora fosse diretor, ele colocava a mão na massa igual a qualquer outro. Toda hora chegava um caminhão de acidentados que ele tinha que acudir. Muitas vezes, dormia no hospital”, recorda. O hospital funcionava 24 horas por dia com 50 leitos, oito enfermarias, duas salas cirúrgicas, um laboratório de análise clínica, sala de ortopedia, maternidade, berçário, farmácia e gabinete dentário. Bem equipado, atendia desde casos simples aos mais complicados, além de ter sido local de nascimentos e mortes. Marilda Porto, viúva do médico mineiro Edson Porto, lembra que a rotina de trabalho do marido como diretor do HJKO era intensa | Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília A unidade funcionou como hospital até 1968, quando passou a ser somente um posto de saúde. O espaço foi totalmente desativado seis anos depois, com a implantação dos serviços de saúde no Núcleo Bandeirante. [Olho texto=”O Museu Vivo da Memória Candanga guarda alguns tesouros do HJKO, que ocupou o mesmo espaço até 1968. Na exposição permanente Poeira, Lona e Concreto, há a reprodução do consultório do médico Edson Porto” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Em 1985, o conjunto arquitetônico composto por casas de madeira coloridas, onde os médicos moravam, foi tombado, sendo considerado Patrimônio Histórico e Artístico da cidade. No ano seguinte foi iniciada a restauração das edificações, que em 1990 passariam a integrar o Museu Vivo da Memória Candanga, espaço de resguardo da identidade histórica de Brasília até hoje. Aberto para visitação de segunda a sábado, das 9h às 17h, o Museu Vivo da Memória Candanga guarda alguns tesouros do HJKO. Parte da exposição permanente Poeira, Lona e Concreto, há a reprodução do consultório do diretor Edson Porto, com objetos como mesa, cadeira, balança mecânica, balança pediátrica, esterilizador, geladeira e itens hospitalares, além de registros fotográficos da época. O Hospital Distrital de Brasília (HDB) foi inaugurado em 12 de setembro de 1960, para ser o centro da rede hospitalar da capital federal, sob direção do médico Carlos Ramos “Ele tinha muita consciência do seu dever e responsabilidade. Tinha essa noção de que estava cumprindo um papel muito importante. Era uma pessoa muito generosa, e foi reconhecido por isso”, completa orgulhosa a viúva de Edson Porto. [Olho texto=”“Quando fizeram o Hospital Distrital, foi comprado tudo do bom e do melhor. Cheguei aqui e estava todo equipado. O hospital era esse lugar especial” – Hélcio Luiz Miziara, primeiro patologista de Brasília” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] Novo hospital O declínio do Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira se deu com o surgimento do Hospital Distrital de Brasília (HDB). A nova unidade foi inaugurada em 12 de setembro de 1960, no mesmo dia do aniversário do presidente JK, para ser o centro da rede hospitalar da capital federal, sob direção do médico Carlos Ramos. Os trabalhos no hospital começaram com apenas dois andares do prédio concluído e os demais ainda em construção. Grande parte da lateral no térreo era reservada para os ambulatórios e pronto-socorro, em uma área mais interna funcionava o centro cirúrgico, enquanto a administração ficava no corredor principal. “Não deixava a desejar a nenhum hospital do Brasil. Quando fizeram o Hospital Distrital foi comprado tudo do bom e do melhor. Cheguei aqui e estava todo equipado. O hospital era esse lugar especial”, lembra o primeiro patologista de Brasília, Hélcio Luiz Miziara, hoje com 88 anos. O médico Hélcio Luiz Miziara foi responsável pelo laboratório de patologia do Hospital Distrital: “Passei quase a minha vida inteira lá” | Foto: Renato Araújo/Agência Brasília O médico legista começou a trabalhar no Hospital Distrital em janeiro de 1961, quando tinha apenas 27 anos e acabara de voltar de uma residência no Hospital Mercy, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. Miziara foi responsável pela constituição do laboratório de patologia em seu formato completo com área de fotografia, laboratório e sala de necropsia. “No início eu ficava no hospital o dia todo. Era minha casa, meu ambiente. Passei quase a minha vida inteira lá”, comenta. Além de ter se tornado referência nos atendimentos, também foi berço de formação de médicos do Distrito Federal e de outros estados. “O hospital na sua formação tinha o Plano Médico de Brasília. Muitos colegas vieram atraídos por ele. O hospital era realmente um primor. Tínhamos reunião todo sábado para discutir a política do hospital. Nossa ideia também era transformar o espaço em hospital de ensino”, recorda. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] O médico trabalhou durante 43 anos no local, presenciando a transição de Hospital Distrital para Hospital de Base, feita em 1975. “O novo pronto-socorro seria independente, mas os colegas acharam que tinha que fazer parte do hospital. Então, passou de Distrital para Base”, afirma. O processo para transformação começou em 1968 com a elaboração do projeto de construção do Hospital de Base em uma área de 300 mil metros quadrados. Ainda quando era Hospital Distrital, a unidade atendeu o presidente Tancredo Neves e teve em seu quadro de servidores o cantor Ney Matogrosso, que foi auxiliar do patologista Hélcio Luiz Miziara, no Arquivo Médico.

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Ferreira Gullar ajudou a criar a tradição do cinema em Brasília

A reação é de surpresa, espanto, até, mas poucos se dão conta de que o primeiro gestor de Cultura do Distrito Federal foi o poeta Ferreira Gullar. E isso em 1961, quando nem existia ainda a secretaria propriamente dita, então chamada de Fundação Cultural de Brasília. O convite partiu do presidente Jânio Quadros; e, naquele tempo, o autor dos versos de Poema Sujo, em uma tentativa de promover a junção entre o moderno e popular, executou medidas de impacto. O poeta maranhense Ferreira Gullar, primeiro dirigente da Cultura no DF, incentivou a criação de uma das correntes cinematográficas mais importantes do país, o Cinema Novo | Foto: Divulgação/Instituto Moreira Salles Em entrevista ao jornalista Severino Francisco para o Correio Braziliense de dezembro de 2011, lembrou: “Morei em Brasília no tempo em que a cidade não tinha nem um ano de idade. Eu programei o primeiro aniversário de Brasília. Fui eu que levei a primeira escola de samba ao Planalto. Convidei o pessoal da Mangueira. Se houve algum legado, foi o de ter levado o samba para Brasília”. Mas ele se esqueceu de outro grande feito. [Olho texto=”“Sem Ferreira Gullar e seu apoio concreto, Cinco Vezes Favela jamais existiria”” assinatura=”Cacá Diegues, cineasta” esquerda_direita_centro=”direita”] Qual? O de incentivar a criação de uma das correntes cinematográficas mais importantes do país: o Cinema Novo. Sim, porque, não fosse por Ferreira Gullar, o projeto seminal do movimento, o filme Cinco Vezes Favela, que narra de forma realista a vida na favela e a relação do morro com o asfalto, não existiria. A verba para a empreitada saiu do GDF. A história foi recordada pelo cineasta Cacá Diegues, um dos diretores dos curtas – na autobiografia Vida de Cinema (2014). “O responsável pela produção do filme era o Leon Hirszman [diretor de clássicos como São Bernardo (1972) e Eles não Usam Black-Tie (1981) que fazia os contatos, ia a Brasília, eu ficava na retaguarda, ajudando como uma espécie de secretário”, recorda Diegues, em entrevista à Agência Brasília. “Posso lhe garantir que, sem a participação de Brasília, o filme não existiria. Sem Gullar e seu apoio concreto, Cinco Vezes Favela jamais existiria.” Modernismo “Brasília foi, para a minha geração, um sinal de confiança no Brasil, um sinal de que o Brasil poderia dar certo”, avalia o cineasta Cacá Diegues | Foto: Mayangdi Inzaulgarat Assim como ocorreu com outros segmentos das artes, boa parte da turma do cinema em todo o país se deixou contagiar pela ideia de modernismo e futuro ensejado pela construção de Brasília. Tal sentimento de renovação e esperança resultaria em momentos marcantes da cultura, como obras de significativo peso social e a criação do Festival de Cinema de Brasília do Cinema Brasileiro, cinco anos após a inauguração da capital. Segundo Cacá Diegues, esse evento se transformaria em um trampolim e tanto para os primeiros filmes do Cinema Novo que começavam a emergir no cenário nacional, a exemplo de pérolas como A Falecida (1965), de Leon Hirszman; Menino de Engenho (1965), de Walter Lima Jr., e Opinião Pública (1966), de Arnaldo Jabor, todos eles destaques da Mostra Competitiva. “Brasília foi, para a minha geração, um sinal de confiança no Brasil, um sinal de que o Brasil poderia dar certo”, avalia o diretor de sucessos de público e crítica como Xica da Silva (1976) e Bye, Bye, Brasil (1979), olhando no retrovisor do tempo. “A primeira vez em que o Brasil ouviu falar em Cinema Novo foi num daqueles primeiros festivais de cinema brasileiro, organizados pela Escola de Cinema [da UnB].” Nasce a tradição do cinema Festival de Cinema de Brasília foi criado cinco anos após a inauguração da capital | Foto: Divulgação Um dos mentores da UnB, o antropólogo mineiro Darcy Ribeiro dizia que a universidade era uma instituição “tão inovadora no plano cultural quanto o era a própria Brasília no plano urbanístico e arquitetural”. Era natural, portanto, que o espaço fosse o berço do primeiro curso de cinema do país em nível universitário. Nascia, assim, a tradição da capital federal para a chamada sétima arte – signo que perdura até hoje por meio de talentos gestados tanto no Plano Piloto quanto no Entorno. [Olho texto=”“O público de Brasília é descolado, uma plateia que sabe aplaudir, mas que também sabe criticar até chegar ao ponto da vaia contra qualquer acontecimento político que venha de encontro” ” assinatura=”Vladimir Carvalho, cineasta” esquerda_direita_centro=”direita”] A ideia partiu do jornalista Pompeu de Souza – conhecido por ter sido um renovador da imprensa brasileira, ao introduzir, ainda nos anos 1950, a técnica do lead no Diário Carioca –, com o aval do próprio Darcy Ribeiro. “Pompeu aceitou o convite de Darcy, sob a condição de ele lhe dar carta branca para estruturar uma unidade universitária ousada, condizente com a quimérica aventura de Brasília”, escreve o jornalista e cineasta Sérgio Moriconi, no livro Cinema – Apontamentos para uma História. Assim, a Faculdade de Comunicação de Massa da UnB seria composta por três escolas: Jornalismo, Publicidade e Propaganda, além do curso de TV, Rádio e Cinema, que ficaria a cargo de Paulo Emílio Salles Gomes. Era março de 1965. Poucos meses depois, era a vez do cineasta Nelson Pereira dos Santos, recém-premiado, no Brasil e no mundo, com o impactante Vidas Secas – baseado em obra homônima de Graciliano Ramos – desembarcar na cidade para assumir as cadeiras de técnica e realização cinematográfica. Naquele mesmo ano, foi criada a primeira edição do Festival de Brasília, então chamado de Semana do Cinema Brasileiro. No auge de seus 87 anos, mais de 50 dos quais vividos em Brasília, o cineasta Vladimir Carvalho vislumbra reflexos desse tempo de efervescência criativa no atípico público de cinema da cidade. Todos, segundo o mestre, remetem ao espectro dos pioneiros da arte no DF. “É um público descolado, uma plateia que sabe aplaudir, mas que também sabe criticar até chegar ao ponto da vaia contra qualquer acontecimento político que venha de encontro”, observa. “O público de Brasília é herdeiro das célebres palestras do Paulo Emílio que aconteciam tanto na UnB quanto fora dela, no auditório da Escola Parque da 308 Sul”. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] Cinco Vezes Favela Lançado em 1962, o filme de episódios, dirigido por cinco jovens estudantes de cinema e com produção do Centro Popular de Cultura (CPC) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), é tido por muitos como o embrião do Cinema Novo. Narra as desventuras e conflitos sociais de personagens do morro no asfalto nos curtas Um Favelado, de Marcos Farias, Zé da Cachorra, de Miguel Borges; Escola de Samba, Alegria de Viver, de Cacá Diegues; Pedreira de São Diogo, de Leon Hirszman, e o mais célebre deles, Couro de Gato, de Joaquim Pedro de Andrade. Alguns nomes que se tornariam conhecidos do cinema e da televisão no futuro, como Flávio Migliaccio, Cláudio Corrêa e Castro e Milton Gonçalves, são destaques no elenco dessas produções. Fala, Brasília O curta Fala, Brasília (1966) viria a ser o primeiro filme realizado dentro do curso de cinema da UnB. Com direção de Nelson Pereira dos Santos, um dos nomes pilares do Cinema Novo, e colaboração dos estudantes, mostra a forte presença de vários sotaques do país concentrados no coração do cerrado naqueles primeiros anos da capital. Alguns dos depoimentos foram colhidos na Rodoviária do Plano Piloto.

