Brasilienses em Paris: Carla Maia e a realização de um sonho de 20 anos
Resiliência, persistência, dedicação, estratégia e muita determinação. Essas foram as palavras escolhidas por Carla Maia, 43 anos, para descrever a própria história. Jornalista, ela participou — presencialmente ou a distância — da cobertura de cinco paralimpíadas. Agora, está se preparando para ir à primeira como atleta. Será a concretização de um sonho que nasceu 20 anos antes, exatamente no berço dos Jogos Olímpicos. Desde criança apreciadora de esportes, Carla Maia se superou após um problema de saúde e, hoje, é destaque como paratleta: “Não conseguia fazer basquete ou outro esporte que precisasse mais de físico, e aí eu descobri o tênis de mesa” | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília A brasiliense conta que sempre gostou de esportes. Durante a infância, praticava ginástica artística, atletismo e dança. Aos 17 anos, teve um sangramento espontâneo na medula, que atingiu a coluna cervical e a deixou tetraplégica. Durante a reabilitação, no Hospital Sarah Kubitschek, conheceu Iranildo Espíndola — que viria a ser medalhista paralímpico no tênis de mesa. E sua história começou a mudar. “Conheci o ‘beabá’ do esporte e vi que dava para amarrar a mão, para segurar a raquete, que eu nem imaginava que era possível”, lembra. “Eu reaprendi a nadar, mas me afoguei várias vezes, não gostava. E, com a minha limitação, que é muito severa, eu não me via conseguindo fazer nada. Não conseguia fazer basquete ou outro esporte que precisasse mais de físico, e aí eu descobri o tênis de mesa.” O início Anos depois, ela precisou fazer uma entrevista para o projeto de conclusão do curso de publicidade. Nem precisou pensar muito para escolher Iranildo. “Fui entrevistá-lo e, quando cheguei lá, joguei uma partidinha com ele e o técnico Zé Ricardo viu a gente jogando, ficou louco e falou: ‘você tem que começar a jogar tênis de mesa. Você tem uma tetraplegia, então você já seria a melhor do Brasil hoje. Eu poderia até te inscrever no primeiro Parapan-Americano [da modalidade], que vai ser aqui em Brasília’”, recorda. “Começou meu sonho, ali, em 2004, de ser atleta de alto rendimento e de representar o meu país um dia numa Paralimpíada, o que eu estou realizando neste ano” A resposta foi em tom de desafio: “Até faria, mas estou sem tempo nenhum, desculpa. Mas, se você me inscrever nesse campeonato, eu venho treinar”. O treinador aceitou, e, em pouco tempo, lá estava Carla competindo. “Fui a zebra, comecei a ganhar e, quando eu vi, estava na final contra uma mexicana e eu estava com um saldo de sets acima do dela, então poderia perder por um set de diferença que eu iria ganhar o ouro e ir para as Paralimpíadas de Atenas [em 2004] como atleta”, relata. A vaga não veio e virou obsessão, descreve ela: “Aquilo me deu um ódio no coração, mas ao mesmo tempo um amor, porque aí surgiu um amor pelo tênis de mesa, e o ódio, na verdade, virou uma vontade, um desejo, um sonho, um propósito de ir para uma Paralimpíada competir. E começou meu sonho, ali, em 2004, de ser atleta de alto rendimento e de representar o meu país um dia numa Paralimpíada, o que eu estou realizando neste ano”. Trabalho “Antigamente, essas pessoas ficavam em casa, não se cuidavam, ficavam doentes… e o esporte paralímpico transformou isso” O desejo de ir a Atenas (Grécia) era tamanho que Carla afirma que viajaria nem que fosse como espectadora. Mas foi além e conseguiu cobrir os Jogos como jornalista – atuação que repetiu em Londres (Inglaterra) e no Rio de Janeiro presencialmente, e em Pequim (China) e Tóquio (Japão), como comentarista no Brasil. Não foi o bastante, porém, para dar o sonho como realizado. Por isso, Carla seguiu treinando e competindo. Só que, apesar de conseguir bons resultados, ainda faltava um quê de justiça. Os paratletas do tênis de mesa são classificados de 1 a 10, a depender do grau de mobilidade. Ela seria classe 1 — de menor mobilidade —, mas vinha disputando na classe 2. “Cada vez mais eu percebia que as atletas estavam com uma mobilidade muito diferente da minha”, relembra. “As próprias atletas da minha categoria falavam: ‘você não é 2, você é um 1, pede reclassificação’. Em 2023, eu resolvi pedir a reclassificação, fui para a Polônia, fui reclassificada, eles perceberam que eu era mesmo da categoria 1 e, a partir dali, as coisas foram fluindo mais naturalmente”. “Não desistam dos seus sonhos. Sejam resilientes, mas não teimosos. A resiliência funciona com estratégia” Fluíram até uma competição na Tailândia, na qual Carla conquistou a vaga para os Jogos Paralímpicos