Programa Educação Precoce atende mais de 4 mil crianças do DF que enfrentam atraso de desenvolvimento
Durante cinco meses, a professora Luciane Michel de Sousa, 43 anos, viveu a agonia de ver o filho Bernardo, hoje com 3 anos, não atingir os marcos de desenvolvimento. “Mesmo tendo nascido no tempo normal, ele não se desenvolvia. Quando ele completou cinco meses, procurei uma neuropediatra que o avaliou e percebeu que ele tinha um atraso. Foi ela que me falou do Programa Educação Precoce, que seria bom porque ele desenvolveria os movimentos e a fala. Ela já me encaminhou e no mês seguinte eu consegui uma vaga no Riacho Fundo”, lembra. “Nós, pais de crianças especiais, precisamos desse amparo. É aqui que aprendemos o que fazer, como lidar”, diz Luciane Michel de Sousa, mãe de Bernardo, que tem Transtorno do Espectro Autista | Fotos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília Foram dois meses em uma unidade escolar no Riacho Fundo até conseguir a transferência para o Centro de Ensino Especial 1 de Samambaia, que fica na cidade onde a mulher e o filho moram. “O Bernardo chegou aqui sem nada, sem nenhum desenvolvimento. Para tudo ele tinha que ter ajuda, e chorava muito. Era só comigo o tempo todo. Desde que ele chegou aqui, percebi esse amor e esse carinho dos profissionais. Foi onde o Bernardo se encontrou, onde ele desenvolveu a fala, o andar e a sociabilidade com outras crianças”, conta Luciane. O desenvolvimento do pequeno permitiu que Luciane pudesse voltar a trabalhar no ano passado. “Nós, pais de crianças especiais – o Bernardo é TEA [Transtorno do Espectro Autista] e tem síndrome –, precisamos desse amparo. É aqui que aprendemos o que fazer, como lidar, e temos um norte. Se eu não tivesse essa escola aqui, ele não teria o mesmo tratamento que tem”, avalia a mãe. Bernardo é uma das mais de quatro mil crianças de até 3 anos e 11 meses atendidas pelo Programa Educação Precoce (PEP), que integra o ensino especial. Trata-se de uma iniciativa da rede pública de ensino do DF pioneira que atende meninos e meninas com atraso de desenvolvimento nas áreas cognitivas, motoras, de linguagem e socioafetivas. O objetivo é fazer com os estudantes alcancem os marcos de desenvolvimento e estejam mais preparados para a introdução no ensino regular. As crianças podem permanecer na educação precoce até os 4 anos, quando são encaminhadas para a educação infantil regular; ou, a depender da situação e do diagnóstico, seguem no ensino especial “O perfil do programa são crianças que tenham qualquer tipo de alteração no desenvolvimento proveniente da gravidez [antes, durante ou após o nascimento], de intercorrência no parto, de um lar considerado de risco e de prematuridade, além das que têm diagnóstico de deficiências e transtornos”, explica a coordenadora da Educação Precoce do Centro de Ensino Especial 1 de Samambaia, Janete Anaid. A subsecretária de Educação Inclusiva e Integral da Secretaria de Educação (SEEDF), Vera Lúcia de Barros, destaca que a educação precoce deve ser iniciada o quanto antes para promover o desenvolvimento integral e as potencialidades das crianças. “Para isso é importante a participação da família, por seu papel fundamental de multiplicador das atividades lúdicas. Quando agimos em colaboração, tudo é possível”, diz. Atendimento diferenciado Professora do Centro de Ensino Especial de Samambaia, Luciana Ferreira de Melo afirma que o trabalho das pedagogas visa promover o desenvolvimento da autonomia e da identidade das crianças Para participar, os alunos devem ter um encaminhamento médico e os pais devem procurar uma das 19 unidades da rede pública que tenham a modalidade de ensino. “A família procura a escola, se inscreve na lista de espera e aguarda surgir a vaga. Quando está disponível, entramos em contato com a família e é feita uma avaliação, que é uma entrevista, e depois a matrícula”, complementa Janete. As crianças são atendidas de duas a três vezes por semana. Até os 2 anos, o atendimento é individual. Depois, os pequenos passam para o atendimento em grupo. No caso do Centro de Ensino Especial 1 de Samambaia, há 12 turmas de educação precoce, sendo seis no período matutino e outras seis no vespertino com uma de bebê em cada turno. A estrutura conta com uma sala de atendimento para crianças acima de um ano e outra para bebês, além de uma sala de psicomotricidade e outra com piscina. As crianças são atendidas por pedagogos e educadores físicos. Há 11 anos no Centro de Ensino Especial de Samambaia, Luciana Ferreira de Melo é uma das professoras