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Com programação diversificada, Cultura FM faz parte da história de Brasília

[Olho texto=”“A Rádio Cultura ganhou atenção especial nesta gestão. Estamos apostando em sua modernização e na capacidade de ampliar seu alcance com qualidade. É um bem cultural que provoca um forte pertencimento ao brasiliense” – Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa ” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Há mais de 30 anos no ar, a Cultura 100,9 FM integra a história de Brasília. Praticamente todo artista da cidade já teve uma música sua tocada na rádio. O veículo público tem como missão divulgar a pluralidade da produção cultural do Distrito Federal. “O interessante da rádio pública é que ela é independente de mercado e do poder. Não estamos disputando ranking de ouvintes. Temos a obrigação pública de colocar a diversidade cultural do DF no ar”, define o diretor da Cultura FM, Walter Silveira. No cargo desde 2019, ele tem atuado pela renovação da rádio. “Nós estamos em um projeto de revitalização da rádio, que vem de um processo de sucateamento”, avalia Silveira. A Secretaria de Cultura e Economia Criativa investe na modernização e na capacidade de ampliar o alcance com qualidade. “É um bem cultural que provoca um forte pertencimento ao brasiliense”, destaca o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues | Fotos: Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília Antes improvisada na Gibiteca do Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, a rádio ocupa atualmente o andar superior do complexo. Desde o início do governo, foram feitos serviços para melhorar a estrutura e adquiridos equipamentos, como a válvula do transmissor (expandindo a operação para todo o quadrilátero do DF); um par de links e de um processador de áudio e um software de programação. Também foi feita a instalação e revisão da antena. Esses benefícios receberam o investimento R$ 462 mil. “A Rádio Cultura ganhou atenção especial nesta gestão. Estamos apostando em sua modernização e na capacidade de ampliar seu alcance com qualidade. É um bem cultural que provoca um forte pertencimento ao brasiliense”, destaca o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues. Nita Queiroz e Greta Noira produzem notícias sobre o cotidiano, serviços do DF e com assuntos do Brasil e do mundo que vão ao ar, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, a cada meia hora na Cultura FM A expectativa agora é pela compra de novos equipamentos. De acordo com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o console de áudio e as mesas de som dependem da aprovação do Orçamento para serem viabilizados. O investimento é de R$ 61 mil. Para a aquisição dos fones de ouvido profissionais de estúdio – estimados em R$ 15 mil – e dos equipamentos de áudio, vídeo e streaming, a secretaria faz pesquisa de preços e aguarda propostas de mercado. Já a reestruturação da rede de dados e telefonia e a criação do estúdio multimídia estão na etapa de cotação de preços para posterior execução. [Olho texto=”“Antes disso, eu fazia uma hora de programação musical, com a música do mundo, mas não tinha locução. Repaginei e comecei a colocar pesquisa. Dar mais identidade” – Flávia Aguiar, radialista” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] Além disso, a programação, que já vem passando por mudanças, terá mais novidades a partir de abril, com novas e repaginadas atrações. Programação Servidora da rádio, a radialista Flávia Aguiar está à frente de dois programas. Em julho, ela assumiu o Matula Cultura, que é transmitido de segunda a sexta, das 11h às 14h. Já em outubro foi a vez de lançar um novo do Beira Mundo, exibido diariamente, das 7h às 8h, e com representações ao longo da programação. “Antes disso, eu fazia uma hora de programação musical, com a música do mundo, mas não tinha locução. Repaginei e comecei a colocar pesquisa. Dar mais identidade”, conta. A mudança funcionou. Flávia tem recebido feedbacks dos ouvintes e a playlist do programa no Spotify é um sucesso. “O pessoal está adorando. As pessoas me param na rua para agradecer. É o que me faz resistir e não desistir, porque não é fácil”, completa. A servidora participou do último concurso de radiodifusão e está na Cultura FM há quatro anos. O diretor da Cultura FM, Walter Silveira, afirma que a rádio passa por um projeto de revitalização, depois do processo de sucateamento As servidoras Nita Queiroz e Greta Noira atuam na área jornalística da rádio. De segunda a sexta, das 8h até 18h, a cada meia hora, a Cultura FM tem inserções para abordar informações do cotidiano, serviços do DF e notícias sobre o Brasil e o mundo. “A rádio tem muito esse papel dentro do jornalismo de estar informando as pessoas sobre os serviços do dia a dia, como a vacinação contra a covid-19 e o pagamento do IPVA”, explica Nita. De acordo com Greta, a equipe de jornalismo está debruçada nessa reformulação. “Vamos colocar coisas novas e trazer algumas antigas. Vamos refazer o programa Conhece DF, que são pílulas com informações sobre os pontos turísticos do DF, com serviço e um pouco da história”, adianta. A programação jornalística tem ainda o Cultura Informa, além dos boletins internacionais e nacionais, Descomplica Cultura e a Agenda Cultural. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Além da parte jornalística, Greta comanda uma atração infantil. Antes conhecida como Turminha 100,9, a atração foi rebatizada para Pipoquinha Cultura. “É um programa infantil que vai ao ar todo sábado, com reprise no domingo, só com música infantil. É algo que você não encontra em outras rádios”, avalia. No ano passado, a Secec lançou um chamamento público para prestação de serviço voluntário na Rádio Cultura FM. Mais de 20 produtores foram selecionados. Deste, quatro estão com programas no ar e mais dois ou três programas voluntários devem entrar na programação. Confira a programação da Rádio Cultura FM – Cultura na Madrugada (Hugo Paiva): diariamente, de 0h às 6h – Beira Mundo (Flávia Aguiar): diariamente, das 7h às 8h. Reapresentação de segunda a sexta, às 14h; segunda, quinta e sexta, às 21h; terça e quarta, às 22h; sábado e domingo, às 19h – Bom dia Cultura (Daniel Mioju): segunda a sexta, das 8h às 10h – Matula Cultura (Flávia Aguiar): segunda a sexta, das 11h às 12h – Tarde Cultura (Helana Cusinato): segunda a sexta, das 15h às 18h – Noite 100,9 (Daniel Mioju): segunda, quinta e sexta, das 22h às 23h; terça e quarta, às 23h – Pipoquinha Cultura (Greta Noira e Daniel Mioju): sábado e domingo, das 8h às 8h30 – Programação musical (Hugo Paiva e Helena Cusinato): sábado e domingo, das 8h30 às 9h, das 16h às 17h e das 20h às 23h – Barracão (Daniel Mioju): sábado, das 10h às 11h – Reggae (Daniel Mioju): sábado e domingo, das 14h às 15h. Reapresentação na terça, das 20h às 22h – Cultura Hip-Hop (DJ Chokolaty): sábado, das 18h às 19h. Reapresentação na sexta, das 20h às 21h – Gramofone (Luiz Ayô): domingo, das 9h às 20h. Reapresentação na segunda, das 20h às 21h – Nas cordas do choro (Paulo Córdova): domingo, das 11h às 12h. Reapresentação na quinta, das 20h às 21h – O fino do samba (Cadete): domingo, das 12h às 13h. Reapresentação na quarta, das 20h às 22h  

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Museu de Arte de Brasília exibe o design de Sergio Rodrigues

Erguidas sob a ótica modernista, as edificações monumentais de Brasília trazem em si inovações no diálogo entre arte e arquitetura. Da fachada ao interior, esse caminho tornou-se singular a ponto de instigar o tipo de mobiliário que se utilizaria nos salões e gabinetes dos palácios e repartições públicas. É na ocupação desse amplo espaço vazio que surgiu o nome de Sergio Rodrigues (1927-2014), arquiteto carioca que desenhou peças únicas para a criação da nova capital. Nesta sexta (18), o livro homônimo da exposição será lançado, às 17h, e distribuído gratuitamente | Foto: Divulgação/Secec Uma parte desse acervo está em cartaz no Museu de Arte de Brasília (MAB), na exposição Sergio Rodrigues e o Mobiliário Moderno da Universidade de Brasília, até 31 de março, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). São quatro peças desenhadas e confeccionadas para a inauguração da UnB, projeto afetivo para o criador, que virou a madrugada para montar as poltronas do auditório, para a inauguração em 21 de abril de 1962. Na sexta (18), o livro homônimo da exposição será lançado, às 17h, e distribuído gratuitamente. “Somente uma poltrona não ficou pronta a tempo, mas Sergio tratou de ficar em pé, escondendo o lugar vazio”, relembra o idealizador e curador da exposição, o arquiteto e urbanista José Airton Costa Junior. “Você não sabe o que é Brasília, Brasília se faz tudo na hora”, comentou Rodrigues à época. “A presença de Sérgio Rodrigues é indissociável da história de Brasília como cidade modernista. Por isso, cada vez mais, se faz necessário todo o esforço para a preservação da memória desses nomes pioneiros e suas obras”, diz o curador José Airton Costa Junior Sergio Rodrigues tornou-se reconhecido internacionalmente em 1961 ao ganhar o primeiro prêmio no Concorso Internazionale del Mobile, em Cantu, na Itália, com a famosa Poltrona Mole. [Olho texto=”As peças em exposição no MAB são as poltronas Lia e Kiko e as cadeiras Lúcio Costa e UnB. Em comum, os materiais utilizados são de madeiras brasileiras, couros e palhas naturais, num design que buscava inovações dos meios de produção” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] As peças em exposição no MAB são as poltronas Lia e Kiko e as cadeiras Lúcio Costa e UnB. Em comum, os materiais utilizados são de madeiras brasileiras, couros e palhas naturais, num design que buscava inovações dos meios de produção, o progresso tecnológico e a descoberta e utilização de novos materiais. Acesse aqui o catálogo oficial de Sergio Rodrigues. José Airton destaca que, do ponto de vista conceitual, os móveis que Sergio Rodrigues desenhou para Brasília atenderam completamente ao que foi exigido à época. Não poderiam ser móveis com características clássicas, rebuscados e cheios de ornamentos. “Embora as primeiras peças de Sergio tivessem como características formas mais leves e delicadas, foi a robustez de algumas de suas criações que acabou por tornar sua obra reconhecida internacionalmente como representativa de brasilidade. Mesmo essa característica de robustez se adequou perfeitamente aos novos espaços brancos e vazios de Brasília – basta citar os imensos e pesados bancos Eleh, em madeira jacarandá, que ainda hoje compõem o terraço do Palácio Itamaraty”, destaca. Cidade-acervo Brasília é o território representativo do acervo de Sergio Rodrigues. Além do  quantitativo, a construção da cidade o fez redimensionar a escala de criação e fabricação e, consequentemente, acelerar o ritmo de seu trabalho. Ele saiu de uma produção artesanal para uma industrial de móveis em larga escala. Poltronas Lia e Kiko, em exposição no Museu de Arte de Brasília “Os anos de 1960 eram marcados por poucos recursos tecnológicos direcionados ao design, e foi esse momento que o fez partir para experimentações como a utilização do metal, principalmente o aço cromado, combinado à madeira, ao couro e às fibras naturais”, pontua José Airton. “A presença de Sérgio Rodrigues, e de tantos outros artistas, arquitetos e designers que participaram da implementação da cidade, é indissociável da história de Brasília como cidade modernista. Por isso, cada vez mais, se faz necessário todo o esforço para a preservação da memória desses nomes pioneiros e suas obras”, aposta. Sergio Rodrigues em Brasília: – Teatro Nacional Cláudio Santoro: as poltronas originais amarelas na Sala Martins Pena, de 1966, e as poltronas verdes da Sala Villa-Lobos, de 1981. – Palácio do Planalto (salões nobres, mezanino, salas de espera, gabinete presidencial e salas de trabalho da Presidência da República):  poltronas e bancos Vronka, de 1962; poltronas Beto, de 1958; cadeiras Tião, de 1959, poltronas Navona, de 1960, e cadeiras Kiko, de 1964. – Brasília Palace Hotel (móveis que existiam antes do incêndio de 1978 ou atualmente locados no Museu Vivo da Memória Candanga): mesas para os salões e poltrona Stella, de 1956. – Palácio Itamaraty (saguões dos gabinetes, gabinetes de ministros e terraço): mesas e bancos Eleh, 1965; mesa Itamaraty, de 1960; cadeiras Kiko, de 1964; poltrona Oscar, de 1956; e grandes expositores em jacarandá e vidro, de 1962. – Palácio da Alvorada (salas de reuniões): uma variação, feita pela OCA de Sergio Rodrigues, da cadeira Cantu, de 1959. – Câmara dos Deputados: sofás e poltronas Beto, de 1958; poltrona Oscar, de 1956; cadeiras Tião, de 1959; mesa Rangel, de 1965; mesas Vitrines, de 1958, e estantes variadas. – Cine Brasília: as poltronas originais. – Há ainda mobiliário espalhado por ministérios e até residências da cidade. – Mobiliário de Sergio Rodrigues para a Universidade de Brasília Serviço Exposição Sergio Rodrigues e o Mobiliário Moderno da Universidade de Brasília Museu de Arte de Brasília (SHTN, trecho 01, Vila Planalto polo 03, Lote 05) Em cartaz até 31 de março, com entrada franca Visitação de quarta a segunda, das 10h às 19h Sexta-feira (18), às 17h, lançamento do livro da mostra – distribuição gratuita (acesse a leitura online aqui) *Com informações da Secretaria de Cultura

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Depois de mais de 30 anos, Capela São Geraldo é reformada

A capela São Geraldo, o segundo templo mais antigo do Distrito Federal – o primeiro é a igreja São Sebastião, em Planaltina – está sendo reformada numa parceria entre o Governo do Distrito Federal, a Paróquia Santa Maria dos Pobres e a Mitra Arquidiocesana de Brasília. Localizada dentro do Parque Vivencial do Paranoá, o espaço está ganhando reforço nas estruturas, além da reforma dos sistemas hidráulico e elétrico, troca do piso e nova cobertura. A capela São Geraldo é considerada patrimônio histórico e cultural do DF desde 1993, mas nem essa distinção impediu a ação de vândalos, que destruíram boa parte de suas instalações | Foto: Acácio Pinheiro/ Agência Brasília A obra está sendo conduzida por uma verdadeira força-tarefa. Entre os órgãos do GDF envolvidos, estão as secretarias de Economia e de Cultura; o Brasília Ambiental (Ibram); a Companhia Energética de Brasília (CEB); a Polícia Militar; além da Administração Regional do Paranoá. A Igreja Católica também colabora com a doação de todo o material de construção. A previsão é concluir os serviços em 60 dias. [Olho texto=”“Eu, como filho da cidade, tenho muito orgulho desse patrimônio. É um lugar que mexe com o íntimo dos moradores locais, trazendo boas recordações para todos”” assinatura=”Sergio Damasceno, administrador do Paranoá” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Considerada patrimônio histórico e cultural do DF desde 1993, nem mesmo a imponente distinção foi suficiente para impedir a ação de vândalos que, com depredações e pichações, destruíram boa parte das instalações da capela, fechadas há mais de uma década. “Eu, como filho da cidade, tenho muito orgulho desse patrimônio. É um lugar que mexe com o íntimo dos moradores locais, trazendo boas recordações para todos. A nossa intenção é que as famílias possam voltar a frequentar o local”, afirma o administrador do Paranoá, Sergio Damasceno. O secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, expressa a sua felicidade em acompanhar todas as ações do GDF na proteção do Patrimônio Histórico e Cultural de Brasília, abandonado há muitos anos. “O Estado está com uma política de patrimônio que perpassa várias pastas e caminha para o restauro e a proteção. A igreja de São Geraldo tem um significado especial para a população de Paranoá e do DF. A de ser um marco histórico e testemunho da fase pioneira da construção de Brasília”, observou Bartolomeu Rodrigues. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Alegria de volta A comunidade está ansiosa para que a capela volte logo a abrigar as missas de domingo. Durante 34 anos sendo a única igreja do Paranoá, a São Geraldo é parte da história dos moradores. A dona de casa Carmelita Barbosa Brito recorda que, aos domingos, a missa era o compromisso mais importante do dia. “O chão era de cimento vermelho e sempre estava enceradinho, ficava brilhando, mas tudo era bem limpo mesmo, muito bem cuidado. Quem cuidava da igreja era a dona Rita, dona Maria e o seu João. A gente tinha um enorme prazer e alegria de frequentar lá”, recorda dona Carmelita. Lélia Brito, a filha de dona Carmelita, hoje com 40 anos, puxa a memória para tentar buscar os sinais inconfundíveis do passado cheio de bênçãos. Na lembrança da assistente de pessoal, ficou o tempo de criança em que ia para a igreja São Geraldo, de mãos dadas com a família. “Lembro que a minha mãe levava a gente todos os domingos para a missa”.  

