Poucas horas de sono, banhos gelados e trabalho extenuante. Assim foi a rotina da primeira equipe do Distrito Federal enviada ao Rio Grande do Sul para auxiliar nos resgates em meio à catástrofe provocada pelas fortes chuvas. O grupo era composto por 14 militares e dois cães de busca e salvamento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) e dois agentes da Defesa Civil. A atuação da equipe foi crucial em diversas frentes, como a busca e o resgate de vítimas nos locais alagados em São Leopoldo e nas áreas de deslizamento em Bento Gonçalves. Ao longo da primeira fase da operação, 156 pessoas foram resgatadas, entre elas, 20 crianças. Além disso, foram salvos 80 animais.
A autorização do Governo do Distrito Federal (GDF) para o envio de uma equipe ao Rio Grande do Sul chegou em 2 de maio. O grupamento passou a madrugada de quinta para sexta-feira preparando a logística para, na manhã do dia seguinte, partir com viaturas e embarcações. Foram dois dias e meio de viagem e, quando a equipe estava chegando a Porto Alegre, cidade designada a princípio, a ordem foi de alterar a rota para São Leopoldo, que apresentava um nível de destruição maior. Com o desvio de percurso, os bombeiros chegaram na cidade às 11h. Por volta das 14h, já estavam com duas embarcações e militares atuando dentro d’água.
A tenente-coronel Paula Tiemy lembra que a equipe do CBMDF foi a primeira a chegar em São Leopoldo | Foto: Joel Rodrigues/ Agência Brasília
Quem comandou a operação do CBMDF foi a tenente-coronel Paula Tiemy. Ela conta que, assim que as equipes chegaram ao bairro central de São Leopoldo, muitos populares cercaram as embarcações pedindo ajuda e direcionando os bombeiros às casas, ruas e apartamentos onde havia vítimas que necessitavam de ajuda. A equipe de socorro do DF foi a primeira a chegar naquela área. “Eles olharam nossa viatura e disseram ‘nossa, Distrito Federal! Vocês são os primeiros que chegam aqui’. Então a gente se sentiu bem grato pela oportunidade de estar lá e de ajudar aquela população”, lembrou a bombeira.
A comandante da operação descreveu também como foi atuar no auge da catástrofe, quando ainda havia muita dificuldade de comunicação. A equipe ajudava nas informações à maneira antiga, conectando os familiares de barco ou outro meio de transporte. Após a chegada do StarLink, com o celular via satélite disponibilizado pelo governo do Rio Grande do Sul, houve uma melhora na questão logística.
“O Corpo de Bombeiros serviu também como conforto para as famílias que queriam informações, principalmente nos primeiros dias”
Paula Tiemy, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros
“Eram cenas de destruição, com muitos civis procurando ajuda e querendo encontrar entes queridos – ou mesmo saber como estavam, porque não havia comunicação, sinal de internet ou celular. O Corpo de Bombeiros serviu também como conforto para as famílias que queriam informações, principalmente nos primeiros dias. As pessoas estavam muito estressadas e com essa sensação de perda”, observou a tenente-coronel.
Alojamento
A equipe ficou alojada no prédio ao lado do quartel do Corpo de Bombeiros de São Leopoldo. Por militares de vários estados já estarem alojados no quartel, não foi possível montar o acampamento. Contudo, ao ver a situação das equipes, o síndico do prédio ao lado convidou o grupamento a ficar no salão de festas. “Tinha banheiro e a ducha da piscina, com água gelada, mas era tudo que a gente precisava: banheiro e um local para repousar”, frisou Paula. Devido ao trabalho intenso, os militares dormiam, em média, duas horas por noite nos primeiros dias, o que soma apenas 14 horas de sono em uma semana inteira.
O cenário encontrado pelos bombeiros do DF foi de destruição | Foto: Divulgação/ CBMDF
Nos dias seguintes, o CBMDF foi designado a atuar, junto aos cães Delta e Baruk, na cidade de Bento Gonçalves, devido aos deslizamentos de terra que atingiram a região. Por lá já havia uma parceria com a prefeitura da cidade, que ofereceu um hotel onde a equipe ficou alojada. “A gente tinha seis desaparecidos no Vale dos Vinhedos. Você não imaginava que aquilo tudo era verde e lindo, com casas, e de repente não tinha nada. A gente conversava com as pessoas e elas falavam sem acreditar. E você sentia aquela dor das pessoas, a gente criava um vínculo”, declarou a bombeira.