de Paris. As duas viagens — para Polônia e Tailândia — só foram possíveis pelo financiamento do programa Compete Brasília, do Governo do Distrito Federal (GDF). “Eu acho que o esporte paralímpico é a coisa mais inteligente que inventaram para a questão da reabilitação”, valoriza ela. “Antigamente, essas pessoas ficavam em casa, não se cuidavam, ficavam doentes… e o esporte paralímpico transformou isso”, prossegue a atleta. “As pessoas se cuidam, cuidam da saúde, viram atletas, produzem, viajam, movimentam a economia e isso é muito importante. Eu acredito que o investimento do governo no esporte, principalmente no paralímpico, não é só no esporte, mas na sociedade como um todo.” Inspiração Pronta para viajar a Paris, com a serenidade de quem alcançou um sonho, Carla sabe que vai servir de exemplo para outras pessoas: “Eu acredito muito no poder da inspiração. Assim como fui inspirada por um atleta, o Iranildo Espíndola, eu fico muito feliz de saber que eu toco as pessoas e que elas têm uma vida melhor porque, de alguma forma, eu passei algo bom para elas. E isso é muito legal”. Para essas pessoas, ela deixa um conselho: “Não desistam dos seus sonhos. Sejam resilientes, mas não teimosos. A resiliência funciona com estratégia. Realmente, eu não desisti do meu sonho, lutei muito por ele, mas eu mudei a minha estratégia, mudei de categoria, mudei a forma que eu estava treinando para conquistar essa vaga. Eu acredito que as pessoas possam ir atrás do seu potencial, dos seus sonhos, com resiliência, com estratégia e não com teimosia. Se dediquem, se esforcem, acreditem nos seus sonhos e tenham metas audaciosas. Porque, por mais que você não conquiste essa meta, no caminho vão surgindo oportunidades. e cada oportunidade é uma conquista”. E o que vem depois de alcançar um sonho de 20 anos? “Eu vou viver esse sonho, quem sabe dele não vão surgir outros?”, aponta. “Acho que a gente nunca pode parar de sonhar, porque quem não tem sonho não tem vida. Vamos viver essa experiência o máximo possível, e quem sabe ali não surge um novo propósito na minha vida? São cenas dos próximos capítulos”.
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Brasilienses em Paris: Aline Furtado superou o medo da água para conquistar vaga paralímpica
Quem vê Aline Furtado treinando com ferocidade e afinco no Lago Paranoá, nem imagina que antes de se tornar uma atleta paralímpica ela quase rejeitou o esporte por medo de encarar bichos no lago, ou muito menos que seu primeiro contato com a canoagem se deu após uma promessa de que ela iria ganhar um chocolate e uma Coca-Cola geladinha depois. Aline Furtado faz parte do grupo de 16 atletas do Distrito Federal nos Jogos Paralímpicos de Paris | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília A atleta de 41 anos é uma entre os 16 da capital federal que estarão representando o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris de 2024. A delegação brasileira vai competir entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro e é a maior já anunciada para uma edição dos Jogos fora do Brasil. Ao todo, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) convocou 254 atletas com deficiência – entre eles, 19 atletas-guia, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo, totalizando 279 competidores na capital francesa. “Brasília, se você for pensar em dimensão e número de população comparado aos outros estados, está bem à frente do Brasil. São nove atletas e há importantes apoios que fazem o esporte paradesporto brasiliense muito forte. A participação do GDF é fundamental” Paulo Salomão, treinador da Seleção Brasileira de Paracanoagem Antes de conhecer a modalidade aquática em 2021, a atleta de paracanoagem afirma nunca ter pensado em competir no esporte. Nas primeiras vezes que sentou em uma canoa canadense, Aline conta que só entrou na água para ganhar um chocolate e uma Coca-Cola. Mas bastou algumas vezes no lago para construir o amor pelo esporte. “Disseram que eu tinha um perfil competitivo e incentivaram tanto que resolvi tentar. Eu falava que era a última vez e que não ia mais voltar para a água, mas acabava sempre voltando”, recorda. A atleta destaca que o Governo do Distrito Federal (GDF) sempre esteve presente em sua trajetória. Foi com o apoio do programa Compete Brasília que ela conseguiu competir na Hungria e garantir a classificação para representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris. Aline diz nunca ter imaginado participar de uma competição desse nível, mas que o esporte encaminhou a atleta para isso. Com a proximidade de sua primeira competição