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Mostra ‘Consultório do Dr. Edson’ abre no Museu Vivo

Administrado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) abre, nesta sexta-feira (27), a mostra Consultório do Dr. Edson Porto, reproduzindo o local de trabalho do médico pioneiro de Brasília, que morreu, aos 86 anos, em 2018. A exposição fica aberta à visitação pública, dentro dos protocolos de segurança sanitária, de sexta a domingo, das 10h às 16h, e conta com 30 peças ambientadas na réplica do consultório montado no MVMC. A mostra reúne 30 peças, ambientadas na réplica do consultório montado no MVMC, incluindo cadeiras e mesas, armário de remédios, bandejas e coletores de urina e fezes, entre outros | Foto: Ascom/Secec São equipamentos trazidos para Brasília, a fim de fazer, no canteiro de obras, atendimentos que não podiam ser levados para Goiânia de avião, pelo crescente custo: cadeiras e mesas, autoclave (para esterilização), geladeira, armário de remédios, bandejas, coletores de urina e fezes, pastas de documentos, entre outros. “Estamos aproveitando um trabalho de higienização dos itens da exposição permanente Poeira, Lona e Concreto (mais de mil itens) para dar visibilidade aos serviços prestados por esse médico pioneiro”, explica o coordenador das diretorias da Subsecretaria do Patrimônio Cultural (Supac), Felipe Ramón. [Olho texto=”“Era muito comum baterem na janela de nossa casa no meio da noite, gritando ‘Dr. Edson, ajuda pelo amor de Deus’”” assinatura=”Marilda Porto, esposa de Dr. Edson” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Esposa de Dr. Edson, Marilda Porto, 81 anos, fala com muito orgulho dos tempos heroicos em que morava com o marido numa das casinhas de madeira do atual museu, quando o local era o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO). A edificação, concebida para ser provisória, foi levantada em apenas dois meses, inaugurada em julho de 1957, de modo a atender o crescente número de operários acidentados no canteiro de obras da construção de Brasília e dar assistência a um contingente crescente de crianças e adultos que inchavam a população do que seria a capital federal três anos mais tarde. “Era muito comum baterem na janela de nossa casa no meio da noite, gritando ‘Dr. Edson, ajuda pelo amor de Deus'”, relata Marilda, que veio de Goiânia num jipe, em estrada de terra, casada com ele, aos 18, um ano depois de começarem namoro de compromisso no Jóquei Clube de Goiás. Dr. Edson morou com a esposa numa das casinhas de madeira do atual museu, quando o local era o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO) Mineiro de Araguari (MG), Dr. Edson Porto estudou medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) antes de aceitar o desafio de atender nos alojamentos da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), no que é hoje a Candangolândia. A prática de pediatria, a especialidade do médico, teve de aguardar um pouco e ceder espaço a urgências, como operar, suturar e amputar membros dos homens que erguiam as estruturas planejadas por Oscar Niemeyer. “Ninguém tinha equipamento de proteção, trabalhavam de chapéu de palha e sandálias”, testemunha Marilda. Com cinco filhos e uma penca de netos, Marilda fala daquela época como “uma experiência magnífica, de grande valor humano, em que as pessoas trabalhavam com alegria e entusiasmo, se ajudando, algo que não vemos muito hoje”. Ela diz que conviveu com todo mundo – faxineiras, operários da manutenção do hospital, enfermeiras, motoristas – e sugere que fotos dessa gente, muitas das quais ela coleciona, deveriam ficar expostas no MVMC. [Olho texto=”Outras duas mostras são anunciadas para setembro no MVMC: ‘Joaquim Paiva: Cor e Vida’ e ‘Brasília, Feminino de Brasil'” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Mais duas exposições Felipe Ramón anuncia para setembro mais duas exposições no MVMC, com datas a confirmar. Joaquim Paiva: Cor e Vida é, segundo ele, que assina a curadoria, “uma exposição que procura celebrar o aspecto dinâmico e vivo dos primeiros anos da capital federal.” “Não são fotografias das grandes obras arquitetônicas, nem retratos de personalidades, mas registros da expressão criativa de pessoas comuns, da pujança do cotidiano expressa em suas casas, locais de trabalho, roupas, corpos e rostos”, explica Ramón. Segundo o curador, o fotógrafo nascido em Vitória (ES) em 1946, advogado e diplomata, dava chance aos pioneiros da cidade para posar, escolher a maneira como queriam ser fotografados. A outra exposição com o acervo do MVMC fará um recorte sobre o papel das mulheres na construção da capital e levará o nome de Brasília, Feminino de Brasil. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Também curador dessa exibição, Ramón diz que “a exposição das mulheres pretende ajudar a corrigir uma injustiça histórica: muitas vezes apenas os pioneiros são lembrados, esquecendo o papel importantíssimo das mulheres na criação simbólica e cultural desta capital de todos os brasileiros”, contextualiza. Para essa exibição, estão sendo preparados áudios acionados por QR Code, convidando a um passeio entre objetos e fotografias da época da construção, num resgate do lugar do feminino na capital de concreto armado. Serviço Mostra Consultório do Dr. Edson Porto Local: Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) – Núcleo Bandeirante – Setor JK Lote D Horário de visitação: sexta a domingo, das 10h às 16h Telefone: (61) 3301-6641 *Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF

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Arquivo Público resgata histórias não oficiais de pioneiros

E se a Catedral Metropolitana de Brasília ficasse no meio da Praça dos Três Poderes ou a torre do Congresso fosse uma só com detalhes em alto relevo na parede externa? E se o Palácio do Planalto trocasse de lugar com o Superior Tribunal Federal ou a cúpula da Câmara dos Deputados tivesse a forma da casca em concreto armado localizado no Setor Militar Urbano? Estagiário de Niemeyer durante a construção de Brasília, Gervásio Cardoso doou ao Projeto Pioneiros 14 rascunhos que ganhou do próprio arquiteto, com ideias que teve para o Congresso Nacional | Fotos: Acácio Pinheiro/Agência Brasília Todas essas possibilidades foram imaginadas e esboçadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer antes de apresentar o projeto definitivo da nova capital brasileira ao presidente Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950. Quem conta essa história é o pioneiro mineiro, Gervásio Cardoso de Oliveira Filho, 78 anos. [Olho texto=”“São obras que revelam o processo criativo de Oscar Niemeyer, a evolução de cada ideia até chegar ao projeto original de uma obra”” assinatura=”Gervásio Cardoso de Oliveira Filho, pioneiro mineiro” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Ele foi estagiário de Niemeyer durante as construções dos primeiros edifícios da capital e detentor de 14 traços que revelam as transformações sofridas no projeto original do Congresso Nacional. Os rascunhos datam de 1957 e até agora estavam inéditos para o público. “É a Brasília que ninguém viu”, brinca o arquiteto, que guardou esse segredo histórico por 44 anos. “São obras que revelam o processo criativo de Oscar Niemeyer, a evolução de cada ideia até chegar ao projeto original de uma obra”, conta Gervásio, que doou o material para o Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF). Os esboços irão compor a coleção Projeto Pioneiros, novo programa da instituição arquivística. Dividido em duas linhas de pesquisas, o Projeto Pioneiros visa resgatar, além de divulgar, a história da construção, inauguração e consolidação de Brasília por um olhar mais romântico e mais humano, que foge dos registros oficiais. “O Arquivo Público é a casa da memória do DF, é uma instituição que tem a vocação, missão de guardar a história dos protagonistas que fizeram parte da história desta cidade”, comenta o historiador do órgão, Elias Manoel da Silva, há 17 anos servidor do espaço. [Olho texto=”“O ArPDF entrou em contato com mais de dez pioneiros e estamos nos articulando para buscar essas imagens e as histórias inéditas que eles têm para contar”” assinatura=”Adalberto Scigliano, superintendente do Arquivo Público” esquerda_direita_centro=”direita”] Na etapa, Olhar Pioneiro, serão recolhidos registros de fontes diversas como, por exemplo, vídeos, textos e fotografias, sobre o surgimento da nova capital. Noutra fase, intitulada Pioneiros – A História que Ninguém Contou, serão feitas entrevistas que trazem à luz fatos inéditos ou curiosos sobre a história de Brasília. “O ArPDF entrou em contato com mais de dez pioneiros e estamos nos articulando para buscar essas imagens e as histórias inéditas que eles têm para contar. São pessoas que estiveram à margem ou não tiveram tanto espaço midiático quanto as grandes figuras do início da cidade, mas que merecem e devem ter seus feitos imortalizados porque também fazem parte dessa história”, avalia o superintendente do espaço, Adalberto Scigliano. O arquiteto Gervásio Cardoso (C), com Oscar Niemeyer em 1982 | Foto: Arquivo pessoal Encontros históricos A primeira vez que Gervásio Cardoso ouviu falar sobre a construção de Brasília foi na escola, no final dos anos 1950, em Patos de Minas. Ele tinha 16 anos e a partir da inusitada notícia começou a traçar os destinos de sua vida profissional, intrinsecamente, ligada com a capital do país. O pioneiro não esconde as lágrimas quando se lembra do episódio. “A professora nos disse que tinha se hospedado na cidade o arquiteto que estava planejando a nova capital do Brasil”, recorda. “Aquilo mexeu com a minha cabeça, me interessou de tal forma que falei para o meu pai que eu queria ser arquiteto”, conta ele, que já gostava de fazer alguns rabiscos. Quando menos esperava, lá estava ele no coração do Planalto Central, no meio de um dos canteiros de obras da Esplanada, trazendo debaixo do braço uma caricatura de Oscar Niemeyer. O ano? 1959. Meses depois, já integrava a equipe de urbanismo e arquitetura do ídolo, colaborando com esboços e desenhos de prédios. Pioneira na Vila Planalto, Icila Damasceno (E) doou para o projeto imagens feitas pelo pai, fotógrafo: “Ele anotava tudo que registrava com sua câmera “Ele me recebeu da maneira mais carinhosa possível, olhou com atenção os desenhos, perguntou se eu gostava de desenhar, se queria aprender e mandou alguém trazer uma prancheta”, lembra Gervásio Cardoso. Quase duas décadas depois, em meados dos anos 1970, depois de se formar na Universidade de Brasília (UnB) e passar temporada de um ano na França, o pupilo voltaria a se encontrar novamente com o mestre em Brasília. Agora experiente na profissão, recebeu a incumbência de dar sequência ao projeto de construção do anexo do Senado Federal e colaborou na finalização do edifício do Palácio da Justiça. Foi mais ou menos nessa época, em 1977, que recebeu de presente os 14 rascunhos das ideias que teve para o Congresso Nacional com a simples dedicatória: “Para Gervásio, com um abraço de Oscar Niemeyer”. “Só de ele ter concordado que eu desenvolvesse um projeto dele, era a maior prova de que confiava em mim”, diz, orgulhoso. Cerzindo história Moradora há 51 anos da Vila Planalto, a paraense Icila Damasceno de Sena, 87 anos, tem muitas histórias para contar sobre os primórdios da construção de Brasília. Chegou aqui com o pai, o militar paraense Antônio Pereira Damasceno, que acabou se tornando um dos primeiros fotógrafos da nova capital. Tal qual o mineiro Gervásio Cardoso, a família logo aprendeu a importância de registrar os fatos que a cercava. Afinal, não era todo dia que uma cidade nascia do nada bem diante dos olhos. Uma urbe, diga-se de passagem, que estava sendo projetada para ser a nova capital do país. Como o pai era fotógrafo, tudo ficou mais fácil. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] “Ele era militar, tinha organização e anotava tudo que registrava com sua câmera. Nos ensinava a valorizar o resgate da memória das pessoas, dizia que era história”, comenta a pioneira, uma das primeiras moradoras da Candangolândia. “Quando ele veio trabalhar na Novacap, morava nos alojamentos; quando ganhou a casa, fez uma placa com os dizeres: ‘Retiro do Damasceno’. Depois fomos para uma casa na W3 Sul”, diz. Entre as preciosidades que a família reservou para o Projeto Pioneiro, do ArPDF, estão imagens do antigo Rio Paranoá, antes de virar o lago, além de experiências como uma das primeiras cerzideiras de Brasília, atendendo uma clientela de peso, formada por presidentes como Costa e Silva, João Figueiredo e, veja só, até Fernando Henrique Cardoso. “Eu cerzia muito, tinha muito serviço”, destaca.

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Arquivo Público faz 36 anos com 100% do acervo digitalizado

