Mulheres se destacam na limpeza urbana do Distrito Federal
O trabalho na limpeza urbana do Distrito Federal tem sido transformado pela atuação das mulheres em diferentes frentes. Na gestão, operando máquinas pesadas, dirigindo caminhões de coleta, atuando na administração ou na triagem de materiais recicláveis, essas profissionais demonstram diariamente força, dedicação e orgulho pelo que fazem. No Dia Internacional da Mulher, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) celebra o trabalho dessas servidoras que desafiam estereótipos e mostram que a limpeza urbana também é um espaço de conquista feminina. Veja, abaixo, a história de algumas delas. Comando de máquinas pesadas Lidiane do Nascimento é operadora de máquinas pesadas na URE: “Nunca conheci outra mulher que fizesse um trabalho como esse. Eu sinto muito orgulho” | Fotos: Divulgação/SLU Lidiane do Nascimento trabalha na Unidade de Recebimento de Entulhos (URE) como operadora de máquinas pesadas. Seu percurso profissional é um exemplo de superação e crescimento. “Eu carrego caminhão, carrego pedras para jogar no britador; rejeito também”, conta. “Nunca conheci outra mulher que fizesse um trabalho como esse. Eu sinto muito orgulho”. “Eu coloquei na mente que queria ser operadora. Procurei o engenheiro e pedi a oportunidade” Lidiane do Nascimento, operadora de máquinas Sua trajetória começou como auxiliar de serviços gerais, em 2013. Posteriormente, passou a fiscal operacional e, com determinação, conquistou a posição atual. “A empresa me deu a oportunidade de fazer o curso para operar máquinas pesadas”, lembra. “Eu coloquei na mente que queria ser operadora. Procurei o engenheiro e pedi a oportunidade. Ele disse: ‘então, faz o teste’. Passei na segunda vez”. Mais de 30 anos no SLU “Sempre falo para todas as mulheres: ‘se você tem um sonho, corra atrás. Ainda que as portas se fechem, não desista’” Iracema Dourado, servidora administrativa do SLU A história de Iracema Dourado, servidora do SLU desde 1990, é marcada por dedicação e aprendizado. “Hoje exerço função na área administrativa, mas já passei pela varrição, pela balança… a gente faz um pouquinho de tudo aqui no SLU”, relata. Iracema reforça a importância de persistir diante dos desafios: “Sempre falo para todas as mulheres: ‘se você tem um sonho, corra atrás. Ainda que as portas se fechem, não desista. Levante a cabeça e siga em frente, porque quem persiste consegue’”. Provedora do lar Creusa Viana, balanceira na Usina de Tratamento Mecânico Biológico do P. Sul, carrega no trabalho sua maior fonte de motivação: a família. “Eu tenho 13 anos nesse trabalho”, contabiliza. “Sou mãe e sou pai. Criei meu filho sozinha e tive que dar tudo de mim. Tive momentos difíceis, mas quando você chega para trabalhar e coloca alimento dentro de casa, é gratificante”. “Todos os dias eu acordo com a expectativa de fazer o meu melhor” Creusa Viana, balanceira No trabalho, ela afirma se sentir realizada: “Trabalho em uma empresa maravilhosa que tem todo um suporte para nós mulheres, não tem diferença de nada. Todos os dias eu acordo com a expectativa de fazer o meu melhor”. Ao volante Tamara Dias conduz caminhões de coleta de lixo: “Muitos ainda estranham ver uma mulher nessa função, mas cada vez mais estamos conquistando espaços que antes não eram destinados a nós” Tamara Dias, motorista de caminhões de coleta, sabe que estar ao volante de um caminhão ainda desafia algumas visões tradicionais. “Acho que é preciso ser uma mulher forte para conseguir esse espaço; e continuar sendo, porque sempre tem quem não concorda, quem acha que esse não é um lugar para mulheres. Mas todo lugar é o nosso lugar também”, avalia. “Pedi uma oportunidade e consegui. Fiz um teste, passei e estou aqui” Tamara Dias, motorista de coleta Seu maior desafio