nas Paralimpíadas, ela chama a torcida brasileira para acompanhá-la nas provas. “Vai chegando mais perto e vai batendo uma ansiedade e um nervosismo, mas é colocar na água tudo que a gente trabalhou para chegar até aqui. Chegou a hora de mostrar que todo mundo é brasileiro, independente da categoria e modalidade. O trabalho é duro e precisamos da torcida de vocês”, declara. Trajetória e obstáculos “O esporte tira o melhor da gente, traz igualdade, autonomia, autoconfiança e autoconhecimento”, diz Aline Furtado, que também é professora da Secretaria de Educação do DF Aos 18 anos de idade, Aline sofreu um acidente que provocou uma lesão medular. Em 2021, ela continuava no programa de reabilitação do Hospital Sarah Kubitschek, que foi onde perceberam o lado competitivo e o potencial da atleta, encaminhada a um treinador de esporte adaptado na água em Brasília. “Foi um choque grande me olhar e falar ‘você é diferente’. Sempre tentei me colocar num padrão de normalidade, mas o esporte te ensina a utilizar outras formas de funcionamento do corpo”, observa. Com humor, Aline lembra que sempre olhava para o lago como um local de abastecimento para cidade e não um lugar para lazer e esportes. Ela tinha, inclusive, medo dos bichos que poderia encontrar na água. “Quando me falaram da paracanoagem eu disse que não iria de jeito nenhum, porque no lago tinha jacaré e outras coisas que escutei em histórias da infância”, brinca. “Não queria, até que o amor pelo esporte foi construído. Ele tira o melhor da gente, traz igualdade, autonomia, autoconfiança e autoconhecimento. Foi aí que eu me apaixonei pela paracanoagem. E foi uma aceitação também, porque eu não me enxergava como deficiente por ter uma deficiência não tão perceptível. A partir do momento que entrei nesse universo, eu me vi e entendi que a inclusão não acontece somente no discurso, vai muito além”, acrescenta. Entre as dificuldades enfrentadas por Aline, está conciliar as duas profissões. Além de atleta profissional, ela também é professora da Secretaria de Educação. “Unir esses dois universos é uma dificuldade imensa, mas o GDF foi essencial na minha participação nas paralimpíadas. Além do Compete Brasília ter possibilitado a participação em competições nacionais e internacionais, a Secretaria de Educação me libera no período competitivo. Sempre há apoio nesse quesito”, pontua. Entre os melhores O presidente da Federação Brasiliense de Canoagem e treinador da Seleção Brasileira de Paracanoagem, Paulo Salomão, é o responsável por treinar Aline e também vai acompanhá-la nas Paralimpíadas de Paris. Ele lembra a determinação e o perfil competitivo que o levou a investir na atleta, que já treina com o barco do último mundial da Hungria, o mesmo que vai remar em Paris. “Ela conseguiu se classificar no mundial para Paris, deixamos as australianas para trás e ganhamos a Vale Continental. Mas há muita expectativa de evolução até o dia da prova, uma fase final de preparação que promete muita emoção. A Aline é uma das melhores que a gente tem aqui. E temos uma equipe boa, porque a canoagem, por mais que seja um esporte individual dentro da competição, é um esporte coletivo na preparação”, explica o treinador. Salomão frisa que, atualmente, Brasília tem a maior equipe de paracanoagem da América Latina, além de ser também a maior do Brasil. É também a sétima maior delegação indo para os Jogos Paralímpicos de Paris. “Fica atrás só de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, regiões muito grandes onde há o centro paralímpico. Brasília, se você for pensar em dimensão e número de população comparado aos outros estados, está bem à frente do Brasil. São nove atletas e há importantes apoios que fazem o esporte paradesporto brasiliense muito forte. E a participação do GDF é fundamental, principalmente com programas como o Compete Brasília, que possibilita irmos a eventos nacionais e internacionais já visando o ganho de experiências. Estamos evoluindo esportivamente além da possibilidade do Bolsa Atleta nacional e internacional do governo federal, que também ajuda muito”, detalha. O treinador ressalta ainda que, dentro do quadro atual do Comitê Paralímpico Brasileiro, a paracanoagem é a terceira no número de medalhas. “A gente tem bem menos provas, fica atrás de modalidades que têm muito mais categorias. Então eles têm um número de disputa maior por medalhas, mas ainda assim a gente está muito bem. Temos atletas que estão entre os dez melhores do mundo, que conseguiram vagas olímpicas para manter o nível sempre alto. A gente sempre tem que buscar objetivos mais altos”.