da educação precoce da unidade. Ela explica que o trabalho das pedagogas é promover o desenvolvimento da autonomia e da identidade das crianças. Há 15 anos, o educador físico Arley Rodrigues da Costa atua na educação precoce. “Trabalhamos tanto a coordenação motora, quanto a parte de equilíbrio e de força” “É um trabalho que a gente realiza de forma lúdica em vários espaços apropriados. Entramos com texturas para o elo sensorial, livros para realizar a leitura de imagens, a musicalização para a fala. A parte cognitiva e psicomotora, que é a motricidade fina, trabalhamos com os encaixes. Também há o processo de rabiscação com giz de cera para desenvolver o movimento amplo. Tudo é para preparar o pequeno para a educação infantil de acordo com os pré-requisitos”, revela. O educador físico Arley Rodrigues da Costa atua há 15 anos na modalidade. Segundo ele, cabe ao profissional da educação física desenvolver a parte motora das crianças por meio de estímulos. “Trabalhamos tanto a coordenação motora quanto a parte de equilíbrio e de força. Para isso, temos a salinha de psicomotricidade, o parquinho e a piscina”, conta. “Nosso trabalho é corrigir o atraso que a criança tem desenvolvendo o que a gente chama de neuroplasticidade [capacidade do sistema nervoso central de adaptar-se e moldar-se a novas situações]”. As crianças podem permanecer na educação precoce até os 4 anos. Na sequência, elas podem ser encaminhadas para a educação infantil regular ou, a depender da situação e do diagnóstico, seguem no ensino especial, modalidade garantida às pessoas com deficiências e TEA. Confira, abaixo, as escolas que participam do Programa de Educação Precoce. ⇒ Brazlândia (Cenebraz) ⇒ Ceilândia (CEE 01 e CEE 02) ⇒ Gama (CEE 01) ⇒ Guará (CEE 01 e CEF 02 da Estrutural) ⇒ Núcleo Bandeirante (Caic JK e CEI Riacho Fundo II) ⇒ Paranoá (CEI 01) ⇒ Planaltina (CEE 01) ⇒ Plano Piloto (CEI 01, CEE 02 e CEEDV – Deficientes Visuais) ⇒ Recanto das Emas (CEI 304 Recanto das Emas) ⇒ Samambaia (CEE 01) ⇒ Santa Maria (CEE 01) ⇒ São Sebastião (Caic Unesco) ⇒ Sobradinho (CEE 01) – Taguatinga (CEI 04 e CEI 07).
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Rede pública oferece suporte ao desenvolvimento de bebês
Pais de crianças de até 3 anos e 11 meses de idade que fazem parte de grupos de risco, prematuras, com deficiência, com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com sinais de precocidade para altas habilidades ou superdotação, entre outras especificidades, têm um importante apoio na rede pública de ensino do Distrito Federal. Cláudia e seu filho João Gabriel durante as atividades no CEE 1 de Sobradinho: “As professoras são atenciosas e já noto uma evolução no meu filho”, diz ela | Fotos: André Amendoeira/Ascom/SEEDF Todas as 14 coordenações regionais de ensino da Secretaria de Educação possuem escolas que ofertam atividades da Educação Precoce, programa de atendimento educacional especializado voltado a essas crianças. Atualmente, 3.100 bebês e crianças são atendidos pela rede. [Olho texto=” “Esta atuação me realiza no dia a dia como professora. É importante enxergar cada criança como um ser individual e com sua história de vida”” assinatura=”Isis Gonçalves, pedagoga” esquerda_direita_centro=”direita”] Miguel de Jesus, 3 anos e 2 meses, começou a frequentar o programa no Centro de Ensino Especial 1 de Sobradinho em 2022. Ele nasceu prematuro e teve indicação médica devido a um atraso na fala. “Eu já percebi muita diferença no comportamento dele em pouco tempo. Ficou mais sociável e com melhor desenvolvimento. O atendimento e o ambiente são 100%”, conta Edjane Maria de Jesus, mãe de Miguel. A pedagoga Isis Gonçalves acompanha Miguel e diz que se encontrou no trabalho com a Educação Precoce. “Esta atuação me realiza no dia a dia como professora. É importante enxergar cada criança como um ser individual e com sua história de vida. Vamos trabalhar para alcançar os marcos da infância, independentemente do diagnóstico e sempre respeitando as características individuais”, analisa a professora. A professora Isis Gonçalves e o pequeno Miguel: relação de cumplicidade construída durante os encontros da Educação Precoce João Gabriel Corrêa, 1 ano e 8 meses, também frequenta as atividades da Educação Precoce no Centro de Ensino Especial (CEE) 1 de Sobradinho. “Eu não sabia que a rede pública tinha esse tipo de atendimento e fiquei muito surpresa, positivamente, com a qualidade. As professoras são atenciosas e já noto uma evolução no meu filho”, revela Cláudia Bruna Corrêa, mãe de