Segundo Adalberto Scigliano, superintendente do Arquivo Público do DF, a população também pode colaborar com material para o acervo. “Basta nos procurar e nós faremos uma avaliação quanto à relevância disso para a história”, explica| Paulo H. Carvalho/ Agência Brasília Um lugar de memórias sobre a história de Brasília. Assim é o Arquivo Público do Distrito Federal, órgão ligado à Casa Civil do Distrito Federal que, no mês passado, completou 36 anos de existência. O presente, porém, será para a população: a digitalização de todo o acervo deve ficar pronta até o final deste ano. Além disso, para celebrar o aniversário de Brasília, uma exposição virtual está sendo planejada para 21 de abril. Atualmente, 44 fundos arquivísticos provenientes de 21 órgãos públicos e 23 pessoas físicas ou entidades fazem parte do acervo. “O fundo é a coletânea de documentos de qualquer natureza, podendo ser textual, imagem, vídeo, película, reunidos por uma instituição e que já ultrapassaram sua tabela de temporalidade”, explica o superintendente do Arquivo Público do DF, Adalberto Scigliano, em entrevista à Agência Brasília. O material inclui 48.192 cartográficos, 6,7 mil eletrônicos, 5,6 mil filmográficos, mais de 1,5 milhão de iconográficos, 2.233 micrográficos, 5,3 mil materiais sonoros, 1.022,22 metros lineares de textual e 132 itens tridimensionais. Dentro de todo este conteúdo, há fundos da Secretaria de Comunicação desde 1987. Entre eles, 720.922 fotografias digitais, 8.660 fotografias reveladas e 1.363 fitas cassetes que ajudam a contar a história de Brasília. Confira trechos da entrevista: Como está o processo de digitalização do acervo? Da parte textual, estamos com 66% digitalizado. O ponto crítico são as mídias especiais, que necessitam de digitalização específica. Por isso, firmamos uma parceria com a Subsecretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (Sutic), vinculada à Secretaria de Economia. Por exemplo, nós temos 559 filmes que estão armazenados de forma segura e precisam de equipamento específico de modo que, ao serem digitalizados, não sejam corrompidos nem danificados. Mas a expectativa é de que até o final do ano tenhamos todo esse material digitalizado e disponível para a população. Os arquivos também estão sendo indexados para que possamos adotar um sistema de busca de mais fácil utilização pela população. Qual a importância dessa digitalização? Nós achamos o baú do tesouro, ainda não sabemos o que tem ali e estamos super ansiosos para descobrir. Quando você tem oito milhões de itens que podem estar à disposição da população, mas não estão, você precisa compartilhar esse material. Além disso, com a digitalização, você perpetua o material e garante a segurança, já que ele será criptografado e ficará guardado em quatro locais: no Arquivo Público, no nosso backup, na Sutic e na nuvem da Sutic. Ou seja, não corremos o risco de perder por alguma invasão à rede ou por algo como, por exemplo, um incêndio. A população pode colaborar com material para o Arquivo Público? Pode sim. O material precisa ter o contexto da história de Brasília. Basta nos procurar e nós faremos uma avaliação quanto à relevância disso para a história. Aliás, um dos pilares do Arquivo Público é o recolhimento e preservação desses matérias, porque a gente acredita que ainda existam alguns fragmentos de história que foram perdidos, porque a história é muito recente, a construção foi muito rápida, vieram pessoas de vários lugares para isso. E o local está aberto para visitas? Continuamos funcionando de segunda a sexta-feira, de 9h às 17h, porém mediante agendamento prévio. É preciso cuidado ao manusear o acervo e, inclusive, usar equipamentos de proteção. Atualmente, a maior parte do nosso público é de acadêmicos, jornalistas, historiadores e arquitetos. Nossa intenção é ampliar isso, despertando o interesse da população como um todo para tudo o que tem aqui. Eu já morei em nove estados brasileiros e acho peculiar o orgulho que o brasiliense tem da sua história. É mais do que a cidade, estamos falando da capital do Brasil que é patrimônio da humanidade. Precisamos que essa população conheça Brasília e sua história. [Olho texto=”“Nós achamos o baú do tesouro, ainda não sabemos o que tem ali e estamos super ansiosos para descobrir. Quando você tem oito milhões de itens que podem estar à disposição da população, mas não estão, você precisa compartilhar esse material”” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”centro”] O que a população pode encontrar no Arquivo Público? Além de textos e fotos, temos alguns itens tridimensionais, como uma mesa que era usada pelo fundador do Hospital de Base, Ernesto Silva. Temos a história oral, que são recortes, como por exemplo na Saúde, onde temos relatos contados pelos primeiros médicos que chegaram a Brasília. Alguns materiais, porém, só poderão ser acessados quando concluirmos a reforma de um novo espaço que estamos criando aqui, que virá após a digitalização total do acervo. Então, o Arquivo Público ganhará novo espaço? Com a digitalização, ganharemos mais espaço físico. Com essa reforma, acreditamos que seremos o primeiro arquivo público do país totalmente inclusivo. Teremos condições de atender o visitante mesmo que ele tenha as cinco principais deficiências: visual, auditiva, mental, motora e múltipla. Já temos a parte de acessibilidade concluída e agora buscamos, juntamente com a Sutic, levantar os equipamentos necessários para transformar nosso acervo acessível a todos, como conteúdo em braile e libras. Nossa intenção é transformar o arquivo público em um centro histórico e cultural com interação. Infelizmente, precisamos parar a reforma e entendemos que neste momento de pandemia há outras prioridades. Mas, desde que começamos este projeto aqui, recebemos apoio tanto do Executivo quanto do Legislativo, inclusive com emenda parlamentar. Que projetos vocês ainda planejam para este ano? Além da digitalização, estamos preparando uma exposição virtual, multimídia, com cinco temas inerentes à história de Brasília para ser apresentada no dia 21 de abril. Teremos a história tradicional, fatos inéditos, vídeos e quiz. Será nosso presente para o aniversário de Brasília. Também demos início à preparação para a comemoração dos 100 anos da pedra fundamental, que será ano que vem. Estamos solicitando ao Museu do Ipiranga, em São Paulo, os arquivos que estão por lá para que possamos entregar este conteúdo à população em 2022. Além de coordenar e orientar atividades de gestão documental, o Arquivo Público também é responsável pela implantação da política distrital de arquivos. Como está essa questão? Estamos revisando toda a política distrital de arquivo, porque os últimas decretos e instruções normativas datam de 2000 e 2003. Tem leis que estão completamente defasadas em relação à realidade digital. Por exemplo, na época não tinha o Sistema Eletrônico de Informações (SEI). Temos um grupo interno trabalhando no assunto hoje, em como armazenar documentos eletrônicos. Mais do que isso, o que fazer com as redes sociais, porque o que antes era uma fotografia impressa, revelada, hoje é um post na rede social. Como guardar isso? É o que estamos buscando fazer.

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As raras fotos do imigrante polonês apaixonado por Brasília

É possível tirar o sustento de uma família de 14 filhos trabalhando como fotojornalista sem deixar de fazer enquadramentos delicados? Se quem estiver com o olho colado ao visor for um judeu polonês cujos pais migraram para o Brasil a fim de escapar do genocídio nazista, trazendo na bagagem sonhos de liberdade, a resposta é sim. O trabalho apaixonante de Jankiel Gonczarowska foi descoberto pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) por intermédio da Subsecretaria do Patrimônio Cultural (Supac), em sua rotina de busca por imagens para o projeto Imagem e Memória Candanga, que divulga fotos antigas da capital. Foto: Jankiel Gonczarowska/Arquivo pessoal O nome difícil de pronunciar de Jankiel Gonczarowska (1924-1988), mais conhecido como “seo” Jankiel – conta a filha Sandra Gonczarowska Mussi, psicóloga, radicada hoje no Canadá –, contrastava com a prosa fácil do fotógrafo que se mudou com a família do Rio para Brasília em 1961, incumbido de registrar os primeiros passos da infante capital. Foi escolhido pelo próprio Samuel Wainer, que havia fundado o jornal ‘Última Hora’ dez anos antes, atento aos ventos de modernidade que cercavam os arroubos de Juscelino Kubitschek. “Papai conviveu de maneira próxima com muitos presidentes desde Getúlio Vargas. Os respeitava muito, mas não perdia de vista o lado humano deles”, conta Sandra. Isso acabou sendo verdade sobre algumas primeiras-damas também. Certa feita, conta Sandra, seu pai acompanhava a então primeira-dama Marly Sarney, que havia mandado colher mandiocas cultivadas na Granja do Torto, residência presidencial. “Venha aqui, ‘seo’ Jankiel. Leve isso para os seus filhos, sei que o senhor tem muitos”, conta ela. Casado em segundas núpcias com companheira que conhecera no Rio e que já contava três filhos, tiveram outros onze. Sandra diz que Jankiel amava a capital que JK fizera brotar no Cerrado. “Cada construção que se levantava na cidade era motivo de alegria para ele, como se fosse um melhoramento em nossa casa”, recorda. São muitos os registros do fotógrafo em que se reconhecem as silhuetas do que hoje é o Congresso Nacional, a Catedral Metropolitana ou o Palácio do Planalto. “Frequentemente, ele colocava minha mãe e familiares no carro e os levava para os monumentos da cidade, apenas para poder fotografar, dando o toque humano que era tão importante para meu avô, nesse jogo com a vastidão do mármore, do céu e do concreto”, poetiza o neto Marcelo Gonczarowska Jorge, sobrinho de Sandra, artista plástico e, hoje, servidor da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O tal “toque humano” sobressai no trabalho de Jankiel que aos poucos vai sendo garimpado pela Subsecretaria do Patrimônio Cultural da Secec e o coloca entre outros grandes fotógrafos da construção da capital – o mecânico de aviões Mário Fontenelle (1919-1986), que recebeu sua primeira câmera das mãos de JK, de quem se tornou fotógrafo oficial; o húngaro Thomaz Farkas (1924-2011); ou o francês Marcel Gautherot (1910-1996), tido como o preferido do urbanista Lúcio Costa. A gerente de acervo da Supac, Aline Ferrari, foi quem descobriu as fotos do fotógrafo pioneiro que chegou ao Brasil em data imprecisa, contando cerca de cinco anos de idade, com os pais e a irmã. A família, que não falava uma palavra de português, desembarcou no Rio de Janeiro. Fugindo também do calor da cidade praiana, preferiu se estabelecer em Porto Alegre, onde a latitude meridional e a presença de outros poloneses amenizavam o impacto da diáspora. Lá construíram a vida como alfaiates, abrindo mais tarde uma loja de roupas. “Pouco antes da quarentena na pandemia da Covid-19, eu estava procurando imagens para o projeto ‘Imagem e Memória Candanga’ [sobre a retirada dos moradores da invasão do Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira para a Ceilândia]. Foi quando dei, por acaso, com as fotos de Jankiel e reparei que o sobrenome era o mesmo de um colega de trabalho”, conta Aline. Ela já localizou doze fotografias de Gonczarowska na parte pesquisada de um montante de 4 mil registros em papel guardados pela Secec, volume que aos poucos vai sendo catalogado para digitalização pelo Arquivo Público do Distrito Federal, numa parceria de formiguinha sobre a construção da memória da sexagenária capital. “Marcelo me confirmou que eram do avô dele. E aí, não acreditei na coincidência!”, espanta-se Aline. “Tinha achado as fotos sensíveis e bonitas e passei a prestar atenção no material que surgia creditado com o nome dele”, relata a servidora. A sensibilidade de “seo” Jankiel é reconhecida por fotógrafos do porte de Orlando Brito (1950), mineiro de Janaúba, um autodidata que em 1965 se inicia na profissão como laboratorista da “Última Hora”, na sucursal em Brasília, tornando-se depois fotógrafo do periódico e, reconhecidamente, uma das referências nessa arte. Sandra se encontrou com Brito no enterro de Jankiel e reproduz emocionada para a reportagem da Secec o testemunho de outro apaixonado pela capital do país e também testemunha de acontecimentos políticos contemporâneos: “Sandra, tudo que sei, não de técnica, mas de sensibilidade no olhar, aprendi com seu pai”. Essa percepção da veia humanista do pai é compartilhada pela filha, ela própria iniciada no ofício de laboratorista e fotógrafa por Jankiel, com quem trabalhou no antigo Arquivo Nacional em Brasília, antes de trocar os rolos de filmes e as lentes das câmeras analógicas pelas imagens que a psicologia de Freud revela. Isso a levou a pesquisar e reunir material para escrever um livro. Com o título provisório Jankiel Gonczarowska, Retratista da Vida, Poeta da Imagem, a obra conta a história do fotógrafo e reproduz mais de 180 fotos, a maioria com a lendária Rolleiflex. Os cliques compilados por Sandra imortalizam desde craques da Seleção Brasileira de 1954, como Didi, quando os canarinhos perderam nas quartas-de-final para a Hungria, na Copa da Suíça, a matérias premiadas em grandes veículos da época – Manchete, Manchete Esportiva e O Cruzeiro –, passando pelo diário de Wainer, Isto É e O Globo. Isso, além dos registros do nascimento da capital. “Ainda não sei quando o livro vai sair. Com a pandemia, as coisas ficaram mais difíceis. Mas quero prestar essa homenagem ao meu pai. Quero que as pessoas possam se emocionar como quem conviveu com ele se emocionava. Como até hoje ficamos tocados pelas fotos que contam a história de Brasília”, justifica. * Com informações da Secretaria de Cultura

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Festa dos Estados matou a saudade de pioneiros longe de casa

Festa foi um dos mais tradicionais eventos de Brasília. Frequentadores curtiam a comida, a história e a cultura dos estados de origem Foto: Arquivo Público No frio congelante de junho, em uma Brasília ainda despelada, a festa rolava solta. Em barraquinhas estilizadas, os candangos se reuniam para matar a saudade de casa, mesmo de longe. A Festa dos Estados mobilizava toda a nova capital com sua passagem direta para qualquer lugar do país por meio de comida, bebida e cultura. História, tradição e saudosismo marcam a celebração que se transformou no principal evento cultural e turístico da cidade. Além de tudo, era realizada com o nobre fim de ajudar uma entidade com fins filantrópicos, a Casa do Candango.  O evento surgiu lá pelos idos do nascimento de Brasília. Foi organizado para captar recursos e manter as creches e os abrigos da Casa do Candango, criada para amparar os mais necessitados na época do surgimento da capital. O encontro tornou-se indispensável. Seu auge ocorreu entre 1960 e 1980, quando a diversidade dos moradores e a saudade da terra natal eram retratadas nas barracas que representavam todos os estados brasileiros.   [Olho texto=”Era lugar de encontrar os amigos, de paquerar, de lembrar de casa. Naquela época não havia restaurantes regionais como hoje. A gente só podia encontrar comida típica nesses eventos” assinatura=”Carlos Eduardo Monteiro, filho de uma das fundadoras da Festa dos Estados” esquerda_direita_centro=”esquerda”] A primeira edição foi realizada em 1961, no formato de festa junina na entrequadra da 105 Sul, em frente ao local conhecido como Bloco 5. Cada barraca tinha motivos de uma unidade da Federação, com o que melhor representava sua cultura, costumes e culinária trazidos e bancados pelos governos estaduais. Os trabalhos eram completamente voluntários e a entrada, gratuita.  A festa era sempre na última semana de junho, quando o frio mais castigava a população e a “fumaça” saía das bocas dos frequentadores. Isso, porém, não desanimava ninguém. Saíam dos armários as melhores roupas, com direito a luvas, cachecóis e até ponchos, que marcaram época e um período. Os candangos, espalhados pelos acampamentos, compareciam em peso. Era momento de lazer.  Filho de Yolanda Monteiro, uma das fundadoras da Festa dos Estados, Carlos Eduardo Monteiro lembra, emocionado, de detalhes da atração. Na primeira, ele foi o padre da quadrilha. Foto: Paulo Tavares/Agência Brasília Filho de Yolanda Monteiro, uma das fundadoras da festa, Carlos Eduardo Monteiro recorda, emocionado, detalhes da atração. “Era lugar de encontrar os amigos, de paquerar, de lembrar de casa. Naquela época não havia restaurantes regionais como hoje. A gente só podia encontrar comida típica nesses eventos”, conta o advogado que chegou à capital aos oito anos. A mãe manteve na parede de casa lembranças da festividade até seus últimos suspiros. Era nostalgia pura. Na barraca do Amazonas, em época de zona franca, clientes faziam filas para comprar calças jeans. Porco no rolete só era encontrado no espaço do Paraná. Quadrinha era figurinha carimbada na de Sergipe. Vatapá e Caruru apenas na Bahia do quadradinho. E, assim, todos eram levados de volta para casa pelo paladar. Ou conheciam novos lugares dessa maneira. Em certo momento, começaram a chegar representantes de países como Japão e Estados Unidos, que, mais tarde, fariam a Festa das Nações. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] “Como naquela época havia dificuldades dos alimentos chegarem em Brasília, o governo emprestou aviões para os responsáveis pelas barracas trazerem ingredientes de cada estado. Assim, era possível fazer as comidas típicas”, conta Monteiro. Como contrapartida da ajuda dos estados, parte do arrecadado era enviado ao local de origem. Nos anos áureos, cada estande contava com a primeira-dama de seu estado, responsável pela divulgação do lugar. Eram as “Patronces”. Pelo que lembra Carlos Eduardo Monteiro, não era de graça: elas buscavam votos para seus maridos candidatos. A atuação diminuiu depois que os moradores da capital passaram a votar no território do Distrito Federal.   Festa dos Estados fez a alegria dos candangos na nova capital. Foto: Acervo/Casa do Candango Ficou pequeno Com sucesso absoluto, os espaços ficaram pequenos e a festa foi migrando. Da 105 Sul, passou para a 107 Sul, em um grande descampado. Depois, passou a ser realizada atrás do Cine Brasília, na entrequadra 106/107 Sul. O Setor Hoteleiro Norte também foi palco da festividade, quando nada tinha, em um Centro de Convenções construído em madeira em formato arredondado.  Estrutura de formato redondo (à esquerda), no Setor Hoteleiro Norte, também foi palco da festividade. Foto: Arquivo Público Por vários anos, o evento tomou conta da área próxima à Torre de TV, entre a feira e a Funarte. Por fim, funcionou no Pavilhão do Parque da Cidade, que teria sido criado exatamente para esse fim porque gastava-se demais com a estrutura de madeira montada todo ano pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).  Parte da história A pioneira Terezita Braga Telles foi líder de barracas. Colaboradora da Casa do Candango, ela tratava com as autoridades os detalhes da organização. “Surgiu como reunião das esposas das autoridades e se tornou o congraçamento de todos os estados do país”, define. Nascida em Belém (PA), ela se mudou para o Rio de Janeiro ainda na infância, onde cresceu e casou-se. Ela mudou-se para Brasília na época da construção.  “Era uma beleza. Os hotéis ficavam lotados de tanta gente que vinha prestigiar a festa”, conta. Aos 81 anos, com a saúde debilitada, Terezita se emociona ao lembrar do evento. Sua parte preferida, garante, eram as atrações locais trazidas para se apresentarem na capital. “Certa vez o violeiro Almir Sater veio do Mato Grosso do Sul. Ele pegou um versinho meu e pediu para musicar. A música ficou linda!”, recorda.  A pioneira Terezita Braga Telles foi líder de barracas na Festa dos Estados. Foto: Paulo Tavares/Agência Brasília Em entrevistas concedidas ao Programa História Oral do Arquivo Público do DF, pioneiros contaram suas experiências com a festividade. Waldemar Alves de Magalhães chegou à então futura capital em 1957: “Eu tive a felicidade de colocar nome nas duas barracas que estavam diretamente sobre a minha administração. Os outros também foram colocando os nomes das origens de cada estado, daí surgiu o nome da festa”, revelou.  Maria Victoria Moreira Caldas foi funcionária da Companhia da Nova Capital, onde atuou como secretária de Israel Pinheiro. Ela contou que a temperatura baixa castigava os frequentadores: “Os estados todos participavam e países também. A festa era boa, durava a noite inteira. Agora, era um frio danado, a gente tinha que tomar quentão”, lembra.  Atual vice-presidente da Casa do Candango, Margarida Kalil lembra da importância política, social e econômica que o evento tinha na capital. A última festa foi realizada em 2013, mas longe da representatividade que alcançou nas primeiras décadas. “Era um grande encontro do povo brasiliense, onde todos os estados se agregavam com os fins mais nobres possíveis”, define.  