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Brasilienses em Paris: A menina que não queria ser atleta chega à Paralimpíada
Todo atleta ama esporte e sonha em participar de uma Olimpíada ou Paralimpíada desde cedo, certo? Bom, com a brasiliense Daniele Souza não foi bem assim. “Tem horas que passa um filme na minha cabeça, porque eu nunca imaginei chegar onde estou hoje”, diz. O lugar em que ela está hoje é a oitava colocação no ranking mundial de sua categoria no parabadminton, pronta para embarcar para os Jogos Paralímpicos de Paris. Já o início dessa trajetória remete a 12 anos atrás. Daniele Souza começou no tênis em cadeira de rodas e em duas semanas passou para o parabadminton, esporte pelo qual se apaixonou | Fotos: Matheus H. Souza/ Agência Brasília Daniele teve uma infecção hospitalar ao nascer que lhe tirou os movimentos das pernas aos 11 anos. Em 2012, aos 19, foi inscrita — um pouco a contragosto — pela mãe no Centro Olímpico e Paralímpico de Samambaia. “Eu gostava de assistir, mas não me via no esporte. Eu costumo falar que foi pela insistência da minha mãe. Na época, eu não andava sozinha, então ela me levou arrastada mesmo para o Centro Olímpico. E aí eu comecei no tênis em cadeira de rodas e, depois de duas semanas, eles me apresentaram o parabadminton”. A identificação foi instantânea. “Quando eu peguei na raquete, falei: ‘É esse o esporte’”, lembra. “Foi uma conexão surreal, até porque o professor mesmo falava que, quando ele levava os alunos para a modalidade, eles tinham muita dificuldade em rebater a peteca. Já no meu caso foi totalmente diferente, eu já estava conseguindo bater e ele ficou abismado com o meu potencial”, acrescenta. O professor era Alber Monteiro. Foi ele, aliás, o responsável por mudar a opinião de Daniele sobre ser atleta. “Eu não queria dar o braço a torcer, até porque eu não gostava, não me via naquele ambiente. E aí, no final de 2012, o professor Alber me inscreveu em uma competição, o [Campeonato] Brasiliense, e eu conquistei quatro medalhas. Aí já fiquei mais empolgada”, relata. As quatro medalhas abriram uma coleção. As mais valiosas — até agora — são um ouro e uma prata conquistados nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago, em 2023, e um bronze no Parapan de Lima, em 2019. Enquanto lutava por mais uma, em 16 de maio deste ano, durante a primeira etapa do Circuito Nacional, em Curitiba, Daniele recebeu a notícia de que seria a primeira mulher da história a representar o Brasil em Jogos Paralímpicos. “Ia ter a cerimônia de abertura. O coordenador chegou e falou: ‘Quero que você participe’. Eu, sem entender, disse: ‘Beleza’. E aí, do nada, começaram a falar de Paralimpíadas. Na minha cabeça, eu pensei: ‘Vou sair daqui, o que estou fazendo aqui? Não tem nada a ver’. Quando fui pegar minha bolsa, que eu tinha colocado no chão, chamaram meu nome. Sinto que a alma saiu do corpo. E demorou a voltar.” Exemplo Para Daniele, o apoio por meio de programas como o Bolsa Atleta e o Compete Brasília “é muito importante pelo fato de dar uma estabilidade ao atleta” Daniele afirma sentir-se honrada em ser a primeira brasileira do parabadminton em Paralimpíadas. Só que não quer ser a única. Por isso, defende o fomento governamental para a formação de novos atletas — por meio de programas como o Bolsa Atleta e o Compete Brasília, dos quais é beneficiária, além da criação e manutenção dos Centros Olímpicos e Paralímpicos, que considera sua “segunda casa”. “Esse apoio é muito importante pelo fato de dar uma estabilidade ao atleta”. Mas há que se destacar também a força do exemplo. Questionada sobre referências, Daniele