Aumento no número de transplantes de órgãos leva esperança a pacientes do DF
Quando o telefone tocou pela oitava vez, Ingrid do Carmo, 32 anos, ainda não tinha certeza, mas a sua vida mudaria a partir dali. Um novo fígado chegava. Era o órgão que diminuiria o mal-estar e as limitações, permitindo que o mundo voltasse a ser grande. “Foi um misto de alívio, medo e gratidão”, conta. “Hoje, vivo uma outra fase. Consigo pensar em fazer uma viagem, voltar a estudar, trabalhar”. Ingrid do Carmo (D) fez um transplante em dezembro do ano passado: “Depois do novo fígado, esses sintomas passaram. A equipe do ICTDF e a minha família fizeram toda a diferença. Sem eles, eu não seria nada” | Foto: Acervo pessoal Em 2021, Ingrid foi diagnosticada com hepatite autoimune e iniciou o tratamento no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Depois de dois anos, a terapia deixou de ser eficaz. “Passei a me sentir muito mal, não conseguia mais trabalhar, então fui encaminhada ao ICTDF [Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal]”, lembra. “Logo na primeira consulta, os médicos confirmaram que eu precisava de um transplante com urgência. Foi um choque”. O transplante veio no final de dezembro de 2024, e o passado foi virando o que deveria ser: memória e não presença. “Todos os dias eu vomitava”, relata Ingrid. “Vivia enjoada, sempre amarela, sempre mal. Depois do novo fígado, esses sintomas passaram. A equipe do ICTDF e a minha família fizeram toda a diferença. Sem eles, eu não seria nada. São pessoas iluminadas”. Transplantes no DF [LEIA_TAMBEM]De janeiro a junho deste ano, a Secretaria de Saúde (SES-DF) realizou 424 transplantes, um aumento de quase 4% em relação ao mesmo período do ano passado. Os procedimentos envolvem órgãos e tecidos - rim, fígado, coração, córneas, pele e medula óssea -, sendo executados em unidades como o Hospital de Base (HBDF), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e o ICTDF - este por meio de contrato com a pasta. A rede pública de saúde da capital vem se destacando - e com exclusividades no DF. O transplante de pele, por exemplo, é feito apenas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Já o de medula óssea pediátrico autólogo - no qual são utilizadas células-tronco do próprio paciente - é disponibilizado no Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). Doação No âmbito do DF, a coordenação dessas atividades é feita pela Central Estadual de Transplantes (CET-DF). Sua atuação abrange tanto a rede pública quanto a particular. Entre as responsabilidades do setor, estão gerenciamento do cadastro de potenciais receptores, recebimento das notificações de morte encefálica, promoção da organização logística da doação e captação estadual e/ou interestadual, bem como a distribuição dos órgãos e/ou tecidos removidos na capital federal. “Falta cultura de doação. A gente precisa falar mais sobre o assunto, em casa, com amigos, como quem defende o amor à vida” Isabela Rodrigues, chefe do Banco de Órgãos do DF Nesse lado do processo, há um intenso e sensível trabalho, principalmente das equipes responsáveis pela captação dos órgãos. “O momento mais difícil é a entrevista com a família que perdeu alguém”, explica a chefe do Banco de Órgãos do DF, Isabela Rodrigues. “É um instante de luto, de dor profunda. É preciso equilibrar o que deve ser feito, que é esclarecer a importância da doação, e a sensibilidade para não desrespeitar quem está sofrendo”. Apesar da distância ética que impede o contato direto com os receptores, alguns pacientes transplantados procuram a equipe para agradecer. “De vez em quando aparece alguém dizendo que só teve uma chance de viver melhor por causa daquela doação - é emocionante”, conta Isabela. Especialistas e pacientes, contudo, defendem que o sistema de transplantes precisa de consciência coletiva. “Falta cultura de doação”, lembra a gestora. “Às vezes, a pessoa queria doar, mas a família não autoriza porque nunca conversou a respeito. A gente precisa falar mais sobre o assunto, em casa, com amigos, como quem defende o amor à vida”. *Com informações da Secretaria de Saúde
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Helicóptero Sentinela transporta mais um coração para transplante
A equipe do Sentinela, helicóptero do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran) levantou voo mais uma vez, nesta sexta-feira (23), com a nobre missão de transportar um coração para salvar mais uma vida. O órgão, procedente de Maringá (PR), foi transportado da Base Aérea de Brasília para o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF). Equipe do Sentinela transportou, nesta sexta (23), um coração vindo do Paraná para transplante no ICTDF | Foto: Divulgação/Detran A equipe do Sentinela transportou 19 corações no ano de 2022. O órgão é transportado dentro de uma caixa térmica, seguindo orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em uma operação que demanda agilidade entre a retirada do órgão do doador e o implante no receptor. *Com informações do Detran-DF