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As mulheres que ajudaram na construção de Brasília

Foto: Arquivo Pessoal Quando saíram do aconchego de suas casas, Marilda Porto, aos 18 anos, e Elvira Barney, aos 22 anos, não sabiam o que enfrentariam na construção de uma cidade em meio ao cerrado. Poeira, mato, desconforto e solidão eram alguns dos desafios que cercavam as pioneiras de Brasília. Apesar das dificuldades, as recém-casadas e muitas outras mulheres não deixaram o desafio de ficar e ajudar na fundação da nova capital do Brasil, inaugurada em 1960. Marilda, 80 anos, desembarcou em Brasília em 1958. Nascida em Rio Verde, Goiás, ela afirma que não se importou com a “poeira barrenta” que estava por toda parte da cidade. “Eu tenho uma impressão totalmente diferente das pessoas que vem de um centro maior. Nasci e fui criada no interior, então eu não me incomodei porque já era acostumada. O Juscelino [Kubitschek] estava trazendo desenvolvimento para o interior do país e olha o que o Brasil virou a partir disso”, justifica. Marilda Porto veio para Brasília em 1958, aos 18 anos. Foto: Renato Araújo/Agência Brasília Ela foi casada durante 60 anos com Edson Porto, primeiro médico a fazer atendimento na nova capital da República. Ele faleceu em setembro do ano passado aos 86 anos devido a um câncer no pulmão. Junto com o pediatra, Marilda teve cinco filhos, 12 netos e dois bisnetos. “Nos conhecemos em uma festa em Goiânia. Aqui não tinha mulheres, só operários. Nos casamos após dez meses de namoro”, lembra. Como a casa que moravam era perto do hospital, a pioneira conta que tinha acesso a água e luz e que fazia questão de ajudar e dividir com quem não tinha acesso às necessidades básicas. Conhecida como primeira dama pelos operários, Marilda acompanhava Edson nos plantões. “Eu ia ficar sozinha? Lá tinham duas camas, entrava e saia enfermeira, mas eu não me importava e continuava dormindo”, recorda-se aos risos. [Numeralha titulo_grande=”1958″ texto=”É o ano que Marilda Porto mudou-se para o que seria a nova capital” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Entre tantas histórias que marcaram a vida de Marilda, a pioneira não esconde a emoção ao falar da trágica morte de uma médica, que era querida por todos os moradores. “Fazíamos piqueniques em volta de um dos rios da cidade, pois o Lago Paranoá ainda não existia. Ela não sabia que estava grávida, teve uma tontura, bateu a cabeça na pedra e acabou sendo levada pela água”, lamenta. Por conta de tantos acontecimentos significativos, a pioneira acredita que amadureceu muito rápido. “Com 18 anos já tinha visto de tudo no hospital. Chegavam pessoas queimadas, com pernas que precisavam ser amputadas. Eu acho que foi bom para a minha vida. Eu não tenho medo de nada hoje em dia”, garante. Marilda acredita que estava predestinada a vir para a capital, pois no dia do aniversário dela, 18 de fevereiro, foi assinada a escritura de transferência da região de Brasília para a União. “Meu padrinho, que era senador na época, foi um dos que assinou o documento, enquanto eu não imaginava que isso estava acontecendo. Não tínhamos televisão, jornal”. Leia também: Patrimônio Cultural da Humanidade: os bastidores de um título Da antiga para a nova capital Diferentemente de Marilda, Elvira Barney, 80 anos, teve que criar coragem para contar a família e aos amigos que sairia do Rio de Janeiro para morar em Brasília. “Foi uma aventura, pois eu tinha apenas dez dias de casada. As pessoas achavam que eu era louca, mas eu tive uma surpresa enorme quando cheguei aqui: tinha até lago”, conta aos risos. Ela é casada com César Barney desde 1961, um dos arquitetos que ajudou na construção da nova capital do Brasil. Ele é colombiano e estava terminando o curso nos Estados Unidos quando foi convidado para participar do projeto de Juscelino Kubitschek. Os dois tiveram três filhos e três netos. Elvira Barney é casada com o colombiano César Barney, um dos arquitetos um dos arquitetos que ajudou na construção de Brasília. Foto: Renato Araújo/Agência Brasília A decoradora lembra que mesmo após um ano da inauguração, Brasília tinha praticamente só terra. “Fomos um dos primeiros moradores do Lago Sul. Naquela época tinham quatro ou cinco casas de ministros”. Após conseguirem construir uma residência, o casal ofereceu um jantar para o embaixador da Colômbia. Na véspera do evento um tigre, cujo o nome era Gilberto, escapou do zoológico e se “acampou” nas redondezas da região. “Metade do [Palácio do] Itamaraty e embaixadores estavam lá. Tinham bombeiros na minha porta e guardas caçando Gilberto porque ao redor da minha casa não tinha sequer uma cerca. Graças a Deus foi tudo um sucesso. Até às 3h da manhã tinha gente dançando”, disse aliviada. Cerca de quatro anos depois, após começar a ter filhos, veio o desespero. “No Rio de Janeiro tinha tudo e aqui nada. Quando eu tinha que fazer compras tinha que ir até Goiânia. Não conhecia os pediatras daqui. Me deu vontade de voltar para o Rio de Janeiro, mas foi momentâneo”, garante.   Condições Segundo a coordenadora do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher (Ipam), Tânia Fontenele, a grande maioria das mulheres vieram para Brasília acompanhar os maridos. “As condições eram precárias. A cidade estava sendo construída e não tinha urbanismo, então os acampamentos eram de madeira, muitos moradores não tinham acesso a água e luz”, explica. Marilda, Edson Porto e a primeira filha deles. / Foto: Arquivo pessoal A também cineasta lembra que as mulheres daquela época eram voltadas para as questões do lar e que algumas delas, especialmente as que eram casadas com trabalhadores da classe operária, sentiam na pele a solidão. Para Marilda Porto esse sentimento não existiu. “Formamos uma família com todos os funcionários que vieram de várias partes do país. No dia da inauguração de Brasília não fomos no Palácio [do Planalto] dançar. Não tínhamos condições de mandar fazer um vestido. Comemoramos no nosso ‘barraquinho’, cantando, tocando”, enaltece. [Olho texto=”No dia da inauguração de Brasília não fomos no Palácio (do Planalto) dançar. Não tínhamos condições de mandar fazer um vestido. Comemoramos no nosso barraquinho, cantando, tocando” assinatura=”Marilda Porto ” esquerda_direita_centro=”direita”] Elvira Barney concorda com Marilda. “Havia uma grande cordialidade e entrosamento. Uma ajudava a outra. Se tinha uma festa você não precisava convidar muita gente porque um chamava o outro e ninguém se incomodava. Todo mundo era sozinho e não tinha nada para fazer”. Esquecimento Pesquisadora das memórias femininas da construção de Brasília, Navarro destaca que o papel das mulheres foi menosprezado pela história ao longo do tempo. “Isso ocorre devido a construção social que vivemos até hoje. No final da década de 50 quase não era permitido mulheres ocuparem espaços públicos, trabalharem”, comenta. Ela cita a trajetória de Mercedes Parada, desenhista que veio do interior de Goiás acompanhar o marido, o engenheiro Joffre Parada. “Ela participou diretamente na elaboração dos mapas de Brasília, mas nos registros foi esquecida. É uma injustiça histórica”, constata. A coordenadora do Ipam ressalta que as pioneiras de Brasília estavam muito à frente de seu tempo e que foram essenciais no processo de construção da nova capital da República. “Foram desprendidas ao aceitaram o desafio de vir para uma cidade que ainda estava sendo construída. O apoio delas aos trabalhadores foi fundamental para que sobrevivessem em um local que não tinha conforto, lazer. Geralmente todos vinham de regiões pequenas das quais todos conheciam vizinhos e aqui tiveram que construir as relações com o tempo”.

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Brasília, uma história de amor de Ernesto Silva

O pioneiro sempre foi um apaixonado pela ideia de construir a nova capital federal / Foto: Divulgação Quando colocou os pés no solo vermelho do Cerrado pela primeira vez, Ernesto Silva já antevia a descoberta. Em fevereiro de 1955, ele sentiu – e relatou, em publicações – que o espaço mais alto no centro do país era ideal para a construção da nova capital. Médico, militar e grande entusiasta da fundação da cidade,  Ernesto é um importante personagem da história de Brasília. O homem franzino, que ostentava certa barriga protuberante, dirigiu a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e, até seus últimos dias de vida, foi um combativo defensor da cidade. Carioca, Ernesto passou quase dois terços da vida no DF. Morou em um dos primeiros prédios construídos na Asa Sul, sob as árvores que viu crescer, e ali ficou até fevereiro de 2010, quando, aos 95 anos, faleceu. Ao longo da trajetória, o pioneiro, que se intitulava militante da esperança, foi fiscal da história que ajudou a escrever. “Era impressionante”, lembra Sônia Souto Silva, 81, sua terceira companheira, ao lado de quem ele passou os últimos 15 anos de vida. “Se tivesse alguém que gostasse mais de alguma coisa na vida, era o Ernesto com esta cidade.” Sônia Souto Silva, a terceira e última companheira do médico: “Se tivesse alguém que gostasse mais de alguma coisa na vida, era o Ernesto com esta cidade.”/ Foto: Renato Araújo/Agência Brasília Nas ruas, ele velava os feitos. Certa vez, conta a viúva, o pioneiro desceu do prédio para brigar com policiais que haviam estacionado sobre a calçada. “Vocês sabem como foi difícil construir essa cidade para virem quebrar tudo?”, questionou o médico, enfrentando as autoridades. Ernesto exigia cuidado. “Me emociono de saber da capacidade, vitalidade, dedicação e amor dele por Brasília”, revela Sônia.   Construindo história Familiares, contemporâneos e historiadores são unânimes em dizer que Brasília era a grande paixão da vida do médico, ideia que ele não se cansava de confirmar. Em entrevista ao Arquivo Público em 2007, ele disse: “Nós construímos a capital inteira de dentro do Cerrado. Sem coisa nenhuma, sem computador, sem fax, sem uma porção de coisas. É por isso que o povo e as autoridades daqui devem reconhecer a dificuldade, o sacrifício de milhares de pessoas. Então, você precisa respeitar essa cidade, preservar essa cidade, porque senão nós não temos história”. A viúva conta que tamanho entusiasmo custou a Ernesto os primeiros casamentos. O primeiro teria terminado porque a esposa não queria se mudar do Rio de Janeiro para a capital. Por sua vez, a segunda companheira nutria um desejo de voltar às terras cariocas, o que teria prejudicado a relação. A terceira diz que nunca pensou em mudar. “Não correria esse risco”, brinca. Ao lado da ex-professora, ele viveu por 15 anos, até partir, por complicações de uma pneumonia,  após seis meses internado. E deixou registrado um pedido: que jamais fosse enterrado fora dos limites do quadradinho. [Olho texto=”Nós construímos a capital inteira de dentro do Cerrado. Sem coisa nenhuma, sem computador, sem fax, sem uma porção de coisas. É por isso que o povo e as autoridades daqui devem reconhecer a dificuldade, o sacrifício de milhares de pessoas. Então, você precisa respeitar essa cidade, preservar essa cidade, porque senão nós não temos história.” assinatura=”Ernesto Silva” esquerda_direita_centro=”direita”] O historiador Elias Manoel, gerente de Difusão do Arquivo Público do Distrito Federal, reforça a teoria de que a relação com Brasília tenha influenciado os dois primeiros casamentos de Ernesto. “Ele nunca disse explicitamente, mas o envolvimento dele era tão absurdamente grande que se pode relacionar [ao fato de os casamentos terem fracassado]”, avalia. “A dedicação exclusiva que deu para a criação de Brasília teve seus danos colaterais para sua vida pessoal.” Ritmo de samba Conhecidos de Ernesto dizem que ele era sério, mas também sabia ser brincalhão. Bem-humorado, dançava de mãos erguidas. Gostava de samba e de música clássica. Torcia ferozmente pelo Fluminense, clube carioca do qual chegou a ser sócio. Tinha disposição e saúde invejáveis. Não tomava remédios e nunca fez exercícios. “Ele dizia que só tinha alergia à burrice”, conta Sônia. Em entrevista ao Arquivo Público, ele revelou a fórmula para viver mais: “Coma pouco, trabalhe, tenha autoestima e compaixão”. O médico mineiro Célio Menicucci, de 87 anos, conheceu Ernesto em 1958. Os dois se tornaram amigos em pouco tempo. Testemunha da história do pioneiro, ele conta que a casa de Ernesto era ponto de encontro dos camaradas. “Sempre tinha cantoria. Ele gostava de Noel Rosa e eu aproveitava para cantar. Ernesto foi muito divertido e alegre, mas também um baixinho que adorava uma guerra”, rememora. O jornalista Jarbas Marques teve seu primeiro contato com o pioneiro quando veio cobrir a construção da nova capital do Brasil, em 1959. “Em 30 anos, fizemos juntos 300 palestras”, conta. “Ele ligava pra mim de manhã cedo e perguntava sobre a agenda. Botei ele pra cantar samba nos 50 anos do Catetinho com a primeira cantora de Brasília, Glória Maria.” Jarbas lembra outra característica do pioneiro: “Tinha tara por bacalhau.” Orgulhoso de fazer parte da história da cidade, Ernesto Silva fundou a Associação dos Candangos Pioneiros, na qual teve participação ativa até o fim de seus dias. Funcionários da entidade contam que sua passagem nunca era despercebida e que ele costumava distribuir abraços na chegada. “Pioneiro do Antes” Carioca de Vila Isabel, Ernesto Silva nasceu em 17 de setembro de 1914 – no horóscopo chinês, o ano do tigre, animal que ama a ação. Com sete irmãos, tinha o sonho de ser médico, mas a família não conseguia custear o curso. Em 1933, formou-se em ciências e letras. Três anos depois, tornou-se oficial do Exército, chegou ao posto de coronel e serviu no Ministério da Guerra, onde se aproximou de marechal José Pessoa, outro protagonista da história da capital. Em 1936, formou-se em veterinária pelo Exército e concluiu o curso de medicina dez anos depois, com especialização em pediatria. [Olho texto=”Não fosse por ele, Brasília não teria sido inaugurada três anos e dez meses depois do início das obras.” assinatura=”Elias Manoel, historiador” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Ele é chamado de “Pioneiro do Antes” porque sua história com Brasília é anterior à aprovação oficial ao projeto da nova capital. Já o historiador Elias Manoel o considera o “Adão de Brasília”, e explica: “Chegou quando o paraíso ainda não existia”. Ernesto, conta, foi protagonista da concepção e construção da capital: elaborou o edital do concurso de projetos vencido por Lucio Costa, viabilizou a demarcação do território e desapropriação e deixou tudo pronto para que o projeto saísse do papel. “Não fosse por ele, Brasília não teria sido inaugurada três anos e dez meses depois do início das obras”, analisa o historiador. O historiador Elias Silva considera Ernesto o “Adão de Brasília” / Foto: Lucio Bernardo Jr/Agência Brasília Presença marcante No currículo, Ernesto teve ainda registrados os cargos de secretário da Comissão de Localização da Nova Capital do Brasil (1953-1955) e de presidente da Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal (1956). Também foi o primeiro diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), onde ficou responsável pelo Departamento de Saúde e Educação. Era fluente em inglês, espanhol e francês e ainda “arranhava” o alemão. Foi responsável pelo planejamento e implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) de Brasília e organizou a construção do primeiro hospital distrital (atual Instituto Hospital de Base). Além disso, conseguiu que Lucio Costa alterasse o projeto original da cidade para incluir o modelo de escolas parque, proposto pelo educador Anísio Teixeira para organizar o ensino básico no Brasil. Quatro meses após a cremação de seu corpo, Ernesto Silva teve o acervo doado pela viúva, Sônia, ao Arquivo Público. Em 2010, amigos pioneiros imortalizaram a imagem do pioneiro com a instalação de um busto de bronze no lugar onde Juscelino Kubitscheck tomou um café no Planalto Central pela primeira vez – atualmente, o Country Club. Ernesto, entre as professoras da Escola Parque 303 Sul, a primeira a ser criada nesse molde idealizado por Anísio Teixeira / Foto: Divulgação  