cita uma belga e uma suíça. Apesar da timidez, ela reconhece o peso da própria trajetória para que as gerações futuras possam ter uma brasileira como ídolo. “Eu fico meio sem jeito com essas coisas, porque eu não sou muito acostumada. Mas muitas pessoas falam que a minha garra inspira elas”, conta. “Estar hoje aqui, próximo ao embarque para as Paralimpíadas, é gratificante e eu espero que a minha história inspire outras pessoas. Mesmo que não seja no esporte” Daniele Souza, atleta de parabadminton “Estar hoje aqui, próximo ao embarque para as Paralimpíadas, é gratificante e eu espero que a minha história inspire outras pessoas. Mesmo que não seja no esporte. Mas que isso incentive as pessoas a não desistirem dos seus sonhos, porque nada na vida é fácil. E, quando a gente quer, a gente almeja algo, e a gente busca, a gente consegue.” Para o próprio futuro, ela evita fazer planos. Quer curtir o sonho que está vivendo. “Estou focada só no agora. Com certeza depois vai vir algum projeto, alguma outra coisa; mas, por enquanto, o foco é só nas Paralimpíadas”, arremata aquela menina que nem queria ser atleta.
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Paratleta de goalball do DF disputa vaga para representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos
Há oito anos, o brasiliense nascido e criado em São Sebastião Mizael Castro conheceu o esporte que transformou completamente a vida dele: o goalball, modalidade paralímpica destinada a pessoas com deficiência visual. Na época, com apenas 16 anos, ele sequer imaginava que se tornaria um dos paratletas mais promissores do país. Hoje, aos 24 anos, ele está na disputa para ser um dos seis competidores a compor a Seleção Brasileira de Goalball que estará nos Jogos Paralímpicos 2024 em agosto em Paris, na França. Mizael Castro participa da seletiva para a definição dos seis atletas que vão representar o Brasil, na modalidade de goalball, nos Jogos Paralímpicos de Paris neste ano | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília “No começo do ano passado foram convocados 11 atletas e hoje estamos em oito, mas a seletiva ainda continua. O professor disse que ainda não tem os seis atletas definidos [que vão para Paris]. Isso me dá cada vez mais esperança para que possa estar nesse sexteto”, conta. Renato Junqueira, secretário de Esporte e Lazer, elogia o jovem. “O desempenho de Mizael Castro, aluno do Centro Olímpico e Paralímpico de São Sebastião, destaca a excelência dos treinamentos realizados nos nossos Centros Olímpicos e o potencial dos atletas do Distrito Federal. Sua inclusão entre os oito selecionados para compor a Seleção Brasileira de goalball é um grande orgulho para nós. Estamos confiantes de que sua dedicação e habilidade o levarão a conquistar uma vaga para representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris em agosto”, afirmou. “Hoje, contamos com 20 atletas deficientes visuais atendendo diariamente na base e no alto rendimento. Foram praticamente sete anos de trabalho e bons resultados para chegar onde chegamos” Gabriel Goulart, professor do COP de São Sebastião e técnico da Seleção Brasileira de base da modalidade de goalball Mizael entrou no goalball em 2016 graças ao esforço do professor do Centro Olímpico e Paralímpico (COP) de São Sebastião e também técnico da Seleção Brasileira de base da modalidade, Gabriel Goulart, que de tempos em tempos busca novos talentos para o esporte no Distrito Federal. “Na verdade, eu praticava atletismo paralímpico e natação até que o professor Gabriel me convidou para vir conhecer o goalball. No primeiro momento, achei bem