foi acreditar que daria conta: “Entrei em outra área e me esforcei para ingressar como motorista. Pedi uma oportunidade e consegui. Fiz um teste, passei e estou aqui. Muitos ainda estranham ver uma mulher nessa função, mas cada vez mais estamos conquistando espaços que antes não eram destinados a nós”. Luta e resiliência Maria D’Ajuda atua com materiais recicláveis em Santa Maria: “Eu evoluí, corri atrás com essa força de catadora e venci. Amo o que faço e tenho muito orgulho de estar aqui” Maria D’Ajuda, catadora de materiais recicláveis e mobilizadora social em Santa Maria, encontrou na catação uma forma de sustentar seus filhos e construir uma vida melhor. “Quando me separei, meu caçula tinha nove meses”, relembra. “No começo, eu trabalhava catando mariscos na praia da minha cidade, Alcobaça, no sul da Bahia. Depois, comecei a reciclar nas ruas, em hotéis e rodoviárias para complementar a renda”. “Quando vim para Brasília, vi que tinha muito material reciclável e pensei: ‘vou pra rua’” Maria D’Ajuda, catadora A trajetória de Maria foi marcada por dificuldades, mas também por sua persistência, conforme ela conta: “Quando vim para Brasília, vi que tinha muito material reciclável e pensei: ‘vou pra rua’. Trabalhei como diarista e catadora, consegui trazer meus filhos para cá e construir minha vida. Hoje, graças à cooperativa, tenho uma renda muito boa, posso me alimentar bem e me vestir bem. Eu evoluí, corri atrás com essa força de catadora e venci. Amo o que faço e tenho muito orgulho de estar aqui”. De servidora a diretora Andréa Almeida, diretora técnica do SLU: “Conseguimos fazer do aterro uma referência” A diretora técnica do SLU, Andréa Almeida, construiu parte da sua trajetória profissional dentro da autarquia, atuando em diferentes funções até alcançar um cargo de liderança. “Passei no concurso e fui lotada na presidência”, explica. “Logo depois, fui uma das primeiras servidoras da área de engenharia a assumir um cargo de gerência. Fui designada para administrar o Aterro Sanitário de Brasília, que na época enfrentava desafios que conseguimos superar com muito esforço”. “Eu comecei do zero, e tudo que conquistei foi com esforço. E quero que todas as mulheres saibam: qualquer uma pode chegar aonde quiser” Andréa Almeida, diretora técnica do SLU Sua jornada dentro do SLU foi marcada pelo comprometimento e pela busca constante por melhorias. “Conseguimos fazer do aterro uma referência”, orgulha-se. “Meu trabalho sempre foi pautado por dedicação. Já estive no aterro às três da manhã, já visitei as lagoas em um domingo durante minhas férias. Amo o que faço, e me orgulho do que construímos”. Vinda de uma família humilde, Andréa destaca como o SLU foi fundamental em sua vida. “Eu comecei do zero, e tudo que conquistei foi com esforço”, ressalta. “Hoje, posso dizer que minha casa, meu carro e o sustento dos meus filhos vieram do trabalho que desempenho aqui. E quero que todas as mulheres saibam: qualquer uma pode chegar aonde quiser. O único limite é aquele que colocamos em nós mesmas. Se há dedicação, a resposta vem”. Legado das mulheres na limpeza urbana Histórias como as de Lidiane, Iracema, Creusa, Tamara, Maria e Andréa são exemplos da força feminina na limpeza urbana do Distrito Federal. Elas representam várias outras mulheres que diariamente contribuem para a manutenção da cidade – na varrição, na coleta, na administração ou na operação de equipamentos pesados. Neste Dia Internacional da Mulher, o SLU reafirma o compromisso com a valorização profissional das mulheres que fazem a diferença na limpeza urbana do DF. Com coragem, dedicação e competência, elas seguem ocupando espaços e transformando o setor com seu trabalho essencial. *Com informações do SLU
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Brasília recebe torneio de MMA Jungle Fight 126