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O comandante da construção de Brasília

Pioneiro, primeiro presidente da Novacap e primeiro prefeito de Brasília, Israel Pinheiro inspeciona as obras do Palácio da Alvorada. Foto: Arquivo Público Brasília ainda era um descampado de terra e mato no coração do Planalto Central, quando um grupo de japoneses chegou à região, no final de 1956, com a pretensão de desenvolver no lugar, granjas e pomares. Conhecidos pela habilidade no manejo da terra e especialistas em assuntos agrários, os orientais olharam tudo e ficaram preocupados com a aspereza e baixa fertilidade do solo. Um jornalista que acompanhava a turma levou a questão a Israel Pinheiro – o primeiro presidente da Novacap e, também, o primeiro prefeito de Brasília – que fulminou: – Uai! Se fosse boa, pra que japonês?! Pouco tempo depois, em agosto de 1957, o primeiro núcleo de imigrantes japoneses se instalaria no DF. O episódio, exemplar, dá a medida certa da personalidade de um homem prático e enérgico que foi determinante na realização do sonho de JK de construir a nova capital do país. A ponto de todos aqueles que conhecem de perto essa grande epopeia do Brasil moderno serem unânimes em dizer: sem Israel Pinheiro, Brasília não existiria. “Ele brigou com Lucio Costa, com Oscar Niemeyer, com Bernardo Sayão, com tudo e todos, para cumprir a promessa de inaugurar Brasília em 21 de abril de 1960”, lembra a jornalista Conceição Freitas. Autora do livro “Bravos Candangos” e grande entusiasta da história de nossa cidade, ela destaca o estilo severo e íntegro do pioneiro. “Foi o feitor, o comandante, o manda-chuva, o executivo. Era duro, até onde se sabe honesto, não gostava de jornalista e menos ainda dos muitos pedidos de benevolências”, conta. Honesto era mesmo. Certa vez, um empresário da construção civil, bastante empolgado por ter ganhado concorrência de uma obra na cidade, tentou lhe agradar com um “presentinho”, ao que foi severamente repreendido. “O senhor me sai daqui e leve esse embrulho para casa senão vai perder a concorrência”, esbravejou. Pioneiro madrugador Mineiro de Caeté, nascido no final do século 19, Israel Pinheiro era o braço direito de JK, “cabra” de confiança do presidente para assuntos de obras e política. Formado em engenharia pela Escola de Minas de Ouro Preto, com especialização em siderurgia, acalentava, junto com o chefe, o desejo de transferir a capital do país para o interior. Aliás, quando ambos eram deputados federais por Minas Gerais, nos anos 40 e 50, queriam e brigaram para vê-la cravada no Triângulo Mineiro. A ideia não vingou. “Meu filho, que sorte nós tivemos, eu ter perdido aquela luta na Constituinte, que aqui é muito melhor do que o Triângulo Mineiro”, confidenciaria, algum tempo depois, ao filho, assim como o pai, também Israel Pinheiro. Por sina, competência ou espírito voluntário, antes e depois da construção da nova capital, Israel Pinheiro habituou-se, na vida pública, a ser pioneiro em tudo. No início dos anos 40, por exemplo, designado por Getúlio Vargas a constituir a Companhia Vale do Rio Doce, seria o primeiro presidente da empresa. Em Brasília, foi o número um na construção da cidade e dos primeiros que aqui chegaram, fazendo questão de pilotar, para cima e para baixo, uma Rural Willys que trazia estampada em destaque, no para-brisa, papel colado com o algarismo 1. Natural que fosse, dada às circunstâncias, o primeiro presidente da Novacap e, também, o primeiro prefeito de Brasília. “Dr. Israel foi um dos primeiros a chegar a Brasília, se hospedando num dos quartos do Catetinho com a (mulher) D. Coracy. Depois eles foram para a Granja do Ipê. Era muito religioso e caseiro”, recorda o cearense Adirson Vasconcelos, que aqui chegou em maio de 1957, com a missão de cobrir o início das obras da capital, simbolizada pela Missa Campal, então realizada na Praça do Cruzeiro. Veio e ficou. “Não era um homem fácil de lidar, de pouca conversa, quem nos salvava era o Dr. Chagas, seu chefe de gabinete, um sujeito muito diplomático”, conta. Incansável Madrugador incansável, todos os dias, das 6h da manhã, às 20h da noite, era visto correndo os canteiros de obras, dando ordens, checando, delegando serviço aos milhares de trabalhadores que, em novembro de 1956, formavam um pequeno batalhão de 232 homens, chegando a cerca de 3 mil operários, em 1957, com mais de 200 máquinas correndo em ritmo frenético. Era temido e respeitado pela “peaõzada”. Se existia uma coisa que Israel Pinheiro odiava era burocracia. “Ele não parava. A coisa mais rara de se ver era ele no escritório da Novacap, que na época, ficava na Candangolândia”, volta no tempo, o jornalista pioneiro Adirson Vasconcelos. Uma imagem clássica dos primeiros dias de vida de Brasília, registradas pelo francês Jean Manzon, que corre o mundo, é a de Israel Pinheiro e Juscelino Kubistchek perambulando juntos por entre os primeiros prédios da Esplanada. Era uma prova, mais do que concreta, de que Brasília estava acontecendo, o sonho se tornava realidade. Devoto de Dom Bosco, queria porque queria que o religioso, protagonista de uma das lendas mais famosas em torno da criação da cidade, fosse o padroeiro de Brasília. Mas acontece que Juscelino Kubistchek, outro religioso empedernido, tinha planos para Nossa Senhora Aparecida. De qualquer forma, ergueu um santuário ao seu protetor, onde, volta e meia, aparecia para lhe dar broncas. “Quem me contou isso foi o seu motorista. Um dia eles estavam na Ermida Dom Bosco e o escutou ralhando duramente com o santo porque ele não tinha ajudado com o asfalto ou a entrega de determinada obra. Coisas de Dr. Israel”, diverte-se Adirson Vasconcelos. Pioneiro subestimado Mas há quem disse e diga que a história foi injusta com Israel Pinheiro, relegando o grande comandante da construção de Brasília a mero papel de coadjuvante entre os principais pioneiros dessa cidade modernista e inspiradora. Oscar Niemeyer mesmo, “que vestiu as áreas e escalas traçadas por Lucio Costa com sua arquitetura”, foi um dos que reclamaram o reconhecimento devido ao amigo. “Às vezes eu acho que se fala pouco sobre o Israel Pinheiro. Ele foi importantíssimo. Sem ele, Brasília não seria feita. Era um sujeito empreendedor, ativo, que se dedicou à Brasília, inteiramente, honesto. Foi fantástico”, disse o arquiteto numa entrevista à TV Senado. O polêmico dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues também atesta a importância de Israel Pinheiro. “Desde Brasília, foi talvez o homem público mais caluniado deste país. E o dramático é que ele era, a um só tempo, célebre e desconhecido”, constatou numa crônica publicada no jornal O Globo, um dia depois da morte de Israel Pinheiro, em julho de 1973. Reconhecido ou não, lembrado ou esquecido, uma coisa Brasília e seus moradores, pioneiros ou contemporâneos, jamais poderão e conseguirão fazer. Apagar da poeira vermelha do cerrado os rastros deixados pelo homem que era sinônimo de trabalho e tanto fez pela cidade.

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Esboços para a capital desde 1927