estranho. Depois vim, pratiquei um dia e estou aqui até hoje”, lembra o jovem. Único esporte paralímpico não adaptado, o goalball tem origem austríaca e utiliza as percepções táteis e auditivas para que os paratletas consigam arremessar e defender uma bola com guizo em direção ao gol. O jogo é disputado por três jogadores titulares e três reservas de cada time que jogam com vendas nos olhos. Todos são, ao mesmo tempo, arremessadores e defensores. Em uma quadra com as mesmas dimensões das de vôlei, com 9 m de largura por 18 m de comprimento, há um gol posicionado de cada lado com 9 m de largura por 1,30 m de altura. O objetivo é arremessar de forma rasteira a bola em direção ao gol. As partidas são divididas em dois tempos de 12 minutos, com três minutos de intervalo. Mizael Castro conta com o apoio do programa Bolsa Atleta, da Secretaria de Esporte e Lazer, que ajuda financeiramente esportistas olímpicos e paralímpicos de alto desempenho O Distrito Federal é considerado um celeiro de paratletas de goalball. A modalidade é ofertada nos COPs – programa da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL-DF) que promove atividades desportivas e de lazer para o desenvolvimento físico, pessoal e social de crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, incluindo pessoas com deficiência – desde 2014. A referência é a unidade de São Sebastião que revelou nomes como André Dantas, Kátia Aparecida e Jéssica Vitorino. “Hoje, contamos com 20 atletas deficientes visuais atendendo diariamente na base e no alto rendimento. Foram praticamente sete anos de trabalho e bons resultados para chegar onde chegamos”, comenta o professor Gabriel Goulart. Para ele, o sucesso do esporte no DF tem dois motivos: amor e perseverança. “Acabei desenvolvendo um amor por essa modalidade e todos os anos vou nas escolas da cidade para ir atrás desses atletas. Mas o que nos motiva é ver o resultado”, completa. Sonho da amarelinha O sonho de representar o Brasil na seleção veio assim que Mizael Castro começou a praticar o esporte no COP de São Sebastião, onde treina até hoje pelo time Capital. O desejo surgiu por dividir a quadra com vários outros atletas brasilienses que vestiram a amarelinha. “Sempre vi que os atletas de Brasília eram convocados, até joguei com alguns deles. Isso me inspirou muito”, diz. Ao longo da carreira, teve algumas convocações para a seleção. A mais importante foi em 2022 quando atuou internacionalmente pela base em uma competição em Barcelona. Este ano estreou no time principal em um amistoso contra os Estados Unidos, em São Paulo. A expectativa agora é ser selecionado para ir a Paris em agosto. Para isso, tem se dedicado exclusivamente ao esporte: “Hoje tudo na minha vida é voltado para o goalball”. O que só é possível graças à Bolsa Atleta, programa da Secretaria de Esporte e Lazer que ajuda financeiramente esportistas olímpicos e paralímpicos de alto desempenho que são indicados por suas respectivas federações e que apresentam bons resultados em competições. “A Bolsa Atleta é uma coisa muito importante nesse processo, porque ajuda na suplementação, em bons equipamentos, entre outras coisas. Hoje a minha profissão é ser um atleta de alto rendimento na modalidade”, afirma. Jogos Paralímpicos O Brasil está classificado para os Jogos Paralímpicos de Paris tanto na modalidade masculina quanto feminina de goalball. A equipe masculina garantiu a classificação no ano passado ao ser campeã mundial. É considerada uma das favoritas por ser a primeira do ranking mundial e atual campeã paralímpica. Já a seleção feminina garantiu a vaga pela classificação no ranking mundial.