O maior evento de MMA da América Latina está prestes a marcar presença em Brasília. No próximo dia 25, às 19h, o Ginásio Nilson Nelson será palco do Jungle Fight 126, que conta com apoio da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL-DF). João Pedro Villa, representante do DF, é destaque no evento | Foto: Divulgação Na disputa pelo cinturão 57 kg, a luta será marcada pelo duelo entre Elora Dana (AM) e Brena Cardoso (RJ). No masculino, o brasiliense João Pedro Villa entra no ringue com Ronaldo Freestyle (RJ) pela unificação do cinturão 61 kg. No último Jungle Fight realizado em São Paulo, cerca de oito mil acompanharam a vitória de Arcângelo Anjo na disputa com Marcelo Medeiros, no ginásio Mauro Pinheiro, no Ibirapuera. “Tenho certeza que este evento no Distrito Federal vai ser um grande sucesso, como foi em São Paulo”, afirma o secretário de Esporte e Lazer, Renato Junqueira. *Com informações da Secretaria de Esporte e Lazer
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MARLENE DE ARAÚJO / “O trabalho me liberta”
Marlene de Araújo, 55 anos, baiana, mãe de três homens, avó de duas meninas e um menino, integrante da equipe de varrição do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) há 11 anos. Este é o perfil da entrevistada da Agência Brasília na série que homenageia as mulheres do Distrito Federal. Dona Marlene, como é carinhosamente chamada pelos colegas de trabalho, chegou a Brasília em 1988. Veio acompanhada pelo então companheiro. Foi empregada doméstica, trabalhou no comércio e depois conquistou a carteira assinada no SLU do Distrito Federal. Moradora do Recanto das Emas, ela viveu uma história que se confunde com a de milhares de outras mulheres brasileiras. Na infância, os pais proibiram sua ida à escola. Na juventude, encontrou um companheiro que a agredia física e moralmente. Enfrentou todas essas dificuldades e, no trabalho, encontrou o caminho para resgatar sua qualidade de vida. Como foi sua infância? A senhora considera que foi reprimida por seus pais por ser mulher? A criação nossa foi do jeito que minha mãe falava e era bem assim: “Se você casar, você tem que aguentar o marido! Pode ser o que for. Você tem que aguentar”. Acho que muitas mulheres, no Brasil todo, sofrem demais por causa dos pais. Comigo era assim: “Se o marido bater e tudo mais, mas você casou com ele, então, tem que aguentar”. Por isto, a gente tinha que engolir. Hoje em dia, as mulheres aguentam porque querem. Se quiser mesmo, de verdade, homem nenhum no mundo pode segurar. Não tenho vergonha de falar. Minha vida já foi muito sofrida. Já tomei remédio para não morrer de tanto sofrimento que passei com meu marido. Hoje, graças a Deus, não quero morrer de jeito nenhum, minha filha! Quero morrer de amor…de alegria! Então, a senhora foi criada para ficar casada mesmo sendo agredida? Fiquei 25 anos casada e sofrendo agressões. Eu acho que sentia obrigação de continuar casada com ele. Era um medo que eu tinha das conversas de minha mãe e meu pai. Tinha vergonha. E os estudos? A senhora frequentou a escola na infância? Eu era do interior da Bahia. Meu pai não deixava a gente estudar de jeito nenhum. “Pra que filha mulher estudar? Vai estudar pra escrever carta pra macho?”