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Novo contrato viabilizará mais de 100 cirurgias cardíacas por mês
[Olho texto=”“Ficamos um ano sem contrato regular com o ICTDF, com as cirurgias sendo pagas de forma emergencial. É uma vitória para todos os usuários da rede pública que agora estão com o atendimento fortalecido e ampliado”” assinatura=”Lucilene Florêncio, secretária de Saúde” esquerda_direita_centro=”direita”] Brasília, 27 de setembro de 2022 – De contrato novo assinado com o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF), a Secretaria de Saúde (SES) vai reforçar o atendimento a pacientes cardíacos na capital e também a realização de cirurgias. Com valor de R$ 186 milhões, o novo acordo tem validade de dois anos e viabilizará 80 cirurgias cardíacas adultas e 23 pediátricas por mês no local, que funciona no anexo do Hospital das Forças Armadas (HFA). “Ficamos um ano sem contrato regular com o ICTDF, com as cirurgias sendo pagas de forma emergencial. Assumimos em junho e rapidamente conseguimos resolver isso tudo”, comemora a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio. “É uma vitória para todos os usuários da rede pública que agora estão com o atendimento fortalecido e ampliado”. Segundo ela, todo o processo de contratação e elaboração da oferta do serviço foi feito em parceria com o Ministério Público e controle social. O contrato com o ICTDF vale por dois anos e vai viabilizar a realização de 80 cirurgias cardíacas adultas e 23 pediátricas por mês no local, que funciona no anexo do Hospital das Forças Armadas | Foto: Divulgação O contrato proporciona o atendimento de emergência e ambulatório de alta complexidade cardiovascular. Isso inclui também pacientes que sofrem o infarto agudo do miocárdio (IAM). “O paciente é tratado na UPA ou em um hospital regional. Se necessitar de um atendimento mais específico, ele é transferido para o instituto para realização da intervenção hemodinâmica e outros cuidados”, explica a referência técnica distrital (RTD) de cardiologia ca pasta, Rosana Costa Oliveira. Trata-se de um serviço complementar ao que já é oferecido na rede pública de saúde. Conforme lembra Rosana, os hospitais de Base e Universitário de Brasília (HUB) também executam procedimentos cirúrgicos no coração. “De fato, o ICTDF é o principal centro de cirurgias cardíacas em Brasília. Lá, se realiza uma média de 60 operações em adultos e 20 em crianças todo mês e agora deve aumentar”, revela a médica. A unidade é uma instituição privada sem fins lucrativos, administrada pela Fundação Universitária de Cardiologia (FUC). Lá também são feitos transplantes de coração e de outros órgãos, como córnea e fígado.
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Doação de órgãos: um gesto de amor e solidariedade que salva vidas
Brasília, 1º de setembro de 2022 – A vida do coordenador de projetos de telecomunicações José Gilson de Freitas, 47 anos, seria bem diferente se não fosse pela doação de um rim por parte da irmã mais nova. Portador da doença autoimune Nefropatia por IgA, que ataca o sistema renal, ele enfrentava longas sessões de hemodiálise e precisava ingerir diversos medicamentos. Com a doação, hoje, não precisa mais do tratamento e vive com muito mais qualidade. Dos mais de 2,3 mil transplantes realizados no DF nos últimos quatro anos, mais de 1,1 mil foram de córnea | Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília Tudo começou em 2012, quando José descobriu a doença e começou a travar uma batalha com a própria saúde. Anos passaram até que, em 2018, descobriu a possibilidade de receber um transplante da irmã. De início, José não quis. Achou que iria interferir negativamente na saúde da irmã, mas foi convencido sobre a segurança do protocolo para os dois lados. “No começo, você não quer aceitar porque pensa na vida da outra pessoa, no risco que ela tem durante uma cirurgia. Às vezes, também por falta de conhecimento, pensa que pode gerar um problema para a pessoa”, relembra ele. O processo de aceitação incluiu muita pesquisa e conversa com outras pessoas com a mesma experiência. “Comecei a estudar sobre o assunto e conversei com um amigo que doou o rim para a esposa. Depois que entendi que a vida deles estava muito bem, fui me tranquilizando”, comenta José. [Olho texto=”Nos últimos quatro anos, o Distrito Federal realizou 2.331 transplantes. Foram 88 de coração, 341 de fígado, 298 de rim, 1.164 de córnea e 440 de medula óssea” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] O transplante ocorreu em 27 de agosto de 2021, após um ano de espera, já que tinha sido agendado para março de 2020, mas que, devido a pandemia