Hormônio do estresse no cabelo: técnica com nanopartículas promete diagnóstico rápido e sem exames invasivos
Um método inovador desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) promete transformar a forma como avaliamos o estresse crônico. A pesquisa, coordenada pelo professor Juliano Alexandre Chaker, utiliza fios de cabelo e nanopartículas de carbono para medir o cortisol, o chamado “hormônio do estresse”, com rapidez, precisão e sem necessidade de exames invasivos. Com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do Edital Learning 2023, o projeto une ciência de ponta e inovação tecnológica para oferecer diagnósticos acessíveis e confiáveis, com potencial de aplicação em saúde pública, toxicologia forense e meio ambiente. Inovação científica: como funciona o método O cortisol é um dos principais indicadores fisiológicos do estresse, mas sua medição tradicional em exames de sangue é altamente sensível a variações do momento da coleta. Situações cotidianas — como enfrentar um engarrafamento antes de ir ao laboratório — podem alterar significativamente os resultados. Além disso, os níveis de cortisol mudam ao longo do dia, acompanhando os ciclos circadianos, ou seja, o “relógio biológico” que regula nossas funções em um período de 24 horas, o que dificulta diagnósticos consistentes. A proposta da pesquisa é superar essas limitações utilizando o cabelo como matriz de análise. Trata-se de uma amostra não invasiva, que acumula não apenas cortisol, mas também outros glicocorticoides (hormônios produzidos pelas glândulas adrenais, acima dos rins), metais e poluentes. Cada centímetro de cabelo corresponde, em média, a um mês de registro biológico, permitindo que os pesquisadores realizem uma espécie de “linha do tempo” do estresse. Equipamento de espectrometria de massas MALDI-TOF, peça central do método inovador desenvolvido na UnB | Fotos: Arquivo pessoal/Juliano Alexandre Chaker Para viabilizar a análise, o grupo desenvolveu uma adaptação da técnica de espectrometria de massas MALDI-TOF (dessorção/ionização a laser assistida por matriz — tempo de voo, em inglês Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization — Time of Flight), um equipamento de alta precisão normalmente utilizado para estudar proteínas de alto peso molecular. O diferencial está no uso de nanopartículas de carbono como matriz ionizante, o que gera espectros mais limpos e possibilita a detecção de moléculas pequenas, como o cortisol, sem interferência de sinais sobrepostos. As amostras são aplicadas em placas específicas, que funcionam como suporte dentro do equipamento durante a leitura. Cada placa comporta centenas de pontos de análise e, uma vez posicionada no MALDI-TOF, os resultados são gerados em questão de segundos. Da coleta ao resultado em segundos O processo começa com a coleta de pequenas mechas de cabelo, que servem como amostra não invasiva. Em laboratório, o cortisol é extraído com solventes específicos, misturado às nanopartículas de carbono e aplicado em placas de análise. Cada placa comporta mais de 300 amostras e o equipamento processa cada uma em apenas cinco segundos, fornecendo resultados com altíssima precisão e em grande escala. Atualmente, o projeto se prepara para a fase de validação, que depende da aprovação do comitê de ética em pesquisa. A etapa prevê a coleta de amostras de cabelo de 50 voluntários, acompanhada de questionários sobre fatores de estresse. Os resultados obtidos com a técnica inovadora serão comparados a métodos de referência, como a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas — técnica considerada padrão-ouro, que separa os componentes de uma amostra antes de analisá-los, garantindo alta precisão, embora demande mais tempo e custo. Professor Juliano Alexandre Chaker, coordenador do Laboratório de Nanotecnologia Verde (NaVe/UnB), onde desenvolve pesquisas em nanotecnologia aplicada ao diagnóstico de estresse e toxicologia Assim, o estudo busca não apenas demonstrar rapidez e acessibilidade, mas também a equivalência em relação às técnicas tradicionais já consolidadas. Impactos esperados Segundo o professor Juliano Chaker, o objetivo é oferecer uma metodologia confiável e de baixo custo, que possa futuramente ser disponibilizada como serviço técnico especializado. “O potencial é enorme. Além do estresse crônico, podemos aplicar o método na toxicologia clínica e forense, incluindo a detecção de drogas de abuso e agentes intoxicantes em exames de rotina”, explica. Com resultados rápidos e a possibilidade de análises retrospectivas — olhando para meses de acúmulo registrados no cabelo — a técnica pode apoiar desde políticas públicas de saúde mental até investigações criminais, com ganhos em tempo, custo e confiabilidade. Apoio institucional e rede de colaboração O projeto conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do Edital Learning 2023, que tem sido essencial para viabilizar bolsas, infraestrutura e atividades de pesquisa. “A FAPDF é fundamental para a vida do pesquisador no Distrito Federal. Sem esse apoio, seria inviável mantermos uma infraestrutura de ponta e formar novos talentos em áreas estratégicas como a nanotecnologia aplicada à saúde e ao meio ambiente”, afirma Juliano Chaker. A iniciativa é desenvolvida no Laboratório de Nanotecnologia Verde da Universidade de Brasília (UnB), coordenado pelos professores Juliano Alexandre Chaker e Marcelo Sousa, em parceria com programas de pós-graduação em Nanociência e Nanotecnologia da instituição. Além do fortalecimento acadêmico, o grupo mantém colaborações com órgãos como a Polícia Civil e a Polícia Federal, além de parcerias consolidadas em outros projetos com agências como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), ambas vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Essa rede de cooperação reforça o caráter multidisciplinar da pesquisa, ampliando suas perspectivas de aplicação tanto na saúde pública quanto na toxicologia forense e ambiental. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)