João. Ele começou no programa após os diagnósticos de TEA e Transtorno de Processamento Sensorial. Desenvolvimento lúdico e integral A iniciativa do programa Educação Precoce começou em 1987 com objetivo de trabalhar em prol do desenvolvimento infantil. As atividades são feitas de maneira integrada entre pedagogos, educadores físicos e equipe interdisciplinar das escolas que fazem esse atendimento. A proposta é ampliar as potencialidades globais dos bebês e das crianças de forma lúdica, observando aspectos psicoafetivos, sociais, culturais e de socialização nesse processo. O Educação Precoce propõe atividades em espaços como salas de psicomotricidade, sala de bebês, parquinho, entre outros. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] “A gente utiliza a brincadeira para proporcionar experiências. A criança recebe estímulos para que possa ter o pleno desenvolvimento dentro da sua faixa etária. Vamos atender a criança dentro da realidade dela e fazendo um trabalho em conjunto com a família”, destaca Ruth Ana Gomes, coordenadora do programa no CEE 1 de Sobradinho. Ruth já trabalha nesse segmento há 23 anos na rede pública de ensino e, ao longo desses anos, se encanta com as possibilidades de crescimento dos pequenos. Como se inscrever O bebê ou a criança deve ter um encaminhamento médico para participar. Os pais ou responsáveis devem fazer a inscrição online. As matrículas ocorrem durante todo o ano mediante disponibilidade de vagas. *Com informações da Secretaria de Saúde do DF
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Educação Precoce disputa prêmio internacional
São atendidos bebês de zero a três anos de idade, que recebem acompanhamento qualificado. A participação da família é essencial | Foto: Luís Tavares / SEE O programa Educação Precoce, da Secretaria de Educação (SEE), ultrapassa fronteiras para mostrar por que está entre as 24 práticas educacionais mais inovadoras do mundo elencadas pelo Zero Project, elaborado pela Essl Foundation, da Áustria. A reunião dos trabalhos selecionados entre 469 projetos de mais de 100 países será no fórum em Viena, capital austríaca, nos dias 19, 20 e 21 deste mês. O projeto da SEE é o único representante do Brasil que participou da seleção e o único a receber o reconhecimento internacional. A inscrição para o Zero Project foi uma iniciativa que a Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral (Subin) da SEE tomou, após ser acionada pela Casa Civil. Em parceria, as pastas construíram um projeto para o concurso que analisa práticas bem-sucedidas em todo o mundo. A inserção e elaboração do material ofertado a Fundação Essl , em escala global, foi uma iniciativa da Assessoria de Assuntos Estratégicos da Casa Civil, então representada por Ganem Amiden Neto e Grazielle Rodrigues, em parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na figura do Sr. Ronaldo Lago. Deve-se salientar a importante colaboração do Dr. Joelson Dias, Ex-Ministro Substituto do TSE e Vice-Presidente da Comissão Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Conselho Federal da OAB e da Dra Ana Luisa Junqueira, mestre em Direitos Humanos pela Universidade do Minho (Portugal). A Subin foi criada em 2019 pelo atual GDF para lidar diretamente com assuntos relacionados à inclusão. Foi então que o Educação Precoce, lançado em 1987, ganhou prioridade nessas ações, até alcançar a lista dos programas que funcionam no mundo. Engajamento da família “O Educação Precoce é a nossa ‘menina dos olhos’”, comemora a subsecretária de Inclusão da SEE, Vera Lúcia Ribeiro de Barros. “O mérito é principalmente pelo engajamento da família, nossa grande multiplicadora em casa. É um trabalho que integra todos os núcleos”. Vera, que é mãe de filhos especiais, lembra que o programa dá novas chances à sociedade. O Educação Precoce é uma política pública de Estado que visa ao desenvolvimento global com estímulos biopsicossociais de bebês especiais. Atualmente, são atendidos 3.327 bebês de zero a três anos de idade em 19 unidades escolares da SEE. Realizado por cerca de 400 educadores da rede capacitados, o programa tem caráter pedagógico, não clínico ou terapêutico, com foco na aprendizagem, inclusão e no desenvolvimento. Segundo a diretora de Educação Inclusiva da SEE, Riane Natália Vasconcelos, normalmente o processo é inverso: somente após a instalação da deficiência e com os atrasos evidenciados é dado início ao acompanhamento. “Precoce remete a um trabalho que precisa ser realizado o mais cedo possível para que a criança se desenvolva da melhor