do novo coronavírus, foi adiado. José foi o 300º paciente transplantado do Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal. A cirurgia ocorreu conforme o planejado e, logo no dia seguinte, a doadora recebeu alta. José foi para casa alguns dias depois, com a saúde estável. Hoje, pouco mais de um ano após a cirurgia, a irmã tem uma vida normal, enquanto José vive melhor do que nunca. “Estou muito bem, a sensação é de que quando não tinha problema nenhum. Até melhor, porque passei a cuidar mais da saúde”, diz ele. José, que antes não entendia muito sobre o tema, defende que mais pessoas saibam do que se trata a doação de órgãos e tecidos e de como pode ser positivo para os dois lados, doador e paciente. “Hoje, o conhecimento dos meus filhos, da minha esposa, é de que a doação de órgãos salva vidas e salvaram a minha”, conclui. Recomeço Nos últimos quatro anos, o Distrito Federal realizou 2.331 transplantes. Foram 88 de coração, 341 de fígado, 298 de rim, 1.164 de córnea e 440 de medula óssea. Os dados foram atualizados em junho. [Olho texto=”A Central Estadual de Transplantes (CET-DF) faz a conexão entre doadores com os pacientes da lista de espera, bem como com as equipes médicas, por meio de sistema gerenciado pelo Ministério da Saúde que conecta doadores e receptores de todo o país” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Em 2019, foram 722 cirurgias. No ano seguinte, devido à pandemia do novo coronavírus, o número caiu para 521. Em 2021, o total de transplantes voltou ao patamar anterior à crise sanitária – foram registradas 713 cirurgias do tipo. Neste ano, até junho, houve 375 procedimentos. Há dois tipos de doadores: vivos e falecidos. No primeiro caso, a pessoa precisa ser maior de idade e juridicamente capaz, saudável e concordar com a doação, desde que não prejudique a própria saúde. A legislação brasileira estabelece que a doação em vida só pode ser realizada para parentes até o quarto grau e cônjuges. Em outros âmbitos, o processo deve ser autorizado judicialmente. A doação por falecimento exige autorização jurídica da família e só ocorre com pacientes que tiveram morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou derrame cerebral. No Distrito Federal, após a morte, são realizados transplantes de coração, fígado, rins, córneas e medula óssea. A rede pública de saúde oferece assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante. No DF, os procedimentos ocorrem no Hospital de Base, Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Instituto de Cardiologia do DF (ICDF). A Central Estadual de Transplantes (CET-DF) faz a conexão entre doadores com os pacientes da lista de espera, bem como com as equipes médicas, por meio de sistema gerenciado pelo Ministério da Saúde que conecta doadores e receptores de todo o país. Os pacientes que precisam de um órgão são listados conforme a compatibilidade com o doador – quanto mais compatível, mais próximo do topo da lista. A diretora da CET-DF, Daniela Salomão, explica que a pandemia do novo coronavírus atrapalhou a doação pela falta de conhecimento sobre o vírus e também pelo risco elevado de infecção | Foto: Tony Oliveira A diretora da CET-DF, Daniela Salomão, afirma que o sistema facilita o encontro entre as partes. “Existem muitas pessoas precisando de transplante, mas poucos doadores. Se não tivermos um sistema organizado e auditável para que seja justo dentro das normas técnicas existentes, teremos problemas, até porque a família que doa precisa acreditar nos critérios para a escolha do paciente e, em alguns casos, até provar judicialmente o transplante”, explica. De acordo com Daniela Salomão, a pandemia do novo coronavírus atrapalhou a doação pela falta de conhecimento sobre o vírus e também pelo risco elevado de infecção. “Restringimos os doadores e tivemos o cuidado adicional de testagem, o que aumentou a complexidade do processo de doação. O número de doadores caiu, enquanto a lista de pacientes seguiu crescendo”, completa. Mais conhecimento, mais doações A doação de órgãos, ainda em vida ou após o falecimento, precisa ser um assunto debatido coletivamente. “Na doação após a morte, quando não há essa conversa com a família, o processo é muito mais complicado. A família já está vivendo o luto e ainda tem que lidar com a decisão sem conhecer o interesse do paciente. Muitas acabam recusando a doação”, alega Daniela Salomão. Neste semestre, a campanha Setembro Verde, realizada anualmente, incentiva a conscientização sobre o tema, tendo em vista facilitar o processo em caso de necessidade. “A chance de precisarmos de um transplante é muito maior do que sermos doadores um dia. Se um dia eu precisar, gostaria que alguém me doasse. Da mesma forma, estou disposta a ajudar alguém doando também”, finaliza a especialista.
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