. “A caneta delas é a enxada”. Essas eram as frases dele. O tempo todo dizia isso para nós. Quando a professora ia até nossa casa para dar aula, papai logo botava a gente para ir dormir, eu e minhas duas irmãs. Mesmo sem sono, ele mandava e a gente tinha que obedecer. Eu ainda aprendi um pouquinho porque tinha uma cunhada da minha irmã que era professora e me dava aula às escondidas de vez em quando. Bem mais tarde foi que meu pai viu o que eu estava fazendo. Então, meus irmãos foram estudar. As mulheres foram para a escola já moças grandes. E depois, quando saiu da casa dos pais, a senhora frequentou a escola? Só agora tive a oportunidade de voltar os estudos [Marlene participa do programa de alfabetização oferecido pela Sustentare Saneamento]. Tinha tentado várias vezes. Um tempo atrás, entrei numa escola do Recanto [das Emas] para estudar à noite, mas parei de ir. Um dia, meu marido foi me buscar e me xingou. Morri de vergonha e não quis mais voltar. Agora, vou retomar os estudos aqui na empresa mesmo. Eles têm um programa de educação para adultos. Por que seu marido a agredia? Ele começou a beber, usar drogas e eu só sofrendo, sempre fazendo serviço para um e para outro, nas casas de família. Foi aparecendo menino e meu sonho era ter um filho. Ai, tive o meu filho mais velho. Depois veio mais outro filho e veio mais outro – e eu sofrendo as agressões dele. Quando fui trabalhar, as coisas em casa pioraram. Todo dia era um nome mais feio. Me xingava mesmo. Isso aqui [aponta um pouco acima da sobrancelha direita]…Tenho o maior desgosto quando olho no espelho e vejo essa cicatriz. Um dia cheguei do serviço cansada, com febre, por volta do meio-dia, para fazer o almoço para os meninos. Ele estava escondido e bateu o portão na minha cara. Ele gritava que eu estava tendo um caso, que era vagabunda. Foi muito sofrimento. [Olho texto=”A primeira coisa que a mulher precisa fazer é criar coragem de trabalhar, ir à luta, enfrentar a vida” assinatura=”” esquerda_direita_centro=””] Quando ele parou de agredir a senhora? Quando entrei na empresa, há 11 anos, eu disse para ele: “Hoje eu tenho meu salário. Nunca mais você trisca a mão em mim!”. Quem tem filho pequeno que não tem quem [com quem deixar para] olhar, acaba comprando as coisas para dar suporte. Eu comprava televisão nova, DVD, rádio…comprava tudo para os meninos ficarem em casa e não sair. Ele [o marido] vendia tudo para fazer dinheiro para beber pinga e usar drogas. Eu não ia atrás porque ele vendia tudo em boca de fumo, e era perigoso. Então, eu deixava de mão. Saía sempre no prejuízo. A senhora denunciava as agressões? Eu já tinha denunciado na delegacia várias vezes. [A polícia o] prendia e soltava. Até que um dia eu dei um basta nisso. Entrei durante uma audiência no Fórum da Samambaia e pedi pelo amor de Deus para o juiz que tirasse ele lá de casa. Passei mal na hora, chorava muito e minha pressão subiu demais. Eu gritava: “Doutor, o senhor tira ele lá de casa hoje! Vou me matar ou mato ele! ” Por um tempo, deu certo. Como o trabalho a ajudou? Tenho 55 anos e trabalho sempre com disposição. Amo meu serviço e faço tudo por ele. O trabalho me liberta. Eu não conhecia Brasília. Meu marido não me deixava nem sair de casa. E hoje, por causa do meu emprego, conheço todo o Distrito Federal. Graças a Deus, sou viúva. Quero é arrumar um namorado, um homem que me ajude, que seja companheiro de verdade. Do que a senhora mais gosta no seu trabalho? Da paz. Aqui tem paz. Passo oito horas varrendo as ruas. Converso com uma pessoa e com outra. Se estiver com algum problema, você até esquece. É como uma terapia. Trabalho ao lado da Nalva [citando uma colega] desde quando entrei aqui. Não separam a gente. Somos parceiras, amigas, colegas de trabalho. Às vezes, a gente vai para as festas, saímos juntas, contamos as histórias das famílias, dividimos muito as coisas. Qual conselho a senhora daria a outras mulheres que sofrem violência doméstica? A primeira coisa que a mulher precisa fazer é criar coragem de trabalhar, ir à luta, enfrentar a vida. As ameaças dos maridos, que prometem matar e bater, têm que deixar de lado, porque hoje em dia as mulheres têm tudo nas mãos para se verem livre de homens desse tipo. Nós, mulheres, hoje temos todo mundo do nosso lado.
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