A Brasília de Lucio Costa, o projeto vencedor | Fotos: reprodução livro Projetos para Brasília: 1927 – 1957 O plano urbanístico feito por Lucio Costa e pelos outros arquitetos que concorreram ao concurso do Plano Piloto de Brasília na década de 1950 não se constituiu nos primeiros desenhos feitos para a futura capital que seria construída no interior do país. Muito antes de Juscelino Kubitschek ou do famoso comício em Jataí (GO), quando o candidato à Presidência da República se comprometeu a construir a nova capital caso eleito, engenheiros, historicistas, agentes imobiliários e até deputados vislumbravam que o futuro do país seria no Planalto Central e esboçavam desenhos para uma cidade ideal que seria a capital federal do país. “A partir do momento em que a Comissão Exploradora do Planalto Central vem pra cá em 1894, começam as especulações de como seria a capital”, explica a arquiteta Angelina Nardelli Quaglia, que estuda a história de Brasília há 14 anos. Foram 32 propostas urbanísticas feitas em 30 anos, de 1927 a 1957. Atualmente, 25 delas estão registradas no livro Projetos para Brasília: 1927 – 1957, escrito por Jeferson Tavares em 2014. No livro, Jeferson Tavares analisa os projetos, identifica os autores, os principais colaboradores e suas possíveis referências e matrizes urbanísticas. “É possível identificar em todos os projetos para a nova capital o reflexo dos anseios de uma geração. Os planos para Brasília construíram-se por meio das mais inusitadas referências e com a finalidade de conceber um projeto ideal que se moldasse à especificidade de uma cidade administrativa”, relata. Os projetos são divididos em dois grupos: os elaborados nas décadas de 1920 e 1940 (cinco projetos) e os do Concurso do Plano Piloto (criados em 1956 e 1957). As primeiras propostas urbanísticas para Brasília vinculam-se aos interesses imobiliários despertados na região onde viria a ser erguida a nova capital. As últimas propostas foram feitas por profissionais e já carregam aspectos urbanos de uma cidade. Planópolis – 1927 Nas comemorações do Centenário da Independência, em 1922, o presidente Epitácio Pessoa autorizou a colocação da Pedra Fundamental da Nova Capital como atitude simbólica de sua inauguração. Apesar das comemorações não terem resultado em soluções práticas para a transferência, houve valorização das terras da região, principalmente aquelas próximas a Planaltina, cidade que já existia. O projeto é de 1927 e não tem autor identificado. Trata-se de parte de um registro de imóveis de lotes em Planaltina. O loteamento chamava-se Planópolis e foi feito por interessados nos possíveis lucros com a venda das terras, sem nenhuma ligação com o interesse público. A Cidade Histórica da América – 1929 A segunda proposta é de 1929 e foi elaborada pelo brasilianista Theodoro Figueira de Almeida como parte das comemorações do centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Foi publicada no ano seguinte no jornal A Ordem, do Rio de Janeiro. Com o título Brasília, a cidade histórica da América, o projeto lembra o casco de uma tartaruga. A Brasília de 1929 tem uma trama urbana quadriculada, com grandes avenidas que terminam em grandes praças, e toda a cidade é contornada por grandes alamedas e estradas. Em formato circular, previa uma cidade que começava com uma praça (chamada de Praça da República), de onde partem as principais malhas ortogonais e diagonais. A cidade termina em uma grande avenida perimetral. O desenho incorpora a forma tradicional de cidade fechada, com grandes eixos monumentais e uma malha diagonal sobrepondo-se à malha reticulada. “Lembra Belo Horizonte, que é do final do século 19, quando predominava esse desenho fechado influenciado por Washington e os desenhos clássicos de Versalhes, São Petesburgo, Carlsburg, feitos do período absolutista”, afirma o arquiteto e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Córdova Coutinho. Carmen Portinho – 1936 Em 1936, a engenheira Carmen Portinho apresentou um projeto para a nova capital à Universidade do Distrito Federal para obtenção do título de urbanista. Avançado ao pensamento nacional de planejamento urbano da década de 1930, esse material sintetiza as principais teorias do período, adequando-as às condições brasileiras. Define um modelo de cidade moderna, ao confluir o racionalismo técnico às adaptações nacionais. O desenho de Carmen lembra um transatlântico e teria de ser construído em um território maior que um avião — ela planejou uma capital para 2 milhões de habitantes. Os edifícios localizavam-se bem próximos às nascentes dos rios existentes, afluentes do Paranoá, estabelecendo – entre todos os projetos – a relação de maior proximidade com o potencial hidrográfico da região. O transatlântico projetado pela engenheira era setorizado de acordo com usos e densidades específicas. Zonas residenciais, centro de negócios, centro cívico, centro cultural, parques, zona de transporte, setor de hotéis e embaixadas e zona industrial. “É um projeto mais elaborado, de uma época em que havia um grande debate sobre o urbanismo com influência do Le Corbusier. Já havia uma teoria do urbanismo que influenciava muito essa relação com o lado de fora da cidade e buscando uma informalidade relativa com outros critérios de organização”, afirma o professor Coutinho. Jales Machado – 1948 O projeto de 1948, do deputado federal Jales Machado de Siqueira, não é exatamente um esboço de cidade. É uma proposta de malha rodoviária ligando todo o país à capital federal, quando ela fosse construída. Mineiro radicado em Goiás, deputado federal pela UDN, topógrafo, fazendeiro, construtor de usinas hidrelétricas, Jales Machado esboçou um extenso plano viário, com vias perimetrais e radiais, e propunha meios de conseguir recursos para as obras rodoviárias e de construção da cidade a partir da combinação de capital público e privado. Ele usou a proposta em um pronunciamento a favor da transferência da capital federal para o Planalto Central. Na época, discutia-se no Brasil a necessidade do planejamento territorial como forma de promover e controlar o crescimento das regiões. Com o entrelaçamento viário, ele mostrava que a cidade não ficaria isolada do restante do Brasil, como temiam os que se opunham à ideia. Vera Cruz – 1955 Elaborado a pedido do marechal José Pessoa, presidente da Comissão de Localização da Nova Capital do Brasil, menos de um ano antes da publicação do edital que lançou o concurso para a escolha do Plano Piloto de Brasília. Foi feito por três dos mais respeitáveis engenheiros brasileiros da época, Raul Penna Firme, Roberto Lacombe e José de Oliveira Reis, em um “Estudo Preliminar para a cidade de Vera Cruz, futura capital do Brasil”. O projeto comprovou a viabilidade de implantação de uma cidade no Planalto Central e é a primeira iniciativa concreta de planejamento da cidade promovida pelo governo federal. Ao mesmo tempo em que encerra as fases de proposições particularizadas, inicia o processo oficial da concepção de Brasília. Para arquitetos e urbanistas, o projeto lembra Brasília: já tem o cruzamento de duas vias e áreas reservadas para o centro governamental, centro cívico e parques. Mas as quadras seguem planejadas em espécies de quadradinhos. “É uma malha romana, uma quadrícula, que é a forma de projetar uma cidade em quarteirões convencionais, como faziam os romanos, os espanhóis e portugueses”, analisa a arquiteta Angelina Nardelli Quaglia. Concurso do Plano Piloto Juscelino Kubitschek toma posse em 1956 com a promessa de construir a capital. O presidente, que já havia trabalhado com Oscar Niemeyer em Belo Horizonte, queria que o arquiteto fizesse o projeto da capital, que deveria ser moderno. Mas, com a alegação de que não era urbanista, Niemeyer sugeriu a realização do concurso, cujo edital foi lançado em 30 de setembro de 1956. O edital dava aos participantes o mapa do Planalto Central com previsão da existência do lago Paranoá e a localização da pista do aeroporto, do Palácio da Alvorada e do Brasília Palace. No total, 62 concorrentes se inscreveram, mas apenas 26 equipes entregaram o projeto.  A maioria dos projetos foi feita em grupo ou por arquitetos ligados a construtoras. Lucio Costa, do Projeto 22, se escreveu sozinho, e arquitetos contam que ele, com a ajuda da filha Maria Elisa Costa, entregou a proposta em cima da hora. Ele é anunciado vencedor do concurso em 16 de março de 1957. O Memorial do projeto de Lucio Costa está dividido em 23 pontos e apresenta ilustrações em croquis, além de um mapa completo com o plano da cidade. O júri fez pequenas críticas a Lucio Costa, como a demasiada quantidade de terra entre o centro governamental e o lago, o fato de a cidade ficar muito próxima ao aeroporto e a não especificação do tipo de estradas regionais, especialmente com relação a possíveis cidades-satélites. Mas ele recebeu elogios por ser claro, direto e fundamentalmente simples, por ter o espírito do século 20: ser novo, livre e aberto, disciplinado, sem ser rígido e por ser facilmente compreendido. “O projeto de Lucio Costa ganhou porque era o que melhor solucionava as necessidades do governo. Ele era moderno, inusitado, trazia a monumentalidade, dividia muito bem a cidade e, além disso, o memorial é belíssimo. O texto dele justifica, sem muita frescura, todas as coisas que ele quer para a cidade”, diz Angelina Nardelli Quaglia. “O dele era o melhor projeto, o que melhor conciliava os aspectos funcionais, os aspectos cívicos da capital do país, com os estéticos. Havia outros projetos muito bons, mas o do Lucio é excelente” elogia Coutinho. [Olho texto=”Não pretendia competir e, na verdade, não concorro — apenas me desvencilho de uma solução possível, que não foi procurada, mas surgiu, por assim dizer, já pronta” assinatura=”Lucio Costa” esquerda_direita_centro=”centro”]  

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Uma cidade sonhada por dois séculos

Pedra Fundamental da nova capital colocada próximo a Planaltina em 7 de setembro de 1922 – um marco para a concretização da interiorização da capital Foto: Vinícius de Melo / Agência Brasília Brasília completa 59 anos, mas, pela história, poderia ter facilmente 268 anos. Sonhada por mais de dois séculos, a criação de uma nova capital no interior do país é defendida desde o período colonial. No início,o objetivo era proteger a colônia de invasões que poderiam vir do litoral. Com o passar dos anos, a tese passou a ser o desenvolvimento do interior do país. Muitas idas e vindas, vontades políticas distintas, mudanças de governo até a construção da capital se  transformar em metassíntese do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e sair do papel. “A transferência da capital para o interior do país não ocorreu bruscamente, tampouco gozou de unanimidade. Foi um lento processo em que poucos acreditaram e, desses, uma porcentagem ainda menor o defendeu publicamente”, afirma Jeferson Tavares, autor do livro Projetos para Brasília: 1927 – 1957, que conta a história da transferência da capital e dos projetos feitos para Brasília. “Não tardaram as vozes contra essas ações, denominando-as de loucas e insanas”, completa. É atribuída ao Marques de Pombal a ideia mais antiga que se conhece de transferir a capital do Brasil para o interior. Em 1751, ele contratou um cartógrafo italiano que elaborou a carta geográfica de Goiás e ressaltou o valor estratégico do Planalto Central. Anos depois, em 1789, os inconfidentes mineiros queriam transferir a capital para São João Del Rey, em Minas Gerais, com a alegação de vantagem estratégica (segurança) e demográfica (povoamento do interior). Com a proclamação da Independência e a Assembleia Constituinte, José Bonifácio foi mais uma voz a defender a mudança. Ele chegou a sugerir o nome Petrópolis (cidade de Pedro) ou Brasília para a nova capital, que seria erguida na comarca de Paracatu do Príncipe, Minas Gerais. A Constituição de 1824, porém, não incorporou a tese da interiorização da capital. Foi apenas com a Constituição de 1891 que surgiu o primeiro marco legal para a interiorização: em seu artigo 3º, a lei reservou à União uma área com 14.400 quilômetros quadrados no Planalto Central, que seria oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital Federal. “Sempre se falava em ir para o interior, por causa da vulnerabilidade do litoral. Mas não havia nenhum estatuto legal até então”, conta o historiador do Arquivo Público do DF, Elias Manoel da Silva. Comissão Cruls Floriano Peixoto, o primeiro presidente da República, criou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil em 1892. Presidida por Luiz Cruls e formada por 22 expedicionários, eles passaram sete meses no Planalto Central e delimitaram o quadrilátero de 14.400 km² conforme determinava a Constituição. Dois anos depois, Luiz Cruls publica o relatório da expedição e, graças ao sucesso da missão, o presidente envia uma segunda comissão ao Planalto Central, que estudou a área demarcada e especificou o melhor lugar para a construção da cidade: entre os córregos Gama e Torto, onde hoje está Brasília. Comissão Cruls, formada por 22 expedicionários, passou sete meses no Planalto Central e delimitou o quadrilátero de 14.400 km² para o Distrito Federal Foto: Arquivo Público do DF “Estava tudo pronto para começar a construir a capital, mas o governo de Floriano Peixoto chegou ao fim e seu sucessor, Prudente de Morais, paulista, não queria a mudança da capital, como seus conterrâneos”, lembra o historiador. “Propuseram a reforma do Rio de Janeiro, Prudente de Moraes cortou as verbas da comissão de estudos da nova capital e a ideia morreu por aí”, explica Elias Manoel. Mais cem anos se passaram até que, no Centenário da Independência, em 1922, deputados mudancistas voltaram a falar da transferência da capital. Eles defendiam que as ideias da Constituição fossem resgatadas e fizeram um projeto de lei para que uma pedra fundamental fosse colocada dentro do quadrilátero reservado ao futuro Distrito Federal. No dia 7 de setembro de 1922, ao meio dia, a pedra fundamental da nova capital é assentada próximo a Planaltina – um marco para a concretização das aspirações para a interiorização da capital. A Constituição de 1934 volta a prever a transferência para o ponto central do Brasil, mas apenas em 1946, com a quarta Constituição Republicana, a lei volta a representar ação prática para a mudança: o presidente Eurico Dutra nomeia um novo grupo técnico para realizar estudos de localização. Liderada por Djalma Polli Coelho, a comissão indica o mesmo território apontado por Luiz Cruls. O relatório da comissão Djalma Polli é enviado ao Congresso Nacional em 1948, mas só é aprovado em 1953. Um projeto de lei autoriza o governo a definir o sítio da nova capital e Getúlio Vargas cria uma Comissão de Planejamento da Mudança da Capital Federal. Um ano depois, com assessoria de empresas de foto análise e foto interpretação, a delegação indica os cinco melhores sítios para ser construída a nova capital e o governo enfim escolhe o Sítio Castanho como local exato para a construção da nova capital. JK Neste momento, a história da transferência cruza-se com a de Juscelino Kubitschek, então candidato à Presidência da República. Em 4 de abril de 1955, em um comício na cidade de Jataí (GO), JK é questionado se cumpriria a Constituição e faria a transferência da capital caso fosse eleito. “Quero confessar que até aquele instante não havia fixado, com a devida atenção, o problema da mudança. Mas tive que responder de pronto à pergunta”, escreveu Juscelino mais tardeCom a eleição de JK, a construção da capital começa a se tornar realidade. Em setembro de 1956, é sancionada a lei que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e deu o nome de Brasília à capital. As obras começaram em outubro daquele ano e, depois de três anos e meio, Brasília é inaugurada em uma festa que durou quase dois dias. As obras de Brasília começaram em outubro de 1956 e ficaram prontas depois de três anos e meio Foto: Arquivo Público do DF “São dois séculos de história, mas faltou vontade política em outros momentos e um cara ousado como foi JK”, afirma Elias Manoel. “Mas Juscelino só pôde construir a capital em um único governo porque, quando assume a presidência, o Distrito Federal já está delimitado, o local escolhido e desapropriado. Todos os trabalhos da comissão foram passados para a Novacap”, opina o historiador. Sonho de Dom Bosco [Olho texto=”Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse, então, uma voz repetidamente: – Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível” assinatura=”Dom Bosco” esquerda_direita_centro=”centro”] Os livros de história contam que a fundação de Brasília teria sido até mesmo profetizada por um santo. Em 1883, Dom Bosco, santo italiano fundador da Congregação dos Salesianos, teria sonhado que fazia uma viagem à América do Sul e viu um local especial ao chegar à região entre os paralelos 15° e 20°, onde, nas palavras de um anjo que o acompanhava em sua visão, apareceria “a terra prometida” e que seria “uma riqueza inconcebível”. A visão acabou sendo interpretada como uma premonição do local em que deveria ser construída a nova capital do Brasil. Mas Dom Bosco nunca viajou à América do Sul e historiadores afirmam tratar-se de uma manobra política criada por parlamentares mudancistas goianos para assegurar a construção da Capital Federal no Planalto Central brasileiro. O episódio é até apelidado de “Operação Dom Bosco” pelo jornalista e historiador Jarbas Silva Marques. “O sonho existiu, mas foi usado na década de 50 pelos goianos para justificar a construção de Brasília. Eles foram muito espertos, ressignificaram o sonho para dizer que até Deus queria Brasília. Havia uma forte oposição contra a mudança da capital, mas o povo brasileiro é muito religioso”, afirma o historiador Elias Manoel da Silva. Para a arquiteta Angelina Nardelli Quaglia, que estuda a história de Brasília há 14 anos, o sonho de Dom Bosco acabou se transformando em uma “simpática lenda”. “Alguns estudiosos atuais dizem que foi uma manipulação do sonho para fazer as pessoas acreditarem que aqui era um lugar prometido. Na época havia a necessidade de se criar essa comoção nacional, foi uma forma de convencer as pessoas”, acredita.  