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Um salão que eleva o astral de quem tem câncer
Érika Dantas conheceu o Rosa Solidário na época em que acompanhou a mãe em tratamento no Hospital de Base. Ela voltou ao local para doar os cabelos | Fotos: Divulgação e Davidyson Damasceno/Iges-DF Rosa Solidário. Este é o nome de um salão de beleza bastante diferente – o único onde clientes não pagam um centavo para cortar os cabelos. É também o único a funcionar dentro de uma unidade pública de saúde, o Hospital de Base (HB). E ainda é o único mantido por voluntários, a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília, que atua no hospital administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF). O Rosa Solidário foi criado com o propósito de levantar a autoestima de pessoas com câncer tratadas no Hospital de Base, principalmente de mulheres que perdem os cabelos em razão da quimioterapia. O salão fica no jardim do HB, em instalações cedidas pela direção do hospital à Rede Feminina. Os serviços são prestados por profissionais de beleza, voluntários que veem nessa atividade uma forma de ajudar pacientes a enfrentar o câncer. [Olho texto=”Além dos pacientes internados, também nada pagam pelos serviços as clientes que doarem seus cabelos ao Rosa Solidário” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] Para manter a gratuidade dos serviços aos pacientes hospitalizados, o salão cobra de quem não está em tratamento médico no hospital, como visitante ou mesmo colaborador. Mas os preços são bem camaradas: R$ 20 pelo corte masculino e R$ 30 pelo feminino. Já o pacote “cronograma capilar” (hidratação, nutrição, reconstrução, escova e chapinha) sai por apenas R$ 50, cada sessão. O dinheiro arrecadado com os cortes é revertido para a manutenção do salão Todo o dinheiro arrecadado com os serviços, informa a cabeleireira profissional Maura França, voluntária do projeto, é totalmente revertido para a manutenção do salão. Cabelos para perucas Além dos pacientes internados, também nada pagam pelos serviços as clientes que doarem seus cabelos ao Rosa Solidário. O material é usado para a confecção de perucas, são fornecidas gratuitamente às pacientes oncológicas que perderam os cabelos. Entre clientes que já doaram seus cabelos está Francisca Costa, cabeleireira profissional e voluntária. “Bem mais do que tratamento estético, aqui nós oferecemos amor aos enfermos”, define. Ali elas recebem mulheres que chegam fragilizadas, mas que se mostram mais otimistas ao ganhar a peruca. “Aqui ouvimos os relatos, oferecemos nosso ombro amigo e elas saem se sentindo lindas como, de fato, são”, afirma. Para a psicóloga Aliny Andressa de Souza, lotada na Unidade de Oncologia do HB, o trabalho do Rosa Solidário ajuda as pacientes a lidarem melhor com a doença. “Os efeitos colaterais do tratamento costumam causar importante impacto físico e emocional”, ressalta Aliny. “No caso da queda de cabelo, esse sofrimento pode estar associado a uma mudança da autoimagem e diminuição da autoestima”, explica a psicóloga. Mas, quando a paciente recebe uma peruca ou algum serviço de embelezamento, ela se sente melhor e com mais qualidade de vida — “e isso é fundamental para pacientes com câncer”, reforça Aliny. Daí a importância dos serviços do Rosa Solidário. A experiência de quem doa A empreendedora Liliane Bueno, 38 anos, faz quimioterapia no Hospital de Base para tratar de câncer de mama. “Sempre fui muito vaidosa. Quando soube que meu cabelo cairia, me imaginei careca e fiquei bastante abalada emocionalmente”, conta. Mas ela enfrentou o problema de outro jeito: foi ao salão, cortou e doou as madeixas. Pela doação, recebeu uma peruca. “Saí do salão como a mulher mais feliz do mundo”, comemora. Moradora do Jardim Botânico, Liliane é casada, tem uma filha e dois netos gêmeos. “Eu descobri que tinha câncer no início deste ano”, conta. “A verdade é que ninguém espera receber uma notícia dessas, mas, quando ela vem, é preciso encarar da melhor maneira. Estou cuidando do meu corpo, e este salão me ajudou a cuidar do meu lado emocional”. O Rosa Solidário também já recebeu doações em família. Na semana passada, num gesto de solidariedade, a dona de casa Marlene Dantas, 54 anos, e a filha Érika, 34, doaram suas madeixas ao salão. A mãe já teve câncer, e a filha acompanhou o tratamento. Doando os cabelos, elas querem ajudar outras mulheres a enfrentarem a doença. “Agora que superei, vim com muito orgulho doar o meu cabelo para outras mulheres que estão passando pelo que eu passei um dia”, relata Marlene. “Espero que outras mulheres também doem seus cabelos como um ato de amor”, recomenda Érika, seguindo o exemplo da mãe. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] Como ajudar a Rede Feminina A Rede Feminina de Combate ao Câncer é uma instituição sem fins lucrativos que atua no Hospital de Base desde 1996. Voluntários oferecem apoio emocional e orientações sobre o tratamento contra o câncer. Roupas, sapatos e itens diversos podem ser entregues na sede da Rede Feminina no Hospital de Base ou na Casa de Apoio (3ª Avenida, AE 5, módulo M, Núcleo Bandeirante). Salão Rosa Solidário Local: jardim do Hospital de Base. Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, com horário marcado. Agendamento: 3364-5467 e 98421-7268 *Com informações do Iges-DF
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