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Ana Paula Marques é uma das promessas para os Jogos Paralímpicos de Paris
“Eu tinha 20 anos e meu companheiro na época não aceitou a nossa separação e me deu dois tiros. Um deles acertou as minhas costas. Caí no chão sem sentir minhas pernas”, conta a paratleta Ana Paula Marques, que após sobreviver a uma tentativa de feminicídio fez do esporte um incentivo para sua reabilitação e transformação de vida. [Olho texto=”“O Compete Brasília tem uma grande importância para os atletas do DF, pois podemos trazer uma colocação, melhorar nosso ranking e estar dentro do esporte competindo sempre. Ainda não vi um governo que apoia tanto o esporte igual o do Distrito Federal”” assinatura=”Ana Paula Marques, paratleta” esquerda_direita_centro=”direita”] Com os disparos, Ana ficou paraplégica. E com as idas e vindas ao Hospital Sarah Kubitschek para o tratamento de reabilitação, a gaúcha se apaixonou por Brasília. Em 2013, trocou a sua cidade natal pela capital federal. Aos 41 anos, ela reside no Guará, com o filho do antigo relacionamento e o atual companheiro. “Me identifiquei com Brasília e com o esporte, mas no Sul essa prática não era muito comum e não tinha onde treinar. Foi então que me mudei para Brasília com meu filho de 3 anos, na época”, relembra. Ana conta que já está no circuito para os Jogos Paralímpicos Paris 2024. Até o fim do ano, vai tentar conseguir a vaga, participando do Mundial de Halterofilismo Paralímpico, que ocorre entre os dias 22 e 30 de agosto, em Dubai, e dos Jogos Parapan-Americanos, que estão marcados para novembro, em Santiago, no Chile. Paratleta vítima de tentativa de feminicídio é uma das grandes promessas para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 | Foto: Edmundo Souza/Divulgação Na vela adaptada, a paratleta é destaque em pódios locais, nacionais e mundiais, na Holanda, Alemanha, Estados Unidos e Espanha. Em 2018, entrou para a história da modalidade ao ser a primeira atleta brasileira a conquistar ouro no mundial dos EUA. Em 2016 e 2018, conquistou o prêmio Brasília Esporte de Melhor Atleta Paralímpica do DF. Em 2017, participou do evento Prêmio Paralímpicos, realizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro. Foi escolhida a melhor atleta de vela adaptada do Brasil e teve a honra de ser a condutora da tocha paralímpica dos Jogos Rio 2016. Já no halterofilismo adaptado, onde a atleta começou na modalidade para melhorar seu condicionamento físico, alcançou o topo no ranking nacional no ano passado, e atualmente é Top 10 no ranking internacional. [Olho texto=”“Incentivar o paradesporto é também incentivar a inclusão, além de dar condição aos paratletas de seguirem participando de suas competições. A nossa missão é contribuir para efetivação dos seus direitos e do crescimento do esporte, seja ele convencional ou voltado às pessoas com deficiência”” assinatura=”Julio Cesar Ribeiro, secretário de Esporte e Lazer” esquerda_direita_centro=”direita”] O próximo destino de Ana é a capital paulista. Ela viaja por meio do Compete Brasília para participar do Campeonato Brasileiro de Halterofilismo, que ocorrerá nesta sexta-feira (14) e sábado (15), no Centro de Treinamento Paralímpico. A participação no evento é critério obrigatório para os atletas poderem participar dos Jogos Paralímpicos Paris 2024, uma vez que faz parte do processo classificatório. Para a atleta, o apoio dos programas da Secretaria de Esporte e Lazer do DF é fundamental para a manutenção da sua carreira de esportista. Ana viaja pelo Compete Brasília e participa efetivamente do Bolsa Atleta. “Sem o Compete, seria impossível participar e ter chegado com tantas premiações. Já uso o programa há algum tempo e nunca me foi negado. Vejo que isso é uma conquista para as pessoas com deficiência. O programa não faz distinção e sempre que solicitei, fui atendida”, destaca. “O Compete Brasília tem uma grande importância para os atletas do DF, pois podemos trazer uma colocação, melhorar nosso ranking e estar dentro do esporte competindo sempre. Ainda não vi um governo que apoia tanto o esporte igual o do Distrito Federal”, ressalta a paratleta. “Incentivar o paradesporto é também incentivar a inclusão, além de dar condição aos paratletas de seguirem participando de suas competições. A nossa missão é contribuir para efetivação dos seus direitos e do crescimento do esporte, seja ele convencional ou voltado às pessoas com deficiência”, afirma o secretário de Esporte e Lazer, Julio Cesar Ribeiro. *Com informações da Secretaria de Esporte e Lazer
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