forma”, explica. São atendidos bebês com hipótese diagnóstica de deficiência, bem como transtorno do espectro autista, crianças com altas habilidades e consideradas de risco, como prematuras, pós-maduras e filhos de mães diabéticas, entre outros casos. [Numeralha titulo_grande=”3.327″ texto=”Número de bebês de zero a três anos atendidos atualmente em 19 unidades escolares” esquerda_direita_centro=”direita”] Gêmeas siamesas Unidas pela natureza e pelo amor dos pais, as gêmeas siamesas Lis e Mel, conhecidas no DF pela cirurgia delicada de separação total realizada em 2019, também são atendidas pelo Educação Precoce da rede pública. Segundo a mãe das meninas, Camilla Vieira Neves, Lis e Mel estão se saindo bem na natação, e a evolução tem sido acelerada. “Minha expectativa agora é que elas cresçam e se desenvolvam cada vez mais, porque o apoio já tem ajudado muito”, conta. “Elas nunca querem voltar para casa depois do atendimento na escola”. Um passo de cada vez De zero a seis meses, os atendimentos ocorrem em turmas de pais e bebês. São específicos para essa faixa etária, que tem como base a instrução, a conversa e os encaminhamentos junto à família, que deve ser orientada da melhor maneira para trabalhar com essa criança no dia a dia. Outra problemática nesse período é a fase do “enlutamento”, condição em que as famílias buscam o Educação Precoce, já que planejaram e idealizaram o filho de uma maneira e, então, se depararam com a deficiência. “Nosso interesse é ter a família conosco; no Educação Precoce, ela é parceira”, ressalta a gerente da Diretoria de Educação Inclusiva, Roseane Badú. Nessa fase, o atendimento ocorre em dois dias da semana. Em um dia, são 50 minutos com o pedagogo, em sala de aula, sob colchonetes e orientações específicas para cada criança. No outro dia, quem coordena é um professor de Educação Física, que também promove o atendimento às famílias, mas ainda no ambiente da piscina ou na sala de psicomotricidade, dependendo de cada caso. Dos sete meses até cerca de dois anos de idade, o bebê passa a frequentar as turmas de Educação Precoce duas vezes na semana, em atendimentos individuais e personalizados. Em ambos os dias, são 50 minutos com o pedagogo e mais 50 com o professor de Educação Física. Há, ainda, a configuração de “turminhas” ou agrupamentos para as crianças a partir de dois anos – as T2, para os casos mais necessários. O grupo é formado visando à inserção nas escolas regulares em tempo ágil. Inserção + inclusão O programa Educação Precoce avalia esses bebês diariamente. A meta é atuar com base nas necessidades da criança, para que o impacto seja positivo na inserção em outros ambientes. Professora de Educação Física, Cristiane Lima Fernandes, na rede há 13 anos e há 12 com as crianças no Educação Precoce, já atendeu certa de 480 bebês. Para ela, o impacto pode ser multiplicado, já que envolve todos da família. “Eu tive um filho prematuro, mas naquela época não existia o programa Educação Precoce; no entanto, enquanto professora, percebo que o resultado é quase imediato”, afirma. Assim como os demais, a professora passou por um curso inicial, formação, entrevista e treinamento para atuar nessa etapa. Os gestores e professores garantem do programa asseguram que o sucesso nas atividades vem da própria plasticidade cerebral humana. “O cérebro realiza compensações; então, existe uma lesão em determinada área, mas a gente consegue fazer uma atividade pedagógica que vai acionar outras áreas do cérebro que serão capazes de compensar essa região. Por isso a avaliação é constante”, explica Roseane. Todo esse trabalho, hoje, funciona com o apoio dos coordenadores regionais de ensino e os gestores das escolas e da comunidade escolar. “Nossa expectativa é, em breve, receber a destinação de mais recursos para compra de materiais específicos, a formação dos professores e, quem sabe, a implementação desses atendimentos em todas as unidades do DF”, pontua a diretora de Educação Inclusiva da SEE. Nome na lista Atualmente, as inscrições para o programa Educação Precoce podem ser feitas em qualquer dia do ano, pessoalmente, pelos responsáveis dos bebês, nas escolas ou Coordenações Regionais de Ensino (CREs). Além da novidade para 2020, que é a criação de mais duas unidades de atendimento – uma em Ceilândia e outra em Samambaia –, a rede vai informatizar as inscrições e facilitar o acesso de toda a comunidade escolar. As tratativas seguem em andamento na rede pública de ensino. * Com informações da SEE
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