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Arquivo Público adota técnica especial para conservar fotos históricas

Pela primeira vez, o Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) faz processo de conservação curativa de fotos. A técnica — que está sendo aplicada em álbum do ex-prefeito de Brasília Paulo de Tarso Santos — é usada para preservar o documento físico. O material vai compor um fundo privado do político, ainda não inaugurado, e foi recebido com resíduos de cola e fungo no verso. Equipe trabalha para retirar cola de material que vai compor fundo privado do ex-prefeito de Brasília Paulo de Tarso Santos. Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília Entregues recentemente pela família, 36 fotos, datadas de 1961, passam por cuidados. Para que o conteúdo não fosse perdido, as imagens foram digitalizadas ainda dentro do plástico em que chegaram. Por causa da cola, algumas sofreram danos. “Também tem fungo no verso. Ele continua agindo, se tiver condições, como umidade, e pode interferir na imagem [da frente]”, explica a diretora de Tratamento e Preservação da Coordenação de Arquivo Permanente do ArPDF, Tereza Eleutério. [Olho texto=”Uma cola neutra, chamada carbox metilcelulose, é aplicada no verso das fotos com a função de descolar os resíduos” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] A arquivista Valéria Colletti, gerente de Tratamento e Preservação de Acervos da mesma coordenação, aprendeu a técnica com funcionários da Coordenação Regional do Arquivo Nacional no DF. Uma cola neutra, chamada carbox metilcelulose, é aplicada no verso das fotos com a função de descolar os resíduos. “Não deixamos secar muito e passamos o bisturi. Fica como uma espécie de gelatina”, relata. A estratégia, além de curativa, é preventiva, pois, com as fotos digitalizadas, quem quiser consultar o material não precisa manuseá-lo. “É necessário manter a documentação original, e fazemos o máximo para preservar o material físico, para cultivar a informação”, acrescenta Ester Kimura, gerente de Tratamento e Preservação do Acervo Audiovisual da Coordenação de Arquivo Permanente. Além do álbum que passa pelos cuidados da equipe, cerca de 800 fotos compõem o fundo privado do ex-prefeito. [Numeralha titulo_grande=”36″ texto=”Quantidade de fotos do ex-prefeito de Brasília Paulo de Tarso Santos que passam pelo trabalho de conservação do Arquivo Público” esquerda_direita_centro=””] O trabalho de conservação por qual passam as 36 fotos tem uma particularidade que o torna ainda mais necessário. As imagens retratam a visita do ex-prefeito, com os irmãos Villas-Bôas, à região do Xingu, em Mato Grosso, e à Ilha do Bananal, no Tocantins. “Nenhuma documentação textual que recebemos fala sobre isso. Ainda estamos investigando”, conta Tereza, que também é historiadora. A previsão é que o fundo privado do ex-prefeito Paulo de Tarso Santos esteja disponível para acesso do público em fevereiro de 2017. Ele foi nomeado para prefeito de Brasília em fevereiro de 1961 pelo então presidente Jânio Quadros e exerceu a função até agosto do mesmo ano. O acervo do Arquivo Público contará com originais de ofícios, decretos, nomeações, bilhetes escritos à mão pelos presidentes Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, fotos e documentos. Edição: Marina Mercante

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Obras de arte contemporânea ficam expostas no Buriti até janeiro

Obras de artistas brasileiros, selecionados para o 1º Prêmio de Arte Contemporânea Vera Brant, estarão expostas ao público de Brasília de 24 de novembro a 5 de janeiro. A abertura da mostra ocorreu na noite desta quarta-feira (23), no Salão Branco do Palácio do Buriti, onde 20 peças entre vídeo, esculturas e pinturas ficarão montadas no período de visitação. O governador Rodrigo Rollemberg prestigiou o evento. O segundo colocado na premiação, o professor, performer e artista visual João Angelini, e o governador Rollemberg. Foto: Toninho Tavares/Agência Tavares O prêmio foi nomeado em homenagem à escritora Vera Brant, que morreu em 2014. Ela era conhecida por influenciar artistas importantes para a história de Brasília, como Athos Bulcão, Glênio Bianchetti, Bruno Giorgi e Alfredo Ceschiatti. “Uma personagem icônica na arte de Brasília”, definiu o curador Rogério Carvalho. “A escolha está diretamente relacionada à relevância de sua existência para a cultura candanga”, acrescentou. Premiação com recursos do Fundo de Apoio à Cultura O vencedor da noite foi Davi Almeida, que recebeu R$ 15 mil pela série Conduta de risco. “O edital é um canal direto para dialogar com os artistas; vejo esse processo como uma forma de lembrar que devemos fortalecer sempre um ao outro”, agradeceu o premiado. Os trabalhos do artista já foram expostos em importantes feiras e galerias de arte pelo Brasil. [Olho texto='”Ficamos muito felizes que o FAC contemple esse tipo de iniciativa, que valoriza o trabalho dos nossos artistas”‘ assinatura=”Nanãn Catalão, secretária adjunta de Cultura” esquerda_direita_centro=”esquerda”] O segundo lugar ficou com o professor, performer e artista visual João Angelini, com a obra Karma, que recebeu R$ 10 mil. O júri ainda premiou Pedro Gandra com R$ 8 mil. Ele foi selecionado com a peça Desilusão sob a lua. A secretária adjunta de Cultura, Nanãn Catalão, reforçou o processo de premiação como um formato de política pública agregador. “Ficamos muito felizes que o FAC contemple esse tipo de iniciativa, que valoriza o trabalho dos nossos artistas”, destacou. Os expositores foram escolhidos entre 210 inscritos. Cada selecionado para a mostra recebeu uma ajuda de custo no valor de R$ 750. Todos os valores foram pagos com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Ao final da visitação, três obras serão incorporadas ao acervo permanente da sede do governo de Brasília. Além dos vencedores, a exposição é composta pelas obras de: André Vilaron, Arnaldo Saldanha, César Becker, Clarice Gonçalves, Eduardo Belga, Gustavo Silvamaral, Iris Helena, João Duarte, Júlia Milward, Luiz Olivieri, Julio Lapagesse, Nina Orthof, Patricia Bagniewski, Paul Setúbal, Renato Rios, Rodrigo de Almeida Cruz, Stenio Freitas e Waleska Reuter. Homenagens durante a entrega do prêmio A noite também foi marcada pela entrega do Troféu Vera Brant, concedido à pesquisadora artística Marília Panitz, representada pela diretora executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral. O objeto de madeira é uma obra de arte criada pelo escultor e pintor mineiro Miguel Simão, e é dado a alguém que integra a cadeia produtiva das artes visuais no DF. Visitas agendadas para estudantes O projeto artístico também inclui ações educativas, desenvolvidas por meio de pesquisas e de visitas guiadas para estudantes. O programa é voltado para alunos de escolas públicas e particulares. O agendamento pode ser feito pelo telefone (61) 99326-6390 ou pelo e-mail educativoverabrant@gmail.com. Mostra do 1º Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea  De 24 de novembro a 5 de janeiro, de segunda a sexta, das 8 às 18 horas Salão Branco do Palácio do Buriti (Via N1, Praça do Buriti, Eixo Monumental) Entrada franca Agendamento de escolas: (61) 99326-6390 e educativoverabrant@gmail.com Edição: Vannildo Mendes

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Brasília celebra os 60 anos do Catetinho, a primeira casa de JK

Ao caminhar pela simples construção de madeira, a sensação do observador é de voltar para onde tudo começou. Há exatos 60 anos, era inaugurado o Catetinho, primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek na nova capital do Brasil, em construção. O governador Rodrigo Rollemberg. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília Autoridades e pessoas ligadas ao patrimônio de Brasília reuniram-se no local, nesta quinta-feira (10), para lembrar a data e saudar o rústico palácio que guarda parte da história da cidade. “É uma mistura de alegria e emoção estar nesse local. Aqui há uma energia inspiradora, bucólica”, disse o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, durante a cerimônia. “Se Juscelino era ousado por um lado, na ambição de construir Brasília, por outro era uma pessoa simples, algo que admiro como ser humano”, lembrou ele, emocionado. [Olho texto='”Se Juscelino era ousado na ambição de construir Brasília, por outro lado era uma pessoa simples, algo que admiro como ser humano”‘ assinatura=”Rodrigo Rollemberg, governador de Brasília” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Erguido em apenas dez dias, em 1956, o croqui de Oscar Niemeyer para abrigar o presidente era conhecido como Palácio de Tábuas. Era o primeiro projeto com o traço do arquiteto para a cidade. A ideia era que o presidente acompanhasse a construção de Brasília em um local no qual pudesse pernoitar. Foi lá também que Juscelino recebeu amigos e fez serestas durante aquela época. O material para a obra veio de Araxá (MG) e do Rio de Janeiro (RJ). Na inauguração, a residência recebeu esse nome em referência ao Palácio do Catete, sede do governo no Rio de Janeiro. Localizado na antiga Fazenda do Gama, na BR-040, o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em julho de 1959. Atualmente, o espaço abriga um pequeno museu, cheio de referências de época, como mobiliário, ferramentas, fotografias e ambientações originais. O prédio pode ser visitado de terça a domingo, das 9 às 17 horas, com entrada franca. Antes: Arquivo Público do Distrito Federal – 1956. Depois: Toninho Tavares/Agência Brasília O secretário de Cultura, Guilherme Reis, reforçou a importância do espaço para a cultura do DF. “Esse local respira a história de Brasília, é um prédio que está na memória de todos os brasilienses como um programa de família”, disse. Ele adiantou que 2017 será um ano de comemorações para o patrimônio cultural da cidade. “Quando for implementada, a lei orgânica da cultura nos permitirá avanços nesse aspecto. Trabalhamos para dinamizar e valorizar os equipamentos públicos”, concluiu Reis. Homenagens a Juscelino Kubitschek nos 60 anos do Catetinho A solenidade desta noite foi embalada pelo sexteto da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. No programa, obras conhecidas por fazerem parte do repertório preferido por JK, como a canção folclórica Peixe Vivo, de Carlos Mendes e Neurisvan Rocha Alencar. Os músicos também executaram temas de Chico Buarque de Holanda e do compositor clássico austríaco Amadeus Mozart para homenagear o presidente. Antes: Arquivo Público do Distrito Federal – 1956. Depois: Toninho Tavares/Agência Brasília Outra obra tocada nesta noite, Água de Beber, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, tem relação direta com o Catetinho. A dupla de compositores brasileiros ficou hospedada por dez dias no edifício, em 1959, para compor a Sinfonia da Alvorada, que seria tocada na inauguração de Brasília. A peça não foi entoada na inauguração por motivos burocráticos. No entanto, a passagem dos artistas rendeu a criação da obra-prima, inspirada em um córrego de água límpida, localizado na mata ao redor do Catetinho. “A nascente foi nomeada como Tom Jobim, para homenagear essa história”, conta o diretor do museu do Catetinho, Aurentino Ferreira Costa. De acordo com ele, 23 mil pessoas passam pelo local por ano. Também participaram do evento o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Antonio Coimbra, e a colaboradora do governo Márcia Rollemberg. Catetinho Km 0, BR-040 Visitação de terça a domingo Das 9 às 17 horas Entrada franca (61) 3338-8803 Edição: Vannildo Mendes

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Arquivo Público do DF recebe acervo de ex-prefeito de Brasília

. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília Documentos oficiais de Paulo de Tarso Santos, prefeito de Brasília de fevereiro a agosto de 1961, farão parte do acervo do Arquivo Público do Distrito Federal, no Setor de Garagens Oficiais Norte. O material, que será doado formalmente pela família na quarta-feira (25), em solenidade no Palácio do Buriti, traz a história política do advogado mineiro de 89 anos. Há um grande apanhado de notícias de jornal, pronunciamentos, redações, cartas e imagens históricas — tudo cuidadosamente colecionado por Maria Nilse da Cunha Santos, mulher do ex-prefeito. Próximo a Jânio Quadros, Paulo de Tarso Santos foi um dos articuladores da campanha vitoriosa que o elegeu presidente da República em outubro de 1960. Em fevereiro de 1961, Santos foi nomeado prefeito de Brasília, função que exerceu até agosto, mês em que Quadros renunciou ao mandato. O acervo do Arquivo Público contará com originais de ofícios, decretos, nomeações, bilhetes escritos à mão pelos presidentes Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, fotos e documentos que farão parte de uma exposição no Salão Principal do Palácio do Buriti no momento da solenidade. A superintendente do Arquivo Público, Marta Célia Bezerra Vale, conta que há ofícios de prefeitos da cidade encadernados e organizados, mas diz que não havia algo tão completo sobre um dos primeiros (Paulo de Tarso Santos foi o terceiro). “Esses documentos preencherão uma lacuna que tínhamos no registro histórico”, diz. O material, além de importante para a memória da cidade, abrirá caminhos para novas pesquisas. Para Marta, a decisão da família de doar o material é a melhor forma de manter a história viva. “A vida pública de Paulo de Tarso Santos foi muito rica, e a doação será uma forma de preservar e difundir essa trajetória”, afirma. O material estava guardado em caixas na Vila Madalena, em São Paulo (SP), aos cuidados de dois dos cinco filhos do ex-prefeito, Vasco da Cunha Santos e Paulo de Tarso da Cunha Santos. O advogado Vasco, de 63 anos, veio à cidade especialmente para deixar parte do material no Arquivo Público. “Meu pai tem muito amor por Brasília.” Gestão curta e marcante Mineiro de Araxá, o advogado Paulo de Tarso Santos começou na carreira política em 1955, como vereador da cidade de São Paulo. Em 1958, elegeu-se deputado federal. Em 1960, participou ativamente da campanha vitoriosa de Jânio Quadros à Presidência da República e assumiu a prefeitura de Brasília em 1961. Apesar de curta, a gestão de Paulo de Tarso Santos foi marcante na história da cidade. Ele foi responsável pela criação das comissões de fundação da Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília Ltda. (TCB), da Fundação Cultural e da Fundação do Serviço Social do Distrito Federal. Em julho, montou a comissão integralizadora da Companhia de Energética de Brasília (CEB). O início da urbanização da Asa Norte e do Núcleo Bandeirante também foram resultado do esforço do político. Em 1963, voltou a Brasília como ministro da Educação e Cultura, época na qual criou o Plano de Alfabetização de Adultos, coordenado por Paulo Freire. No ano seguinte, um mês após o golpe militar de 31 de março, teve o mandato e os direitos políticos suspensos por dez anos pela aplicação do Ato Institucional nº 1. Exilado, morou no Chile de dezembro de 1965 até novembro de 1970. No retorno ao Brasil, em 1971, voltou a trabalhar como advogado em São Paulo. Trabalhou na Secretaria de Educação do estado em 1983. Em 1989, foi presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e, em 1991, assumiu o cargo de diretor-presidente da Fundação Memorial da América Latina. Paulo de Tarso Santos tem 89 anos e vive em São Paulo, com a mulher. À Agência Brasília, Vasco, um dos filhos de Paulo de Tarso que, junto com o irmão Paulo de Tarso Júnior, participa da entrega oficial do acervo no Buriti, falou sobre o ex-prefeito de Brasília: Como era a relação de Paulo de Tarso Santos com a cidade? Papai tinha um entusiasmo total com Brasília. Muito católico, dizia que Dom Bosco já havia profetizado a construção da cidade. Chegamos na véspera da inauguração da capital e viemos com a cara e a coragem. Ele era muito a favor da mudança. Havia muito deputado que não queria deixar o Rio de Janeiro, mas não foi o caso [Santos era deputado federal por São Paulo na época da transferência da capital do Rio para Brasília]. E a relação da família com a capital? Nós gostávamos muito. Quando chegamos, em 1961, moramos na quadra 206 Sul, depois fomos para o Riacho Fundo. De junho de 1963 a 1964, quando meu pai voltou a Brasília como ministro da Educação e Cultura, moramos na Península dos Ministros, no Lago Sul. Pouco antes de sairmos da cidade, voltamos para o apartamento da 206 Sul. Quando meu pai chegou em casa no dia da renúncia, estava muito mal. Na época, só passava uma coisa pela minha cabeça: perder a piscina na casa do Riacho Fundo, que eu amava. Quando seu pai foi escolhido para assumir a prefeitura de Brasília? Apesar da especulação que havia de que ele seria o prefeito da cidade, Jânio só o convidou no dia em que tomou posse. Ele articulava muito no meio político, mas era um homem que não tinha apego ao poder. O importante é que essa gente realmente estava comprometida com a mudança da sociedade em favor dos mais necessitados. Essa era a prioridade. A vontade de servir era muito grande.

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